Fernanda Gimenez
Giselle de Fátima Alves
Roberta Santiago
Graduandas de Biologia PUCPR
A teoria de Darwin-Wallace nunca pretendeu explicar a origem da vida, apenas trazer luz a forma com a qual essa vida evoluiu de simples bactérias para seres formidáveis e complexos, numa infinidade de espécies. A teoria da Evolução nunca casou muito bem com a noção de evolução da cultura e cognição nas espécies, e se mostrou especificamente limitada em explicar o surgimento da consciência (ARRAIS, 2009 ).
O ponto de vista que Wallace defendia é conhecido pela humanidade a milhares de anos: a consciê
ncia, alma ou espírito - chame-a como achar melhor - é uma lógica perfeitamente plausível por detrás da crença de que a consciência e a memória não dependem de genes para serem passadas adiante, simplesmente pelo fato de que, ao contrário do corpo dito "físico", não são exterminadas na morte (ARRAIS, 2009).
A fé é a posse antecipada do que se espera - um meio de demonstrar as realidades que não se vêem. O caráter invisível e irredutível desta realidade torna a compreensão da transcendência um conhecimento que está isento de provas e justificativas, mantendo-se sob o manto da revelação. Logo, a transcendência é a capacidade e o desejo de romper limites, de ir além, superar e violar os interditos (BAUCHWITS, 1995).
O termo religião procede do étimo latino religio, formado pelo prefixo re (outra vez, de novo) e pelo verbo ligare (ligar, unir, vincular). A partir de Agostinho (354-430), a interpretação da religião enfatiza a busca de Deus por parte do homem. Com isso estava aberto o caminho para a idéia de ligação baseada na submissão do homem ao Divino e no amor entre o homem e Deus, bem como para o fortalecimento deste religar e mediante a instituição Igreja. Na atualidade, continuam existindo diferenças significativas em termos da compreensão do que sejam religião, religiosidade e espiritualidade, segundo perspectivas teológicas, sociológicas e psicológicas, o que favorece um uso intercambiável desses termos, gerando sinonímia e pouca clareza (SILVA; SIQUEIRA, 2009).
A capacidade de integrar os múltiplos dados do mundo que possibilita pensar no espaço não mais como dimensão de necessidade, mas como dimensão de liberdade, já que agora o mundo físico é submetido pelo animal pela via da capacidade de movimento e pela percepção de distância. Somada à dimensão temporal possibilitada pelo desenvolvimento da capacidade emotiva, essas características garantem a transcendência do animal de uma forma evolutivamente superior. A soma de movimento e emoção aparece, como um ponto central de compreensão do fenômeno da vida. A análise parte da idéia de que o movimento do animal se manifesta em forma de perseguição e fuga e por elas o animal, em busca de sua presa, por exemplo, revelaria não só capacidades motoras, mas também forças sentimentais, ou seja, uma intenção emocional. É o nascimento da capacidade para longos trajetos que efetiva a realidade emocional do animal, porque é o desejo que se esconde por trás da perseguição e o medo por trás da fuga (OLIVEIRA, 2010).
O interesse sobre a espiritualidade sempre existiu ao longo da história evolutiva do homem, a despeito de diferentes épocas ou culturas. Contudo, apenas recentemente a ciência tem demonstrado interesse em investigar o tema. No começo dos anos de 1960, os estudos eram dispersos e, nesse período, surgiram os primeiros periódicos especializados, entre os quais o Journal of Religion and Health. A partir dessa época, estudos realizados sobre espiritualidade em amostras específicas (por exemplo, enfermidades graves, depressão e transtornos ansiosos) mostraram pertinência quanto à investigação do impacto dessas práticas positivas na saúde mental e na qualidade de vida (PERES et al, 2007).
O Dicionário Oxford (SIMPSON; WEINER, 1989) define espírito como: a parte imaterial, intelectual ou moral do homem. O termo espiritualidade envolve questões quanto ao significado da vida e à razão de viver, não limitado a tipos de crenças ou práticas. A espiritualidade compreende a busca pessoal por respostas compreensíveis para questões existenciais sobre a vida, seu significado e a relação com o sagrado ou transcendente que podem (ou não) levar ou resultar do desenvolvimento de rituais religiosos e formação de uma comunidade (PANZINI et al, 2007).
Dean Hamer - biólogo molecular e escritor do livro “O gene de Deus” lançado em 2004 (ver lista ao lado) - lembra que a espiritualidade diz respeito aos sentimentos interiores de uma pessoa, enquanto a religião é um conjunto organizado de regras e regulações. Esta refere-se especificamente sobre quem é Deus e como ele age, já a espiritualidade é como as pessoas se sentem sobre esse Deus ou qualquer que seja o criador, por isso é uma herança genética fundamental, podendo até ser relacionada a palavra instinto. Ainda neste livro, Dean afirma ter localizado no ser humano o gene responsável pela espiritualidade, o qual desencadeia uma descarga de elementos químicos cerebrais controlados pelo DNA, resultando nos sentimentos profundos de espiritualidade.
Mas a visão dualista inerente ao paradigma newtoniano e cartesiano de ciência, que separa o mundo da matéria do mundo do espírito, tornou ilegítima a consideração das dimensões espirituosas da vida humana na investigação da gênese das doenças e na busca de medidas terapêuticas (VASCONCELOS, 2009 ).
Em 2002, o neurologista suíço Olaf Blanke do Hospital Universitário de Genebra, descobriu por acaso que poderia fazer uma pessoa sair do corpo. Durante um teste em uma paciente com epilepsia, ele aplicou uma pequena carga elétrica na região do cérebro chamada de giro angular. É no giro angular que o cérebro reúne toda a sensibilidade do corpo, como tato, equilíbrio e visão. É ali que o ser humano sabe se está sentado ou em pé, onde se situa no mundo. Já para o fisiologista Marcelo Árias, do Centro Universitário Monte Serrat, alguns cientistas já estão começando a falar que devemos ter herdado circuitos biológicos associados à fé. Agora, como todos os seres humanos são bem diferentes uns dos outros, talvez um ateu não tenha herdado esses circuitos e não esteja capacitado biologicamente a crer, a transcender, a perceber o divino.
Porém, para a física e filósofa americana Dana Zohar há um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas, torna-as mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida. Dana Zohar baseia seu trabalho sobre Quociente Espiritual (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas de cientistas de várias partes do mundo que descobriram o que está sendo chamado "Ponto de Deus" no cérebro, localizado nos lobos temporais, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas. Logo, quem têm QS elevado seria capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. Porém o que se observa na sociedade moderna atual é uma baixa inteligência espiritual coletiva, consequentemente estariamos vivendo em uma cultura espiritual estúpida.
Embora os estudos sugiram que a espiritualidade é herdada, ainda não há relatos de qual sejam os genes envolvidos e como eles atuam, sabe-se apenas que a evolução gravou em nosso genoma a necessidade da espiritualidade e isso ajudou nossa espécie a sobreviver até hoje, restando à biologia molecular a missão de desvendar os meandros da espiritualidade que seria a chave para entender o funcionamento da mente humana. Para a psicologia, a crença no eterno serviu, desde os primórdios, para que o homem superasse alguns conflitos dramáticos e pudesse seguir em frente. Forças maléficas presentes em todos nós, como o instinto assassino e a rivalidade, seriam de alguma forma controladas pela experiência mística. É essa a visão da psicanálise sobre a fé.
No Brasil não há estudos como lá fora, devido a inexistência de investimento financeiro em pesquisas nesse campo (FOLHA ONLINE, 2004 ). Contudo, sabe-se que este panorama está mudando e que diversas pesquisas como nos Estados Unidos onde mais de 56% dos profissionais entrevistados disseram acreditar que a religião e a espiritualidade têm uma influência significativa na saúde dos pacientes (JOURNAL OF THE AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION, 2007). Há várias hipóteses para explicar de que maneira a fé influencia na saúde. "Uma delas defende que esses indivíduos possuem uma rede de apoio social mais forte, enquanto outros estudiosos indicam que, com a fé, as pessoas encontram um sentido na vida, o que as ajuda a viver melhor, com mais esperança e com uma atitude mais positiva", explica o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, da Universidade Estadual de Campinas (DALGALARRONDO, 2008). Assim, o estudo das numerosas vertentes e intersecções entre religião, espiritualidade e saúde mental descortinam um amplo horizonte para se entender melhor sobre os fenômenos da nossa cultura.
Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nas obras:
ARRAIS, R. A evolução desconhecida, 2009. Disponível em: < http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/A_autores/arrais_rafael_evolucao_desconhecida.htm>. Acesso em: abr/2011.
BAUCHWITZ, O. F. A questão da secularização. Revista Princípios. UFRN, RN, Vol. II, n. 1. 1995.
CIÊNCIA HOJE. A religiosidade e o Cérebro. Disponível em: < http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/bilhoes-de-neuronios/a-religiosidade-e-o-cerebro>. Acesso em: abr/2011.
DALGALARRONDO, P. Religião, psicopatologia & saúde mental. Editora Artmed, Porto Alegre, 2008.
FOLHA ONLINE. Espiritualidade na vida e no consultório faz bem a saúde. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u3126.shtml>. Acesso em: abr/2011.
GLOBO REPORTER. Ciência e Espiritualidade, parte 1. Disponível em:
GLOBO REPORTER. Ciência e Espiritualidade. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=NneEiR0-BC8>. Acesso em: abr/2011.
HAMER, D. O gene de Deus. Mercuryo, 2005.
JAMA – JOURNAL OF THE AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION. Disponível em: <http://jama.ama-assn.org>. Acesso em: abr/2011.
MARSHALL, I.; ZOHAR, D. QS - inteligência espiritual - A ultima fronteira. Editora Record, 2010.
OLIVEIRA, J. R. A Transanimalidade do Homem: uma premissa do princípio responsabilidade. Dissertatio, UFPel, p. 77-97. 2010.
PANZINI, R. G., ROCHA, N. S., BANDEIRA, D. R., FLECK, M. P. A. Qualidade de vida e espiritualidade. Revista de Psiquiatria Clínica. 34, suplemento 1; 105-115, 2007. http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol34/s1/105.html
PERES, J. F. P., SIMÃO, J. P., NASELLO, A. G. Espiritualidade, religiosidade e psicoterapia. Revista de Psiquiatria Clínica. 34, supl 1; 136-145, 2007.
SILVA, R. R.; SIQUEIRA, D. Espiritualidade, Religião e Trabalho no contexto organizacional. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 14, n. 3, p. 557-564. 2009.
VASCONCELOS, E. M. Espiritualidade na educação popular em saúde. Caderno Cedes, Campinas, vol. 29, n. 79, p. 323-334, set./dez. 2009. http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt06/t066.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário