segunda-feira, 9 de maio de 2011

Amor pelo filhote: Sentimento ou estratégia evolutiva?

Amanda Souto, Fabiane Girardi &Mariana Florentino

Graduandas do Curso de Biologia PUCPR

O comportamento social refere-se a qualquer interação direta entre indivíduos da mesma espécie, geralmente aparentados e vivendo em um grupo, sendo a formação dos agrupamentos familiares, uma das bases para a organização das sociedades animais (DEL-CLARO, 2004 ).

O tema do presente ensaio é o amor sobre a prole (filhotes). Cientistas procuram entender se realmente a mãe ama seus filhotes ou se apenas trata-se de um comportamento automático, fixado pela natureza para garantir a sobrevivencia dos filhotes, ou seja, um cuidado necessário, tendo em vista o gasto energético e de tempo para gerá-los e criá-los, sendo isso o fruto dos genes deixados pelas gerações anteriores.

Segundo Wallace (1985) , toda vida precisa obedecer o Imperativo Reprodutivo, cujo objetivo é se reproduzir e deixar tantos descendentes quanto forem possíveis. Isso abre uma polêmica principalmente se tratando do comportamento humano, será que realmente existe amor?

A maioria dos animais gasta, direta ou indiretamente, seu tempo e energia com reprodução. Indiretamente no que diz respeito à alimentação, manutenção, competitividade e lutas na defesa de território ou mesmo por um companheiro. O objetivo principal da vida é passar os genes adiante a fim de perpetuar a espécie, os genes dos não-reprodutores desaparecerão e aqueles dos melhores reprodutores aumentarão, no sentido de dominar a população (WALLACE, 1985).

A variação no comportamento dos seres humanos quando comparado ao dos animais se dá ao fato de que a seleção natural não atua muito fortemente sobre os humanos, pois a maioria dos nossos predadores desapareceu, sendo que mesmo os mais despreparados podem reproduzir-se e passar adiante seus genes. Deve-se considerar, ainda, que os humanos são muito adaptáveis, ou sela, tem a capacidade de mudar o meio em que viva para melhorar seu conforto ou suas necessidades (WALLACE, 1985).

Em estudo realizado por Eckhard Hess, na Universidade de Chicago (WALLACE, 1985), descobriu-se que o tamanho da pupila do olho é um indicador seguro de interesse e atração. Foi passada uma série de imagens, para homens e mulheres, quando a pupila abria, o intuito era deixar entrar mais luz para que o objeto de interesse fosse visto mais claramente, e quando a pupila se contraía, à vista de alguma coisa repelente, era como se estivesse bloqueando a imagem. A pupila de mulheres se abria com imagens de bebês, crianças, homens nús, enquanto a pupila dos homens se contraía para essas mesmas imagens, o que indica que fêmeas possuem maior tendência ao cuidado parental e consequentemente ao amor pelo seu filhote (WALLACE, 1985).

A fêmea possui um sentimento de maior proximidade com seus filhotes, já que é ela quem os carrega, e cuida deles até possuirem capacidade de se cuidar sozinhos. Isso é comprovado em animais de sangue quente, aves e mamíferos, onde há necessidade de cuidado dos filhotes. Quanto maior essa necessidade ou a vulnerabilidade dos filhotes, maior será o apego ou amor dos pais (WALLACE, 1985).

Por outro lado, existem indícios de que pais mais velhos tendem a cuidar mais da sua prole, podendo defendê-la até a morte, considerando que possa ser sua última ou única cria. Pais mais jovens, se dedicarem esforço demais a qualquer filho, reduzem a probabilidade de deixar mais descendentes. Em gaivotas, quando um filhote adoece e morre, o pai ou a mãe engole-o, e essa é a atitude esperada em um reprodutor eficiente. Não adianta cuidar de uma criança doente ou carregar uma criança morta, deve-se usar os tecidos para formar novos e sadios filhotes. Porém, uma fêmea de primata pode carregar seu filhote morto por dias antes de abandoná-lo, e até morrer (WALLACE, 1985).

O sacrifício dos pais pelos filhotes pode estar relacionado ao amor que sentem ou à dificuldade na geração dos mesmos. Em espécies nas quais há maior dificuldade na geração de filhotes e esses precisam de maior proteção ou maior oportunidade para aprender, os cuidados paternos e maternos ou “amor”, serão correspondentemente mais intensos (WALLACE, 1985).

Alguns pontos conflitantes trazidos pela ciência são por exemplo: não se ter certeza sobre o amor nos animais, sendo que parecem amar seus filhos porque os tratam como os humanos tratam e amam seus filhos, sem saber exatamente por quê, e a dúvida em relação ao amor nas crianças, será que elas amam mesmo? Será que podem amar? Ou estão cuidando do próprio interesse quando despertam amor em adultos? Existem indícios de que o sorriso do bebê é um forte construtor de laços numa época em que ele tem maior probabilidade se despertar comportamento de rejeição (WALLACE, 1985).

O cuidado com os filhotes é mediado pelo hormônio ocitocina, que tem diversas funções, como influenciar no início da produção de leite durante o período de aleitamento, além de ser liberada durante o orgasmo sexual, aproximando ainda mais os parceiros. Bloquear a ocitocina pode levar fêmeas a rejeitar filhotes, e injetá-la em cobaias que não engravidaram faz que estas se disponham a adotar filhotes alheios.

Atualmente, é cada vez mais comum encontrar notícias que tratam de animais que adotam filhotes de outras espécies (http://www.dedodeouro.net/2010/04/animais-que-adotam-filhotes-dos-outros.html - http://hypescience.com/chimpanze-adota-tigres-siberianos/ http://etologiadocao.blogspot.com). Os sentimentos, emoções e consciência nos animais são temas polêmicos e que dividem opiniões, porém, a cada dia que passa estão sendo melhor aceitos pela sociedade, visto que a ciência tem comprovado essas questões.

O post do Blog Etologia no dia-a-dia, Fischer levantou a reflexão se o aborto na nossa espécie poderia ser visto um ato natural e esperado. Segundo a autora evitar um filho é comum em vários animais, uma vez que a maioria das espécies tem momentos certos para se reproduzirem. Esse momento foi determinado ao longo da história evolutiva da espécie e está relacionado com a época em que há maiores disponibilidades de alimentos e melhores condições ambientais para o filhote sobreviver. Fora dessas épocas o corpo do animal não está preparado para concepção e a cópula não ocorre. A nossa espécie compartilha com alguns primatas um mecanismo denominado de “ovulação oculta”, diferente dos chimpanzés, que na época reprodutiva, a fêmea anuncia para toda sociedade que está apta para se reproduzir, através de sinais visuais e odoríferos. Apesar de existir alguns indícios que a fêmea humana fica mais bonita e muda até a freqüência da voz durante a ovulação, nem mesmo ela tem certeza de quando é esse momento. Existem várias hipóteses para explicar o porquê escondemos nossa ovulação, uma seria para que o parceiro ficasse sempre por perto, pois caso soubesse, cuidaria dela apenas nesses dias, uma vez que não havia risco dela engravidar de outro macho. Há também uma teoria que acredita que as fêmeas ancestrais que sabiam quando estavam ovulando, evitavam copular, para não engravidarem. Pois gravidez era um fator de risco e vulnerabilidade para as fêmeas humanas ancestrais, que além de correrem o risco de morrerem no parto, ficavam mais lentas e suecptives a doenças, devido a depressão do sistema imunológico para não eliminar o embrião. Orangotangos comem folhas, casca e frutos de determinadas árvores (Melanochyla, Melanorrhoea e Diptyros) que resultam em efeitos tóxicos, escurecendo os lábios e promovendo descamação e possivelmente também da membrana do útero.

Entende-se que a relação que os pais estabelecem com seus filhos depende de variáveis individuais dos mesmos e da sua prole (fatores biológicos adaptados na história evolucionária da espécie) e também de variáveis sociais e ambientais, entendidas como pressões culturais que atuam sobre e são influenciadas pelas bases biológico-adaptativas do comportamento parental, modulando sua expressão individual (PRADO, 2005).

Segundo Harkness e Super (1992), o crescimento da criança se dá em um nicho de desenvolvimento, com função de intermediar sua inserção no ambiente cultural mais amplo. Esse nicho é descrito por três componentes: o ambiente físico e social no qual a criança vive; os costumes de cuidado e criação de crianças, que são regulados culturalmente; e a psicologia dos cuidadores ou conjunto de crenças parentais, nomeadas etnoteorias parentais.Estas podem ser definidas como conjuntos organizados de idéias que estão implícitos nas atividades da vida diária e nos julgamentos, escolhas e decisões que os pais tomam, funcionando como modelos ou roteiros para ações.

Nós formandos do curso de biologia acreditamos que o apego da mãe pelo filhote explicado biologicamente se dá devido ao hormônio ocitocina, como citado anteriormente. Do ponto de vista etológico e evolutivo esse comportamento reflete a importância da reprodução e da passagem dos genes adiante. Esse tema não provoca muitos conflitos entre biólogos, já que esse comportamento está sendo inumeras vezes comprovado, e com diversas espécies.Apesar dos conflitos causados quando se trata de sentimentos, consciência e emoção nos animais, a questão do amor pelo filhote é algo quase indiscutível, principalmente quando o tema é discutido entre mulheres. Mesmo considerando que o objetivo principal da reprodução é a passagem e manutenção da carga genética, acreditamos que o amor de mãe-filhote existe e é evidente, e pode ser até que seja fruto da seleção natural, afinal, todos passamos por isso.

Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nos seguintes textos:

DEL-CLARO, K. 2004. Comportamento Animal: uma introdução à ecologia comportamental. Ed. E Livraria Conceito, Jundiaí, 132p. Disponível em < http://newpsi.bvs-psi.org.br/ebooks2010/es/Acervo_files/DelClaro2004ComportamientoAnimal.pdf> Acesso: 19/04/2011

HARKNESS, S.; SUPER, C. M. Parental ethnotheories in action. In: SIGEL, I. E.; MCGILLICUDDY-DELISE, A.; GOODNOW, J. J. (Org.) Parental belief systems:The psychology consequences for children. Hillsdale/ Hove: Lawrence Erlbaum, 1992. p. 373-391. Disponível em < http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=27965748> Acesso: 18/04/2011

PRADO, A.B. 2005. Semelhanças e diferenças entre homens e mulheres na compreensão do comportamento paterno [dissertação]. Florianópolis: Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em < http://www.tede.ufsc.br/teses/PPSI0154.pdf> Acesso: 18/04/2011

WALLACE, R. 1985. Sociobiologia o fator genética, rãs realidades biológicas da condição humana. São Paulo: IBRASA, 236p.

2 comentários:

  1. Amei , muito obrigado me ajudou bastante numa pesquisa minha sobre a causa de "Porque Amamos" Sou aluno da UNIT - SE de Psicologia!! Muito obrigado belo blog e ótimo texto!!

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