Altruísmo: Ser ou não ser?

Ariane S. Rodrigues, Eduardo Lozano, Jaqueline Duarte, Marthin Borba e Rafael Amorim.Link

Graduandos do Curso de Biologia PUCPR

O termo “altruísmo” vem do latim “alter”, que significa “outro”, conceito usado pelo filósofo e sociólogo Augusto Comte, considerando o altruísmo como o antônimo de egoísmo (EBRAHIM, 2001). O altruísmo é considerado um comportamento designado a atender às necessidades dos outros, envolvendo escolhas em que os indivíduos colocam menos valor em resultados pessoais, podendo colocar a sua sobrevivência em risco. O primeiro conceito que começou a responder as perguntas sobre esse comportamento foi a teoria da vantagem inclusiva, criado por Willian D. Hamilton, que argumentava que o altruísmo tinha evoluído com mais probabilidade entre animais aparentados do que entre animais sem parentesco, o que consistiria em um egoísmo genético, pois parentes partilham de um código genético mais semelhante do que em não aparentados, o que significa que um ato benéfico a um individuo aparentado aumentaria as chances de reprodução dos genes comuns, e quanto maior for o grau de parentesco, maior o grau de altruísmo, e assim a conduta altruísta pode ser herdada (LANCASTRE, 2010). Porém essa teoria não explica o fato de animais arriscarem sua sobrevivência, diminuindo seus recursos com um ato de altruísmo com animais sem nenhuma ligação genética, mas um estudo foi feito em 1971, por Robert Trivers, que explica que os genes para comportamento altruísta poderão ser selecionados se os indivíduos forem diferencialmente altruístas com aquelas que foram altruístas com consigo próprio. .

Como exemplo, podemos utilizar os Morcegos-vampiro, que toda noite alguns indivíduos saem para se alimentar, enquanto outros ficam para cuidar do território, quando os animais que saíram para se alimentar voltam eles regurgitam metade do sangue que beberam e dão aos que ficaram, como esse é um comportamento comum entre essa espécie, o indivíduo pode contar que no momento em que ele ficará para cuidar do território, o outro irá trazer alimento para ele também, sendo estes aparentados ou não pois possuem um mecanismo de reconhecimento individualizado, que funciona como um receptor que identificará aquele que por sua vez o alimentou. Essa teoria foi chamada de Altruísmo Recíproco e é aplicado a humanos também e considerada a teoria do jogo ou do dilema do prisioneiro, que funciona da seguinte forma: dois suspeitos de um crime são interrogados, se ninguém se acusar eles ficam presos por um ano, se os dois se acusarem ficam presos por 3 anos e se um dos suspeitos apontar o outro como criminoso, este fica livre enquanto o outro passa cinco anos na cadeia. Apesar da possibilidade de acusar o outro e, em um comportamento egoísta, ser livre, não há como saber qual será a atitude do outro suspeito, podendo os dois pagar pelo crime, então ambos cooperam um com o outro (LANCASTRE, 2010).

Segundo os autores Nowak, Tarnita e Wilson (2010), há uma outra proposta para explicar a cooperação em grupo (eussocialidade): Primeiro a espécie tem que formar grupos dentro das populações, seja para alimentação, reprodução ou por grupos formados ao acaso, na segunda etapa ocorre a radiação adaptativa, que através da seleção natural comum há um acúmulo de características de predisposição a eussocialidade quando esses animais são forçados a convivência. Então, mutações e recombinações devem fixar genes ligados ao comportamento eussocial, esses genes ainda são desconhecidos, mas para uma espécie de formiga, Solenopsis invicta, já se sabe que o gene Gp-9 está associado ao reconhecimento de operárias de outros formigueiros. A partir desse ponto a seleção natural age novamente favorecendo e estabilizando as características emergentes de interações entre os organismos eussociais, formando um superorganismos, aonde cada um tem sua função, e por ultimo estes superorganismos podem sofrer uma seleção natural entre si.

O comportamento altruísta extremo é observado em pelo menos quatro grupos diferentes, nos himenópteros (formigas, vespas, abelhas), nos camarões parasitas das esponjas dos mares de coral, nos ratos-toupera pelados e nos primatas, mas acredita-se que esse comportamento foi separadamente fixado distintas vezes na filogênese dos animais pluricelulares. Não há nenhum antecessor comum entre essas espécies que o tenha incorporado à linhagem como traço primitivo, é então considerao uma homoplasia, um traço que coincide somente por razões de convergências na adaptação separada e não tem nenhuma significação de proximidade evolutiva (FERNANDEZ, 2007).

Em Humanos, segundo Mulligan (1996), a formação do comportamento de um altruísta vem de uma composição familiar, analisando o tamanho da família, a ordem de nascimento e outras variáveis da infância, sendo que as educações formais e informais favorecem a orientação altruísta. A adoção tardia, que é a adoção de crianças mais velhas, também é vista como um comportamento altruísta, pois quando há certa educação recebida pela família, o altruísta terá estabilidade e maturidade emocional que influenciaram o modo como os indivíduos respondem às necessidades dos outros. Sendo assim, adotantes tardios normalmente são casais com filhos, que já tiveram a experiência de criar um bebe, ou pessoas solteiras ou viúvas que querem construir uma família, mas que não tem tempo de se dedicar a um recém-nascido. Enquanto casais mais novos que não podem ter seus próprios filhos, tem a necessidade de adotar recém-nascidos para que possam ter a experiência de criar (EBRAHIM, 2001).

Estudos mostram que a oxitocina, hormônio produzido no hipotálamo e liberado na corrente sanguínea, responsável pelo vínculo social entre os indivíduos e também pela sensação de prazer durante a maternidade, também pode ser responsável pelo comportamento de heroísmo e solidariedade nos humanos, favorecendo a necessidade de o indivíduo agir em benefício de um grupo em detrimento de seu bem estar pessoal. Um experimento foi realizado comparando o comportamento de indivíduos que receberam doses de oxitocinas com indivíduos que não receberam e foram apresentados a um jogo que apresentava consequências a si mesmo e ao grupo. Os indivíduos que receberam a oxitocina demonstraram maior preocupação com o cuidado e com a defesa do grupo, estimulando no grupo sentimentos de cooperação para resolução dos conflitos. Os pesquisadores sugerem que esse hormônio desempenha um papel de defesa na condução do grupo, e que a confiança pessoal aumenta quando a dose de oxitocina é maior.

A bondade é algo necessário em todo o reino animal para que possa haver cooperação entre os indivíduos, sendo essa cooperação para garantir que os genes passem para frente ou para resolver os problemas que o ambiente trás e que sozinho não haveria como enfrentar. Para os humanos a bondade e a compaixão são extremamente necessárias para a definição de princípios éticos como para a educação para os valores sociais e ambientais.


O presente ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nas seguintes obras:

ALMEIDA, E. A.; FILHO, J. M. The precocius contact mother-child and its contribution to the success of breast feeding. Revista Ciênc. Méd., Campina 13(4):381-388, out/dez, 2004.


CARVALHO, A. M. A. Etologia e comportamento social. IV Encontro Nacional de Psicologia Social–ABRAPSO/UFES, 1988.

EBRAHIM, S. G. Adoção tardia: altruísmo, maturidade e estabilidade emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2001, 14 (1), PP. 73-80.

FERNANDEZ, A.; FERNANDEZ, M. O gene altruísta e o sentido de justiça pode levar a seleção natural à solidariedade? Revista Jus Vigiliantibus, 8 de agosto de 2007

LANCASTRE, M. P. A. Bondade, Altruísmo e Cooperação. Considerações evolutivas para a educação e a ética ambiental. Revista Lusófona de Educação, 2010, 15, 113-114

NOWAK, M. A.; TARNITA, C. E.; WILSON, E. O. The evolution of eusociality. Nature, 466 (7310): 1057-1062, agosto de 2010.