Distintos Aspectos da Agressividade

Elen Dias Accordi, Elizabeth Cristina Rodrigues e Nicole Dellatorre Braggio Carreira

Graduandas de Biologia da PUC-PR

“A história da humanidade é repleta de atos considerados violentos e agressivos,já descritos até mesmo na Bíblia e na filosofia clássica, a exemplo de Platão (1990), no Livro IX da República. Nele, Platão faz um retrato do “homem tirânico, o mais violento dos homens, já que é hospedeiro de todos os vícios” (FERRARI, 2006).

A agressividade é um comportamento definido como a disputa por um recurso limitado, seja ele alimento, território ou fêmeas. A intensidade da agressividade é regulada por vários fatores ambientais e fisiológicos, como o período reprodutivo, o estágio de desenvolvimento do organismo a disponibilidade de habitats favoráveis e de alimentos. Devido à eminente possibilidade de sofrimento de injúrias, o reconhecimento antecipado da superioridade do adversário foi evolutivamente mantido. Nos mamíferos o comportamento é regulado principalmente pela região do hipotálamo, porém pode ser observado em todos os grupos de animais. Podendo ser dividida em duas estratégias comportamentais distintas a primeira como a do gavião, no qual, os animais se comportam de maneira agressiva, o que lhes garantem maiores chances de conquista do recurso, entretanto dando margem a possibilidade de sofrimento de injúrias, ou ainda como a dos pombos, que de maneira pouco agressiva lhes assegurando menores chances de injurias e a escolha do padrão está relacionada com o conhecimento do oponente (WOLKERS, 2010).

Johnsson e Akerman (1998) identificaram que em trutas arco-íris, Oncorhynchus mykiss (), o padrão comportamental poderia ser escolhido após a observação de uma competição prévia, ou seja, após um combate os indivíduos competidores foram colocados no mesmo ambiente que animais que observaram a disputa inicial, aos vencedores as trutas observadoras exibiam sinais se submissão imediata e os derrotados eram enfrentados pelos observadores. O padrão de hierarquia também foi observado em Calomys callosus, uma espécie de roedor (), utilizada frequentemente em laboratórios, na qual, os dominantes possuíam um controle do ambiente e dispunham de maiores quantidade de água e alimentos que os submissos, entretanto essa organização foi ao decorrer de um período de tempo e as agressões foram diminuindo de acordo com o estabelecimento da hierarquia (PÓVOA, 2007).

Apesar dos seres humanos possuírem os mesmos estímulos biológicos de os outros animais, a interpretação da agressividade não leva em consideração apenas aspectos etológicos e, na maioria dos casos, prioriza os aspectos culturais, deixando a etologia em segundo plano.

Começando por Monteiro (2009) que em seu trabalho classifica a agressividade humana quanto ao alvo, sendo estas: agressividade direta, onde o comportamento agressivo dirige-se à fonte que o originou; agressividade deslocada, na qual o comportamento agressivo dirige-se para o alvo que não é o responsável pelo desencadear da agressão; e a autoagressão, onde a emoção é dirigida para o próprio, que se torna agressor e agredido ao mesmo tempo. Quanto à maneira de expressão há a agressão aberta, aonde a agressão é explícita seja física ou psicológica; agressão inibida, que não se manifesta para o exterior e dirige-se para si próprio; e a agressão dissimulada, quando o agressor decide expressar a agressividade de forma disfarçada, recorrendo a processos irônicos. Há diferença entre violência e agressividade está no fato de que a primeira causa dano direto ao outro ou a um objeto e o segundo está na vontade da conduta que leva ao dano.

Há uma visão diferente da agressividade mostrada por Bach e Goldberg (1978), que descrevem o mito dos bonzinhos. Eles defendem a ideia de que a conduta “boa” acaba tendo um preço difícil de ser entendido tanto para o “bom” como a pessoa com ela envolvida. Quando a agressividade é expressa ou os confrontos com as pessoas são reprimidos, seja consciente ou por desejo de ser “bonzinho”, esse sentimento não se perde, ao contrário, são impelidos a clandestinidade, e voltam transformados por trás das máscaras aceitáveis socialmente. Por exemplo, a criança que foi ensinada a considerar perigosos os sentimentos agressivos com o propósito de se proteger aprende a bloqueá-los. Uma vez reprimidos, ao se tornar adulto irá se isolar cada vez mais do contato íntimo, a fim de evitar colisão com esse sentimento, que resultou em consequências ruins. Os autores dizem que a agressividade reprimida pode produzir desde enxaquecas até depressão, ou em casos extremos a esquizofrenia.

De acordo com Kristensen et al. (2003), a agressividade não era um domínio exclusivo da etologia. Os autores afirmam que, embora Freud, especialmente na parte inicial de sua obra, não tenha atribuído muita relevância ao tema, a partir da “virada de 1920” percebe-se um escalonamento no estudo do comportamento agressivo, concluindo que a agressividade começa a se formar junto ao desenvolvimento do indivíduo, logo podendo ser avaliada do ponto de vista psicológico.

Sob um enfoque diferente, no qual a agressividade não depende de impulsos internos nem é provocada pela frustração, Albert Bandura (1973, citado em Kristensen, 2003) desenvolveu a teoria da aprendizagem social. Para ele, a maior causa da agressão é o incentivo e as recompensas oferecidas pelo ato. A pessoa, frente a uma situação identificada, pesa os benefícios e os custos potenciais em expressar um comportamento agressivo. Caso os benefícios sejam maiores, ela optará pela agressão, a fim de atingir os seus objetivos.

Segundo Minayo & Souza (1997), algumas teorias, fundamentadas na premissa de que a violência é natural e inevitável, substituem a ideia de processo social e histórico pelo conceito de "agressão", que provém da biologia, etologia, genética e medicina. Nestas disciplinas, a agressividade é entendida como parte do instinto de sobrevivência e forma natural de reação dos animais em certas condições e situações, tendo, portanto, conotação de 'neutralidade' e 'naturalidade', sendo considerada por alguns como essencial para sobrevivência.

Em um ensaio sobre Winnicott, grande estudioso da agressividade, Dias (2000) lembra que o autor diz que, embora inerente, a violência só se desenvolverá, e se tornará parte do indivíduo, se lhe for dada a oportunidade de experienciá-la de acordo com a sua necessidade e emergência no processo de amadurecimento.

Para Winnicott, é a atitude do ambiente com relação à agressividade do bebê que influencia de maneira determinante o modo como este irá lidar com a tendência agressiva que faz parte da sua natureza humana. O autor diz que a principal ideia que este estudo da agressão veicula é que, se a sociedade está em perigo, a razão não se encontra na agressividade do homem, mas na repressão da agressividade pessoal nos indivíduos.

Fazendo uma comparação com o presente e o passado, Lessa (2004) observa algumas diferenças e semelhanças entre os padrões de violência e, consequentemente, no comportamento agressivo dos indivíduos. Um exemplo é a violência contra a criança, cometida na forma de espancamentos e sem relação com aspectos rituais. Este tem se revelado um fenômeno essencialmente moderno, não tendo sido observado nas séries esqueletais pré-históricas. Apesar de que esse fato pode ser explicado devido a falta de controle em liberação da violência, que quando liberada é feita sem controle e segue-se até que se esgote. O fato vem sendo interpretado como produto da falta de vigilância proporcionada por um controle social deficiente, associada ao anonimato urbano.

Por outro lado, a perpetuação de uma prevalência muito mais alta de violência interpessoal entre os homens jovens do que entre outros subgrupos, ao longo da história da humanidade, aponta para uma tendência de comportamento que extrapola as especificidades do contexto cronológico e cultural particular de cada sociedade.

O grupo compartilha da ideia de que a agressividade é algo natural e inato aos seres humanos e às outras espécies, sendo que a maneira como o indivíduo é criado e o ambiente onde ele vive, junto com suas experiências, irão ditar a maneira como essa agressividade se manifesta ou é canalizada para ser liberada de maneiras não violentas. Em alguns casos, crianças pequenas, criadas em um ambiente tranquilo e pacífico, apresentam comportamento extremamente agressivo, superior ao considerado normal. Nestes casos, na maioria das vezes, essas crianças possuem transtornos mentais que causam estas manifestações graves de violência. O grupo acredita que o ser humano, ao contrário dos outros animais, é uma espécie que tende a manifestar a agressividade de uma forma mais frequente e por coisas banais, mas que acionam um mecanismo natural, mas a grande maioria dos animais, entretanto, possui uma agressividade que pode ser controlada na maior parte do tempo e que apenas se manifesta em casos onde há busca por alimento, habitat, parceiros, enfim, onde é preciso ser agressivo para continuar a busca pela sobrevivência.

Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nas seguintes obras:

BACH, G.R.; GOLDBERG, H.; (1978); Agressividade Criativa. Editora Rio de Janeiro.

DIAS, O. E.; (2000); WINNICOTT: Agressividade e teoria do amadurecimento. Natureza Humana. V. 2, n. 1. São Paulo. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1517-24302000000100001&script=sci_arttext

FERRARI, F. I. (2006). Agressividade e Violência. Psic. Clin., V. 18, n. 2, Rio de Janeiro. http://www.scielo.br/pdf/pc/v18n2/a05v18n2.pdf

KRISTENSEN, H. C.; LIMA, S. J; FERLIN, M. 2003. Fatores etiológicos da agressão física: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia. V. 8, n. 1, Rio Grande do Sul. http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n1/17248.pdf

JOHHNSSON, J.I.; AKERMAN, A; (1998) Watch and learn: preview of the fighting ability of opponents alters contest behaviour in rainbow trout. Animal behaviour, v.56, p. 771-776. http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6W9W-45KKV82-13&_user=10&_coverDate=09%2F30%2F1998&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=gateway&_origin=gateway&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1741908605&_rerunOrigin=google&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=6f6098bbadcdcfa17500e7dcced2f5c3&searchtype=a

LESSA, A; (2004). História, Ciências, Saúde-Manguinhos. V.11, n.2, Rio de Janeiro.

MINAYO, S. C. M. & SOUZA, R. E; (1997). Violência e saúde como um campo interdisciplinar e de ação coletiva. História, Ciências, Saúde— Manguinhos. V. 4, n. 3. Rio de Janeiro. http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v4n3/v4n3a06.pdf

MONTEIRO, M. M.; FERREIRA, P. T.; (2009); “Ser Humano” – 2ªParte – Psicologia B – 12ºAno, Porto, Porto Editora.

PÓVOA, CP; BRANDERBURGO; (2007); Study of the social hierarchy and territoriality of Calomys callosus Rengger, 1830 (Rodentia: Cricetidae); Braz. J. Biol.; Uberlândia, Brasil; 67 (3): 429-432; http://www.scielo.br/pdf/bjb/v67n3/06.pdf

WOLKERS, C.P.; (2010) Controle Neuroendocrino do comportamento agressivo de juvenis de matrinxã (Bryon amazonicus); Tese apresentada a Universidade Estadual Paulista- UNESP; Jaboticabal, Brazil. http://www.caunesp.unesp.br/Publicacoes/Dissertacoes_Teses/Dissertacoes/Dissertacao%20Carla%20Patricia%20Bejo%20Wolkers.pdf