sábado, 8 de novembro de 2025

Rio Belém, o silêncio do rio vivo!

 

por Elsa Bula Ndontoni, Rodrigo Egger, Victor Hugo Dantas, Luan Felipe da Cunha Luz e Cristiano Chiaramonti


Há rios que gritam, há rios que sussurram, o Rio Belém aprendeu a falar baixo, em sua grande maioria soterrado sob o asfalto, abafado pelo ruído dos carros e pelo esquecimento das pessoas. Ele corre escondido, como se pedisse desculpas por ainda existir. Mas o Belém não é apenas um curso d’água, um corpo físico que corta a cidade, é também um sujeito moral, uma memória que flui e emerge aquilo que fomos e do que ainda insistimos em ser. Durante décadas, a cidade de Curitiba virou as costas para o seu rio. Canalizou suas veias, cobriu suas margens, silenciou seu sussurro. Transformou parte do que era correnteza em ducto, o que era vida em servidão. Tudo em nome do progresso, do crescimento, da economia. O Belém, que já refletiu o céu da cidade, agora reflete o peso das decisões humanas. Mas, e se olhássemos o Rio Belém não como um recurso, e sim como um sujeito de direito? E se, ao invés de registra-lo como parte do patrimônio natural, o reconhecêssemos como parte essencial da própria existência humana? A Bioética, ao contrário do que muitos pensam, não se limita à medicina ou aos dilemas clínicos. Ela é uma ética da vida, em todas as suas formas, humanas e não humanas. Sob o olhar bioético, o Rio Belém é um ser vulnerável socialmente, digno de cuidado e de proteção, não por sua utilidade, mas por sua existência, por ser portador de vida e sentido moral. Um valor intrínseco que faz dele um sujeito pertencente a uma biodiversidade onde todos humanos e não humanos estão inseridos e dependentes mutuamente.
O princípio do cuidado, nos convida a olhar o outro com empatia e o Belém é um outro que também sofre. Suas margens carregam o peso da desigualdade econômica urbana, evidenciando moradias precárias, lixo acumulado, o cheiro retratado pelo descuido humano. O rio torna-se espelho da vulnerabilidade humana, do descuido com o outro e consigo mesmo, porque o abandono de um reflete o abandono do outro. Respeitar o Belém, portanto, não é apenas uma ação ecológica, e sim um gesto ético, político e profundamente humano. Já o princípio da proteção nos alerta para a urgência de resguardar aquilo que não pode mais se defender sozinho. O Belém foi tomado de si, pela ética humana, perdeu o direito de correr livre, de respirar, de ser rio. Quando a racionalidade econômica permeada por fatores humanos, fala mais alto, a natureza perde o direito de ter voz. E, mesmo assim, o Belém responde abafado pelo olhar dos humanos, fala quando transborda, fala pelo mau cheiro, fala quando desaparece, num grito silencioso da vida sendo contida pela razão humana. Há uma ironia cruel na maneira como o desenvolvimento econômico costuma se apresentar como progresso, enquanto arrasta consigo um custo que raramente é contabilizado, o custo moral. O PIB (Produto Interno Bruto) cresce, mas o rio morre, as avenidas se expandem, mas a água some, a economia prospera para uns, mas seca para outros. No fundo, a lógica que destrói o rio é a mesma que precariza vidas humanas e ilumina a crença de que tudo pode ser explorado até o limite, a terra, a água, o tempo e as pessoas.
Pensar o Rio Belém como sujeito de direito é a tentativa de inverter essa lógica, admitindo que o rio não nos pertence, mas que pertencemos juntos a um mesmo ecossistema. É reconhecer que o valor da água não está na sua comercialização, mas na sua presença silenciosa sustentando a vida planetária. A bioética ambiental surge como princípio de religação entre humanos e não humanos, uma linguagem capaz de integrar o que a modernidade separou, propondo um cuidado e proteção como princípios, enfatizando, em outras palavras, a necessidade de reaprender a escutar o rio. Porque cuidar não é apenas limpar, canalizar ou reflorestar o que foi destruído, mas sim, ouvir e perceber o rio como memória, como história viva, como um ser que testemunhou a nossa pressa e o nosso esquecimento. Cuidar é permitir que o rio tenha novamente o direito de ser por ele mesmo. E talvez seja esse o verdadeiro gesto de cura, devolver ao Belém sua dignidade, retirar-lhe o peso da culpa social que colocamos sobre suas águas, reconhecendo que o problema nunca foi o rio, mas a forma como o tratamos. Há quem diga que o Belém está morto, mas rios não morrem, eles apenas esperam, esperam o momento em que a humanidade reencontre a si mesma, percebendo que sem o rio, a cidade é apenas concreto físico sem a essência da sua alma. 


Que o Belém volte a correr à luz do sol, mesmo que lentamente, e que possa um dia ser lembrado não como o esgoto de Curitiba, mas como o rio que ensinou uma cidade inteira a repensar o que é viver em comunidade com o meio ambiente, no fundo, olhar para o Rio Belém é cuidar daquilo que em nós também está à beira da extinção, a sensibilidade, o pertencimento e a coragem de enxergar a vida como um todo interligado, uma razão socioambiental de pertencimento pulsante e vulnerável. 
Nós como futuros bioeticistas acreditamos que compreender os rios como sujeito de direito é mais do que propor um avanço jurídico e sim, uma abertura para o reconhecimento do meio ambiente como parceiro moral na construção de uma sociedade mais que humana, fundada no respeito e na corresponsabilidade pela vida.

Esse ensaio critico foi elaborado para disciplina de bioética ambiental PPGB, se baseando nos autores: Edgar Morin, Van Rensselaer Potter, Anna Lowenhaupt Tsing, Aldo Leopold, Bruno Latour. A correção ortográfica do texto e as imagens foram produzidas po IA.

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