Na
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a disciplina inovadora
Projeto Interprofissional de Bioética e Direitos Humanos foi concebida como um
espaço de encontro entre saberes diversos, tais como as ciências biológicas e
da natureza, ciências da saúde, educação, tecnologia e humanidades, ela nasceu
da convicção de que os desafios éticos contemporâneos exigem diálogo,
deliberação coletiva e responsabilidade compartilhada entre diferentes
profissões.
A
proposta da disciplina surgiu de dois compromissos centrais. O primeiro é a
atuação da PUCPR como Blue University, selo internacional que reconhece
instituições engajadas com a justiça hídrica, a sustentabilidade e a gestão
ética dos recursos naturais. O segundo é o próprio território: o Rio Belém, que
cruza silenciosamente o campus, poluído e invisibilizado, mas ainda assim parte
integrante de nossa comunidade.
Neste contexto,
estruturamos a disciplina com objetivos claros: desenvolver consciência ética;
articular bioética e direitos humanos com realidades socioambientais locais;
fortalecer o trabalho interprofissional; e produzir ações extensionistas
concretas. A metodologia integrou debates teóricos, participação em espaços
públicos de discussão — como o blog Bioética no dia a dia —, visitas ao rio
Belém para análise crítica da paisagem urbana e entrevistas com profissionais
de diferentes áreas sobre a realidade deste Rio que cruza toda a cidade de
Curitiba. Por fim, equipes interprofissionais elaboraram produtos de
sensibilização social, consolidando o percurso de aprendizagem por meio da
entrega e apresentação de um folder de divulgação.
Os
resultados mais expressivos emergiram do trabalho coletivo. Ao refletirem sobre
o rio como sujeito de direitos, estudantes de cursos diversos mobilizaram
princípios bioéticos como dignidade, responsabilidade ambiental, solidariedade,
respeito à biodiversidade, equidade e justiça social. Essa prática deliberativa
está alinhada aos eixos da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos
Humanos da UNESCO, especialmente no que diz respeito ao direito a um meio
ambiente saudável e ao dever ético de proteger populações vulneráveis e bens
naturais.
O
diálogo entre área da saúde, biologia, educação física, psicologia,
biotecnologia, medicina veterinária, fisioterapia, agraonomia e outras
formações da Escola de Medicina e Ciências da Vida sobre a realidade do entorno
aproximou os estudantes de questões reais que atravessam Curitiba. Foram
analisadas dimensões sociais, econômicas, sanitárias, culturais e espirituais
da poluição do rio Belém, assim como sua relação com profissões distintas. Essas
reflexões dialoga ainda com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável,
sobretudo o ODS 6 (Água Potável e Saneamento), o ODS 13 (Ação Climática) e o
ODS 15 (Vida Terrestre).
Ao
introduzir conceitos como biofilia, ecologia integral e direitos da natureza,
ampliamos o entendimento dos estudantes sobre sua relação com o ambiente. A
ideia de reconhecer o rio Belém como sujeito de direitos convida a transformar a forma como enxergamos
a natureza: não apenas como recurso, mas como ente vivo que compõe a comunidade
moral e política. Esse olhar biocêntrico e ecocêntrico está no centro das
perspectivas contemporâneas da bioética e aproxima-se das discussões globais
sobre justiça ambiental e proteção dos bens comuns.
Conforme
destacado, como culminância da disciplina, as equipes interprofissionais
produziram folders educativos sobre o rio Belém e seus direitos, articulando
ciência, ética e cidadania em linguagem acessível. Esses materiais foram
elaborados ao longo das aulas, empregando análise crítica das entrevistas,
reflexões individuais e referenciais teóricos trabalhados no semestre. Alguns
exemplos desses folders serão divulgados nesta postagem, ilustrando o
compromisso dos estudantes com a educação ambiental, a bioética e a valorização
da água como bem comum.
Ainda
que o impacto imediato possa parecer sutil, afinal, não despoluímos o rio Belém
hoje, estamos realizando algo essencial: formando profissionais e cidadãos
capazes de escutar os rios, de integrar ética e técnica, de reconhecer o valor
intrínseco dos ambientes naturais e de agir em defesa deles. Como Blue
University, reafirmamos que ter um rio poluído atravessando nosso território
não é motivo para ignorá-lo, mas um chamado ético. Ao trazer esse tema que
também é caro aos ODS para o centro do currículo, cultivamos sementes de uma
nova cultura: estudantes que olharão rios, mares e florestas não como objetos
ou cenários, mas como membros da comunidade com os quais compartilhamos
destino. É assim que, a partir de uma disciplina interprofissional, a universidade
contribui para transformar consciências e futuros, e para reconstruir, passo a
passo, uma relação mais justa e igualitária entre
todo o mundo vivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário