sábado, 22 de novembro de 2025

Projeto Interprofissional em Bioética e Direitos Humanos: semeando uma nova forma de olhar para os Rios

 

Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a disciplina inovadora Projeto Interprofissional de Bioética e Direitos Humanos foi concebida como um espaço de encontro entre saberes diversos, tais como as ciências biológicas e da natureza, ciências da saúde, educação, tecnologia e humanidades, ela nasceu da convicção de que os desafios éticos contemporâneos exigem diálogo, deliberação coletiva e responsabilidade compartilhada entre diferentes profissões.

A proposta da disciplina surgiu de dois compromissos centrais. O primeiro é a atuação da PUCPR como Blue University, selo internacional que reconhece instituições engajadas com a justiça hídrica, a sustentabilidade e a gestão ética dos recursos naturais. O segundo é o próprio território: o Rio Belém, que cruza silenciosamente o campus, poluído e invisibilizado, mas ainda assim parte integrante de nossa comunidade.

Neste contexto, estruturamos a disciplina com objetivos claros: desenvolver consciência ética; articular bioética e direitos humanos com realidades socioambientais locais; fortalecer o trabalho interprofissional; e produzir ações extensionistas concretas. A metodologia integrou debates teóricos, participação em espaços públicos de discussão — como o blog Bioética no dia a dia —, visitas ao rio Belém para análise crítica da paisagem urbana e entrevistas com profissionais de diferentes áreas sobre a realidade deste Rio que cruza toda a cidade de Curitiba. Por fim, equipes interprofissionais elaboraram produtos de sensibilização social, consolidando o percurso de aprendizagem por meio da entrega e apresentação de um folder de divulgação.

Os resultados mais expressivos emergiram do trabalho coletivo. Ao refletirem sobre o rio como sujeito de direitos, estudantes de cursos diversos mobilizaram princípios bioéticos como dignidade, responsabilidade ambiental, solidariedade, respeito à biodiversidade, equidade e justiça social. Essa prática deliberativa está alinhada aos eixos da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da UNESCO, especialmente no que diz respeito ao direito a um meio ambiente saudável e ao dever ético de proteger populações vulneráveis e bens naturais.

O diálogo entre área da saúde, biologia, educação física, psicologia, biotecnologia, medicina veterinária, fisioterapia, agraonomia e outras formações da Escola de Medicina e Ciências da Vida sobre a realidade do entorno aproximou os estudantes de questões reais que atravessam Curitiba. Foram analisadas dimensões sociais, econômicas, sanitárias, culturais e espirituais da poluição do rio Belém, assim como sua relação com profissões distintas. Essas reflexões dialoga ainda com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, sobretudo o ODS 6 (Água Potável e Saneamento), o ODS 13 (Ação Climática) e o ODS 15 (Vida Terrestre).

            Ao introduzir conceitos como biofilia, ecologia integral e direitos da natureza, ampliamos o entendimento dos estudantes sobre sua relação com o ambiente. A ideia de reconhecer o rio Belém como sujeito de direitos  convida a transformar a forma como enxergamos a natureza: não apenas como recurso, mas como ente vivo que compõe a comunidade moral e política. Esse olhar biocêntrico e ecocêntrico está no centro das perspectivas contemporâneas da bioética e aproxima-se das discussões globais sobre justiça ambiental e proteção dos bens comuns.

Conforme destacado, como culminância da disciplina, as equipes interprofissionais produziram folders educativos sobre o rio Belém e seus direitos, articulando ciência, ética e cidadania em linguagem acessível. Esses materiais foram elaborados ao longo das aulas, empregando análise crítica das entrevistas, reflexões individuais e referenciais teóricos trabalhados no semestre. Alguns exemplos desses folders serão divulgados nesta postagem, ilustrando o compromisso dos estudantes com a educação ambiental, a bioética e a valorização da água como bem comum.

Ainda que o impacto imediato possa parecer sutil, afinal, não despoluímos o rio Belém hoje, estamos realizando algo essencial: formando profissionais e cidadãos capazes de escutar os rios, de integrar ética e técnica, de reconhecer o valor intrínseco dos ambientes naturais e de agir em defesa deles. Como Blue University, reafirmamos que ter um rio poluído atravessando nosso território não é motivo para ignorá-lo, mas um chamado ético. Ao trazer esse tema que também é caro aos ODS para o centro do currículo, cultivamos sementes de uma nova cultura: estudantes que olharão rios, mares e florestas não como objetos ou cenários, mas como membros da comunidade com os quais compartilhamos destino. É assim que, a partir de uma disciplina interprofissional, a universidade contribui para transformar consciências e futuros, e para reconstruir, passo a passo, uma relação mais justa e igualitária entre todo o mundo vivo.







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