sábado, 22 de novembro de 2025

O que as teias escondem: descobrindo caminhos para o controle ético da aranha-marrom

 Por Gabriel Henrique Cadenas SIEBURGER




Desde o colégio Positivo, quando participei do Clube de Ciências, criei o gosto por observar o comportamento animal e entender como pequenas interações respondem a perguntas maiores. Naquela época, mergulhei em temas variados: herpetologia, dengue, saúde pública, ciência forense e até projetos de limpeza de lago com plantas aquáticas. Apesar da paixão pela ciência, meu foco era prestar medicina. Com o ENEM acontecendo em plena pandemia, não consegui seguir esse caminho e assim fui para minha segunda opção a Biologia. O que eu não sabia é que essa escolha acabaria me levando exatamente ao que sempre me fascinou. Ao entrar na PUCPR, jamais imaginei que trabalharia com aranhas ou que passaria tantas horas observando tais, movimentos quase imperceptíveis e comportamentos que, aos poucos, revelaram um mundo complexo. Logo no primeiro período, ingressei no estágio no Núcleo de Estudos do Comportamento Animal (NEC), e ali tive meu primeiro contato com o tema do controle. Esse início me levou a um PIBITI (DESENVOLVIMENTO DE PROTOCOLO DE CONTROLE BIOLÓGICO PARA ARANHA-MARROM).
Mais tarde, ao meu Trabalho de Conclusão de Curso, uma jornada contínua que uniu comportamento, ética, ecologia e convivência.  No dia 13 de novembro de 2025 no auditório Madre Leone da EMCV da PUCPR defendi meu TCC intitulado CONTRIBUIÇÃO PARA PROTOCOLO DE CONTROLE BIOLOGICO DA ARANHA-MARROM A PARTIR DO COMPORTAMENTO DE CONSTRUÇÃO DE TEIAS DE ARANHAS ARANEOFÁGICAS de diante a banca comporta pelos professores Dra. Lays Parolin e Dr. João Minoso, concluindo mais um ciclo da minha formação profissional que já é marcada pela publicação de um resumo expandido (clique aqui para conhecer) e um artigo no prelo.  
A aranha-marrom é considerada uma das principais pragas ambientais, que afetam diretamente a sociedade, devido a sua aproximação a casas urbanas, gerando acidentes. Esses acidentes, chamados de Loxoscelismo, são um grande problema para as pessoas, por apresentarem um aumento anual de registros, em que predominam na região de Curitiba, há mais de 30 anos. A pesquisa teve como foco a aranha-marrom e os desafios do seu controle em ambientes urbanos. Em vez de recorrer a métodos agressivos ou estritamente químicos, busquei uma abordagem mais ética, para entender como diferentes espécies de aranhas interagem entre si e como as próprias teias podem revelar caminhos para um controle biológico. No viveiro do laboratório, observei e registrei teias e comportamentos de aranha-marrom, aranha treme-treme (Pholcus phalangioides) e viúva-vermelha (Nesticodes rufipes). 
Analisei padrões, comportamentos e situações de interação, buscando compreender como espécies predadoras de aranhas poderiam atuar como agentes naturais de controle, reduzindo a presença da aranha-marrom sem causar danos ambientais. Esse estudo tem relevância social, devido o loxoscelismo continuar sendo um problema de saúde pública no Brasil. Muitas estratégias usadas hoje são ineficientes ou geram impactos ambientais. Pensar em alternativas que considerem a biologia das espécies, suas interações naturais e princípios éticos abre caminho para métodos mais eficazes, seguros e sustentáveis, contribuindo para uma convivência mais equilibrada entre humanos e aranhas nas cidades. Os resultados revelaram diferenças importantes nos padrões de ocupação e movimentação, estratégias de captura e arquitetura das teias, de cada espécie. Onde a treme-treme e a viúva-vermelha se mostraram ótimas para o controle, por conta das estratégias de posicionamento de teias próximas às aranha-marrom, reduzindo a movimentação das mesmas. Além de no caso da treme-treme, houve a melhor adaptação e movimentação durante a pesquisa. Porém o maior desafio não está apenas nas técnicas de controle, mas sim na relação humano animal, pelo medo, preconceito histórico e o incômodo estéticos pelas teias, impedindo que essa alternativa ecológica seja aceita pela população. Depois de anos convivendo com essas espécies, observando suas teias e compreendendo seu papel ecológico, uma pergunta permanece:

“As aranhas são realmente o problema, ou é o preconceito que construímos sobre elas?”

Nada disso seria possível sem pessoas que caminharam comigo. Desde a profa. Flavia Amend até minha orientadora, Dra. Marta Luciane Fischer, minha gratidão pela paciência, confiança e incentivo desde o início da graduação. Agradeço também aos colegas do laboratório, pelas coletas, pelas horas no viveiro e pelas conversas compartilhadas. À minha família e amigos, pelo apoio constante. E à minha antiga professora do colégio, Flavia, por ter despertado em mim o encantamento pela biologia. Cada uma dessas pessoas teve um papel essencial na construção desse trabalho.




O presente ensaio tem o intuito de informar a defesa do Trabalho de conclusão se curso, para informações complementares indicamos os artigos a seguir:
 

SIEBURGER, Gabriel Henrique Cadenas; FISCHER, Marta Luciane. DESENVOLVIMENTO DE PROTOCOLO DE CONTROLE BIOLÓGICO PARA ARANHA-MARROM. In: XIII Jornada de Produção Científica e Tecnológica, XVI Ciclo de Palestras Tecnológicas, I Semana da Pedagogia e X Semana da Biologia. Instituto Federal de São Paulo-Câmpus São Roque, 2025. (clique aqui)

FISCHER, Marta Luciane. Vivências de 30 anos do loxoscelismo em Curitiba, Paraná, Brasil: rumos de uma educação em saúde disruptiva, inclusiva, humanitária e sustentável. Revista Inclusiones, v. 9, n. 3, p. 52-77, 2022. (Clique aqui)

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