quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A comunicação-não violenta: potencial no desenvolvimento de competências em deliberação coletiva na educação básica

por Alex Aparecido da Silva



A comunicação é uma condição fundamental da convivência humana. Por acontecer no campo dos relacionamentos é importante compreender: se trata de uma via de mão dupla e, então, tão importante quanto saber se expressar é também saber escutar. Em diversos contextos cenários, as relações podem ser bem difíceis. E aqui vale destacar a relação entre professores e estudantes, no contexto escolar, investigado à luz da Comunicação-Não Violenta (CNV), em que se compreende o processo ensino-aprendizagem como trocas mediadas pela comunicação, desde as teorias, práticas e avaliações necessárias. Além disso, é importante considerar o meio educacional também precisa corresponder, em certo nível, às demandas de desenvolvimento sociais e emocionais das crianças e adolescentes, evitando práticas de bullying e modelando comportamentos de cuidado e respeito mútuos. Esse problema, portanto, não dificulta apenas as relações interpessoais particulares, mas também afeta instituições de todos os tipos, inclusive no campo da Educação.
Relacionamentos interpessoais, às vezes, podem ser difíceis. Simples conversas podem acabar em briga, confusão ou mágoa? E o desgaste emocional que essas situações causam e que acarretam disputas, inimizades, separações e até guerras? É essencial estarmos atentos às coisas que são importantes para os outros assim como também é precisamos estar conscientes das próprias emoções em uma conversa, diálogo ou negociação. Os tons de voz e expressões corporais, podem comunicar tanto ou mais que as próprias palavras, pois podem estar sinalizando a emergência de emoções importantes, que precisam ser consideradas, para que elas não roubem o sentido original da comunicação, ou até mesmo, se não é a própria emoção a motivadora da comunicação. Nas escolas, instituições que tendem a espelhar as realidades sociais de suas respectivas comunidades, a comunicação empática e compassiva pode ser um antídoto contra violências de todo tipo. ,É aí que entra a CNV: uma forma de se expressar que ajuda as pessoas a se entenderem melhor e a resolverem conflitos sem gritos, ofensas ou disputas. Ela foi criada por um psicólogo chamado Marshall Rosenberg, que acreditava que todo ser humano quer ser compreendido e respeitado. Ele mostrou que, quando aprendemos a falar com empatia e a escutar com atenção, conseguimos transformar situações de raiva ou tristeza em momentos de aprendizado e reconciliação.

Em nosso estudo, nós analisamos centenas de pesquisas sobre como a CNV vem sendo usada, principalmente nas escolas do mundo todo, e o que descobrimos é inspirador. As escolas que aplicam essa técnica vivem menos conflitos, têm alunos mais tranquilos e professores mais preparados para lidar com as diferenças. Em países como Áustria, Sérvia e no Brasil, a CNV já é usada até nas aulas, nas reuniões e em projetos de convivência escolar. A premissa é de que quando há real interesse em entender os sentimentos uns dos outros, disposição para compreender as necessidades que emergem e intencionalidade empática ao levantar questões e formular pedidos, não sobra espaço para agressões e mágoas. Praticar a CNV é, na verdade, aprender aplicar competências socioemocionais, saber se colocar no lugar do outro, controlar impulsos, expressar sentimentos de modo claro e buscar soluções conjuntas. Algo que, pedagogicamente, encontra espaço em métodos deliberativos. Nas deliberações, como diferentes valores pessoais podem surgir orientando posicionamentos diferentes sobre um mesmo assunto, os conflitos são inevitáveis. Entretanto, como a Bioética pressupõe, conflito não é sinônimo de briga ou embate, mas sim de um impasse que dificulta uma tomada de decisão diante de diferentes valores pessoais envolvidos. Sendo assim, a CNV pode ser hábil como instrumento ao professor que utiliza a deliberação em suas aulas, mas principalmente, pode se revelar como modelo aos estudantes envolvidos. E este da pesquisa que estamos apresentando aqui: “A comunicação não-violenta: potencial no desenvolvimento de competências em deliberação coletiva na educação básica”, resultado de uma revisão ampla que analisou como a Comunicação Não-Violenta tem sido utilizada em diferentes países e contextos escolares, disponível gratuitamente, ele pode ser acessado aqui: https://periodicos.unisantos.br/pesquiseduca/article/view/1662/1462. Em perspectiva com a Bioética, a CNV se revela como uma ferramenta prática, que operacionaliza os princípios do cuidado da vida e da ação responsável, pois esses princípios são perpassados pela necessidade de uma comunicação eficaz, compassiva e empática. E, em um mundo que fala muito e escuta pouco, a Comunicação Não-Violenta nos ensina que compreender é tão importante quanto ser compreendido. É assim que começamos a construir uma cultura de paz, dentro e fora da escola.

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