quarta-feira, 12 de maio de 2021

Sabia que as formigas também possuem cuidados básicos com infecções?

Série Ensaios: Socibiologia


Por: Ana Luiza de Castro Viero1, Andrielly Nunes de Almeida, Erika Sousa Dias 1, Júlia Bacarin Monte Alegre1, Maria Paula de A. P. Cunha1.

1Graduanda em Ciências Biológicas-PUCPR

2Graduanda em Psicologia-PUCPR

 

Em Curitiba foi noticiado um caso de um vendedor dentro do ônibus que estava fazendo o uso incorreto da máscara (estava fora da região nariz e boca) e por isso outro passageiro chamou atenção e pediu para fazer o uso correto da máscara, por causa disso o vendedor começou a apresentar um comportamento mais agressivo e a fazer o uso de xingamento contra o passageiro (TRIBUNA, 2020). Em diversos países já foram registrados casos de habitantes agressivos por não quererem fazer o uso da máscara.

No final de 2019, um novo vírus da família coronavírus foi identificado como causador da "coronavírus disease 2019" (COVID-19), devido ao surgimento desta doença tornou-se necessário o isolamento social para evitar a contaminação e a lotação dos sistemas de saúde, além disso alguns cuidados que anteriormente não eram comuns, se tornaram indispensáveis, como: a utilização de máscaras; higienização das mãos; o uso de álcool gel; limpeza de todos os materiais que saírem e retornarem para a residência. Tais cuidados foram medidas obrigatórias impostas pela OMS para diminuir a circulação do vírus. Apesar de ser um momento de isolamento social, alguns sistemas não pararam, como: ônibus e mercados. Porém, o uso da máscara é obrigatório nestes locais.

Entretanto, existem moradores que não respeitam as regras destes locais e geram confusões por causa disso. A máscara é uma forma de barreira física contra gotículas presentes no ar quando uma pessoa tosse ou espirra, sendo de extrema importância neste momento pois contágio pela COVID-19 é por inalação de gotículas, então o seu uso é uma forma de proteção contra a disseminação da doença.  


As formigas pertencentes à espécie Lasius neglectus  são animais sociais e compõem super colônias, nas quais a integridade bem como a saúde de seus integrantes é fundamental para um bom funcionamento e, portanto, para a sobrevivência.

Por outro lado, o fungo Metarhizium anisopliae alimenta-se dos nutrientes presentes nos organismos de insetos e, muitas vezes, acaba matando-os por conta disso, além de que seus esporos se alojam no exoesqueleto, onde desenvolvem-se originando as hifas.

Essa espécie de formiga também apresenta uma estratégia de proteção de seus semelhantes. Essa técnica é baseada numa forma de limpeza da formiga contaminada, infectando todos da colônia com uma pequena dose do fungo, gerando uma imunidade social.

Além dessa espécie o gênero Lasius sp. também apresenta uma espécie com comportamentos de higiene, contra o mesmo fungo. Ao contrário da citada acima, essa apresenta comportamentos mais próximos aos nossos. A espécie L. niger quando contaminada com os esporos, passa por uma espécie de limpeza retirando esses esporos antes de retornar à colônia, obtendo ajuda de outras formigas pra facilitar o processo.

Apesar das diferentes estratégias, o objetivo dessas formigas é o mesmo que o nosso. Reduzir os danos da população, adquirindo técnicas básicas como higiene e empatia.


Em relação ao isolamento social, pode-se observar que as condutas humanas no enfrentamento aos agentes patogênicos aparecem também em outras espécies, assim como as formigas, buscam esse isolamento para proteger a colônia em caso de alguma doença infecciosa. O foco também é a proteção dos indivíduos saudáveis das colônias, porém o que difere é que existe aqui o auto isolamento passivo, um pouco diferente do que ocorre em nosso país no momento atual. As formigas da espécie Lasius niger, evitam entrar no ninho quando estão infectadas pelo fungo, como dito anteriormente, e quando estão perto da morte, abandonam de vez o formigueiro, mostrando assim esse comportamento altruísta. Além disso, outro comportamento identificado por Stroeymeyte, diz respeito ao lockdown que pode ser observado nos ninhos e formigueiros, onde mesmo assintomáticas, ao saber que o ninho foi infectado, as formigas coletoras e as encarregadas de cuidar das crias se revezam e evitam a entrada no formigueiro, para evitar assim o contágio patogênico (EL PAÍS, 2021 ).

Foi visto em alguns estudos que determinados invertebrados expostos a uma baixa dose de um patógeno tem a capacidade de se tornarem mais resistentes caso forem novamente expostos a uma dose mais alta deste mesmo patógeno. Esse mecanismo recebeu o nome de “priming imunológico”. Nesse mesmo estudo, realizou-se um experimento com a formiga rainha da espécie Lasius niger, sendo possível observar que as rainhas já acasaladas possuem mais resistência imunológica aos patógenos em relação às rainhas virgens.

 A principal diferença é que esses e mais alguns comportamentos são realizados de maneira proativa, enquanto na sociedade em geral, tem se visto o oposto. Além de que o isolamento no país traz outras questões políticas e socioeconômicas, pois atividades essenciais, conforme a lei, não podem ser paralisadas,e outros pontos como desemprego, cuidados com os filhos, disponibilização de cuidadores em casa para estar com as crianças evoca essa complexidade, que difere da sociedade das formigas. Todavia, existem pessoas que mesmo em situação decretada de lockdown, desobedecem e escolhem a aglomeração. Muitas notícias com esse enredo pelo Brasil desde o ano passado até hoje foram apontadas, vejamos o caso do Shopping Hauer, uma rua com vários bares na cidade de Curitiba/PR, conforme apresenta o Paraná Portal em abril deste ano.

A prefeitura de Curitiba  e seus agentes fiscais, mas uma vez atuou sobre festas clandestinas e aglomerações no final de semana, durante a pandemia, mesmo com os hospitais da Capital (referência em saúde) lotados, e leitos para o covid com fila de espera para atendimento. Conforme a notícia, foram encontradas mais de 300 pessoas concentradas no MOM, outro ambiente com bares na cidade, além disso mostram a não utilização da máscara, e consumo de bebida alcoólica após o horário de consumo decretado estabelecido. Muitas abordagens foram realizadas a ponto dos órgãos adotarem outras estratégias com o uso de megafone alertando sobre o contágio e sobre as formas de proteção no decorrer da cidade (PARANÁ PORTAL, 2021).

    


       Nós como futuros biólogos e psicóloga acreditamos que a observação das espécies para a compreensão de seus comportamentos, tem muito a nos oferecer, por isso a área da etologia se torna tão importante. Todas as espécies agem a fim de sobreviver às situações impostas a elas. Contudo o ser humano tem o estranho hábito de fazer exatamente o oposto, por teimosia, rebeldia ou simplesmente ignorância, como podemos observar pelos exemplos citados. A observação das atitudes de animais tão simples e pequenos aos nossos olhos nos mostra o quão complexos e inteligentes são, mesmo que por instinto. A atribuição de ações semelhantes como as das formigas que fazem isolamento social a fim de proteger os membros de suas colônias, deveria ser exatamente o que todos nós humanos deveríamos fazer em época de pandemia, agindo como elas de forma altruísta, evitando ao máximo o contágio de novos indivíduos. Assim como o citado isolamento passivo, onde cada indivíduo entende a situação e se isola voluntariamente, protegendo toda a colônia.

 

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras:

BUCKHAM-BONNETT, Phillip; LEE, Paul; ROBINSON, Elva JH. Identifying the invasive garden ant (Lasius neglectus). Disponível em: https://bwars.com/sites/www.bwars.com/files/info_sheets/L.neglectus_ID_sheet_v2.pdf. Acesso em: 02.mar.2021.

COPERCHINI, F. et al. The cytokine storm in COVID-19: An overview of the involvement of the chemokine/chemokine-receptor system. Cytokine and Growth Factor Reviews, v. 53, n. May, p. 25–32, 2020.Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cytogfr.2020.05.003. Acesso em :17 abr . 2021

EL PAÍS. Formigas também fazem ‘lockdown’ para proteger o formigueiro em suas epidemias. 2021. Disponível em:  https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-03-05/formigas-tambem-fazem-lockdown-para-proteger-o-formigueiro-em-suas-epidemias.html. Acesso em: 17 abr. 2021.

GÁLVEZ, D., & CHAPUISAT, M. Immune priming and pathogen resistance in ant queens. Ecology and Evolution, 4(10), 1761-1767.2014. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ece3.1070. Acesso em: 06. mai. 2021

 GAO, Qiang et al. Genome sequencing and comparative transcriptomics of the model entomopathogenic fungi Metarhizium anisopliae and M. acridum. PLoS Genet, v. 7, n. 1, p. e1001264, 2011. Disponível em: https://journals.plos.org/plosgenetics/article?id=10.1371/journal.pgen.1001264. Acesso em: 02.mar.2021

 

G1. OMS reforça que medidas de isolamento social são a melhor alternativa contra o coronavírus. 2020. Disponível em:https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/03/30/oms-reforca-que-medidas-de-isolamento-social-sao-a-melhor-alternativa-contra-o-coronavirus.ghtml. Acesso em: 06 mai.2021.

iNaturalist. Lasius neglectus. Disponível em: https://www.inaturalist.org/guide_taxa/555261. Acesso em: 02.mar.2021

 

PARANÁ PORTAL, Prefeitura de Curitiba verifica aglomerações no MON e Shopping Hauer; festa clandestina é encerrada. 2021. Disponível em: https://paranaportal.uol.com.br/cidades/fiscalizacao-prefeitura-curitiba-mon-hauer-festa-clandestina/amp/. Acesso em: 29 abr. 2021.

TRIBUNA. Vendedor que brigou com passageiro em Curitiba por causa de máscara é excluído de instituição. 2020. Disponivel em: https://tribunapr.uol.com.br/noticias/curitiba-regiao/vendedor-que-brigou-com-passageiro-em-curitiba-por-causa-de-mascara-e-excluido-de-instituicao/.  Acesso em: 17 abr. 2021.

UFRGS. Estudo comprova a eficácia do uso de máscara e do distanciamento social no combate à pandemia. 2020.Disponível em:https://www.ufrgs.br/jornal/estudo-comprova-a-eficacia-do-uso-de-mascara-e-do-distanciamento-social-no-combate-a-pandemia/. Acesso em: 06 mai. 2021

UOL. Por que OMS agora recomenda uso de máscara em público contra covid-19. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/06/06/por-que-oms-agora-recomenda-uso-de-mascara-em-publico-contra-covid-19.htm. Acesso em: 06 mai. 2021.

 

 

 

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