quinta-feira, 6 de maio de 2021

Agressividade e irritabilidade: efeitos do isolamento social

  Série Ensaios: Sociobiologia

Por Andressa Cordeiro Riceto, Andressa de Paula Souza do Rosário, Bruna N. Ben Zenewich, Felipe Camarão Grott e Rúbia dos Santos Lang.

Graduanados de Biologia e Psicologia

A revista Isto é veiculou a notícia “mulher é presa após atingir idosa com maracujá congelado em ato contra o STF”, publicada em 12/04/21 exemplifica a agressividade e as crises de saúde mental durante a pandemia, o que é mais curioso é que a mulher ao ver uma situação que lhe causa desconforto, faz com que ela reaja à arremessando um alimento. 

O contexto da pandemia trouxe uma série de problemas e junto a eles surgiram as crises de saúde mental, os sinais de estresse, impaciência e agressividade, eventos que promovem incertezas, ameaças à vida e desestabilização de rotinas. Esses sinais são percebidos e expressados em situações de insatisfação, de raiva, nervosismo, frustração, fúria, como visto no caso de uma psicóloga que arremessou um maracujá em uma idosa. A mulher teria arremessado o alimento ao observar uma cena que lhe trouxe insatisfação: uma marcha que reunia pessoas que eram contra as restrições impostas a cultos religiosos, situação que é totalmente fora do comum e que não é permitida durante o momento em que vivemos. Ao analisarmos a agressividade no mundo animal percebemos que isso é comum, por exemplo, os ratos fazem ameaças e até atacam uns aos outros quando percebem situações de desordem no grupo, como demonstrado em na notícia “de onde vem a violência”, da revista Super Abril.   


Primeiramente, para entender o que acontece com a agressividade, deve-se pensar que humanos, são animais sociais e que agentes estressores são usualmente considerados estímulos nocivos que causam alterações nos parâmetros da homeostase e assim, o animal mudará seu comportamento em relação a um dado estímulo.  Comparando humanos com animais mantidos em cativeiro, por exemplo, entende-se que animais em confinamento apresentam frequentemente distúrbios de comportamento comparados aos que vivem em seu ambiente natural. Os felinos quando passam por situações de longo período de estresse têm uma tendência de aumentar sua reação de alerta, da agressividade e ficarem mais anti-sociais. Isso pode ser explicado com base no condicionante biológico, observando a alteração dos parâmetros e vias hormonais no organismo.

Para responder ao estresse o animal ativa algumas vias hormonais. Em um primeiro momento, a noradrenalina e adrenalina são liberadas através de terminações nervosas e da medula adrenal aumentando a frequência cardíaca e respiratória, depois o nível de CRH é aumentado pelo hipotálamo e este estimula o ACTH que é levado ao córtex adrenal estimulando a secreção de glicocorticóides, como por exemplo, o cortisol, consequentemente, ativam o catabolismo de proteínas no músculo e a gliconeogênese (HILL, WYSE & ANDERSON, 2015). E uma outra via, que envolve a liberação de ambos hormônios, que estimulam o tálamo e neocórtex e enviam uma resposta ao sistema motor, levando a informação aos membros e assim o animal exibirá o comportamento de se esconder, correr, fugir, agredir ao outro (ACCO, 1999).


Existem comportamentos que aliviam o estresse, como por exemplo, brincar com membros do grupo, o contato físico, a prática de exercícios físicos no caso de humanos. Ao ser submetido a essas atividades o animal reduz a atividade do eixo HPA/HPI, reduzindo os níveis de glicocorticóides do organismo e, consequentemente, percebe sinais de relaxamento (MOLICO, 2013).

Em etologia, quando ocorre comportamentos de agressão, ataque e submissão a outros indivíduos do grupo, isso é conhecido como um comportamento agonístico que inclui respostas defensivas, submissão, ameaças, exibições e agressão entre indivíduos co-específicos. Um animal é agressivo naturalmente, isso é necessário para a defesa do território, dos filhotes, ou para manter hierarquia e organização no grupo e, portanto, fundamental para manter a sobrevivência e sucesso reprodutivo. Quando há um estímulo, como por exemplo, a frustração, essa agressividade é desencadeada e assim os comportamentos agonísticos são demonstrados.

A atitude da mulher pode ser comparada com o comportamento dos animais criados em cativeiro, que ao ficarem isolados e solitários por um longo período, passam por períodos de estresse e como consequência desencadeiam comportamento agonístico de agressividade. Além disso, também destaca-se o comportamento agonístico de submissão sendo importante no contexto, que pode ser visto na espécie Callithrix jacchus que utiliza a submissão para estabelecer hierarquia no grupo (SANTOS, 2018).

Analisando em uma perspectiva psicológica o comportamento humano eliciado pelo isolamento social (seja na pandemia e quarentena do covid-19 ou por diferentes casos previamente registrados na literatura), os estudos indicam que, temos em crianças e adolescentes o aumento do risco de depressão e ansiedade durante e após o período de quarentena mas podendo ser mitigado pelo acesso a novas tecnologias de informação naqueles entre 10 e 24 anos, podendo associar esses dados ao fato da solidão ser associada a antecessores de problemas de saúde mental.


Ao observar os fenômenos mencionados anteriormente, podemos definir à luz da psicologia comportamental que os malefícios do isolamento social se relacionam não somente com causas biológicas e etológicas, havendo o afastamento de um grupo de apoio, ampliando fatores coercitivos na retirada de reforçadores positivos e negativos do cotidiano, diminuindo as possibilidades de estratégias de enfrentamento, assim como diminuindo suas possibilidades de fuga e esquiva, mantendo a pessoa em um constante estado de luta, logo elevando o estresse.

Na luz dos fatos elucidados, concluímos que a análise multifatorial é necessária para o entendimento do ser humano e os diferentes fatores envolvidos em suas atitudes e comportamentos.

  

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia se baseando nas obras:

 

ACCO, A. et. al., Síndrome do estresse em animais - revisão. Arq. ciên. vet. zool. UNIPAR. v.2, n.1. jan, jul 1999. Disponível em:

https://revistas.unipar.br/index.php/veterinaria/article/view/661/577

 

FARIAS, A.; FONSECA, F. & NERY, L. Teoria e Formulação de Casos em Análise Comportamental Clínica De Farias, Fonseca Nery. Porto Alegre, Artmed, 2018. Disponível em: https://www.academia.edu/39585513/Teoria_e_Formula%C3%A7%C3%A3o_de_Casos_em_An%C3%A1lise_Comportamental_Cl%C3%ADnica_De_Farias_Fonseca_Nery 

 

GOVERNO DO PARANÁ (org). Saúde mental. Disponível em : https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Saude-Mental#

 

W., H.R.; A., W.G.; MARGARET, A. Fisiologia Animal. Grupo A, 2015. 9788536326832. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536326832/. Acesso em: 02 Maio 2021.

 

ISTO É (org). Mulher é presa após atingir idosa com maracujá congelado em ato contra o STF. Disponível em: https://istoe.com.br/pr-mulher-e-presa-apos-atingir-idosa-com-maracuja-congelado-em-ato-contra-o-stf/

 

KHAN ACADEMY (org). Homeostase. Disponível em: https://pt.khanacademy.org/science/biology/principles-of-physiology/body-structure-and-homeostasis/a/homeostasis

 

KRISTENSEN, C. H. et al. Fatores etiológicos da agressão física: uma revisão teórica. Estud. psicol. (Natal),  Natal ,  v. 8, n. 1, p. 175-184,  Apr.  2003 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2003000100020&lng=en&nrm=iso>.

 

LOADES, M. E. et al. Rapid Systematic Review: The Impact of Social Isolation and Loneliness on the Mental Health of Children and Adolescents in the Context of COVID-19. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. v. 59, n.11, nov 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0890856720303373

 

ORBEN, A.; TOMAVA, L. & BLAKEMORE, S. The effects of social deprivation on adolescent development and mental health. The Lancet Child & Adolescent Health. v.4, n.8, ago, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2352464220301863

 

SANTOS, P. Influência da hierarquia na dinâmica de interação social em machos de Callithrix jacchus em ambiente natural. Dissertação de mestrado,  Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/26288/1/Influ%C3%AAnciahierarquiadin%C3%A2mica_Santos_2018.pdf.

 

SUPER ABRIL (org). De onde vem a violência. Disponível em: https://super.abril.com.br/comportamento/de-onde-vem-a-violencia/

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