Série Ensaios: Sociobiologia
Por Andressa Cordeiro Riceto,
Andressa de Paula Souza do Rosário, Bruna N. Ben Zenewich, Felipe Camarão Grott
e Rúbia dos Santos Lang.
Graduanados de Biologia e
Psicologia
A revista Isto é veiculou a notícia “mulher é presa após atingir idosa com maracujá congelado em ato contra o STF”, publicada em 12/04/21 exemplifica a agressividade e as crises de saúde mental durante a pandemia, o que é mais curioso é que a mulher ao ver uma situação que lhe causa desconforto, faz com que ela reaja à arremessando um alimento.
O contexto da pandemia trouxe uma
série de problemas e junto a eles surgiram as crises de saúde mental, os sinais de estresse, impaciência
e agressividade, eventos que promovem incertezas, ameaças à vida e
desestabilização de rotinas. Esses sinais são percebidos e expressados em
situações de insatisfação, de raiva, nervosismo, frustração, fúria, como visto
no caso de uma psicóloga que arremessou um maracujá em uma idosa. A mulher
teria arremessado o alimento ao observar uma cena que lhe trouxe insatisfação:
uma marcha que reunia pessoas que eram contra as restrições impostas a cultos
religiosos, situação que é totalmente fora do comum e que não é permitida
durante o momento em que vivemos. Ao analisarmos a agressividade no mundo
animal percebemos que isso é comum, por exemplo, os ratos fazem ameaças e até atacam
uns aos outros quando percebem situações de desordem no grupo, como demonstrado
em na notícia “de onde vem a violência”, da revista Super Abril.
Primeiramente, para entender o que acontece com a agressividade, deve-se pensar que humanos, são animais sociais e que agentes estressores são usualmente considerados estímulos nocivos que causam alterações nos parâmetros da homeostase e assim, o animal mudará seu comportamento em relação a um dado estímulo. Comparando humanos com animais mantidos em cativeiro, por exemplo, entende-se que animais em confinamento apresentam frequentemente distúrbios de comportamento comparados aos que vivem em seu ambiente natural. Os felinos quando passam por situações de longo período de estresse têm uma tendência de aumentar sua reação de alerta, da agressividade e ficarem mais anti-sociais. Isso pode ser explicado com base no condicionante biológico, observando a alteração dos parâmetros e vias hormonais no organismo.
Para responder ao estresse o animal
ativa algumas vias hormonais. Em um primeiro momento, a noradrenalina e
adrenalina são liberadas através de terminações nervosas e da medula adrenal
aumentando a frequência cardíaca e respiratória, depois o nível de CRH é aumentado pelo hipotálamo e este
estimula o ACTH que é levado ao córtex adrenal
estimulando a secreção de glicocorticóides, como por exemplo, o cortisol,
consequentemente, ativam o catabolismo de proteínas no músculo e a gliconeogênese (HILL, WYSE & ANDERSON, 2015). E uma outra via, que envolve a
liberação de ambos hormônios, que estimulam o tálamo e neocórtex e enviam uma
resposta ao sistema motor, levando a informação aos membros e assim o animal
exibirá o comportamento de se esconder, correr, fugir, agredir ao outro (ACCO, 1999).
Existem comportamentos que aliviam o estresse, como por exemplo, brincar com membros do grupo, o contato físico, a prática de exercícios físicos no caso de humanos. Ao ser submetido a essas atividades o animal reduz a atividade do eixo HPA/HPI, reduzindo os níveis de glicocorticóides do organismo e, consequentemente, percebe sinais de relaxamento (MOLICO, 2013).
Em etologia, quando ocorre
comportamentos de agressão, ataque e submissão a outros indivíduos do grupo,
isso é conhecido como um comportamento agonístico que inclui respostas
defensivas, submissão, ameaças, exibições e agressão entre indivíduos
co-específicos. Um animal é agressivo naturalmente, isso é necessário para a
defesa do território, dos filhotes, ou para manter hierarquia e organização no
grupo e, portanto, fundamental para manter a sobrevivência e sucesso
reprodutivo. Quando há um estímulo, como por exemplo, a frustração, essa
agressividade é desencadeada e assim os comportamentos agonísticos são
demonstrados.
A atitude da mulher pode ser
comparada com o comportamento dos animais criados em cativeiro, que ao ficarem
isolados e solitários por um longo período, passam por períodos de estresse e
como consequência desencadeiam comportamento agonístico de agressividade. Além
disso, também destaca-se o comportamento agonístico de submissão sendo
importante no contexto, que pode ser visto na espécie Callithrix jacchus que utiliza a submissão para estabelecer
hierarquia no grupo (SANTOS, 2018).
Analisando em uma perspectiva psicológica o comportamento humano eliciado pelo isolamento social (seja na pandemia e quarentena do covid-19 ou por diferentes casos previamente registrados na literatura), os estudos indicam que, temos em crianças e adolescentes o aumento do risco de depressão e ansiedade durante e após o período de quarentena mas podendo ser mitigado pelo acesso a novas tecnologias de informação naqueles entre 10 e 24 anos, podendo associar esses dados ao fato da solidão ser associada a antecessores de problemas de saúde mental.
Ao observar os fenômenos mencionados
anteriormente, podemos definir à luz
da psicologia comportamental que os malefícios do isolamento social se relacionam não somente
com causas biológicas e etológicas, havendo o afastamento de um grupo de apoio,
ampliando fatores coercitivos na retirada de reforçadores positivos e negativos
do cotidiano, diminuindo as possibilidades de estratégias de enfrentamento,
assim como diminuindo suas possibilidades de fuga e esquiva, mantendo a pessoa
em um constante estado de luta, logo elevando o estresse.
Na luz dos fatos elucidados,
concluímos que a análise multifatorial é necessária para o entendimento do ser
humano e os diferentes fatores envolvidos em suas atitudes e comportamentos.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia
se baseando nas obras:
ACCO, A. et. al., Síndrome do estresse em animais -
revisão. Arq. ciên. vet. zool. UNIPAR. v.2, n.1. jan, jul 1999. Disponível em:
https://revistas.unipar.br/index.php/veterinaria/article/view/661/577
FARIAS, A.;
FONSECA, F. & NERY, L. Teoria e Formulação de Casos em Análise
Comportamental Clínica De Farias, Fonseca Nery. Porto Alegre, Artmed, 2018.
Disponível em: https://www.academia.edu/39585513/Teoria_e_Formula%C3%A7%C3%A3o_de_Casos_em_An%C3%A1lise_Comportamental_Cl%C3%ADnica_De_Farias_Fonseca_Nery
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W., H.R.; A., W.G.; MARGARET, A. Fisiologia Animal. Grupo A, 2015. 9788536326832. Disponível em:
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interação social em machos de Callithrix jacchus em ambiente natural.
Dissertação de mestrado, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/26288/1/Influ%C3%AAnciahierarquiadin%C3%A2mica_Santos_2018.pdf.
SUPER ABRIL (org). De onde vem a violência. Disponível
em: https://super.abril.com.br/comportamento/de-onde-vem-a-violencia/
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