Série
ensaios: Sociobiologia
Por: Amanda Tomazi¹,
Beatriz Dybas da Natividade¹, Edson do Espírito Santo Menezes², Gabriela
Mondini de Lima¹ e Ronaldo Figueira de Oliveira¹
¹ Graduando(a) em
Ciências Biológicas - PUCPR
² Graduando em
Psicologia - PUCPR
Desde o início do surto do novo coronavírus o
Brasil contabilizou, até a última sexta (30), mais de 14 milhões de casos
confirmados e mais de 400 mil óbitos, sendo considerado por um grupo de
pesquisa australiano do Lowy Institute
como o pior país na gestão da pandemia dentre os quase 100 países avaliados.
Uma das medidas adotadas visando controlar a pandemia foi o isolamento social,
que restringiu a circulação de pessoas nas ruas, fechou comércios, escolas e
impediu aglomerações. A partir dessas medidas, passou-se a observar uma redução
significativa da taxa de transmissão de COVID-19, como demonstra um estudo da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em contrapartida, quando há uma maior
quantidade de pessoas nas ruas, há aumento no número de internações e óbitos.
Segundo o Instituto Cochrane, a eficácia do
distanciamento social reduz de 44 a 88% a incidência de novos casos e de 31 a
63% o número mortes.
O comportamento dos indivíduos frente a doenças é o que determina se a doença vai ficar contida ou não. Na natureza. O isolamento social como forma de evitar o contágio de outros indivíduos também é encontrado, o “comportamento de doença” ou Sickness Behavior, que consiste em um comportamento que aumenta a letargia e consequentemente o sono, reduzindo a velocidade e socialização. Isso é o que acontece no morcego-vampiro Desmodus rotundus E. Geoffroy, 1810. Segundo o artigo “Tracking sickness effects on social encounters via continuous proximity sensing in wild vampire bats”, publicado na revista Behavioral Ecology, morcegos doentes interagem menos, ficam menos engajados socialmente e passam menos tempo perto de outros morcegos quando comparados a morcegos saudáveis, por conta do Sickness Behavior. Assim, foi observado que esse comportamento social obtém êxito em reduzir a transmissão de doenças na comunidade de morcegos por limitar o contato físico e a proximidade entre os membros doentes e saudáveis.
Esse comportamento
fascinante observado no morcego-vampiro é um verdadeiro exemplo de altruísmo,
uma coisa em falta na nossa sociedade. Altruísmo é definido como grupo de ações
pessoais feitas com objetivo de ajudar o outro e não a si próprio. Apesar de
ser uma característica individual, parece que todos os morcegos compartilham esse
aspecto, o que infelizmente, não pode ser dito para nós seres humanos. A boa
notícia é que o altruísmo é uma característica que pode ser aprendida,
aprimorada e/ou melhorada a cada dia. Não basta fazermos uma boa ação, como
respeitar a quarentena, apenas uma vez. Para sermos altruístas de verdade,
nossas boas ações devem ser recorrentes, como, por exemplo, se manter em
isolamento como os morcegos.
Em eussociedades, isto é, o tipo mais complexo de socialidade no reino animal, como é o caso do ser humano, os indivíduos podem ativamente se isolar dos membros infectados e até mesmo auxiliar no restabelecimento da sociedade. Mas por que é tão difícil implantar o distanciamento social em humanos para diminuir a transmissão do coronavírus? Primeiramente, o fato de se poder transmitir a doença sem a expressão dos sintomas, algumas vezes podendo passar pela infecção de forma totalmente assintomática. Segundo o médico Evaldo Stanislau, a diminuição do isolamento social é devido à ideia que a doença está sob controle por conta da diminuição na taxa de transmissão nas últimas semanas, resultado obtido por conta da implantação de medidas restritivas há um mês. Além disso, desde março de 2020, só se fala em COVID-19, a sociedade se acostumou com o assunto e em conjunto com as subnotificações, muitas pessoas imaginam que a pandemia global não é tão grave quanto os profissionais da saúde falam.
Outro fator que pode
estar dificultando o isolamento social é a necessidade natural das pessoas em
ter contato com outros seres humanos. De acordo com a reportagem “In good company: Why we need other people to be happy” da NBC News, a interação social provoca
diversos estímulos positivos no corpo, como a diminuição do estresse, ao
reduzir o nível de cortisol no corpo quando estamos juntos de outras pessoas.
Além disso, nosso cérebro tende a se esforçar menos para pensar e trabalhar
melhor quando estamos acompanhados. Fora isso, também temos uma tendência
evolutiva a nos sentir mais seguros e protegidos quando estamos em grupo pelo
fato de nossos ancestrais se agruparem para se proteger de predadores. Com isso
em mente, o fato de nosso corpo apresentar estímulos positivos ao interagirmos
socialmente pode fazer com que algumas pessoas ignorem as restrições impostas
de isolamento social, ou mesmo ignorem o efeito devastador que vírus está tendo
na sociedade, para que possam voltar a ter essas respostas positivas do corpo
provenientes das interações sociais, assim aumentando ainda mais o número de
novos casos da doença.
De acordo com Pierson (1968), pode-se dizer que existem quatro tipos de isolamento relacionados da seguinte maneira: isolamento espacial, isolamento estrutural, isolamento consuetudinário e isolamento psíquico. Neste momento em que se aplica em toda sociedade a prática do isolamento social, temos observado o aumento de muitos transtornos mentais, assim como de pessoas que não estão dispostas em realizarem o distanciamento. Esses comportamentos podem provocar o aumento do contágio do vírus provocando desta forma os óbitos. O exemplo dos morcegos, que ao sentirem mal procuram o isolamento com a finalidade de não contaminar os demais, demonstra que existe entre eles a preocupação com a coletividade.
Como futuros
cientistas, acreditamos que o isolamento social é uma medida necessária para o
controle da doença, e quanto mais nos distanciarmos nesse momento, mais cedo
conseguiremos nos abraçar novamente.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina
de Etologia tendo como base os textos:
- https://covid.saude.gov.br/
- https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/04/26/brasil-nao-levou-pandemia-a-serio-e-muitos-morreram-desnecessariamente-diz-nobel-de-medicina.ghtml
- https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/24/podemos-ser-vitimas-do-nosso-sucesso-diz-medico-sobre-isolamento-social.htm
- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/01/28/brasil-e-pior-pais-do-mundo-na-gestao-da-epidemia-de-covid-19-aponta-estudo-australiano.ghtml
- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52830618
- https://oglobo.globo.com/sociedade/isolamento-social-pode-ter-poupado-118-mil-vidas-em-maio-no-brasil-aponta-estudo-1-24537648
- https://academic.oup.com/beheco/article/31/6/1296/5937165?login=true
- https://pebmed.com.br/o-isolamento-social-durante-a-pandemia-de-covid-19-e-seu-impacto-em-outras-infeccoes-em-pediatria/
- https://www.ufrgs.br/faunadigitalrs/mamiferos/ordem-chiroptera/familia-phyllostomidae/morcego-vampiro-desmodus-rotundus/
- https://www.nbcnews.com/better/health/good-company-why-we-need-other-people-be-happy-ncna836106
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