A relação de convivência entre pets e tutores durante a pandemia de COVID-19

 

Série Ensaios: Bioética Ambiental

 

Por: Helena Coentro Wohlke

Graduanda em Ciências biológicas

 

            A BBB Brasil pulicou uma matéria sobre a  'epidemia de abandono' dos animais de estimação na crise do coronavírus alertando que se por um lado a pandemia de coronavírus mudou a paisagem urbana das grandes cidades, deixando ruas de todo o país vazias, por outro aumentou o número de animais domésticos abandonados.

 

            A interação do homem com outras espécies de animais é relatada desde a pré história, inicialmente tratando-se da predação e, com o passar do tempo, desenvolvendo-se então a domesticação. Atualmente é comum a todas as culturas a criação de animais de companhia, visto que esta relação é conhecida por, além de ser fonte de apego e afeição, facilitar algumas ações da vida humana como pastoreio, caça, guarda, investigações policiais e prestação de auxílio a deficientes visuais.

           


Durante a pandemia do novo coronavírus em 2020 o isolamento social tornou-se uma necessidade, fazendo com que as pessoas passassem mais tempo do que o normal dentro de suas casas, o que intensifica a sensação de stress, ansiedade, exaustão emocional e tristeza. A interação com um animais de estimação, entretanto, contribui para a redução dos nível de cortisol no organismo e aumento da a liberação de ocitocina e endorfina, o que resulta no aumento do sentimento de bem-estar e disposição. Por esse motivo algumas organizações de amparo e proteção animal, que trabalham recolhendo e promovendo a adoção de animais de rua, registraram aumento no número de adoções durante este período, demonstrando que os animais domésticos tem sido um refúgio em meio ao afastamento.

            Infelizmente este não tem sido o cenário em todas as situações, já que ao mesmo tempo em que alguns animais têm encontrado novos lares e famílias, outros tiveram que enfrentar um destino muito mais doloroso: a negligência. A confirmação pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária do aumento de casos em que famílias se desfazem de seus animais condiz com as circunstâncias atuais de muitos abrigos em todo o Brasil, que se encontram muitas vezes lotados, sem condições de suportar a alta demanda causada pelo abandono.

           

Outra situação a ser notada é que, com a volta da normalidade em alguns países, tutores que inicialmente adotaram os animais a fim de amenizar o sentimento de solidão, agora estão “devolvendo” seus pets por motivos diversos. É possível que a motivação inicial das adoções tenha sido a busca por uma razão para sair de casa, já que os animais, principalmente cães, necessitam de contato regular com o mundo externo, feito por meio de passeios frequentes. Após o afrouxamento da quarentena em outros países, a rotina de cuidados somada às demais responsabilidades fez com que os tutores começassem a notar que animais de estimação requerem cuidados específicos, tanto por parte da atenção e dedicação de seus donos, como um investimento financeiro, já que independente da espécie, todo animal exige uma manutenção regular por alguns anos. No Brasil, estima-se que o gasto mensal com um cão de porte médio seja de aproximadamente R$300,00, incluindo alimentação, higiene, médico veterinário, entre outros. Tal fato, somado ao aumento das taxas de desemprego no país, fez com que a posse de um animal de estimação não fosse considerada uma prioridade em muitos lares.

            No início da pandemia de COVID-19 pouco se sabia sobre a transmissão da doença, e essa falta de informações afetou também a relação de convivência entre pets e tutores. Em países mais afetados, como a China, por exemplo, além do abandono e devolução, também foram registrados casos mais graves, onde a morte intencional de animais (tanto de rua, quanto aqueles que moravam com seus donos) foi utilizada como resposta ao medo da contaminação.

            É difícil julgar o comportamento humano à luz da ética em situações tão adversas como o surgimento de uma pandemia, se por um lado temor e a falta de informações levam às pessoas a atos extremos em nome da preservação de suas vidas e de outros familiares (muitos convivendo com indivíduos pertencentes ao grupo de risco), acreditando que a melhor escolha seria “se livrar” dos animais, por outro o valor à vida de cães e gatos é drasticamente reduzido, fazendo com que todas as partes positivas da relação entre estes e os humanos seja deixada de lado, se tornando apenas uma questão de controle de vetores. Há ainda as situações do “empréstimo” de pets, ou seja, as adoções seguidas por devolução, que são extremamente prejudiciais, visto que já existem pesquisas que apontam a resposta positiva dos cachorros quanto ao contato com pessoas, descrevendo que as áreas ativadas no cérebro dos animais são semelhantes às do amor em humanos.

           

Como estudante de biologia, acredito que o cenário originado após a pandemia demonstra a importância da divulgação do conhecimento científico já que, em muitos casos, o pânico e falta de informações confiáveis foi o principal motivo do descarte. Além disso também é necessária uma conscientização geral da população, para que animais não sejam tratados como objetos de pouco valor, e sim como seres que sentem afeto, precisam de atenção, responsabilidade e não devem ser descartados quando não são mais “convenientes”.