Série Ensaios: Sociobiologia
Beatriz Akemi
Spitzenbergen¹, Henrique Trigo¹, Irineu Oliveira¹, Lucas Lacerda¹ e Janaína
Pscheidt²
¹Acadêmicos do
curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Pontifícia Universidade Católica
do Paraná;
²Acadêmica do
curso de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Uma pandemia é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
como a disseminação em escala mundial de uma nova doença, a qual transmite-se
de pessoa para pessoa entre os continentes de forma sustentada. Esta é a
situação atual vivenciada por grande parte da população global em função da
disseminação do Sars-Cov-2, popularmente chamado de “Coronavírus”. Segundo a
OMS, a designação correta da doença é COVID-19, nomenclatura científica que designa uma doença causada
por um vírus da família Corona que se iniciou no ano de 2019. Por ser uma
enfermidade recente, os mecanismos envolvidos no processo de contágio e prevenção estão em estudo, contudo, existe um consenso por
parte das autoridades de saúde no que diz respeito ao isolamento social, como medida para se evitar a contaminação. Diante
disso, pergunta-se se o quão ético é impor ou seguir este isolamento, e se
existem outros animais que praticam essa medida de prevenção em situações
epidemiológicas.
Estratégias assim, também são observadas
em diferentes espécies sociáveis. O distanciamento social por exemplo é bastante
comum, quando um membro do grupo é detectado com alguma infecção, os demais
acabam o expulsado da comunidade. Apesar da identificação de indivíduos
infectados não ser sempre fácil, alguns animais dispõem de sentidos
especializados, como o olfato, que os permitem detectar algumas
infecções/doenças e mudar seu comportamento para evitar adoecer. Essas
estratégias de sobrevivência são muito importantes e permitem a adaptação da
espécie conforme a evolução.
Da mesma forma que sociedades humanas,
insetos sociais possuem várias “camadas” de proteção contra infecções como, num
primeiro momento, evitar a entrada do patógeno na colônia, num segundo momento,
caso o primeiro tenha falhado, impedir que esse patógeno se estabeleça na
colônia, e, num terceiro momento, evitar o contágio entre os membros do ninho.
Uma
estratégia utilizada para evitar com que o contágio ocorra é a exclusão
do indivíduo infectado da colônia, como observado em abelhas onde existem
guardas nas entradas da colmeia que verificam e impedem a entrada desses
indivíduos (um paralelo pode ser feito com a utilização de termômetros na
entrada de aeroportos, por exemplo, na atual pandemia da COVID-19). Já para
evitar com que o patógeno se estabeleça a desinfecção do ninho através da
utilização de substâncias microbicidas, tanto coletadas do ambiente como
produzidas através de glândulas específicas e a retirada de corpos infectados e
lixo, os quais são transportados a sítios específicos, são utilizadas pelos
insetos como estratégias importantes na sobrevivência ante um patógeno. Para
evitar o espalhamento do patógeno entre os indivíduos depois que o mesmo já se
estabeleceu na colônia, os insetos podem realizar o ato de catação, no qual os
indivíduos digerem o parasita de outro membro da colônia, inibindo-o, e, em
último caso, abandonar a colônia deixando os indivíduos infectados para trás e
se mover para uma nova região. Em populações humanas algumas medidas como a de
isolar um indivíduo contaminado, provavelmente seria visto como uma atitude
antiética. No entanto, os organismos sociais apresentam maneiras distintas de
lidar com situações como estas, e talvez conflitos éticos não sejam questões
tão relevantes para insetos sociais.
O pássaro chapim-azul da Eurásia, passa por uma situação epidêmica
semelhante a causada pelo coronavírus aos humanos. É crescente o número de
registros de óbitos em consequência de síndrome respiratória nessa população de
aves, porém a causa exata ainda é desconhecida. A comunidade científica
acredita que se trate de um vírus, uma vez que os espécimes acometidos estão sendo encontrados próximos a locais de alimentação
construídos pelo homem, onde realizam ali um contato social. Diante disso, a
ONG de conservação NABU (Naturschutzbund Deutschland) recomendou o isolamento social das aves, através da intervenção humana em
retirar estes sítios de alimentação das cidades.
A
autorregulação do contágio entre as espécies, está vinculada à questões
culturais e de aprendizado por experiências semelhantes já vivenciadas da
mesma, permitindo que as sociedades estabeleçam estratégias e uso de regras
morais e éticas para promover a segurança e o bem comum de todos, já que
estando sob essas medidas, os
interesses individuais ficam de lado e os coletivos se sobrepõem.
Nós enquanto quase biólogos e psicóloga,
acreditamos que o comparativo entre a pandemia do COVID-19 e o percentual de
mortes da espécie chapim-azul reforça a pertinência do cuidado
e da tomada de medidas de prevenção diante de situações
como essa para evitar a disseminação do vírus ou de qualquer doença contagiosa,
e consequentes mortes entre as espécies. Atitudes de distanciamento social
estão vinculadas e são norteadas por questões de conduta ética que permitem o
bem comum entre todos e devem ser levados em conta de maneira primordial.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de
etologia, se baseando nas obras:
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