quarta-feira, 13 de maio de 2020

Doenças Contagiosas: COVID 19 - impacto de espécies sociais e delimitadora do tamanho populacional




Série Ensaios: Sociobiologia

Beatriz Akemi Spitzenbergen¹, Henrique Trigo¹, Irineu Oliveira¹, Lucas Lacerda¹ e Janaína Pscheidt²

¹Acadêmicos do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Pontifícia Universidade Católica do Paraná;

²Acadêmica do curso de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná



            
Publicada no site de Jornalismo “JOTA” no dia 23 de março de 2020, a notícia “Coronavírus e impactos sociais: que medidas regulatórias vêm sendo tomadas pelo mundo?”, traz exemplos europeus de ações tomadas pelo Estado para frear o contágio da população pelo coronavírus, levando em consideração aspectos sociais e econômicos, criando uma relação entre o agente moral - responsável por tomar uma decisão - e o vulnerável - o que segue esta decisão. Diante disso, na Espanha, local com um grande surto do vírus, o serviço privado de saúde foi integrado ao âmbito público, visando alcançar um maior número de indivíduos. Já na Alemanha, de modo a garantir o bem-estar social da população, instituiu-se o programa governamental “Kurzarbeit”, que impede a demissão em massa. Em comum aos dois países, têm-se os órgãos governamentais envolvidos na tomada da decisão, constituindo o agente moral, e a população doente, no caso da espanhola, ou trabalhadora, no caso da alemã, como a parcela vulnerável. Portanto, é possível dizer que estes países encontraram meios eticamente adequados de lidar com os impactos da pandemia, ao tentar minimizar qualquer tipo de prejuízo.
 Uma pandemia é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a disseminação em escala mundial de uma nova doença, a qual transmite-se de pessoa para pessoa entre os continentes de forma sustentada. Esta é a situação atual vivenciada por grande parte da população global em função da disseminação do Sars-Cov-2, popularmente chamado de “Coronavírus”. Segundo a OMS, a designação correta da doença é COVID-19, nomenclatura científica que designa uma doença causada por um vírus da família Corona que se iniciou no ano de 2019. Por ser uma enfermidade recente, os mecanismos envolvidos no processo de contágio e prevenção estão em estudo, contudo, existe um consenso por parte das autoridades de saúde no que diz respeito ao isolamento social, como medida para se evitar a contaminação. Diante disso, pergunta-se se o quão ético é impor ou seguir este isolamento, e se existem outros animais que praticam essa medida de prevenção em situações epidemiológicas. 

        Estratégias assim, também são observadas em diferentes espécies sociáveis. O distanciamento social por exemplo é bastante comum, quando um membro do grupo é detectado com alguma infecção, os demais acabam o expulsado da comunidade. Apesar da identificação de indivíduos infectados não ser sempre fácil, alguns animais dispõem de sentidos especializados, como o olfato, que os permitem detectar algumas infecções/doenças e mudar seu comportamento para evitar adoecer. Essas estratégias de sobrevivência são muito importantes e permitem a adaptação da espécie conforme a evolução.

Da mesma forma que sociedades humanas, insetos sociais possuem várias “camadas” de proteção contra infecções como, num primeiro momento, evitar a entrada do patógeno na colônia, num segundo momento, caso o primeiro tenha falhado, impedir que esse patógeno se estabeleça na colônia, e, num terceiro momento, evitar o contágio entre os membros do ninho.

Uma  estratégia utilizada para evitar com que o contágio ocorra é a exclusão do indivíduo infectado da colônia, como observado em abelhas onde existem guardas nas entradas da colmeia que verificam e impedem a entrada desses indivíduos (um paralelo pode ser feito com a utilização de termômetros na entrada de aeroportos, por exemplo, na atual pandemia da COVID-19). Já para evitar com que o patógeno se estabeleça a desinfecção do ninho através da utilização de substâncias microbicidas, tanto coletadas do ambiente como produzidas através de glândulas específicas e a retirada de corpos infectados e lixo, os quais são transportados a sítios específicos, são utilizadas pelos insetos como estratégias importantes na sobrevivência ante um patógeno. Para evitar o espalhamento do patógeno entre os indivíduos depois que o mesmo já se estabeleceu na colônia, os insetos podem realizar o ato de catação, no qual os indivíduos digerem o parasita de outro membro da colônia, inibindo-o, e, em último caso, abandonar a colônia deixando os indivíduos infectados para trás e se mover para uma nova região. Em populações humanas algumas medidas como a de isolar um indivíduo contaminado, provavelmente seria visto como uma atitude antiética. No entanto, os organismos sociais apresentam maneiras distintas de lidar com situações como estas, e talvez conflitos éticos não sejam questões tão relevantes para insetos sociais.

           O pássaro chapim-azul da Eurásia, passa por uma situação epidêmica semelhante a causada pelo coronavírus aos humanos. É crescente o número de registros de óbitos em consequência de síndrome respiratória nessa população de aves, porém a causa exata ainda é desconhecida. A comunidade científica acredita que se trate de um vírus, uma vez que os espécimes acometidos estão sendo encontrados próximos a locais de alimentação construídos pelo homem, onde  realizam ali um contato social. Diante disso, a ONG de conservação NABU (Naturschutzbund Deutschland) recomendou o isolamento social das aves, através da intervenção humana em retirar estes sítios de alimentação das cidades.

A autorregulação do contágio entre as espécies, está vinculada à questões culturais e de aprendizado por experiências semelhantes já vivenciadas da mesma, permitindo que as sociedades estabeleçam estratégias e uso de regras morais e éticas para promover a segurança e o bem comum de todos, já que estando sob essas medidas, os interesses individuais ficam de lado e os coletivos se sobrepõem.

Nós enquanto quase biólogos e psicóloga, acreditamos que o comparativo entre a pandemia do COVID-19 e o percentual de mortes da espécie chapim-azul reforça a pertinência do cuidado

e da tomada de medidas de prevenção diante de situações como essa para evitar a disseminação do vírus ou de qualquer doença contagiosa, e consequentes mortes entre as espécies. Atitudes de distanciamento social estão vinculadas e são norteadas por questões de conduta ética que permitem o bem comum entre todos e devem ser levados em conta de maneira primordial.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia, se baseando nas obras:



CREMER, S., ARMITAGE, S. A. O., & SCHMID-HEMPEL, P. (2007). Social Immunity. Current Biology, 17(16), R693–R702

FAUCI, A. S., LANE, H. C. & REDFIELD, R. R. Covid-19 — Navigating the Uncharted. The New England Journal of Medicine, [s. l.], 2020. DOI 10.1056 / NEJMe2002387. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejme2002387. Acesso em: 19 abr. 2020.

MADEIRO, Chances, sobrevida e capacidade: como se escolhem pacientes na fila da UTI. UOL Notícias. 05 abr. 2020. Disponível em

MARTYR, K. Mystery disease killing Germany‘s blue tits. [S. l.], 21 abr. 2020. Disponível em: https://www.dw.com/en/mystery-disease-killing-germanys-blue-tits/a-53198113. Acesso em: 21 abr. 2020.

SOUTO, A. Um Modelo Teórico Alternativo Para Explicar Os "Mecanismos" Da Distância Social Em Grupos de Animais Superiores. Ciência & Trópico, Recife, v. 19, ed. 2, p. 303-310, 1991. Disponível em: https://fundaj.emnuvens.com.br/CIC/article/view/479. Acesso em: 20 abr. 2020.

VENTURA, D. Pandemias e Estado de Exceção. In: VII Congresso Internacional de Direito da Universidade São Judas Tadeu: O Brasil no Mundo. [S. l.: s. n.], 2010. p. 41-55.