Zoológicos: devem ou não existir? Será que a pandemia de Covid-19 mudará nosso olhar?




Série Ensaios: Ética no Uso Animal
Por Bruna Meira
Bióloga e Pós-Graduanda em Conservação da Natureza


Dois casos que causaram polêmicas na mídia incluindo os zoológicos. Um deles é sobre o caso de um adolescente que estava visitando um zoo com seu pai em Cascavel e teve que amputar o braço depois do tigre morde-lo. Em vários vídeos filmado por outras pessoas mostram a negligência do pai em deixar que seu filho ultrapasse a barreira de segurança e colocasse a mão para dentro do recinto. Felizmente, o menino teve apenas que amputar o braço e o tigre não foi sacrificado (como muitas pessoas pediram).

Um outro caso envolvendo zoológico, qual gerou ainda mais discussão pois o animal foi sacrificado. Uma criança de 4 anos escalou a grade de segurança e acabou caindo na jaula de um gorila e a decisão do local, e a decisão foi matar o gorila. Os especialistas alegaram que se fosse disparados apenas tranquilizantes a situação poderia ser pior, pois não sabiam de fato como o gorila reagiria com a presença do menino e a dor que sentiria dos tranquilizantes. Com isso, um grupo realizou abaixo-assinado para que os pais da criança sejam processados por negligência.




Quando o assunto são os Zoológicos, abre-se grande leque para comentários e as opiniões são divididas: pessoas contra e a favor. Os pontos de vista são explanados por especialistas, como biólogos e médicos veterinários, e também, a sociedade de uma maneira geral. Além de ativistas que trazem pontos de vista sem fundamentos científicos.
Há quem defenda que ir ao zoológico é a chance que temos de ver de perto animais que não habitam as mesmas regiões que nós, e também, os que são muito difíceis de ser vistos na natureza. Os especialistas em Educação Ambiental defendem fortemente a ideia de que Zoológicos tem um papel importante na sensibilização da sociedade. Sabe-se também, que zoos tem um papel importante no estudo e conservação das espécies. Além de cuidar de animais vindo de contrabando e maus tratos, que seriam incapazes de sobreviver sozinhos na natureza.
Todos os seres vivos nascem livres, com suas especificidades e instintos. Uma vez que uma espécie tem seus habitat, alimentação, etc., modificado fica difícil fazer com que ele se adapte novamente. Quando mantidos em cativeiros você fere em muitos quesitos o bem estar e a ética animal. Na maioria dos Zoológicos públicos os cativeiros e a alimentação desses animais são precárias. Quando esses lugares são pagos, aparentemente o cuidado e a estrutura para os animais são melhores. 

Sanders & Feijó (2007) relatam que hoje em dia há inúmeros meio de comunicação e tecnologia que possibilitam a apreciação de animais silvestres em seu habitat natural, sendo assim qual seria a justifica ética para o confinamento? Os autores trazem reflexões a cerca da manutenção de animais em cativeiro se de fato representam um papel adequado na educação ambiental. Sabendo que a vida em cativeiro gera uma situação em que as espécies desenvolvem comportamentos anormais, sendo assim acreditam que é necessário uma justificativa ética e cientifica plausível para tais confinamentos.
Há alguns métodos que possam melhorar a qualidade de vida e proporcionar um melhoramento quanto ao bem-estar das espécies. O enriquecimento ambiental e outras práticas criativas dentro dos recintos, podem possibilitar uma melhora para a espécie confinada. Os especialistas desses locais precisam dar o melhor para que o animal tenha boa saúde física e psicológica Prohnii et. al (2015) refletem bastante sobre a ética envolvida na manutenção de animais cativos em zoológicos.
 
Há varias normativas, leis e regulamentos que regem o funcionamento de um Zoológico (aqui exemplos da Base Júridica do Zoo de Brasília-DF ). E todos, deveriam seguir a rista o que é previsto em lei e o que os especialistas na área dizem sobre funcionamento, recintos, alimentação entre outros pontos importantes para os animais e as pessoas que trabalham nesses locais. Infelizmente, muitas vezes por falta de fiscalização muitas questões não são levadas em contas, e os animais são os mais prejudicados de toda história. Também temos alguns biólogos, veterinários e tratadores que muitas vezes tem uma opinião diferente das ordens que recebem, mas quando são apenas funcionários não tem o que questionar.
Com a questão atual da Pandemia do Covid-19, várias pessoas comparam o isolamento social com a situação de animais em zoológicos. Veja aqui uma comparação e reflexão sobre o momento. Em relação ao novo coronavírus acreditava-se que essa espécie de vírus não poderia contaminar animais até que um tigre em Nova York testou positivo para a doença. E fez os pesquisadores terem um olhar diferente para os animais.

Fiscalização eficiente

Eu como licenciada em Ciências Biológicas e pós-graduanda em Conservação da Natureza e Educação Ambiental, não acredito que os zoológicos tenham esse papel tão forte de sensibilizar as pessoas quanto a conservação de espécies. Acredito que eles deveriam ser reformulados e virar Centros de conservação: sem visitas, procurar expor aos mínimo os animais, sem pesquisas invasivas, na medida do possível que a maioria deles ficassem livres e recinto bem adequados, o mais próximos possível de seu habitat natural.

Enquanto o modelo de ideal de “Zoológico” não existe, podemos buscar maneiras para que os animais sejam colocados em primeiro plano como os maiores beneficiários. Um menor número de visitantes por dia, já aliviaria o estresse que muitos sofrem. Sem dúvidas melhorar a qualidade de cada recinto, com tamanhos justos. Que fosse proporcionado sempre o enriquecimento ambiental. Nem vou entrar aqui na questão de ser público ou privado, porque ai já estaríamos em outro foco. Se tivéssemos também um órgão competente para fiscalizar esses locais já seria um grande avanço também.

Enfim, é uma longa jornada onde os interesses pessoais devem ser deixados de lado.
O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal, tendo como base as REFERÊNCIAS:





PROHNII, S. S. et al. Bioética ambiental: refletindo a questão ética envolvida na manutenção de animais cativos em zoológicos. 2015.
SANDERS, Aline; FEIJÓ, A. G. Uma reflexão sobre animais selvagens cativos em zoológicos na sociedade atual. In: Adaptado do artigo publicado nos anais do III Congresso Internacional Transdiciplinar Ambiente e Direito. 2007.