terça-feira, 28 de abril de 2020

Ecoturismo: uma alternativa boa ou ruim? Como o vírus covid-19 impactou no ecoturismo?




Série Ensaios: Ética no uso Animal

Por Amanda Samujeden da Silva
Engenheira florestal e Pós Graduanda em Conservação da Natureza e Educação Ambiental 



“O Ecoturismo pode ser mais prejudicial para o meio ambiente do que o turismo de massa, pois normalmente ocorre em ambientes frágeis e abre destinos anteriormente destinos desconhecidos para o mercado em massa.” Helena de Godoy Bergallo. 









Atualmente com COVID-19 e com a quarentena imposta pelos governantes, podemos ver o impacto que o homem pode causar ao meio ambiente. Veneza é conhecido pelos canais tendo águas escuras e mal cheirosas, e com a diminuição do turismo já pode-se observar as águas mais cristalinas, tendo presença de peixes e outros animais, sendo que em alguns pontos pode-se observar até cisnes. Outro caso é no Parque Nacional Kruger, na África do Sul, onde leões foram vistos andando livremente e descansando no meio da rodovia, ocupando espaços onde quando os turistas estão eles não ocupam.
O ecoturismo é um ramo do turismo que utiliza os recursos naturais e culturais de um determinado local e contribui para conserva-lo. Um dos princípios do ecoturismo é a conservação ambiental aliada ao desenvolvimento das comunidades, devendo ser desenvolvidas sob princípios da sustentabilidade. Este surgiu no final de 1970 como um movimento ambiental global em decorrência às preocupações com o meio ambiente. No Brasil foi introduzido pelo EMBRATUR que iniciou em 1985 o Projeto Turismo Ecológico, e com o Rio 92 este tipo de turismo ganhou maior credibilidade e impulsionando no mercado brasileiro.

Quando o ecoturismo cresce em uma determinada região, o governo local muitas vezes o reconhece como um meio “bom econômico”, sendo assim investindo nestes locais ajudando a preservar e mantendo estes locais. Alem de gerar renda para os moradores locais, entre artesão, empresas, restaurantes, guias turísticos e empresas que oferecem estes serviços.
Para uma oferta melhor de “produto” as empresas se baseiam em espécies chaves, aquelas que vão atrair mais o turista, ou seja, são animais “adestrados”. Estes animais muitas vezes são retirados de seus habitat e treinados para estarem mais mansos e os visitantes poderem acariciar e/ou alimentar estes animais silvestres.
O ecoturismo se tornou um fenômeno em massa, um estudo feito pela Universidade de Cabridge, divulgou que a estimativa é de 8 bilhões de visitantes por anos em reservas naturais e parques nacionais. Apesar de gerar uma economia para as localidades e muitos destes sendo destinada a conservação dos parques e reservas, o principal problema é o preço que estes animais podem estar pagando.

Os parques nacionais no Quênia são muitos conhecidos, nestes os passeios consistem em andar nos habitat naturais dos animais selvagens, vendo-os na natureza. Porem este contato direto com os animais pode causar um impacto muito maior do que se pode imaginar. Usando o exemplo dos parques no Quênia, por terem um contato direto com os humanos, sendo estes que não irão feri-los, os animais selvagens se tornam mais maços, ou seja, estes ficam mais vulneráveis sendo assim presas fáceis para os caçadores e/ou predadores maiores.
Com a maior presença de turistas nos parques os animais estão passando menos tempo em alerta, passando mais tempo se alimentando de comidas deixados pelos turistas, comidas nos quais não fazem parte das dietas destes animais, sendo assim tendo uma comida de fácil acesso, sem ter que buscar seu alimento. Um exemplo deste é o Parque Nacional Grand Teton (Wyoming, EUA).
O ecoturismo apresenta muitos pontos positivos, pois em muitas regiões por esta prática o governo investe e ajuda na conservação, mas isto apenas se da se o manejo e planejamento deste turismo sejam feito adequadamente, mesmo assim sempre haverá um impacto seja ela na fauna tanto na flora. Portanto para minimizar o máximo possível dos impactos são necessários monitoramentos e indicadores de sustentabilidade que avaliem as consequências das intervenções.
As empresas ainda estão muito na questão ética antropocêntrica, ou seja, prezam pelo bem estar humano, se preocupara apenas com o que o consumidor irá gostar, satisfazê-los sendo assim esquecendo das preocupações reais com o meio ambiente (fauna e flora). O ideal seria transformas esta ética antropocêntrica em ética biocêntrica que trata com maior importância o meio ambiente, sendo ele o principal beneficiado. Com este conceito de ética se entende que a terra é um ser vivo, sendo assim tanto o homem quanto os outros serres vivos necessitam de cuidados igualmente.
Como mencionado no início deste ensaio com a pandemia atual (COVID-19), todos estão em quarentena, apenas comércios essenciais abertos e envolta deste cenário trágico e preocupante à um ponto positivo. Com a ausência de veículos, pessoas fazendo turismo ecológico entre outros o mundo está melhorando em termos de meio ambiente.

“Essa pandemia que o mundo está passando levou as pessoas numa guerra contra um inimigo invisível. Apesar da agonia que está causando, com todo o respeito e sem ofensa, tem seu lado bom e seu benefício. O nosso planeta também está sendo beneficiado. Em que sentido? Os carros quase estão sem circular, com isso menos poluição, ar mais puro, mais saúde para o meio ambiente, que com a diminuição das pessoas está proporcionando aos animais voltarem ao seu habitat natural. As trilhas não estão sendo pisoteadas todos os dias, com isso estão recuperando sua vegetação.” 


Conforme uma discussão feita através de uma vídeo aula, vários assuntos foram abordados, entre eles a questão econômica mencionado anteriormente, no qual muitas vezes o ecoturismo esta relacionado diretamente a economia, sendo melhor econômico e não prezando pela qualidade e bem executado os programas de turismo, assim prejudicando a vida selvagem. Outro assunto apontado foi justamente a relação com a pandemia, e como isto esta impactando positivamente, porem as regiões onde os animais que de alguma forma se acostumaram com os turistas e se alimentavam das comidas que estes levavam (mesmo sendo prejudicial para a saúde deles) provavelmente estejam tendo um impacto por ausência de alimentação.
Eu como uma engenheira florestal deixo uma reflexão para vocês, será mesmo que o ecoturismo respeita o meio ambiente? Será mesmo que é uma alternativa boa e sustentável? Para mim pode ser uma alternativa boa, porem sempre preso pela conservação destes locais, sendo assim acho necessário melhores estudos e análises dos impactos causados por estas atividades, podendo planejar melhor e/ou suspender tais atividades. Buscando sempre o que é melhor para o meio ambiente (fauna e flora) e respeitando os limites destes locais, respeitando os habitat dos animais selvagens, e buscando o bem estar de todos. 

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no uso de animais e bem estar animal baseando-se nas seguintes referências:
FISCHER, M.L., RENK, V., RODRIGUES, G., BORDINI, A.S.J. “Interfaces entre a Bioética Ambiental e o Ecoturismo” Revista - Centro Universitário São Camilo – 2014.
OLIVEIRA, D.G.R. “Impactos da visitação turística sobre animais em áreas naturais.” 2007. 77 p. Monografia (Turismo e Desenvolvimento sustentável). Universidade de Brasília, Brasília.