Série Ensaios: Bioética Ambiental
por Débora Ester Feola Bana, Assistente Social, mestranda em Bioética - PUCPR e Mary Rute Gomes Esperandio, docente pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Bioética - PUCPR
por Débora Ester Feola Bana, Assistente Social, mestranda em Bioética - PUCPR e Mary Rute Gomes Esperandio, docente pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Bioética - PUCPR
A pandemia de Coronavirus – Covid 19 vem provocando uma mudança radical na forma como se dão as relações intersubjetivas no mundo. Da noite para o dia vimo-nos em um mundo novo no qual novos comportamentos e atitudes se impõem.
Na luta pela sobrevivência global, somos chamados à adoção de comportamentos para preservar a nossa própria vida e a vida planetária. Vemo-nos diante de alguns cenários nos quais precisamos refletir de modo mais profundo. A título de ilustração, podemos descrever alguns dilemas éticos onde o medo da morte, o desespero e o pânico podem nos levar a decisões individualistas com consequências graves para muitos, ou, no ímpeto de uma reação de ajuda, a própria vida e a de outros pode ser colocada em risco. Nesses cenários, um elemento em comum se faz central na produção dos resultados dependendo da medida de sua presença ou ausência: a solidariedade na luta pela sobrevivência.
Cenário 1: A corrida individualista para a própria sobrevivência
Especialmente no início da pandemia, observou-se uma batalha pela busca da própria segurança, como também, a segurança dos seus familiares. Alguns exemplos podem ser destacados, como o sumiço da cloroquina nas farmácias desde o momento em que estudos apontaram resultados promissores contra o coronavírus; a falta de álcool em gel nas farmácias e quando encontrado, disponível com custo elevado em detrimento da procura; prateleiras vazias de supermercados pelo estoque de alimentos. Enfim, atitudes essas que reforçam o individualismo sem ao menos nos atentarmos com desconfortos ou impactos gerados no outro.
Cenário 2: A necessidade do distanciamento social e a situação dos vulnerados
Se por um lado, para preservação da vida humana temos de nos afastar fisicamente uns dos outros, por outro lado, tal distanciamento social não deve se caracterizar como desligamento uns dos outros. Como nos afastar sem nos desligarmos? O que fazer com aqueles/as em que o isolamento social é ainda mais vital na diminuição dos riscos de mortalidade por maior contágio, como por exemplo, as pessoas idosas?
A condição de isolamento objetiva um bem maior, a prevenção da contaminação do vírus e em especial proteger os mais vulnerados, entre eles, as pessoas idosas, as quais têm gerado preocupações constantes, sendo foco de atenção por resistência no cumprimento do isolamento social. Para Afonso & Azeredo (2016), a personalidade individual da pessoa idosa, o suporte social, bem como a forma como tem desenvolvido a própria vida, podem influenciar na sensação de solidão e/ou na forma como arranjam estratégias para lidar com tal sentimento.
É possível que o próprio fator geracional influencie na compreensão, por parte da pessoa idosa, da gravidade do problema. Mas há que lembrar também, o impacto – na pessoa idosa – quanto ao seu papel em nossa sociedade e sobretudo, identificar as consequências do isolamento social em seu cotidiano, uma vez que, deixam de realizar atividades rotineiras, que de alguma forma, ainda as fazem sentir-se úteis, por exemplo: preparar um almoço para os familiares, cuidar dos netos, participar de grupos da terceira idade, ir à igreja, entre outras atividades que afirmam o sentimento de pertença a um grupo.
Nesse sentido, as pessoas idosas que encontraram maneiras de lidar com a solidão cotidiana pela condição da velhice, hoje precisam reaprender no isolamento social. Um grande desafio, pois, não podemos desconsiderar que nem toda pessoa idosa tem acesso aos recursos tecnológicos, familiares dispostos a ajudar ou ainda, presentes de alguma forma para promover poio emocional e social.
Se por um lado, para preservação da vida humana temos de nos afastar fisicamente uns dos outros, por outro lado, tal distanciamento social não deve se caracterizar como desligamento uns dos outros. Como nos afastar sem nos desligarmos? O que fazer com aqueles/as em que o isolamento social é ainda mais vital na diminuição dos riscos de mortalidade por maior contágio, como por exemplo, as pessoas idosas?
A condição de isolamento objetiva um bem maior, a prevenção da contaminação do vírus e em especial proteger os mais vulnerados, entre eles, as pessoas idosas, as quais têm gerado preocupações constantes, sendo foco de atenção por resistência no cumprimento do isolamento social. Para Afonso & Azeredo (2016), a personalidade individual da pessoa idosa, o suporte social, bem como a forma como tem desenvolvido a própria vida, podem influenciar na sensação de solidão e/ou na forma como arranjam estratégias para lidar com tal sentimento.
É possível que o próprio fator geracional influencie na compreensão, por parte da pessoa idosa, da gravidade do problema. Mas há que lembrar também, o impacto – na pessoa idosa – quanto ao seu papel em nossa sociedade e sobretudo, identificar as consequências do isolamento social em seu cotidiano, uma vez que, deixam de realizar atividades rotineiras, que de alguma forma, ainda as fazem sentir-se úteis, por exemplo: preparar um almoço para os familiares, cuidar dos netos, participar de grupos da terceira idade, ir à igreja, entre outras atividades que afirmam o sentimento de pertença a um grupo.
Nesse sentido, as pessoas idosas que encontraram maneiras de lidar com a solidão cotidiana pela condição da velhice, hoje precisam reaprender no isolamento social. Um grande desafio, pois, não podemos desconsiderar que nem toda pessoa idosa tem acesso aos recursos tecnológicos, familiares dispostos a ajudar ou ainda, presentes de alguma forma para promover poio emocional e social.
De que modo a Bioética pode contribuir na reflexão dessas questões?
Na perspectiva dos referenciais bioéticos, a solidariedade pode ser analisada como um princípio, onde se propõe a uma compreensão de consciência sobre o caráter comum da condição humana, assim como, conexão e reflexão sobre os problemas sociais e coletivos.
A Pandemia traz junto com ela, o desafio global da prática da solidariedade, do aspecto que preza pelo bem comum e responsabilidade coletiva. É preciso que nos compreendamos de forma orgânica e interligada. Hossne e Silva (2013), explicam que a solidariedade orgânica ultrapassa um ato mecânico do agente solidário, permite compatibilizar o egoísmo natural, uma ligação primaria que cada indivíduo tem consigo e os critérios comunitários que cada um deve ter.
Nesse sentido, as vantagens da vida coletiva sugerem que haja solidariedade uns aos outros para uma efetivação concreta dos laços que nos unem socialmente. Percebemos que diante da fragilidade das relações humanas é preciso resgatar a nossa humanidade e por meio da solidariedade exercitar relações éticas no nosso modo de vida. O agir consciente e solidário faz lembrar nossa comum unidade, e por mais que gestos de diminuição da pandemia sejam individuais, nada conseguiremos sem o esforço coletivo e comunitário.
Nós como pesquisadoras em bioética acreditamos que a atual Pandemia nos convida a refletir e agir sobre nossas relações, assim como identificar formas de enfrentamento dos dilemas éticos presentes nos momentos em que nos consideramos tão ameaçados e vulneráveis.
Acreditamos que diante desse momento, iremos adquirir novas práticas de solidariedade, teremos inspirações para aprendermos diferentes formas de nos relacionarmos e em especial que possamos nos enxergar parte de um todo com mudanças de atitudes e sinais de esperança para o enfrentamento de crises como esta.
Na perspectiva dos referenciais bioéticos, a solidariedade pode ser analisada como um princípio, onde se propõe a uma compreensão de consciência sobre o caráter comum da condição humana, assim como, conexão e reflexão sobre os problemas sociais e coletivos.
A Pandemia traz junto com ela, o desafio global da prática da solidariedade, do aspecto que preza pelo bem comum e responsabilidade coletiva. É preciso que nos compreendamos de forma orgânica e interligada. Hossne e Silva (2013), explicam que a solidariedade orgânica ultrapassa um ato mecânico do agente solidário, permite compatibilizar o egoísmo natural, uma ligação primaria que cada indivíduo tem consigo e os critérios comunitários que cada um deve ter.
Nesse sentido, as vantagens da vida coletiva sugerem que haja solidariedade uns aos outros para uma efetivação concreta dos laços que nos unem socialmente. Percebemos que diante da fragilidade das relações humanas é preciso resgatar a nossa humanidade e por meio da solidariedade exercitar relações éticas no nosso modo de vida. O agir consciente e solidário faz lembrar nossa comum unidade, e por mais que gestos de diminuição da pandemia sejam individuais, nada conseguiremos sem o esforço coletivo e comunitário.
Nós como pesquisadoras em bioética acreditamos que a atual Pandemia nos convida a refletir e agir sobre nossas relações, assim como identificar formas de enfrentamento dos dilemas éticos presentes nos momentos em que nos consideramos tão ameaçados e vulneráveis.
Acreditamos que diante desse momento, iremos adquirir novas práticas de solidariedade, teremos inspirações para aprendermos diferentes formas de nos relacionarmos e em especial que possamos nos enxergar parte de um todo com mudanças de atitudes e sinais de esperança para o enfrentamento de crises como esta.
O
presente ensaio foi elaborado com base nas obras:
AFONSO,
M. A. N; AZEREDO, Z. A. S. - Solidão na
perspectiva do idoso – 2016, disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v19n2/1809-9823-rbgg-19-02-00313.pdf,
Acesso em 23/03/2020.
HOSSNE,
William Saad; SILVA, Franklin Leopoldo – Dos
referenciais da Bioética – a Solidariedade -Revista Bio e Thinkos-
Centro Universitário São Camilo – 2013; 7(2) 150-156. Disponível em: <https://docplayer.com.br/14552046-Dos-referenciais-da-bioetica-a-solidariedade.html> Acesso em 21/03/2020.
PRAINSACK, B.; BUYX, A. SOLIDARITY IN CONTEMPORARY
BIOETHICS - TOWARDS A NEW APPROACH: Solidarity in Contemporary Bioethics -
Towards a New Approach. Bioethics,
v. 26, n. 7, p. 343–350, set. 2012.