quarta-feira, 22 de abril de 2020

Contextualização entre a População Surda, Comunicação em Saúde e o Covid-19




Por Tathyana Silva Andrade
Enfermeira em saúde pública e do trabalho e aluna no PPGB


O primeiro caso de corona vírus no Brasil surgiu no dia 26 de fevereiro, quase dois meses depois, vários sites revelam a dificuldade de informação do vírus para a população surda, além de noticiar, que, após a ótica perceptiva dos alunos de Universidades Brasileiras que notaram a defasagem das informações para a população surda, a criação de um site com orientações sobre o vírus e cuidados relativos a ele, estas realizadas por vídeos traduzidos.


Atualmente no Brasil temos uma população surda de aproximadamente 9 milhões de pessoas, isso equivale a aproximadamente 5 % da população Brasileira. A surdez pode ocorrer em três períodos: pré-natal, perinatal e pós-natal, sendo classificadas em adquiridas e congênitas, e pode também ser classificada quanto à intensidade: leve, moderada, grave e profunda. Tendo como as principais causas a falta de prevenção das principais doenças infectocontagiosas, como rubéola, sífilis, herpes, citomegalovírus, toxoplasmose, entre outras.
Na antiguidade, Aristóteles considerava a linguagem um meio de raciocínio da própria condição humana, e os surdos por não a possuírem, não raciocinavam. Essa conclusão era tida devido ao fato de que a linguagem estaria vinculada a própria condição humana, impulsionados a transformar o surdo em ouvinte, proibindo terminantemente a Língua de Sinais até o final da Idade Média.
A dificuldade na comunicação entre surdos e equipe de saúde geram diagnósticos e orientações dúbias, acarretando em um atendimento inócuo e pouco humanizado. Essa dificuldade se da devido a falta de profissionais de saúde capacitados para a comunicação em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), fazendo com que a comunicação seja regida por mimica, escritas em português, desenhos e leitura labial, ferramentas estas, inadequadas de comunicação que geram sentimentos de desconforto, insegurança, medo, angústia e ansiedade do profissional e do surdo, além de evidenciar a barreira de comunicação.
A comunicação é um item essencial para a execução e qualidade do atendimento à saúde, portanto esses obstáculos à comunicação interferem na capacidade do sistema de saúde em atender as necessidades deste grupo de pessoas, afetando significativamente a qualidade de vida do surdo.
Estamos passando pela maior pandemia dos últimos tempos, causada por novo agente do coronavírus, o SARS-CoV-2, que, ao infectar o agente, causa a doença denominada CoVid-19 (Corona Virus Disease – 2019) resultando em severas infecções respiratórias. O Método de prevenção, cuidado e precaução é: lavagem das mãos com água e sabão, uso de álcool 70% para higienização, uso de máscaras cobrindo boca e nariz e distanciamento social.
Pensando na fragilidade e dificuldade de comunicação, há mais de 30 anos a enfermeira Jeanne Hahne criou a máscara denominada de “Face view Mask”, uma máscara cirúrgica transparente para melhorar a comunicação com os pacientes surdos por meio da leitura labial. Equipamento não existente e/ou disponibilizado no Brasil.
A Saúde Pública (SP), não somente focada na Bioética principialista, e nas relações médico-paciente, mas sim em seus valores de proteger e promover os direitos humanos á saúde garantindo a equidade e evitando a discriminação, a Bioética de Proteção (BP) em seu ponto de vista metodológico como chave para a lidar com a moralidade das práticas sanitárias, que é em principio, para todos os cidadãos, e a Biopolítica, termo com uma definição ampla e de “conotação estável” de Foucault, mas que em tese diz sobre a ligação que a vida tem diretamente ao poder. Tanto a BP e a Biopolítica apresentam descrições perfeitas para a contextualização dessas situações.
Diante do exposto, a BP aplicada, tenderia a ser a stricto sensu, aplicada a pacientes morais vulneráveis, identificados como pessoas que não são capazes de se proteger sozinhos ou que não possuem amparo da família, grupo social, sociedade, estado ou governo. Nesse caso a BP se manifesta em defesa aos direitos humanos, colocando uma importante interface entre a saúde pública na sua dimensão moral, e a conflituosidade moral existente nas práticas de saúde, não esquecendo que a saúde do mundo é um bem comum, indivisível e de necessária expansão.
Utilizando a bioética e a Biopolítica, podemos pensar nas condições e suas justificativas morais das políticas públicas, para que elas não sejam somente inclusivas, mas sim, efetivas.
Como enfermeira mestranda em bioética acredito que as políticas públicas existente dos direitos de saúde dos surdos são inclusivas, mas, não efetivas. E como enfermeira, me atenho sempre ao Ethos da questão profissional e pessoal. Muitas vezes a politica, que deveria usar momentos como este que estamos passando para melhoria das políticas públicas e valorização da saúde pública, pensa em seus benefícios próprios ao invés da seguridade em saúde (dever do estado), da bioética sanitária, extremamente importante. Nós, usamos a bioética como forma reflexiva, e não, responsiva. O surdo, tem o direito de ser surdo, sem implante coclear, sem oralização, sem aportuguesação, respeitando ele, sua cultura, sua língua e, aprendendo sobre ela.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Teoria e Prática de Integração com a Comunidade, de orientação da docente Martha Fischer, com base nas obras: http://www.scielo.br/pdf/csc/v22n5/1413-8123-csc-22-05-1531.pdf A bioética de proteção
https://www.scielosp.org/article/csp/2001.v17n4/949-956/ - princípios bioéticos en salud pública