terça-feira, 21 de abril de 2020

Caça esportiva: Crueldade em forma de Troféu!


Série Ensaios: Ética no uso de animais

Por: Lilia Itsue Ota de Oliveira

Bióloga e pós-graduanda em Conservação da Natureza



Em julho de 2015 foi publicado em vários sites e jornais a notícia sobre a morte do Leão Cecil. O mesmo era um animal de pesquisa cientifica que ficava no Parque Nacional de Hwange, localizado em Zimbabue. Um grupo de caçadores invadiu o Parque e o levou para 1 km de distância. Primeiro atiraram uma flecha mas Cécil escapou. A perseguição teve duração de aproximadamente 40 horas. Assim que acharam o leão, os caçadores o mataram com o tiro e levaram a cabeça e pele. Essa caça foi solicitada por um dentista onde contratou um caçador profissional e pagou 50 mil reais.

Outra notícia que teve uma grande repercussão também foi publicada na revista El Pais. Em abril de 2019 um grupo de caçadores de Elefantes invadiram o Parque de Kruger, localizado na Africa do Sul. Um dos caçadores foi morto por um Elefante e após, um grupo de Leões e Leoas devoraram-no deixando somente a carcaça. Os caçadores eram ilegais.


Desde a época da pré–história caçar sempre foi uma atividade relacionada a alimentação e sobrevivência humana. Com o surgimento das atividades comerciais os animais começaram a ser caçados devido seu alto valor no mercado como peles, barbatanas, chifres e dentes de marfins. Com o passar do tempo e surgimento da agropecuária, as caças aumentaram e ganharam títulos e funções de caça esportiva, começando então a extinção de diversas espécies.

No Brasil temos uma única espécie onde a caça é permitida, que é do Javali. O animal é exótico e é considerado como praga, principalmente no setor agropecuário. O problema é que o Javali pode ser confundido com outras espécies como catetos e queixadas. Com isso esses animais acabam entrando na lista das espécies ameaçadas.
Nesse sentido a caça esportiva vem ganhando cada vez mais força, principalmente em países como África. As questões éticas que envolvem nesse assunto é o preço que o animal paga pelo prazer do caçador ter um troféu e/ou uma foto e entrar para a lista dos melhores caçadores do mundo. Além das espécies entrarem para a lista de ameaça, outro problema que a África também vem enfrentando, é que o turismo está decaindo cada vez mais. Segundo uma pesquisa feita em novembro de 2016, são mortos aproximadamente 30 mil elefantes por ano.
As pessoas que são a favor da caça (no caso os próprios caçadores, agropecuários e alguns deputados) alegam que caçar diminui as espécies invasoras que oferecem perigo para produção agropecuária, os caçadores fazem o possível para não deixar o animal agonizando, possuem obtenção de troféus e investem tempo e dinheiro na natureza.
 
No Brasil a caça é proibida desde 1967. Porém em julho de 2018, o deputado federal Valdir Colatto, entrou com um projeto de lei para que a caça de animais silvestres seja liberada como controle de pragas. Em nota, a Proteção Animal Mundial se posicionou abertamente contra qualquer atividade de caça: “A organização considera a caça uma ação cruel, injustificável e fonte de extremo sofrimento para as populações de animais. ” A maior ameaça vem do Congresso Nacional. O processo ainda está em andamento.
Já os órgãos ambientais, biólogos, veterinários, ambientalistas alegam que a caça deve ser feita pelos seus predadores naturais, pois um caçador não pode garantir que elimina somente animais enfraquecidos e doentes pelo prazer.
No debate ocorrido na disciplina foi pontuado várias questões sobre a caça esportiva. Alguns alunos sugeriram opções de jogos para substituir a caça, outros o safari fotográfico, mas todos são da opinião que isso vem da educação e cultura e podem ser amenizados com educação ambiental para nossas crianças.
Eu como Bióloga e futura especialista em Conservação da Natureza e Educação Ambiental, acredito que infelizmente a caça esportiva não vai ser resolvida por um período de curto a médio prazo, pois esse comportamento vem de culturas e educações diferentes. Como dito acima, há pessoas que sugerem a “substituição” da caça por jogos online, safaris fotográficos, mas acredito que não seria uma alternativa, pois o maior prazer de um caçador é ter a foto com o troféu atrás, além do alto lucro que ele obtém. Podem ser feitos várias campanhas, palestras sobre conscientização, petições e educação ambiental para a atual geração, porém ter em mente que é um assunto e uma pratica que pode ser demorada para ter um fim.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal, tendo como base as obras:
https://www.eusemfronteiras.com.br/a-caca-de-animais-por-esporte/ - A caça de animais por esporte.
https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2018/01/dilema-caca-esportiva-moral-animais-de-grande-porte-africa - Precisamos matar os animais para salva-los?
https://www.worldanimalprotection.org.br/diga-nao-a-caca-no-brasil - Diga não à caça ao Brasil!
https://pt.euronews.com/2015/07/29/caca-legal-em-africa-uma-questao-de-negocio - Caça legal na África – Uma questão de Negócio.
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/31/ciencia/1477923283_735673.html - El Pais
https://www.oeco.org.br/noticias/autor-do-projeto-que-libera-a-caca-valdir-colatto-e-o-novo-presidente-do-servico-florestal-brasileiro/ - Autor do projeto que libera a caça