Série Ensaios: Ética no Uso Animal
Por Juliana Cristina Ribeiro
Bióloga e Pós Graduanda em Conservação da Natureza e Educação Ambiental
Por Juliana Cristina Ribeiro
Bióloga e Pós Graduanda em Conservação da Natureza e Educação Ambiental
A fauna sinantrópica é composta por animais que se adaptaram e vivem no mesmo ambiente que o ser humano, principalmente nas áreas urbanas. As aves passeriformes nos grandes centros são um exemplo disso, e infelizmente, elas vêm sofrendo na medida em que a construção civil evolui. A arquitetura tem utilizado frequentemente o vidro em fachadas, como substituto dos muros ou então em grandes janelas, o que traz modernidade e requinte ao ambiente. Essas aves já estão acostumadas com a paisagem urbana e possuem uma boa visão, porém, como seus olhos são posicionados nas laterais da cabeça, a visão do que está a sua frente é dificultada, ainda mais contra um obstáculo transparente. Assim, quando estão deslocando-se em voo muitas vezes se chocam contra as vidraças, sofrendo grande impacto e na maioria das vezes, causando a morte.
O caso relatado acima é só um dos tipos de impacto que as espécies sinantrópicas sofrem diariamente. Animais como morcegos, aranhas e ratos também encontram problemas na cidade e precisam enfrentar barreiras para sobreviver. Esses animais se adaptaram ao ambiente urbano principalmente pela perda de habitat e desequilíbrio ecológico, muitos são até considerados “pragas urbanas”. A problemática dessa situação é que destruímos o habitat natural desses animais e não ofertamos subsídios para que possam ter qualidade de vida e prosseguir com seu objetivo que é garantir a sobrevivência da espécie e manutenção dos indivíduos. Muitas vezes questões estéticas, paisagísticas, financeiras, ou até mesmo de conveniência, são colocadas à frente das questões ambientais e necessidades da fauna e flora dos ambientes urbanos.
Geralmente, os agentes morais envolvidos nessa questão são os governantes, que solicitam ou autorizam obras em ambientes públicos, a população que aprova o uso do vidro na construção de casas, comércio e afins, e os órgãos ambientais e de construção civil que regulamentam e fiscalizam. A utilização do vidro nessas obras é justificada principalmente porque esse material proporciona interação entre ambientes, além de amplitude e leveza.
Os grandes impactados por essa situação são os passeriformes de diferentes espécies que habitam o ambiente urbano. A colisão é a segunda maior causa de morte de aves no mundo, atrás somente da destruição de habitats. Estima-se que o impacto em vidros cause a morte de aproximadamente 250 mil aves por dia na Europa e em torno de 1 bilhão por ano nos EUA e Canadá. Só em Toronto, cidade canadense, são vitimadas em torno de 1.000 aves de 89 espécies diferentes a cada trimestre. No Brasil ainda não há estudos de grande magnitude, mas estima-se que o número seja ainda maior do que dos países citados, com o agravante de que temos mais espécies, muitas delas endêmicas. A população também é impactada por essa questão de forma indireta, pois muitas vezes sem saber, está perdendo uma fauna rica e assim diminuindo seu valor ecológico e de qualidade ambiental. Economicamente, quem utiliza o vidro na arquitetura e construção também perde, pois corre o risco de investir na implementação de vidros e sofrer o prejuízo quando são trincados ou quebrados com o choque do pássaro.
Discutindo essa problemática em sala de aula, foi unânime a opinião de que esse tema é importante e urgente. Não só referente à mortalidade de aves, mas de todas as questões éticas relacionadas aos animais sinantrópicos. Também foi consensual a necessidade de se buscar estratégias para termos um ambiente mais equilibrado nas cidades, sem interferir no direito a vida desses animais, pois todos os seres vivos desempenham papel ecológico, sem esquecer de que o desequilíbrio é causado por fatores antropológicos.
Observando a questão como bióloga e futura especialista em conservação da natureza e educação ambiental, vejo que a problemática formada em torno desses animais dificilmente será resolvida se não for através da sensibilização ambiental da população e dos órgãos públicos. A repulsa, medo ou indiferença com a fauna sinantrópica não pode estar acima da importância de sua existência. Tentando exterminar ou afastar esses animais das cidades, ou não tomando o devido cuidado com questões como o impacto do vidro sobre os pássaros, a situação pode se agravar ainda mais com o constante crescimento urbano, principalmente se as ações não forem tomadas com conhecimento técnico e científico.
A boa notícia é que já existe mobilização buscando soluções para diminuir a mortalidade de aves nas cidades. Estudos, projetos como o Entre a Vida e o Vidro e tecnologia para vidraças como refletivos, adesivos e novos tipos de vidro estão surgindo com esse objetivo. Também é uma opção a não utilização do vidro, recorrendo a ideias e materiais alternativos, fugindo da transparência nos ambientes.
Geralmente, os agentes morais envolvidos nessa questão são os governantes, que solicitam ou autorizam obras em ambientes públicos, a população que aprova o uso do vidro na construção de casas, comércio e afins, e os órgãos ambientais e de construção civil que regulamentam e fiscalizam. A utilização do vidro nessas obras é justificada principalmente porque esse material proporciona interação entre ambientes, além de amplitude e leveza.
Os grandes impactados por essa situação são os passeriformes de diferentes espécies que habitam o ambiente urbano. A colisão é a segunda maior causa de morte de aves no mundo, atrás somente da destruição de habitats. Estima-se que o impacto em vidros cause a morte de aproximadamente 250 mil aves por dia na Europa e em torno de 1 bilhão por ano nos EUA e Canadá. Só em Toronto, cidade canadense, são vitimadas em torno de 1.000 aves de 89 espécies diferentes a cada trimestre. No Brasil ainda não há estudos de grande magnitude, mas estima-se que o número seja ainda maior do que dos países citados, com o agravante de que temos mais espécies, muitas delas endêmicas. A população também é impactada por essa questão de forma indireta, pois muitas vezes sem saber, está perdendo uma fauna rica e assim diminuindo seu valor ecológico e de qualidade ambiental. Economicamente, quem utiliza o vidro na arquitetura e construção também perde, pois corre o risco de investir na implementação de vidros e sofrer o prejuízo quando são trincados ou quebrados com o choque do pássaro.
Discutindo essa problemática em sala de aula, foi unânime a opinião de que esse tema é importante e urgente. Não só referente à mortalidade de aves, mas de todas as questões éticas relacionadas aos animais sinantrópicos. Também foi consensual a necessidade de se buscar estratégias para termos um ambiente mais equilibrado nas cidades, sem interferir no direito a vida desses animais, pois todos os seres vivos desempenham papel ecológico, sem esquecer de que o desequilíbrio é causado por fatores antropológicos.
Observando a questão como bióloga e futura especialista em conservação da natureza e educação ambiental, vejo que a problemática formada em torno desses animais dificilmente será resolvida se não for através da sensibilização ambiental da população e dos órgãos públicos. A repulsa, medo ou indiferença com a fauna sinantrópica não pode estar acima da importância de sua existência. Tentando exterminar ou afastar esses animais das cidades, ou não tomando o devido cuidado com questões como o impacto do vidro sobre os pássaros, a situação pode se agravar ainda mais com o constante crescimento urbano, principalmente se as ações não forem tomadas com conhecimento técnico e científico.
A boa notícia é que já existe mobilização buscando soluções para diminuir a mortalidade de aves nas cidades. Estudos, projetos como o Entre a Vida e o Vidro e tecnologia para vidraças como refletivos, adesivos e novos tipos de vidro estão surgindo com esse objetivo. Também é uma opção a não utilização do vidro, recorrendo a ideias e materiais alternativos, fugindo da transparência nos ambientes.
O presente ensaio foi elaborado para a disciplina Ética no
Uso de Animais e Bem Estar Animal, tendo como base as obras:
Fernandes, G. A. (2019). Significações
atribuídas a animais sinantrópicos ou peçonhentos por estudantes de uma escola
pública. UNESP. Disponível em: .
Acesso em: 03 Abr. 2020.
BARBOSA, Maisie Mitchele et al (2014).
Ensino de ecologia e animais sinantrópicos: relacionando conteúdos conceituais
e atitudinais. Ciênc. educ. (Bauru), Bauru, v. 20, n. 2, p.
315-330. Disponível em:
.
Acesso em 03 Abr. 2020.
Loss, S. R.,
Will, T., Loss, S. S. & Marra, P. P. (2014). Bird–building collisions in
the United States: Estimates of annual mortality and species vulnerability. The
Condor, 116(1), 8-23. Disponível em: .
Acesso em: 12 Abr. 2020.
SCHNEIDER, Maurício (2018). Prédios
envidraçados como fator de mortalidade de aves. Disponível em: < http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdca
mara/36260>. Acesso em 14
Abr. 2020.
BARROS, Liana Cézar (2010). Morte de
pássaros por colisão com vidraças. Revista Ciências do Ambiente On-Line,
v. 6, n. 3. Disponível em:
<http://sistemas.ib.unicamp.br/be310/nova/index.php/be310/article/view/265>. Acesso
em 14 Abr. 2020.
ANAVIDRO. O vidro na construção civil.
Disponível em:
com.br/o-vidro-na-construcao-civil/>.
Acesso em 14 Abr. 2020.
AECweb. Quais vidros utilizar para
evitar o choque de pássaros em edifícios?. Disponível em:
.
Acesso em 14 Abr.
2020.
VÍDEOS:
Estádio de vidro está matando pássaros e
isso pode ocorrer na sua casa:
Muro de vidro da raia olímpica da USP
provoca a morte de pássaros:
Pássaros morrem ao bater em barreira de
vidro em praça de Araruama, no RJ