Relembramos aqui o texto de Sergio Surugi de Sirqueira publicado pela Gazeta do Povo em 13/5/2016
É princípio da biologia evolucionista que a sobrevivência de uma determinada espécie depende do desenvolvimento da capacidade de se adaptar ao ambiente onde vive. “Nós”, os seres humanos desenvolvemos um sistema imune incrivelmente complexo e eficiente, dotado inclusive do atributo de memória, ou seja, somos capazes de eliminar um micróbio de nosso organismo sempre que ele tentar se instalar uma próxima vez. Nossa imunidade pode reconhecer as características moleculares apresentadas na primo-infecção e desenvolver defesas específicas, mais rápidas e intensas, no caso de nova invasão (infelizmente parece não ser assim na rejeição a determinados políticos, mas isto é assunto para outros articulistas).
Por outro lado, “Eles”, os micróbios que escolheram viver às custas de outros organismos vivos, também estão sujeitos aos princípios da evolução e neste caso o habitat ao qual precisam se adaptar é exatamente o organismo do hospedeiro. Por mais que a supremacia humana nos leve à falsa perspectiva da cura de todo mal, os micróbios estão trabalhando rápido e quando menos esperarmos aparecerá um novo inimigo (ou um velho, repaginado) para provocar epidemias aqui e acolá.
Neste particular, os vírus da influenza, ou gripe, nos ensinam sobre relação parasita-hospedeiro. Para seguirem agindo como eficientes parasitas modificam periodicamente suas características moleculares e assim aplicam o drible da vaca no nosso sistema imune, podendo causar infecções uma e outra vez. O vírus da gripe A H1N1 e seus primos não menos perigosos do lado B, são craques no jogo “Nós x Eles” e é por este motivo que temos que nos proteger da sua agressão de tempos em tempos.
E agora, se não bastassem, a dengue, o chikungunya, o zika e a situação político-econômica do País, vem aí mais uma epidemia de gripe A. Talvez não seja tão violenta como a de 2009, já que naquele tempo não tínhamos vacinas disponíveis, porém preocupa pela época de aparecimento dos casos e pelos números iniciais de mortalidade.
E o que “Nós” podemos fazer? Neste momento receber a vacina é a melhor medida, pois ela contém as moléculas dos vírus que circularam recentemente mundo afora e devem nos proteger contra os dribladores da hora. Ainda que a proteção vacinal não seja 100% eficiente, os vacinados que não ficarem totalmente protegidos tendem a desenvolver a doença com menor gravidade.
Para quem vier a desenvolver sintomas suspeitos, a ordem é buscar imediato atendimento médico, pois apesar de trabalhos de recentes de revisão colocarem em dúvida a eficácia e segurança do oseltamivir (medicamento que compete com o vírus no nosso organismo, diminuindo as chances dele infectar nossas células), o tratamento da gripe com esta droga ainda é recomendado pelas principais autoridades sanitárias do mundo.
Mas cuidado! Esta medicação só se mostra eficaz se administrada nas primeiras 48 horas do surgimento dos sintomas e jamais deve ser usada sem prescrição médica, pois a decisão de sua utilização deve passar por uma rigorosa análise do balanço de seu risco/benefício.
Portanto, nada de tomar antiviral no primeiro espirro, febre ou dor de cabeça. Adote medidas de higiene rigorosas, evite ambientes fechados e aglomerações, tome a vacina assim que puder e se tiver sintomas, vá ao médico.
Até a próxima epidemia.