segunda-feira, 10 de junho de 2019

ALTRUÍSMO: UMA VIDA MAIS LEVE


A Série Ensaios: Sociobiologia
Por  Aline Drabeski, Amanda Cenci de Paula,  Cauã Neubauer, Letícia Taborda,  Luíza Araújo, Rhoxanne Luchesi Duda



 No dia 2 de janeiro de 2018, o site do Jornal VS divulgou a notícia de que dois homens
haviam ficado gravemente feridos, na tentativa de resgatar um pato que havia caído em um poço da Semae. Adilson Fabiano Vieira, 37 anos, ao entrar no poço para salvar o animal, acabou passando mal por inalar o forte cheiro e desmaiou, caindo de uma altura de 6 metros (profundidade do poço). Já Osvaldo Luiz Silva, 46 anos, que tentou salvar Adilson, também acabou passando mal por causa do cheiro e teve de ser resgatado por bombeiros.

    Os homens foram levados ao hospital, sendo Adilson (37) o caso mais grave, respirando por aparelhos e permanecendo em coma induzido. Já Osvaldo (46) obteve alta dias depois do acidente. Meses depois do ocorrido, no dia 24/11/2018, Adilson veio a óbito por decorrência de um mal-estar e dificuldades para respirar. Sabe-se que Adilson havia permanecido na UTI por dois meses, e em maio do mesmo ano, voltou para casa, mas apresentava sequelas devido ao acidente, sendo elas a perda da visão e da fala, mas ainda assim apresentava pequenos movimento e algumas emoções.


O Altruísmo:
O termo Altruísmo foi criado por Auguste Comte no século XIX. Comte foi um filósofo francês, considerado o fundador da Sociologia e um importante autor da corrente filosofica do Positivismo.
O Altruísmo segundo o pensamento de Comte (1798-1857), é a tendência ou inclinação de natureza instintiva que incita o ser humano à preocupação com o outro e que, não obstante sua atuação espontânea, deve ser aprimorada pela educação positivista, evitando-se assim a ação antagônica dos instintos naturais do egoísmo. Na visão de Comte, o altruísmo era, portanto, o domínio dos instintos egoístas do ser humano: a capacidade de se preocupar com os outros para além de si mesmo.
Assim, dentro do Reino Animal, foi classificado em,  Seleção de Parentesco e Altruísmo Recíproco . A Seleção de Parenteco, é um mecanismo evolutivo, que fará com que os organismos defendam sua prole, ou, seus parentes geneticamente próximos, e também, fará com que defendam sua própria exsitencia. Um exemplo, é o das abelhas abelhas  que por possuirem uma sexualidade haploide, ou seja, as irmãs compartilham ¾ do material genético, uma das fêmeas irá se sacrificar pela defesa da comeia, em prol de todos os membros da comeia. Já  o Altruísmo Recíproco, se caracteriza quando um indivíduo do grupo, expõem em risco sua sobrevivencia para ajudar o outro, com o objetivo de obter algo em troca mais tarde. Um exemplo, são os morcegos-vanpiros, no qual compartilham o sangue com outros membros do grupo, já que a caça não será algo tão favorável para o grupo.
Existem também, segundo Conte, há três categorias de altruísmo: O primeiro é o Apego no qual a relação que um ser humano pode vir á ter com o outro, os laços afetivos entre os indivíduos. O segundo tipo, é a Veneração, mais explicitamente quando uma pessoa mais “fraca” tem o máximo de respeito/ adimiração por uma pessoa mais velha ou mais forte. E por último,  Bondade é o sentimento que uma pessoa mais forte ou mais velha possui em relação á uma pessoa mais nova ou mais fraca.
 Dentro dos condicionantes Biológicos, é perceptível que houve a ação dos  neurotransmissores, e de hormônios que atuam no biológico dos dois homens, tanto no primeiro, que arriscou sua vida em prol do pato, o Adilson Fabiano Vieira, e o Luiz Silva, que se arriscou ao tentar salvar a vida do Adilson. Esses hormônios, como por exemplo, a Adrenalina, e seu sistema nervoso em geral, fizeram esses dois homens reagirem de uma forma totalmente inconsciente, e totalmente instintiva, ao se depararem com a tal situação. Além disso, dentro dos parâmetros, biológicos, foi visto que, após ser realizado algum gesto altruísta, o coração produz hormônios, como a oxitocina o óxido nítrico, sendo que ambos estão correlacionados com a queda da pressão arterial, dando também uma grande satisfação ao ser realizado um gesto altruísta. E por fim, segundo  Science of kindness, pode também estar relacionado com uma melhora ao sistema imunológico, ajudando também a obter uma maior perspectiva de vida.
 Já com relação aos condicionantes etológicos, que está envolvido com comportamento, estratégia, evolução, comparação e com cuidado dos filhotes, a ação do primeiro homem que entrou no poço para tentar salvar o pato, pode ter visto o animal como seu filhote, entrando na questão do cuidado com sua prole. E assim, levando-o a agir de forma instintiva e inconsciente, como já foi dito acima. Já o segundo homem que se arrisca pela vida do primeiro, analisando em um aspecto mais evolutivo, o seu ato pode ser analisado como uma reação de uma sobrevivência em grupo, algo implícito na espécie humana. Além disso, pode também se encaixar dentro de uma atitude altruísta de Seleção de Parentesco, já que o Luiz Silva se arriscou pelo Adilson, visto que ambos são da mesma espécie. Para formação de grupo o altruísmo é bem importante, considerando que o antônimo do Altruísmo é o individualismo, o egocentrismo e a ganância, que são ideias e sentimentos extremamente individuais, sem pensar no bem-estar dos outros. Sendo assim, se todos nós fossemos individualistas, jamais teríamos conseguido evoluir como grupo e espécie.
“A evolução dá aos seres vivos, claro, incentivos para defender seus descendentes e até mesmo parentes mais distantes. Isso significa, em resumo, garantir a propagação de seus próprios genes –“genes egoístas” , nas palavras do biólogo Richard Dawkins. Mas por que um ser ajudaria um estranho só por sentir pena? Por que, em última instância, desenvolvemos o sentimento de pena?
Em 1962, o zoólogo inglês V.C. Wynne-Edwards propôs a ideia de que a unidade submetida à evolução seria o grupo, e não o indivíduo, criando o conceito de  "seleção de grupo" . Essa teoria permitiria explicar a emergência do altruísmo, pois um grupo que coopera entre si seria mais apto a sobreviver do que um grupo sem sinergia. Essa ideia, porém, acabou saindo de moda na década de 1980 após ser atacada por Dawkins e outros biólogos.”
Porém, mesmo que o altruísmo, em um primeiro momento seja visto como uma atitude correlacionado com compartilhamento genético ,ou seja, com um certo grau de parentesco entre as espécies, há muitos relatos de animais de diferentes espécies tendo comportamentos altruístas. Um exemplo, é exatamente o Adilson, que tenta salvar a vida do pato dentro do poço. Outros exemplos que também podem ser usados, são, o golfinho,  que é adotado por baleias cachalotes após nascer com uma deformação na coluna e o  agaporni que passa a dividir sua comida com aves de rua. Esses tipos de atitudes altruístas ainda não possuem uma justificativa exata, podendo ter uma justificativa mais próxima da psicologia, mas mesmo assim ainda não se tem uma resposta concreta.

Em sala discutimos que as pessoas, no geral, normalmente não são altruístas em seu dia a dia, cada vez mais somos individualistas e egoístas nas nossas atitudes. Vivemos na época marcada pela individualidade, pelo consumo e pelo capitalismo. Por exemplo, a carreira profissional é marcada pela competitividade, todos querem sucesso e muitas vezes não importa como irão conseguir. Pensamos nos governos políticos e como as corrupções (egoístas) são prejudiciais ao povo, usando verbas públicas sem pensar no todo.
Foi levantado uma questão muito importante no debate: “até onde somos altruístas?” Talvez se o Adilson soubesse que iria morrer em decorrência da tentativa de salvar o pato, ele não tivesse nem tentado entrar no poço, ou talvez não faça diferença nenhuma e o instinto fale mais alto mesmo.
Por outro lado, discutimos a figura da mãe em relação a seu filho, quantas e quantas coisas ela não deixou de fazer na vida para dar o melhor ao filho. Seus “mini” sacrifícios diários são extremamente altruístas.
A mesma coisa acontece quando deixamos de comer algo que gostamos para dar a uma criança ou amigo, enfim, essas atitudes que parecem ser pequenas, são consideradas altruístas. Pequenos gestos de ajuda no cotidiano podem formar uma sociedade mais altruísta, assim como se preocupar com problemas sociais, ajudar em desastres, fazer doações, também são maneiras de praticar o altruísmo coletivamente.
Falamos também sobre a empatia e como ela é importante para desenvolver o altruísmo. Se colocar no lugar do outro é uma ação que as pessoas altruístas tem, e é essa forma que elas levam em consideração os sentimentos e emoções das pessoas ao tomarem decisões. Isso se relaciona diretamente com a empatia, é ela que nos faz deixar de sermos egoístas com quem está á nossa volta. 
Discutimos que para ser altruísta, você não pode esperar nada em troca, não se trata de uma recompensa. O Altruísmo é fazer algo pelo outro sem esperar que ele retribua alguma coisa, ele precisa ser genuíno, as pessoas altruístas ajudam por ajudar.  Isso é muito importante, porque a partir disso, desenvolvemos o pensamento crítico que leva em conta a convivência em sociedade, não apenas os nossos desejos e necessidades.
Em um estudo realizado no Japão, com pessoas com mais de 100 anos, mostrou que o motivo de viverem por tanto tempo é o grande espírito de cooperação que existe em suas comunidades. Concluiu-se então, que o altruísmo foi fator determinante para aumentar significativamente a expectativa de vida das pessoas, bem como a imunidade de seus organismos e a sua saúde mental.
Nós como formandos em biologia sabemos que homens e mulheres distinguissem anatomicamente e fisiologicamente, fazendo com que alguns tipos de comportamentos sejam expressos mais por um sexo, do que pelo outro. O altruísmo pode ser entendido como um comportamento mais feminino, isso ocorre devido a características diretamente ligadas ao altruísmo (que são “ligadas” as mulheres) empatia, bondade, afetividade e sentimento de proteção em relação aos outros, maternidade.
 Porém é importante frisar que isso não quer dizer que essas diferenças são inatas.  Pelo contrário, é bem relativo, pois depende muito do aprendizado durante a vida, da criação, do ambiente em que a pessoa cresceu e se desenvolveu e da genética. Tanto que temos homens e mulheres altruístas, não é algo conectado diretamente com o gênero em si.
“Existem diferenças, por exemplo, o cérebro do bebê do sexo masculino é banhado por quantidade maior de testosterona, do que o cérebro da menina. Parece  que, quando banhado por muita testosterona, o cérebro é construído de forma diferente. Tais diferenças de comportamento, boa parte dos indivíduos atribui a fenômenos culturais, mas há sinais claros de que outros fatores também pesam. É óbvio que os aspectos culturais e sociais existem, mas não se pode negar o papel biológico presente nesse processo. Por exemplo, comparadas com os meninos, as meninas nascem com uma diferença de maturação cerebral de quatro semanas. Se lembrarmos que a gestação normal é de 40 semanas, quatro semanas correspondem a 10% a mais no desenvolvimento desse processo de maturação.” - José Salomão Scwartzman 
Vários estudos e experimentos foram publicados tentando achar uma lógica entre o altruísmo comparando machos e fêmeas, porém como nenhum deles chegou a uma conclusão precisa, não podemos dizer com certeza até onde existe uma influência. É necessária uma melhor discussão sobre o assunto. A verdade é que o  altruísmo faz com que nos sintamos bem e talvez por isso, a atitude seja repetida.


O presente estudo foi elaborado para a disciplina de Etologia, tendo como base as seguintes obras:

Baravalle, L. (2014). As muitas faces do altruísmo: pressões seletivas e grupos humanos. Scientiae Studia12(1), 97-120.
STEINER, P. (2016). Altruísmo, dons e troca simbólica. São Carlos: UNESP.



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