A Série Ensaios:
Sociobiologia
Por Aline Drabeski, Amanda Cenci de Paula, Cauã Neubauer, Letícia Taborda, Luíza Araújo, Rhoxanne Luchesi Duda
No dia 2 de janeiro de 2018, o site do Jornal VS divulgou a notícia de que dois
homens
haviam
ficado gravemente feridos, na tentativa de resgatar um
pato que havia caído em um poço da Semae. Adilson Fabiano Vieira, 37 anos, ao
entrar no poço para salvar o animal, acabou passando mal por inalar o forte
cheiro e desmaiou, caindo de uma altura de 6 metros (profundidade do poço). Já
Osvaldo Luiz Silva, 46 anos, que tentou salvar Adilson, também acabou passando
mal por causa do cheiro e teve de ser resgatado por bombeiros.
Os homens foram levados ao hospital, sendo
Adilson (37) o caso mais grave, respirando por aparelhos e permanecendo em coma
induzido. Já Osvaldo (46) obteve alta dias depois do acidente. Meses depois do ocorrido,
no dia 24/11/2018, Adilson veio a óbito
por decorrência de um mal-estar e dificuldades para respirar. Sabe-se que
Adilson havia permanecido na UTI por dois meses, e em maio do mesmo ano, voltou
para casa, mas apresentava sequelas devido ao acidente, sendo elas a perda da
visão e da fala, mas ainda assim apresentava pequenos movimento e algumas
emoções.
O Altruísmo:
O
termo Altruísmo foi criado por Auguste Comte no século XIX. Comte foi um
filósofo francês, considerado o fundador da Sociologia e um importante autor da
corrente filosofica do Positivismo.
O Altruísmo segundo o
pensamento de Comte
(1798-1857), é a tendência ou
inclinação de natureza instintiva que incita o ser humano à preocupação com o
outro e que, não obstante sua atuação espontânea, deve ser aprimorada pela
educação positivista, evitando-se assim a ação antagônica dos instintos
naturais do egoísmo. Na visão de Comte, o altruísmo era, portanto, o domínio
dos instintos egoístas do ser humano: a capacidade de se preocupar com os
outros para além de si mesmo.
Assim,
dentro do Reino Animal, foi classificado em, Seleção de
Parentesco e Altruísmo Recíproco . A
Seleção de Parenteco, é um mecanismo evolutivo, que fará com que os organismos
defendam sua prole, ou, seus parentes geneticamente próximos, e também, fará
com que defendam sua própria exsitencia. Um exemplo, é o das abelhas abelhas que por possuirem uma sexualidade haploide, ou seja, as irmãs compartilham
¾ do material genético, uma das fêmeas irá se sacrificar pela defesa da comeia,
em prol de todos os membros da comeia. Já
o Altruísmo Recíproco, se caracteriza quando um indivíduo do grupo,
expõem em risco sua sobrevivencia para ajudar o outro, com o objetivo de obter
algo em troca mais tarde. Um exemplo, são os morcegos-vanpiros, no qual
compartilham o sangue com outros membros do grupo, já que a caça não será algo
tão favorável para o grupo.
Existem
também, segundo Conte, há três categorias de altruísmo: O primeiro é o Apego no qual a relação que
um ser humano pode vir á ter com o outro, os laços afetivos entre os
indivíduos. O segundo
tipo, é a Veneração,
mais explicitamente quando uma pessoa mais “fraca” tem o máximo de respeito/ adimiração por uma pessoa mais velha ou mais forte. E por
último, Bondade é o sentimento que uma pessoa mais forte ou mais velha possui em
relação á uma pessoa mais nova ou mais fraca.
Já com relação aos condicionantes etológicos,
que está envolvido com comportamento, estratégia, evolução, comparação e com
cuidado dos filhotes, a ação do primeiro homem que entrou no poço para tentar
salvar o pato, pode ter visto o animal como seu filhote, entrando na questão do
cuidado com sua prole. E assim, levando-o a agir de forma instintiva e
inconsciente, como já foi dito acima. Já o segundo homem que se
arrisca pela vida do primeiro, analisando em um aspecto mais evolutivo, o seu
ato pode ser analisado como uma reação de uma sobrevivência em grupo, algo
implícito na espécie humana. Além disso, pode também se encaixar dentro de uma
atitude altruísta de Seleção de Parentesco, já que o Luiz Silva se arriscou
pelo Adilson, visto que ambos são da mesma espécie. Para formação de grupo o
altruísmo é bem importante, considerando que o antônimo do Altruísmo é o
individualismo, o egocentrismo e a ganância, que são ideias e sentimentos
extremamente individuais, sem pensar no bem-estar dos outros. Sendo assim, se
todos nós fossemos individualistas, jamais teríamos conseguido evoluir como
grupo e espécie.
“A evolução dá aos seres vivos, claro, incentivos para defender
seus descendentes e até mesmo parentes mais distantes. Isso significa, em
resumo, garantir a propagação de seus próprios genes –“genes
egoístas” , nas palavras do biólogo Richard Dawkins. Mas por que um ser
ajudaria um estranho só por sentir pena? Por que, em última instância,
desenvolvemos o sentimento de pena?
Em 1962, o zoólogo inglês V.C. Wynne-Edwards propôs a ideia de que
a unidade submetida à evolução seria o grupo, e não o indivíduo, criando o
conceito de "seleção de grupo" . Essa teoria permitiria
explicar a emergência do altruísmo, pois um grupo que coopera entre si seria
mais apto a sobreviver do que um grupo sem sinergia. Essa ideia, porém, acabou
saindo de moda na década de 1980 após ser atacada por Dawkins e outros
biólogos.”
Porém, mesmo que o altruísmo, em um primeiro momento seja
visto como uma atitude correlacionado com compartilhamento genético ,ou seja, com um
certo grau de parentesco entre as espécies, há muitos relatos de animais de
diferentes espécies tendo comportamentos altruístas. Um exemplo, é exatamente o
Adilson, que tenta salvar a vida do pato dentro do poço. Outros exemplos que
também podem ser usados, são, o golfinho, que é adotado por baleias cachalotes após
nascer com uma deformação na coluna e o agaporni que passa a dividir
sua comida com aves de rua. Esses tipos de atitudes altruístas ainda não
possuem uma justificativa exata, podendo ter uma justificativa mais próxima da
psicologia, mas mesmo assim ainda não se tem uma resposta concreta.
Em sala discutimos que
as pessoas, no geral, normalmente não são altruístas em seu dia a dia, cada vez
mais somos individualistas e egoístas nas nossas atitudes. Vivemos na época
marcada pela individualidade, pelo consumo e pelo capitalismo. Por exemplo, a
carreira profissional é marcada pela competitividade, todos querem sucesso e
muitas vezes não importa como irão conseguir. Pensamos nos governos políticos e
como as corrupções (egoístas) são prejudiciais ao povo, usando verbas públicas
sem pensar no todo.
Foi levantado uma
questão muito importante no debate: “até onde somos altruístas?” Talvez se o
Adilson soubesse que iria morrer em decorrência da tentativa de salvar o pato,
ele não tivesse nem tentado entrar no poço, ou talvez não faça diferença
nenhuma e o instinto fale mais alto mesmo.
Por outro lado,
discutimos a figura da mãe em relação a seu filho, quantas e quantas coisas ela
não deixou de fazer na vida para dar o melhor ao filho. Seus “mini” sacrifícios
diários são extremamente altruístas.
A mesma coisa acontece
quando deixamos de comer algo que gostamos para dar a uma criança ou amigo,
enfim, essas atitudes que parecem ser pequenas, são consideradas altruístas.
Pequenos gestos de ajuda no cotidiano podem formar uma sociedade mais
altruísta, assim como se preocupar com problemas sociais, ajudar em desastres,
fazer doações, também são maneiras de praticar o altruísmo coletivamente.
Falamos também sobre a empatia e como ela é importante
para desenvolver o altruísmo. Se colocar no lugar do outro é uma ação que as
pessoas altruístas tem, e é essa forma que elas levam em consideração os
sentimentos e emoções das pessoas ao tomarem decisões. Isso se relaciona diretamente
com a empatia, é ela que nos faz deixar de sermos egoístas com quem está á nossa volta.
Discutimos que para ser
altruísta, você não pode esperar nada em troca, não se trata de uma recompensa.
O Altruísmo é fazer algo pelo outro sem esperar que ele retribua alguma coisa,
ele precisa ser genuíno, as pessoas altruístas ajudam por ajudar. Isso é muito importante, porque a partir
disso, desenvolvemos o pensamento crítico que leva em conta a convivência em
sociedade, não apenas os nossos desejos e necessidades.
Em um estudo realizado no Japão,
com pessoas com mais de 100 anos, mostrou que o motivo de viverem por tanto
tempo é o grande espírito de cooperação que existe em suas comunidades.
Concluiu-se então, que o altruísmo foi fator determinante para aumentar
significativamente a expectativa de vida das pessoas, bem como a imunidade de
seus organismos e a sua saúde mental.
Nós como formandos em biologia sabemos que homens e mulheres
distinguissem anatomicamente e fisiologicamente, fazendo com que alguns tipos
de comportamentos sejam expressos mais por um sexo, do que pelo outro. O
altruísmo pode ser entendido como um comportamento mais feminino, isso ocorre devido a
características diretamente ligadas ao altruísmo (que são “ligadas” as
mulheres) empatia, bondade, afetividade e sentimento de proteção em relação aos
outros, maternidade.
Porém é importante frisar que isso não
quer dizer que essas diferenças são inatas.
Pelo contrário, é bem relativo, pois depende muito do aprendizado
durante a vida, da criação, do ambiente em que a pessoa cresceu e se desenvolveu
e da genética. Tanto que temos homens e mulheres altruístas, não é algo
conectado diretamente com o gênero em si.
“Existem diferenças, por exemplo, o
cérebro do bebê do sexo masculino é banhado por quantidade maior de
testosterona, do que o cérebro da menina. Parece que, quando banhado por muita testosterona, o
cérebro é construído de forma diferente. Tais diferenças de comportamento, boa
parte dos indivíduos atribui a fenômenos culturais, mas há sinais claros de que
outros fatores também pesam. É óbvio que os aspectos culturais e sociais
existem, mas não se pode negar o papel biológico presente nesse processo. Por exemplo,
comparadas com os meninos, as meninas nascem com uma diferença de maturação
cerebral de quatro semanas. Se lembrarmos que a gestação normal é de 40
semanas, quatro semanas correspondem a 10% a mais no desenvolvimento desse
processo de maturação.” - José Salomão Scwartzman
Vários estudos e experimentos foram
publicados tentando achar uma lógica entre o altruísmo comparando machos e
fêmeas, porém como nenhum deles chegou a uma conclusão precisa, não podemos
dizer com certeza até onde existe uma influência. É necessária uma melhor
discussão sobre o assunto. A verdade é que o altruísmo faz
com que nos sintamos bem e talvez por isso, a atitude seja repetida.
O presente estudo foi elaborado para a disciplina de
Etologia, tendo como base as seguintes obras:
Baravalle, L.
(2014). As muitas faces do altruísmo: pressões seletivas e grupos
humanos. Scientiae Studia, 12(1), 97-120.
STEINER, P.
(2016). Altruísmo, dons e troca simbólica. São Carlos: UNESP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário