terça-feira, 14 de maio de 2019

Homem x Mulher: Mulheres na ciência e seus desafios


Série Ensaios: Sociobiologia

 Por Emeli Bail, Fernanda Fornerolli, Karin Wermeier e Natasha Kobai
Formandos em Ciêncais Biológicas






Em abril de 2019 foi marcada pela publicação a primeira foto real de um buraco negro pelo projeto EHT (Event Horizon Telescope), pela Fundação Nacional de Ciências (NSF) e pelo European Southern Observatory (ESO). Um dos feitos mais importantes da astrologia nos últimos tempos, ressaltando o trabalho de Katie Bouman, uma cientista de computadores de 29 anos, Ph. D em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2007, foi responsável por criar o algoritmo capaz de contabilizar todo o volume de dados obtidos pelos telescópios e formar a imagem que foi apresentada. Após a divulgação da imagem e do acontecimento nas mídias a cientista foi alvo de ataques machistas na internet.
Nos ataques, os críticos disseram que a cientista estava recebendo "muito crédito" pelo trabalho. Desde o momento que passou a receber reconhecimento, Katie ressaltou que o trabalho era, na realidade, de toda a equipe — ao todo, 200 cientistas participaram do projeto, sendo 40 mulheres.
 O conceito de Comportamento Social descrito pelo psicólogo norte-americano Burrhus Frederic Skinner nos diz que o comportamento de duas ou mais pessoas em relação a uma terceira é determinado por estímulos ambientais. Por isso, conhecer, mais a fundo, esta ideia nos ajuda a entender, com mais clareza, como se dão as nossas relações interpessoais também no ambiente de trabalho. Sendo importante para a formação de grupos, onde agrega-se uma diversidade de indivíduos providos de uma visão de mundo e educação diferentes, mas que possuem um valor em comum que nos une como um grupo, apresentando-se um elemento agregador que faz com que o indivíduo se sinta bem ao se reconhecer com o outro. Por sua vez, em cada grupo vai ser estabelecido regras, quanto mais indivíduos participam desse grupo mais as regras vai se estabelecer elevando seu nível de complexidade.
No que condiz aos condicionantes sociais, as trajetórias diferenciadas de homens e mulheres ao longo da história evolutiva de nossa espécie podem explicar as dessemelhanças de sexo observadas em diversos âmbitos, inclusive no mercado de trabalho. Desde a mais remota antigüidade a mulher ocupou na sociedade uma posição subalterna ou, no mínimo, subsidiária ou complementar ao homem.Dentro deste contexto a mulher era apenas uma peça a ser negociada para fechar o acordo, ela precisaria cumprir com os afazeres do lar sendo uma boa esposa. Era também papel da mulher na antiguidade manter uma boa imagem da sua família e esposo. Na história da ciência a participação da mulher ficou marcada por ausências e presenças. Foi no início dos anos da Revolução Científica que as mulheres começaram e envolver-se com  atividades científicas, tal como observando os céus através de telescópios, analisando plantas e insetos e outros animais olhando no microscópio, junto com seus pais, maridos ou filhos cientistas. Sobretudo a institucionalização e profissionalização da ciência a separação entre público e privado, com o desenvolvimento do capitalismo, ficou-se restrito a participação da mulher, com exceções as mulheres não puderam desenvolver  pesquisas, nem mesmo como auxiliares, já que eram impedidas de frequentar as instituições de ensino, pois estavam destinadas as atividades e cuidados do lar, filhos e marido. Vale destacar que as universidades, embora criadas no século XII, apenas no final do século XIX e início do século XX é que passaram a admitir efetivamente as mulheres em seus quadros de discentes e docentes.
Analisando o histórico das mulheres na ciência, podemos ver que houve muitas contribuições para a ciência e tecnologia, que foram descobertas e desenvolvidos por mulheres. Um exemplo mais famoso que todos conhecemos é a Marie Curie (1867 – 1934) conhecida como a "Dama da Radioatividade", pioneira em sua pesquisa sobre a radioatividade, pela descoberta dos elementos Polônio e Rádio, além do mais ela conseguiu isolar os isótopos deste elemento. Sendo a primeira mulher a ganhar um Nobel e a primeira pessoa a ser laureada duas vezes com o prêmio: a primeira vez em Química, em 1903, e a segunda em física, em 1911. Além de Marie Curie, há muitas outras mulheres que tiveram uma contribuição importante na ciência, por exemplo, Margaret Hamilton (1969) ajudou a escrever o código de Software que permitiu com que o homem chega-se a lua, comparando-se até mesmo com Katie Bouman.
Porém, um recente estudo da Unesco (2018), mostra que as mulheres representam apenas 28% dos cientistas no mundo, e o prêmio Nobel nas áreas de física, química ou medicina, já foi entregue a apenas 17 mulheres contra 572 homens. Essa disparidade não é ao acaso, isso se deve por conta do impedimento de muitas meninas de se desenvolver por conta das normas e expectativas sociais. Tanto a educação como a igualdade de gênero são partes integrantes da agenda 2030 das ODS que visa o desenvolvimento sustentável, e as mulheres e meninas são partes fundamentais em tal desenvolvimento. É de extrema necessidade a luta contra os obstáculos específicos que mantém as estudantes longe das áreas da ciência, e é importante estimular e encorajar o desenvolvimento acadêmico feminino e acima de tudo quebrar estereótipos que impedem as mulheres e meninas de terem carreira científica.
            Sob as perspectivas dos condicionantes biológicos, as diferenças entre homens e mulheres é um tema controverso na sociedade atual. Na década de 1990 era difundida a ideia de que a mulher era inferior ao homem, por diversas razões, desde a representação do corpo masculino como sendo “perfeito” e o feminino caracterizado como uma “inversão”, até, explicações mais aprofundadas, como por exemplo, a descrição de que o espermatozóide é uma organela mais ágil e forte e o óvulo como sendo mais frágil e passivo. A literatura aponta que a descoberta de substanciais diferenças entre os sexos sugere que homens e mulheres possam ter interesses e habilidades diferentes, independentemente de qualquer influência social. Umas das principais diferenças entre homens e mulheres é encontrado na forma pela qual utilizam o cérebro. Nos homens, predomina o uso do lado esquerdo, responsável entre outras funções pelo raciocínio lógico. Já as mulheres usam tanto a porção esquerda como a direita do cérebro, que deflagra os mecanismos da emoção. Elas têm, por isso, uma relação mais emocionada com todas as formas da linguagem. Diante disto, tanto homens quanto mulheres se utilizam dessas habilidades para a escolha de suas profissões, assim mulheres tendem a ir em áreas como psicologia, enfermagem entre outras áreas que favoreçam suas habilidades, a mesma coisa com os homens escolhendo a área da engenharias e profissões que se utilizam mais do raciocínio lógico. Esses pensamentos influenciam em toda a história da mulher na sociedade e em sua luta pela igualdade na sociedade atual, que ainda sofre com preconceitos e situações desagradáveis e até mesmo de risco para a parcela feminina da sociedade.
Na etologia, assim como em nossa sociedade, no reino animal também existem diferenças gritantes na anatomia e fisiologia do corpo feminino para o masculino. O corpo feminino é caracterizado por ser capaz de gerar uma vida dentro dele, sendo necessário então, estruturas e  hormônios diferenciados para o desenvolvimento do embrião. Os papéis de machos e fêmeas  em animais sociais na natureza não se diferem tanto quando comparado com a espécie humana. De uma maneira geral na maioria das espécies, o macho e a fêmea passam por um processo de reprodução onde, geralmente, é o animal do sexo feminino que fica com a função de gestar, dar à luz e depois cuidar de seus filhotes. Entretanto podem existir algumas exceções em que os machos assumem completamente o papel da maternidade, tornando-se as verdadeiras mães da relação e desempenhando um papel fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento dos seus bebês, um dos exemplos mais comuns por apresentar uma paternidade incomum são os cavalo-marinhos onde o macho é que fica "grávido" e dão a luz a vários cavalinhos-marinhos, além dos cavalos marinhos temos ainda algumas outras espécies onde há essa troca de papéis. No reino animal em algumas espécies há as sociedades patriarcais que se caracteriza por compor de um grupo no qual é liderado geralmente pelo "macho alfa" , contudo como na natureza sempre há exceções, temos determinadas espécies em que o grupo é liderada por fêmeas, a chamada sociedade matriarcal, as abelhas, por exemplo, a denominada abelha rainha, na qual lidera o seu exército de operária. Em algumas espécies de mamíferos também há grupos sociais liderados por fêmeas, por exemplo, as manadas de elefantes lideradas por fêmeas, e apesar da matriarca ser geralmente maior do que os outros (em tamanho), o que importa mesmo é a sua experiência. Muitas vezes, na natureza, a hierarquia entre os animais é estabelecida pela força.   

Homens
Mulheres
Cromossomo y
Cromossomo x
Andrógeno
estrógeno
espermatozóide
Óvulo
Pênis
Vulva
Timbre grosso
Timbre fino
Menos gordura acumulada
Mais gordura acumulada (quadril e barriga)
Músculos se desenvolvem mais facilmente
Músculos se desenvolvem com mais dificuldade
Maior quantidade de pelos (facial e corporal)
Menor quantidade de pelos (facial e corporal)
Fisionomia “dura”
Fisionomia “delicada”

 No debate realizado em sala com formandos de biologia se questionou o papel da mulher em cargos de poder, elas não estão nos cargos de liderança por que elas não têm disposição? Ou por que elas não querem? Será que a mulher se recusaria a aceitar cargos de poder por ter de se dedicar muito a ele, uma vez que é um ambiente muito “hostil”, havendo muita competitividade e exigindo um maior autocontrole,  deixando em segundo plano sua dedicação a sua família, o cuidado com os filhos e ao lar?. Dessa forma fazendo com que ela aceite um emprego de menor status e poder para dar contra tanto de sua dedicação ao trabalho quanto ao cuidado da família, filhos e o lar. Como mencionado anteriormente a mulher por ter esse lado mais da emoção, ela em um cargo de poder se desgastaria muito emocionalmente devido a esse ambiente competitivo e hostil, na qual ela teria que separar a parte emocional com a parte mais lógica e racional que de certa maneira que é exigido na maioria dos cargos de liderança. Atualmente na nossa sociedade a mulheres são a maioria dos universitários, porém ainda são os homens que estão assumindo a liderança. Não é impossível uma mulher trabalhar nessa parte mais técnica e engenharia, mas talvez seja necessário o envolvimento de maior talento ou mais dedicação. Essas mulheres que vão para o cargo de poder elas precisam “vestir” uma imagem de “atmosfera” masculina para poder sustentar esse status, em um ambiente agressivo, de autocontrole e competitividade, não expondo suas características femininas, por exemplo a presidenta Dilma Roussef. No reino animal a fêmea pode assumir a liderança, há exemplos de animais em a sociedade são matriarcas, ou seja, fêmeas que regem uma sociedade inteira de animais e que da certo, mesmo desempenhando do jeito delas, se diferenciando estruturalmente das sociedades patriarcais da mesma maneira obtendo um sucesso, um bom exemplo disso é a sociedade matriarcal de bonobos. A mentalidade machista mata, fere, humilha e reprime mulheres todos os dias, em todos os cantos do mundo. E nós precisamos lutar diariamente contra esse tipo de comportamento, mesmo quando ele se apresenta de forma sutil, disfarçado de piada, de pequena censura. Mas não são só as mulheres que são vítimas do machismo. Obviamente não estamos comparando dores, nem nivelando os potenciais das agressões. As maiores vítimas do machismo sempre serão as mulheres. Mas talvez esteja na hora de entendermos que a vida de todo mundo seria melhor sem ele. Começa muito cedo, desde crianças os meninos aprendem que “menino não chora”, por vezes quando eles deixam expressar suas emoções, no âmbito familiar ou até mesmo na escola escutam a famosa frase: “vai ficar chorando que nem uma menina?”. O machismo tenta enfiar as lágrimas de volta nos olhos dos meninos, que já crescem com duas ideias erradas: a de que eles não podem ter fragilidades e a de que toda menina é frágil por natureza. Os meninos são muitas vezes induzidos a escolher brinquedos como: carrinhos, bolas, personagens de super-heróis, entre outros; já as meninas são estimuladas a preferir brinquedos como: bonecas, utensílios de cozinhas em miniaturas, etc. Uma menina jogando bola ou brincando de carrinho pode até ser aceita (embora o mundo prefira vê-la com uma cozinha de plástico cor de rosa), mas um menino com uma Barbie jamais passará ileso. Portanto se torna inadmissível ver um menino com brinquedos de meninas, esse, então será descriminado por boa parte da sociedade. Mais tarde são os cursos universitários: nutrição? Enfermagem? Psicologia? Pedagogia? Design de interiores? Gastronomia? O machismo está pronto para mandá-los para a engenharia, para o direito e para administração de empresas. Essas atitudes nos levam para o movimento feminista, que luta pela igualdade, não só das mulheres para com os homens, mas também dos homens para com as mulheres, permitindo aos gêneros a liberdade de escolha sem que haja julgamentos ofensivos e exclusões.
Portanto nós como estudantes de Biologia acreditamos também que é de extrema necessidade a luta contra os obstáculos específicos que mantém as estudantes longe das áreas da ciência, e é importante estimular e encorajar o desenvolvimento acadêmico feminino e acima de tudo quebrar estereótipos que impedem as mulheres e meninas de terem carreira científica. Além disso acreditamos que no caso aqui abordado, se a mídia se utiliza de um dos cientistas homens para lançar a matéria sobre a primeira imagem do buraco negro, os internautas não teriam atacado, como o ocorrido com Katie. O biológico feminino pode impor barreiras, mas isso não deve ser visto como problema nem fazer com que as mulheres tenham papel se subordinação nas sociedades.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras....


NATIVIDADE, Jean Carlos; SILVANO, Maiala Bittencourt; FERNANDES, Heitor Barcellos Ferreira. Diferenças entre homens e mulheres: desvendando o paradoxo. Rev. Psicol., Organ. Trab.,  Florianópolis ,  v. 14, n. 1, p. 119-122, mar.  2014 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572014000100010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  26  abr.  2019.

Salvador, E. P., Cyrino, E. S., Gurjão, A. L. D., Dias, R. M. R., Nakamura, F. Y., & Oliveira, A. R. D. (2005). Comparação entre o desempenho motor de homens e mulheres em séries múltiplas de exercícios com pesos. Rev Bras Med Esporte, 11(5), 257-61.
SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "Diferenças biológicas entre homens e mulheres"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/diferencas-entre-homens-mulheres.htm>. Acesso em 28 de abril de 2019.
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Senkevics, A. S., & Polidoro, J. Z. (2018). Corpo, gênero e ciência: na interface entre biologia e sociedade. Revista da Biologia, 9(1), 16-21.
Unesco, 2018. Decifrar o código: Educação de meninas e mulheres em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Disponivel em <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000264691> Visto em Abril de 2019.
SILVA, Fabiane Ferreira da; RIBEIRO, Paula Regina Costa. Trajetórias de mulheres na ciência: "ser cientista" e "ser mulher". Ciênc. educ. (Bauru),  Bauru ,  v. 20, n. 2, p. 449-466,    2014 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132014000200449&lng=en&nrm=iso>. access on  28  Apr.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/1516-73132014000200012.
RODRIGUES, V. L,. A importância da Mulher. Disponível em <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/729-4.pdf>. acessos em  26  abr.  2019.

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