Série Ensaios: Sociobiologia
Por Ana Paula Javorski, Daniela Zolet, Gabriela Bownen, Gabriela
Inhesta, Fabiana Bouwman, Suélen Boni.
Acadêmicos de Ciências Biológicas
A espiritualidade pode ser definida como um sistema de crenças que
enfoca elementos intangíveis, que transmite vitalidade e significado a eventos
da vida. Tal crença pode mobilizar energias e iniciativas extremamente
positivas, com potencial ilimitado para melhorar a qualidade de vida do
indivíduo. Nos animais, ainda não se sabe ao certo em que a espiritualidade
influencia diretamente, mas a motivação que os leva a desejar uma vida digna
com o objetivo de gerar descendentes e sobreviver pode ter envolvimento
espiritualista.
Até
pouco tempo atrás, os cientistas acreditavam que o comportamento espiritualista estava relacionada apenas com a socialização e com a
educação recebida pelo indivíduo. Porém, já foi demonstrado que a genética
também possui grande influência nisso. Nos estudos de Laura
Koening (2005) foi observado que existe uma influência genética e
que esta tende a aumentar da adolescência para a fase adulta. Quando criança, o
convívio com os membros da família faz com que o nível de espiritualidade seja
semelhante a deles, mostrando grande influência ambiental. Quando adultos, a
influência ambiental começa a diminuir e a genética tende a aumentar. Segundo
Laura, não existe gene para a religiosidade, mas seu efeito está relacionado
com os genes que influenciam a personalidade. Isso faz com que algumas pessoas
sejam mais propensas do que outras a desenvolver a espiritualidade e, além
disso, aderir uma religião.
O estudo do Comportamento Animal
é uma ponte entre os aspectos moleculares e fisiológicos da biologia e da
ecologia. O comportamento é a ligação entre organismos e o ambiente, e entre o
sistema nervoso e o ecossistema. Além disso, o comportamento é uma das
propriedades mais importantes da vida animal e tem um papel fundamental nas
adaptações das funções biológicas.
Em seu livro, intitulado “O Gene de Deus:
Como a Fé Fica Conectada a Nossos Genes” (2005), o geneticista Dean
Hamer apresenta a 'Hipótese do Deus-Gene’. Essa hipótese é baseada
em estudos neurobiológicos, psicológicos e comportamentais e atribui a
tendência religiosa à expressão do gene VMAT2 (transportador de monoamina
vesicular 2). Esse gene é ativado durante a contemplação religiosa e codifica
uma bomba de proteínas que transporta os neurotransmissores, produzindo as
sensações favoráveis associadas a experiências místicas. Acredita-se que o gene
VMAT2 é um condicionante biológico agindo sobre os animais humanos e não
humanos. Os condicionantes etológicos podem ser interpretados quando o animal
busca a dignidade e a sua sobrevivência demostrando possuir algo que é
transcendente, além disso os animais buscam estar de “corpo e alma”, ou seja,
focam em sua sobrevivência além de tudo, seus atos estão totalmente interligados
a viver buscando a homeostase e para isso é necessário o foco total, estar
presente de fato naquilo que esta acontecendo no momento.
O gene VMAT2 funciona na produção de um senso inato de otimismo que, por
sua vez, pode produzir efeitos positivos tanto física quanto psicologicamente.
Sendo assim, acredita-se que a persistência evolucionária do gene VMAT2 seja
governada pela seleção natural (Hamer, 2005). Algumas descobertas já provaram
que o otimismo
promovido pela fé está relacionado com a uma saúde mais forte e menor
incidência de derrames e problemas cardíacos. Além disso, a incidência de
depressão e suicídio são mais baixas entre os religiosos. Essas vantagens
geradas por essa personalidade podem ter selecionado positivamente o “gene
da fé”.
Muitos questionam a espiritualidade dos animais e como ela é
desenvolvida. Na conceituação espírita, somente podemos falar em alma quando
esta já atingiu um determinado nível evolutivo, mais precisamente quando
conquistou o discernimento e o pensamento contínuo. Na reportagem “Amor
pelos animais ultrapassa a barreira religiosa” (publicado pelo G1 em 2018), o médico veterinário e professor Cláudio Yudi aborda a relação dos animais com a
espiritualidade. Segundo ele, alguns tutores não concordam mais em realizar
eutanásias em seus animais doentes e procuram outras alternativas para melhorar
a qualidade de vida de seus pets. Alguns centros espíritas já realizam o ritual
de “passe” em animais e plantas, e observaram uma melhora na saúde e qualidade
de vida. Além disso, segundo o Yudi, alguns animais possuem uma capacidade de
mediunidade melhor que os seres humanos e podem ver coisas que não conseguimos
enxergar.
Muitos estudos já têm provado
que técnicas como o Reiki,
quando utilizadas em humanos ou animais, podem trazer benefícios para saúde
mental e física. O Reike foi criado pelo japonês Mikao Usui no início do século
vinte. Ele consiste em um ritual em que se transmite energia através das mãos
sobre um corpo, sendo ele humano ou animal, para aliviar dores e melhorar o bem
estar. Essa técnica está sendo muito utilizada para auxiliar a medicina
convencional.
Estudos
já demonstraram a eficácia desta prática. Baldwin (2006) realizou experimentos
utilizando ratos de laboratório. Nesses animais, os barulhos altos podem levar
a vários distúrbios, como a danificação da microvasculatura, levando ao
vazamento do plasma sanguíneo no tecido circundante. Os ratos foram induzidos
ao estresse através de ruídos altos e posteriormente eles foram tratados com a
técnica de Reiki. Com isso, eles puderam concluir que o Reiki reduziu
significamente o vazamento microvascular, sendo uma técnica útil para minimizar
os efeitos do estresse ambiental em animais e humanos. Além disso, em estudos
posteriores, já foi comprovada a eficácia do Reiki na diminuição da frequência
cardíaca e pressão arterial (BALDWIN,
2008).
Por fim, até hoje não foi identificada e mensurada com clareza a
espiritualidade no comportamento de outras espécies animais, diferente do ser
humano que adquiriu esse comportamento e leva no decorrer das gerações, pois
serve como um motivador, que gera coragem e esperança, e foi fundamental para a
manutenção da espécie. Acreditar em algo maior, causa uma motivação. Já os
outros animais, acredita-se que são guiados pelo instinto, sem essa necessidade
de possuir crenças.
No debate realizado em sala com
os formandos de biologia foram abordados diversos pontos relevantes sobre a
importância da espiritualidade como algo único e individual para a formação do
indivíduo, tais como a manutenção do autocuidado e autoconhecimento, tendo em
vista que, por se tratar de algo tão individual, a espiritualidade desenvolve
um forte senso crítico sobre nós mesmos. Durante o debate surgiram muitos
relatos dos estudantes sobre sua relação com a espiritualidade, citando os
benefícios advindos da mesma e suas implicações.
Nós como formandas em biologia
acreditamos fortemente na importância da espiritualidade para a saúde física e
psicológica. O homem desde o seu primórdio recorre a espiritualidade como a
busca de um sentido para a existência, visando a compreensão do mundo e de si
mesmo de inúmeras maneiras, independente de religião ou cultura. Esse
entendimento único e individual reflete diretamente na forma em que nos
enxergamos como um indivíduo vivendo em sociedade, trazendo uma melhor
qualidade de vida e impactos positivos na saúde através da sua prática.
O presente ensaio foi elaborado para
disciplina de Etologia, tendo como base as obras:
Saad, M., Masiero, D. e
Battistella, L. 2001. Espiritualidade
baseada em evidências.
Acta Fisiátrica. 8, 3 (dez. 2001), 107-112.
Dias, M. (2018). Amor pelos animais ultrapassa a barreira
religiosa”, diz médico veterinário de MG que faz palestras sobre pets e
espiritismo. G1, triângulo Mineiro.
Snowdon, C., T. (1999). O significado da pesquisa em Comportamento
Animal. Estud. psicol. (Natal). vol. 4. no.2 Natal. pp. 35-373.
Pula, A., V., Vieira. (2016).
Como funciona a espiritualidade dos
animais?. Redação Alto Astral.
STEIN, Diane. Reiki essencial: manual completo sobre uma antiga arte de cura. Editora
Pensamento, 2003.
BALDWIN, Ann L.; SCHWARTZ, Gary E. Personal interaction with a Reiki
practitioner decreases noise-induced microvascular damage in an animal model. Journal of Alternative & Complementary
Medicine, v. 12, n. 1, p. 15-22, 2006.
BALDWIN, Ann Linda; WAGERS, Christina; SCHWARTZ, Gary E. Reiki improves
heart rate homeostasis in laboratory rats. The
journal of alternative and complementary medicine, v. 14, n. 4, p. 417-422,
2008
KOENIG, Laura B. et al. Genetic and environmental influences on
religiousness: Findings for retrospective and current religiousness ratings. Journal of personality, v. 73, n. 2, p.
471-488, 2005.
HAMER, Dean H. The God gene: How
faith is hardwired into our genes. Anchor, 2005.
MEYER, Tessa. The Neurophysiology of Religious Conversion Experiences. Science Journal of Psychology, v. 2013,
2013.
Outros:
- http://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com/2018/05/espiritualidade-somos-todos-om.html?m=1 Blog da prof.
- O gene de deus (livro).
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