terça-feira, 14 de maio de 2019

Espiritualidade e Ciência: Os animais são espirituosos?


Série Ensaios: Sociobiologia

Por Ana Paula Javorski, Daniela Zolet, Gabriela Bownen, Gabriela Inhesta, Fabiana Bouwman, Suélen Boni.
Acadêmicos de Ciências Biológicas



         A espiritualidade pode ser definida como um sistema de crenças que enfoca elementos intangíveis, que transmite vitalidade e significado a eventos da vida. Tal crença pode mobilizar energias e iniciativas extremamente positivas, com potencial ilimitado para melhorar a qualidade de vida do indivíduo. Nos animais, ainda não se sabe ao certo em que a espiritualidade influencia diretamente, mas a motivação que os leva a desejar uma vida digna com o objetivo de gerar descendentes e sobreviver pode ter envolvimento espiritualista.
            Até pouco tempo atrás, os cientistas acreditavam que o comportamento espiritualista estava relacionada apenas com a socialização e com a educação recebida pelo indivíduo. Porém, já foi demonstrado que a genética também possui grande influência nisso. Nos estudos de Laura Koening (2005) foi observado que existe uma influência genética e que esta tende a aumentar da adolescência para a fase adulta. Quando criança, o convívio com os membros da família faz com que o nível de espiritualidade seja semelhante a deles, mostrando grande influência ambiental. Quando adultos, a influência ambiental começa a diminuir e a genética tende a aumentar. Segundo Laura, não existe gene para a religiosidade, mas seu efeito está relacionado com os genes que influenciam a personalidade. Isso faz com que algumas pessoas sejam mais propensas do que outras a desenvolver a espiritualidade e, além disso, aderir uma religião.
O estudo do Comportamento Animal é uma ponte entre os aspectos moleculares e fisiológicos da biologia e da ecologia. O comportamento é a ligação entre organismos e o ambiente, e entre o sistema nervoso e o ecossistema. Além disso, o comportamento é uma das propriedades mais importantes da vida animal e tem um papel fundamental nas adaptações das funções biológicas.  
Em seu livro, intitulado “O Gene de Deus: Como a Fé Fica Conectada a Nossos Genes” (2005), o geneticista Dean Hamer apresenta a 'Hipótese do Deus-Gene’. Essa hipótese é baseada em estudos neurobiológicos, psicológicos e comportamentais e atribui a tendência religiosa à expressão do gene VMAT2 (transportador de monoamina vesicular 2). Esse gene é ativado durante a contemplação religiosa e codifica uma bomba de proteínas que transporta os neurotransmissores, produzindo as sensações favoráveis associadas a experiências místicas. Acredita-se que o gene VMAT2 é um condicionante biológico agindo sobre os animais humanos e não humanos. Os condicionantes etológicos podem ser interpretados quando o animal busca a dignidade e a sua sobrevivência demostrando possuir algo que é transcendente, além disso os animais buscam estar de “corpo e alma”, ou seja, focam em sua sobrevivência além de tudo, seus atos estão totalmente interligados a viver buscando a homeostase e para isso é necessário o foco total, estar presente de fato naquilo que esta acontecendo no momento.
O gene VMAT2 funciona na produção de um senso inato de otimismo que, por sua vez, pode produzir efeitos positivos tanto física quanto psicologicamente. Sendo assim, acredita-se que a persistência evolucionária do gene VMAT2 seja governada pela seleção natural (Hamer, 2005). Algumas descobertas já provaram que o otimismo promovido pela fé está relacionado com a uma saúde mais forte e menor incidência de derrames e problemas cardíacos. Além disso, a incidência de depressão e suicídio são mais baixas entre os religiosos. Essas vantagens geradas por essa personalidade podem ter selecionado positivamente o “gene da fé”.

        Muitos questionam a espiritualidade dos animais e como ela é desenvolvida. Na conceituação espírita, somente podemos falar em alma quando esta já atingiu um determinado nível evolutivo, mais precisamente quando conquistou o discernimento e o pensamento contínuo. Na reportagem “Amor pelos animais ultrapassa a barreira religiosa” (publicado pelo G1 em 2018),  o médico veterinário e professor Cláudio Yudi aborda a relação dos animais com a espiritualidade. Segundo ele, alguns tutores não concordam mais em realizar eutanásias em seus animais doentes e procuram outras alternativas para melhorar a qualidade de vida de seus pets. Alguns centros espíritas já realizam o ritual de “passe” em animais e plantas, e observaram uma melhora na saúde e qualidade de vida. Além disso, segundo o Yudi, alguns animais possuem uma capacidade de mediunidade melhor que os seres humanos e podem ver coisas que não conseguimos enxergar.
Muitos estudos já têm provado que técnicas como o Reiki, quando utilizadas em humanos ou animais, podem trazer benefícios para saúde mental e física. O Reike foi criado pelo japonês Mikao Usui no início do século vinte. Ele consiste em um ritual em que se transmite energia através das mãos sobre um corpo, sendo ele humano ou animal, para aliviar dores e melhorar o bem estar. Essa técnica está sendo muito utilizada para auxiliar a medicina convencional.
            Estudos já demonstraram a eficácia desta prática. Baldwin (2006) realizou experimentos utilizando ratos de laboratório. Nesses animais, os barulhos altos podem levar a vários distúrbios, como a danificação da microvasculatura, levando ao vazamento do plasma sanguíneo no tecido circundante. Os ratos foram induzidos ao estresse através de ruídos altos e posteriormente eles foram tratados com a técnica de Reiki. Com isso, eles puderam concluir que o Reiki reduziu significamente o vazamento microvascular, sendo uma técnica útil para minimizar os efeitos do estresse ambiental em animais e humanos. Além disso, em estudos posteriores, já foi comprovada a eficácia do Reiki na diminuição da frequência cardíaca e pressão arterial (BALDWIN, 2008).
       
     A espiritualidade gera uma motivação diante da formação de grupos, uma vez que os envolvidos que ali se relacionam demonstram e detêm interesses e compreensões parecidas que fortalecem a estruturação de uma união entre aqueles indivíduos. Essa união resulta em um acolhimento dos indivíduos que formam determinado grupo, desenvolve o sentimento de fazer parte de algo e de se sentir compreendido em meio aos outros.
Por fim, até hoje não foi identificada e mensurada com clareza a espiritualidade no comportamento de outras espécies animais, diferente do ser humano que adquiriu esse comportamento e leva no decorrer das gerações, pois serve como um motivador, que gera coragem e esperança, e foi fundamental para a manutenção da espécie. Acreditar em algo maior, causa uma motivação. Já os outros animais, acredita-se que são guiados pelo instinto, sem essa necessidade de possuir crenças.
No debate realizado em sala com os formandos de biologia foram abordados diversos pontos relevantes sobre a importância da espiritualidade como algo único e individual para a formação do indivíduo, tais como a manutenção do autocuidado e autoconhecimento, tendo em vista que, por se tratar de algo tão individual, a espiritualidade desenvolve um forte senso crítico sobre nós mesmos. Durante o debate surgiram muitos relatos dos estudantes sobre sua relação com a espiritualidade, citando os benefícios advindos da mesma e suas implicações.
Nós como formandas em biologia acreditamos fortemente na importância da espiritualidade para a saúde física e psicológica. O homem desde o seu primórdio recorre a espiritualidade como a busca de um sentido para a existência, visando a compreensão do mundo e de si mesmo de inúmeras maneiras, independente de religião ou cultura. Esse entendimento único e individual reflete diretamente na forma em que nos enxergamos como um indivíduo vivendo em sociedade, trazendo uma melhor qualidade de vida e impactos positivos na saúde através da sua prática.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras:


Saad, M., Masiero, D. e Battistella, L. 2001. Espiritualidade baseada em evidências.
Acta Fisiátrica. 8, 3 (dez. 2001), 107-112.
Dias, M. (2018). Amor pelos animais ultrapassa a barreira religiosa”, diz médico veterinário de MG que faz palestras sobre pets e espiritismo. G1, triângulo Mineiro.
Snowdon, C., T. (1999). O significado da pesquisa em Comportamento Animal. Estud. psicol. (Natal). vol. 4. no.2 Natal. pp. 35-373.
Pula, A., V., Vieira. (2016). Como funciona a espiritualidade dos animais?. Redação Alto Astral.
STEIN, Diane. Reiki essencial: manual completo sobre uma antiga arte de cura. Editora Pensamento, 2003.
BALDWIN, Ann L.; SCHWARTZ, Gary E. Personal interaction with a Reiki practitioner decreases noise-induced microvascular damage in an animal model. Journal of Alternative & Complementary Medicine, v. 12, n. 1, p. 15-22, 2006.
BALDWIN, Ann Linda; WAGERS, Christina; SCHWARTZ, Gary E. Reiki improves heart rate homeostasis in laboratory rats. The journal of alternative and complementary medicine, v. 14, n. 4, p. 417-422, 2008
KOENIG, Laura B. et al. Genetic and environmental influences on religiousness: Findings for retrospective and current religiousness ratings. Journal of personality, v. 73, n. 2, p. 471-488, 2005.
HAMER, Dean H. The God gene: How faith is hardwired into our genes. Anchor, 2005.
MEYER, Tessa. The Neurophysiology of Religious Conversion Experiences. Science Journal of Psychology, v. 2013, 2013.
Outros:
-       O gene de deus (livro).

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