Série Ensaios: Sociobiologia
Por: Aline Felicia Woitowicz, Hiago Adamosky Machado, Jonathan Ribeiro, Karime
Simas El Messane, Luísa Jennrich Jozefowicz, Mariana Gabriel Karpinski
Formandos em Ciências Biológicas
Em fevereiro desse ano, após confirmada a separação entre
Débora Nascimento e José Loreto, um boato surgiu
alegando que o motivo teria sido uma possível relação amorosa entre Marina Ruy Barbosa e Loreto. A
fofoca foi ganhando força, uma vez que os dois atores atuavam como par
romântico e uma sequência de “unfollows” de outras atrizes foi detectada em uma
rede social de Barbosa. Após várias teorias e especulações, grande parte
popular “apedrejou” a atriz, que é casada com Alexandre Negrão e “abafou” o
caso pro lado de Loreto. Há pouco tudo foi desmentido e ambos deram declarações
afirmando não terem qualquer tipo de laço além do profissional, mas serviu como
exemplo para evidenciar uma postura comum aos brasileiros: existe a crença
popular de que homens traem muito mais que mulheres, e que ainda explicitem com
mais frequência. Se é isso que acontece, existem hipóteses que sustentam isso
de forma biológica.
Visto que condicionantes biológicos são caracterizados
por fatores que possam ser mensurados e que expliquem COMO um comportamento
ocorre, são exemplos ocitocina e dopamina.
Um grupo da Universidade
de Binghamton publicou estudos dos receptores de dopamina (a qual tem ligação com
libido e sensações de prazer) em homens, e demonstrou que aqueles com
alterações no gene de DRD4 tiveram mais casos de traição que aqueles que não
tinham modificações. As alterações desse receptor também puderam ser
relacionadas com traços ancestrais, e do que talvez tivesse sido uma
“linhagem (Garcia et al., 2010)
Pesquisadores da Universidade
de Bonn publicaram pesquisa que relaciona a oxitocina (hormônio intimamente
ligado com relações sociais e cuidado maternal) com baixas taxas de traição por
parte das fêmeas. Também atestaram que homens, quando tratados com doses de
oxitocina, apresentaram diminuição
infidelidade. (Preckel et al., 2014).
Condicionantes etológicos
Há fortes indícios de que a espécie humana, em sua
origem, não era monogâmica,
esta teoria é fortemente defendida no livro “O mito da monogamia” de David
Barash e Judith Eve Lipton, mas que a monogamia que hoje prevalece veio com o
desenvolvimento de nossa cultura, moral e religião. Este seria o motivo da
grande quantidade de traições e da dificuldade de se manter uma relacionamento
exclusivo e fixo com apenas um parceiro.
O livro traz ainda diversos exemplos de espécies poligâmicas, que são a
grande maioria no reino animal, e também novos estudos que demonstram que mesmo
em espécies antes consideradas monogâmicas, com o uso de testes de dna, constatou-se que muitos
filhotes eram de outros machos que não o do par fixo, demonstrando que a
monogamia é algo extremamente incomum. Esta anormalidade pode estar relacionada
ao fato de a monogamia não ser evolutivamente vantajosa, já que que nela há
pouca variabilidade genética; já na poligamia há grande mistura gênica e um
único macho consegue copular com
diversas fêmeas, tendo portanto um prole muito maior. Por outro lado a monogamia
pode ser mais vantajosa para as fêmeas já que nela, devido a exclusividade de
parceiro, há maiores chances de que o macho ajude a cuidar dos filhotes, o que
aumenta a possibilidade de sobrevivência da ninhada.
Para Whyte
(1978), a diferença social entre homens e mulheres começam a surgir junto com a
evolução das técnicas agrícolas, quando é desenvolvido o arado para trabalhar
os campos, pois com esta tecnologia exige-se uma força física muito maior, que
as mulheres não possuíam, por isso suas tarefas ficavam restritas a cuidar do
lar, e não mais coletar alimentos, como antes. Neste ponto a mulher passa a ter
uma função social subjugada, pois não contribui ativamente para a produção de
alimento no grupo familiar e social, mesmo tendo um papel fundamental na
educação e manutenção das estruturas do grupo. A partir da abordagem
antropológica começam a ser esclarecidos, mesmo sem a necessidade de maior aprofundamento,
através das bases da formação hierárquica social, o porquê dos homens terem um
papel social superestimado em relação a mulher. Contudo para entender como a
traição é vista de forma diferente para os dois na sociedade é preciso uma
abordagem etológica, para melhor compreender as bases invariantes do
comportamento. Do ponto de vista etológico duas hipóteses podem guiar uma
resposta às questões de percepção da infidelidade, a hipótese de Fisher e a
hipótese do macho deficiente (zahavi).
Segundo estas hipóteses as fêmeas tendem a escolher o macho que, através de
características secundárias demonstre ter os melhores genes e estar mais apto a
sobrevivência (Fisher), e um macho que melhor se exibe para as fêmeas através
destas características tende a ser o mais escolhido (Zahavi). Desta forma, se
um macho é escolhido por várias fêmeas, então ele é o mais apto para
reprodução, desta forma os indivíduos da sociedade o vêem com uma dominância
quanto às questões reprodutivas, por possuir melhores características que o
faça ser aceito por várias fêmeas. Seguindo a mesma linha, como a fêmea escolhe
o macho, uma fêmea que escolha varios macho é vista como pouco seletiva, que
escolhe qualquer um, mesmo que este tenha características inapropriadas para
reprodução ou não seja o mais forte do grupo, pois ela mesma não é uma fêma
preterível à reprodução, assim todo o grupo, a vê como uma fêmea que se deve
evitar na reprodução por não ter bons genes ou características, e não gerar
descendentes com boas vantagens de sobrevivência.
Vários autores têm demonstrado que tanto homens quanto
mulheres atribuem alto valor à fidelidade do parceiro (Buss, 1989; Buss &
Barnes, 1986; Buss, Shackelford, Kirkpatrick, & Larsen, 2001; Easton,
Schipper, & Shackelford, 2007; Miller, 2007; Minervini & McAndrew,
2006; Rowatt, Delue, Strickhouser, & Gonzales, 2001; Shackelford &
Buss, 1997 apud Tokumaru et al, 2010), principalmente quando o parceiro é
considerado para um relacionamento de longo prazo. Eles argumentam que a
valorização de um relacionamento monogâmico pode ser entendido como adaptativa
no sentido evolutivo, já que a infidelidade pode sinalizar desvio de recursos
reprodutivos importantes. Para os homens, a infidelidade feminina pode
sinalizar investimento em prole alheia enquanto para as mulheres a infidelidade
masculina pode sinalizar desvio de recursos para outras mulheres e prole.
Menos
de 10% dos mamíferos são monogâmicos, e cerca de 20% das espécies de primatas
consolidam casais monogâmicos. Evidências fósseis indicam que nossos ancestrais
eram monogâmicos, a monogamia foi adotada. após a separação da linhagem humana
com a linhagem dos chimpanzés,
Uma das possibilidades de a monogamia
ter acontecido foi porque os machos mais fracos deixaram de gastar seu estoque
energético lutando com os machos mais fortes, e começaram a cortejar as fêmeas
com alimentos para incentivar a reprodução. As fêmeas optaram por machos
confiáveis e o estabelecimento de relações duradouras ao invés de machos
agressivos (Edgar, 2014 apud Tokumaru et al, 2010.).
No debate realizado em sala com
formandos de biologia, quando levados, pesquisas relacionadas ao tema
infidelidade, foi levantado que ela está ligada a um processo evolutivo da
espécie com raiz na promiscuidade a mais de dez mil anos atrás e que ao invés
de os machos terem que contribuir para o sustento dos filhos de todas as fêmeas
de maneira geral, tendo em vista não haver fêmeas fixas e ovulação ser oculta,
assim não se sabia quem era o pai. De forma eficiente e com menos custo de
energia a espécie selecionou ao longo do tempo um comportamento mais
monogâmico, dessa forma, embora tenha diminuído as possibilidades de
procriação, cuidar de menos filhos e de uma única fêmea se tornou menos sofrido
e para mulher também teve vantagens, pois em contrapartida ela passou a ter
segurança para criar seu filho e garantir a sua própria sobrevivência, sem ter
que sair caçar e buscar seus alimentos e o de suas crias, sendo que a
sobrevivência da espécie tem seu maior grau de importância na cadeia de
prioridades da vida.
Por isso, cogitou-se que em
muitas regiões, a exemplo nosso norte e nordeste, onde se tem homens que se
relacionam e vivem muitas vezes com várias mulheres e em algumas da mesma
família, tendo em vista ele sustentar todas e para elas algo tão comum, pois
ele provém à elas suas necessidades básicas e o tendo como provedor, então fez
nos pensar no caráter ainda de sobrevivência, pois é uma relação onde ele é o
único homem daquela região e as mulheres o têm como opção restrita e muitas
vezes única.
Nós como formandas em biologia acreditamos que existem
diferenças etológicas e biológicas entre machos e fêmeas, mas ambos devem
colaborar para a formação de um grupo. Tendo papéis iguais ou diferentes,
sempre possuem mesma importância para a
manutenção do bando. Atualmente essas diferenças são encaradas com menor
peso/relevância, o que reforça a individualidade de cada ser e acaba
favorecendo a diversidade social.
O presente ensaio foi elaborado para disciplinade
Etologia, tendo como base as obras:
BARASH
D.; LIPTON J. O Mito da Monogamia: 1. Ed.
Editora Record (2007).
ROSSETTI,
Victor. Evolução humana: por que nos
tornamos primatas monogâmicos?. Disponível em <https://netnature.wordpress.com/2016/10/19/evolucao-humana-porque-nos-tornamos-primatas-monogamicos/>
Acesso em 04 de maio de 2019.
GARCIA,
JR; MACKILLOP, J; ALLER, EL; MERRIWETHER, AM; WILSON, DS. Associations between Dopamine D4 Receptor Gene Variation with Both
Infidelity and Sexual Promiscuity. 2010,
PLOS ONE 5(11): e14162. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0014162
PRECKEL,
Katrin; SCHEELE, Dirk; ECKSTEIN, Monika; MAIER, Wolfgang; HURLEMANN, René. The influence of oxytocin on volitional and
emotional ambivalence. Social
Cognitive and Affective Neuroscience, Volume 10, Capítulo 7, Julho 2015,
Pag. 987–993, https://doi.org/10.1093/scan/nsu147
Tokumaru
R. S; Baumel S. W; Aguiar Y. N; Aires F. C. G; Ambrósio L. A; Monteiro R. N. & Viana D.
P. O efeito da infidelidade sobre a
atratividade facial de homens e mulheres. Estudos de Psicologia, 15(1),
Janeiro-Abril/2010, 103-110. ISSN (versão eletrônica): 1678-4669 Acervo
disponível em: www.scielo.br/epsic