segunda-feira, 7 de maio de 2018

Ieieiê infiel, eu quero ver você morar no motel!


Série Ensaios: Sociobiologia

 

Por Andressa Azevedo, Daniele Fischer, Daliane Pacheco, Cassiane Caroline, Gabriela Kostiuk, Maria Luiza Gandara e Iolanda Schwartz

Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas

Que o surgimento da internet facilitou nossas vidas, isso não é novidade, mas ela não facilitou somente no trabalho, no colégio, na faculdade ou na pesquisa rápida de um produto qualquer. A internet facilitou também, a infidelidade dos casais, seja pela procura de um relacionamento extraconjugal ou no uso excessivo de ferramentas que acabam afastando quem está próximo. Não bastando à facilidade das redes sociais mais conhecidas como Facebook, Instagram, Twitter, Tinder, e outros, algumas redes sociais foram criadas com o foco exclusivo em traições, como Ashley Madison, Ohhtel, Second Love e Amante Discreto, que juntas contam com milhões de usuários pelo mundo.

O presente ensaio crítico se baseou em uma notícia sobre o aplicativo Ashley Madison com slogan "Life is short. Have an affair" - (A vida é curta. Curta um caso), que foi lançado em 2001 e teve grande repercussão ao ter sido acusado de vazar os dados pessoais de mais de 30 milhões de clientes no ano de 2015, mas o foco principal não são os dados vazados e sim a quantidade de usuários da rede social, mais precisamente, usuários brasileiros. Em uma entrevista (2018) ao portal Engadget, o Diretor de Tecnologia da Ruby Life, dona da Ashley Madison diz que os registros de usuários brasileiros somam em 140 mil por mês, colocando o Brasil atrás somente dos Estados Unidos.

Sabemos que a infidelidade diante dos olhos da sociedade é vista como um ato contra as regras, contrariando a prática monogâmica. Este ato é visto como algo que fere os ideais do amor romântico, comprometimento e exclusividade, sendo um rompimento no contrato social que se estabelece quando duas pessoas iniciam um relacionamento. O conceito de infidelidade é complexo, já que para cada pessoa pode apresentar uma concepção diferente. É um fenômeno experimentado por homens e mulheres, mas o caminho percorrido por ambos é complemente distinto.

Analisando apenas os condicionantes biológicos e evolutivos, não abordando os inúmeros condicionantes psicológicos e sociais, apesar dos custos da atividade extraconjugal, os machos são motivados por condições de procurar variedade sexual. Já nas fêmeas, isso não é tão evidente. Na maioria das culturas o adultério cometido por uma mulher, ou até uma suspeita, é considerada uma ofensa ao marido e geralmente leva a violência. Há muitos anos, os homens que buscavam esta variedade e engravidavam outras mulheres, levavam em conta a prevalência de sua linhagem genética, gerando mais descendentes. Já as mulheres, buscavam encontrar um protetor que assegurasse a sobrevivência de seus filhos, caso um de seus parceiros morresse.

Um estudo publicado na revista científica Evolution & Human Behaviour realizado na Universidade de Queensland, na Austrália, mostrou que variações genéticas podem fazer com que homens e mulheres tenham maior propensão a cometer o adultério. No estudo foram analisados o comportamento de mais de 7 mil pares de gêmeos, todos em relacionamentos estáveis. Os resultados sugerem que 63% do comportamento infiel nos homens e 40% nas mulheres podem ser atribuídos à herança genética. No caso das mulheres, os cientistas detectaram variações em um gene chamado AVPRIA, associado ao comportamento infiel. Para homens, a poligamia seria explicada pela necessidade da preservação da espécie: mais sexo resultaria em mais filhos.

Do ponto de vista evolutivo, a infidelidade não é exclusiva dos humanos, uma vez que este ato se relaciona com as estratégias de sobrevivência de outras espécies. Em aves, o conceito de monogamia pode ser relativo. Há espécies que ficam com um único par para o resto da vida e outras que ficam apenas durante estações de reprodução e crescimento do filhote. No artigo de Forstmeier e colaboradores (2011) experimentos foram feitos em Tentilhões-zebra buscando compreender o comportamento de indivíduos “casados” dentro de um grupo e após análises genéticas de paternidade e relações extraconjugais o resultado se mostrou surpreendente. Aparentemente a disposição de fêmeas para se envolver em contatos extraconjugais era herdada de seus pais machos que tinham traído suas parceiras, e esta predisposição para a infidelidade da fêmea vem de uma base genética moderada, mas evolutivamente crucial, uma vez que estes “genes da infidelidade” são passados de pai para filha.

O fato é que vivemos em sociedade e isso requer formação de regras para que o convívio seja aceitável. Mas sempre existirá quem quebre estas regras, até mesmo no mundo dos animais não humanos e, para todos os “quebradores de regras”, haverá uma punição que também será definida pela sociedade ou pelo grupo de convivência.

Que a infidelidade é natural, isso já entendemos. A pergunta é: estou disposto a quebrar as regrar e abrir mão do bom convívio dentro do meu grupo ou sociedade para a minha satisfação pessoal?

Nós como futuras biólogas acreditamos que a infidelidade ainda é presente por que de algum modo, seja ele inconsciente ou consciente, traz uma vantagem evolutiva, e essa estratégia de alguma forma ainda é expressa de modo comportamental até hoje. E esse comportamento se repete várias vezes, como exemplifica a  música “Infiel”:

“Agora ela vai fazer o meu papel

Daqui um tempo você vai se acostumar

E ai vai ser a ela que vai enganar

Você não vai mudar....”

 

 

O Presente ensaio foi realizados para disciplina de Etologia tendo como base as obras:

 

Ashley Madison - A vida é curta. Curta um caso. Disponível em: <https://www.ashleymadison.com/>. Acesso em: 30 abr. 2018.

BBC – Brasil. Genes influenciam propensão à infidelidade, diz estudo. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.


Bravo. Este doutor diz que a monogamia está morta, as pessoas precisam ser honestas sobre ter assuntos. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

Forstmeier W., Martin, K., Bolund E., Schielzeth H. and Kempenaers B. (2011). Female extrapair mating behavior can evolve via indirect selection on males. Department Behavioural Ecology and Evolutionary Genetics, The Max Planck Institute for Ornithology, D-82319 Seewiesen, Germany. Acesso em: 30 abr. 2018.

O site brasileiro de telefonia. Ei infiel: Brasil só perde para os Estados Unidos em número de usuários no Ashley Madison. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

PEPSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Infidelidade: uma revisão integrativa de publicações nacionais. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

PSICONLINEWS. O que é infidelidade? Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

Porta Educação. Redes sociais, relacionamentos x infidelidade. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

Terra. Ciência pode explicar por que homens e mulheres traem. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.


Wikipédia – A Enciclopédia Online. Ashley Madison. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2018.

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