quarta-feira, 9 de maio de 2018

Homossexualidade: Não há cura para o que não é doença!


Série Ensaios: Sociobiologia
por Bruna Santos Rodrigues, Caroline Viana Bastos, Daniel José Scheliga, Rafael Hennel Tulio, Rodrigo Maschio Pires e Wagner Carvalho Inácio da Silva
Acadêmicos do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas

Em setembro de 2017 uma decisão judicial foi alvo de intenso debate na mídia devido à sua alta polemicidade. De acordo com uma matéria publicada no jornal El País, o juiz da 14ª Vara Federal do Distrito Federal, Waldemar Claudio de Carvalho, autorizou que psicólogos possam oferecer terapia de reversão sexual – popularmente conhecida como "cura gay" – a pacientes que não aceitem a própria orientação sexual e que procurem os consultórios "voluntariamente". A decisão inibe que o CFP (Conselho Federal de Psicologia) puna os profissionais que assim procederem por considerar que medida do tipo representaria "dano à liberdade profissional para criações cientificas e, por consequência, ao patrimônio cultural brasileiro".


A atual novela das 21h da Rede Globo "O Outro Lado do Paraíso", mostra o drama de um médico casado, bem sucedido, que não aceita sua homossexualidade e é flagrado pela esposa com o amante e, por isso, praticamente obrigado a se assumir gay, mas que acaba voltando para a ex- esposa. O autor da novela tem sido muito criticado nas redes sociais por promover a heteronormatividade.
Desde 2016 há um projeto em tramitação que busca permitir este tipo de tratamento, o 4931/16, apresentado pelo deputado federal Ezequiel Teixeira (PTN-RJ), e propõe um decreto legislativo que autoriza a aplicação de uma série de intervenções com o objetivo de "auxiliar a mudança da orientação sexual".    Em 2013, outro projeto semelhante também havia sido apresentado à Câmara dos Deputados. De autoria do deputado federal João Campos, então no PSDB-GO, o projeto foi arquivado no mesmo ano, a pedido do próprio deputado, pressionado por seu partido após intensa retaliação.
A existência da homossexualidade em humanos é um problema para a teoria evolucionista. A homossexualidade masculina exclusiva tem um efeito catastrófico na reprodução e, ainda assim, fatores hereditários parecem contribuir para isso. As explicações anteriores se concentraram no ambiente ancestral de dois a três milhões de anos atrás como o determinante da sexualidade moderna, quando influências mais recentes provavelmente tiveram impacto considerável. Muitos estudos frequentemente ignoram a possibilidade de expressão fenotípica variável, segundo a qual indivíduos com propensão genética à homossexualidade exibem qualidades diferentes e adaptativas na maioria das outras ocasiões. Outras adaptações ao ambiente ancestral recente podem incluir empatia aprimorada, habilidades motoras finas e controle de impulsos. Ao reunir esses fatores contribuintes, uma base evolutiva para a homossexualidade pode ser demonstrada. O curso de vida de um indivíduo consiste em comportamentos coagidos pelos pais e escolhidos pelo indivíduo em resposta às condições ambientais, formando uma estratégia reprodutiva coerente (BARASH, 2012).
Em outros animais já foram observados vários casos de homossexualidade. Uma delas aconteceu no ano passado em um zoológico de Amsterdã, na Holanda. Nesse local, um casal de abutres machos “adotou” e chocou um ovo de uma fêmea que o havia rejeitado. Após o período de incubação, o casal permaneceu junto cuidando do filhote. Além disso, casais de patos, de leões e de lobos do mesmo sexo já foram avistados formando casais (BAKER, 2017). Esse comportamento acaba estreitando mais ainda os laços entre os animais, em situações de um potencial perigo podem defender um ao outro, favorecendo assim a sobrevivência em grupo. A maioria dos casos mostra uma situação onde fora da estação de reprodução eles permanecem juntos, e durante ela, procuram o sexo oposto, copulam e geram prole. No final, a perpetuação da espécie vai ser levada em conta, mas o modo de como será esse cuidado parental, sendo indivíduos do mesmo sexo ou não, acaba não tendo uma grande importância para outros animais (HOGENBOOM, 2017).
A orientação sexual de um indivíduo é determinada no útero materno por uma série de fatores. 50% são fatores genéticos e os outros são interações de hormônios e células do cérebro. O estresse da mãe durante a gravidez libera altos níveis de hormônios, por exemplo, o cortisol, que também pode estar envolvido na orientação sexual. O cortisol atravessa a placenta e interage com os hormônios do cérebro em desenvolvimento (OLIVEIRA, 2014). Evidências comprovam que os esteróis sexuais implicam na diferenciação sexual da morfologia, como estruturas genitais e do cérebro. Os esteróis sexuais embrionários possuem efeitos organizacionais sobre a orientação sexual em humanos. A orientação sexual pode depender, assim como muitas características comportamentais, de variações na exposição fetal a esteroides como andrógenos e metabolitos estrogênicos. No desenvolvimento embrionário, a exposição a altas concentrações de testosterona levaria a orientação sexual masculina, enquanto que a menor exposição levaria a orientação sexual feminina. As estruturas genitais e o cérebro se diferenciam em momentos diferentes durante a fase embrionária. Um embrião poderia ser exposto a altas concentrações de testosterona durante os três primeiros meses de gestação e assim desenvolver genitália masculina, porém, a queda de testosterona durante a maturação final do cérebro pode levar a falha no desenvolvimento pela atração sexual masculina típica (LANGSTRÖM, 2010).
A homossexualidade, sob o viés psicológico, apresenta uma série de fatores que devem ser levados em conta para se entender e debater essa difícil questão. A homossexualidade foi retirada dos catálogos de doença mental ainda nos anos de 1990 e até hoje existe a complicada discussão com relação à Cura Gay aqui no Brasil, citada no início do texto.
Dado esse cenário de intensas discussões com a bancada LGBT, a qual defende que homossexualidade não é doença e, portanto, não haveria de ter uma cura, dois pontos importantes podem ser ressaltados: a individualidade do homossexual em buscar a cura gay e os índices de suicídio registrados nessa parcela da população.
A proposta da cura gay consiste em uma terapia de reversão sexual, na qual o psicólogo estaria apto a desenvolver os métodos para tentar minimizar alguns sentimentos negativos no paciente, tais como culpa, inadequação e tristeza resultantes da atração física por uma pessoa do mesmo sexo, transformando o homossexual em heterossexual. Já os índices de suicídio também representam um elemento psicológico importante, pois o preconceito e a rejeição familiar contra o homossexual acabam gerando doenças psicológicas, como a depressão, por exemplo, podendo culminar em agravamento da saúde mental e, tendo como consequência, tentativas de suicídio e morte (TABORDA, 2017).
            Levando-se em consideração todos esses aspectos, o motivo de um homossexual buscar esse tratamento pode estar relacionado ao medo da violência perante à intolerância da sociedade, por exemplo.
Desta forma, a equipe entende que a atitude do juiz apenas reforça a lógica excludente de que a heterossexualidade ocupa o lugar privilegiado da normalidade (devendo ser recompensada e almejada) enquanto que as demais sexualidades se constituem patologias, que podem ser negadas, revertidas e tratadas.
Nós como futuros biólogos acreditamos... fazer balanço entre condicionantes biológicos, evolutivos e a estratégia de formação de grupo associada ao comportamento.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia baseando-se nas obras:

Barash, David P. Homo Mysterious: Evolutionary Puzzles of Human Nature. New York, NY: Oxford University Press, 2012. 329 p.
Hogenboom, M. O mistério da homossexualidade em animais. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150211_vert_earth_animais_homossexuais_ml. Acesso em 24 de abril de 2018.
LANGSTRÖM, Niklas ; RAHMAN, Qazi; CARLSTRÖM, Eva; LICHTENSTEIN, Paul. Genetic and Environmental Effects on Same-sex Sexual Behavior: A Population Study of Twins in Sweden. Springer Link: Vol 39, pp 75–80; Fev 2010.
Oliveira, Douglas R. A. A orientação sexual é determinada no útero. Disponível em: https://universoracionalista.org/a-orientacao-sexual-e-determinada-no-utero/. Acesso em 17 de abril de 2018.
Taborda, Dênia C. A homossexualidade é uma doença? Cura gay? Entenda a polêmica. Migalhas. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI266044,31047-A+homossexualidade+e+uma+doenca+Cura+gay+Entenda+a+polemica. Acesso em 25 de abril de 2018.

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