Série Ensaios: Sociobiologia
Por Bruna Nascimento, Guilherme
Batista Lago, Isabelle Louise Aliganchuki, Joyce Teixeira de Carvalho, Mateus
Massaiti Koga, Natalia Bueno Ferreira, Natalia Cordeiro Santini
Acadêmicos do Curso de Biologia
Um caso
de bullying que levou a tragédia e chocou o país recentemente é do garoto de 14
anos que atirou contra os colegas em uma escola particular em Goiânia. A ação
levou à morte de dois colegas de sala e feriu outros quatro. O garoto era filho
de militares e, portanto, pegou a arma escondido dos pais e levou à escola no
dia 20 de outubro de 2017. Após a investigação do ocorrido, colegas
entrevistados revelaram que o menino era uma vítima do bullying e sofria com chacotas
e piadas na escola.
Nesse
caso é possível perceber a exclusão de um indivíduo de um grupo, causando transtornos
psicológicos graves e gerando uma
revolta por parte da vítima. Historicamente as sociedades são formadas por
grupos sociais, formados e mantidos por estímulos agregadores e segregadores, e
que tem como objetivo principal a sobrevivência. Os estímulos agregadores são
fatores que alguns indivíduos de tal sociedade (seja animal ou humana) tem em
comum e são responsáveis por incorporar um certo grupo. Esses fatores não
envolvem apenas atributos físicos, mas também comportamentais. Em contrapartida
existem os fatores segregadores que levam a exclusão de indivíduos diferentes e
não “aptos”, e por consequência acarretando o bullying.
O
bullying é caracterizado por atos de agressão física ou verbal que ocorrem
intencionalmente e de forma constante, geralmente realizado não apenas por uma,
mas por várias pessoas (Neto, 2005). Existem também casos em que o bullying
pode ser praticado por apenas um indivíduo sobre o outro. O bullying está muito
presente na sociedade humana, mas também nos animais.
Direcionado ao mundo animal, podemos
citar diversos casos de relações interespecíficas e principalmente
intraespecíficas associadas ao bullying. Como por exemplo os macacos reso (Macaca mulatta), onde no grupo há vários conflitos, como o
de irmãos mais velhos que atacam os irmãos mais novos com agressividade (Sade,
1963), e um outro caso no grupo de primatas onde se pode observar ocorrência de bullying é no gênero Sapajus (macacos prego). Em indivíduos
desse gênero observados no Zoológico Municipal de Curitiba, foi relatado um
caso onde o líder do grupo realizava um tipo de bullying, onde ele privava um
único macaco específico de atividades como tomar sol, comer e apenas permanecer
em certos lugares do recinto. Os relatos eram diários e ocorriam agressões de
um animal sobre o outro, evidenciando comportamentos de dominância e submissão.
É possível observar eventos também em cachorros domésticos (Canis familiaris), um grupo de cachorros pode haver
aqueles que puxam o outro para baixo, perseguição à um determinado indivíduo,
bem como cachorros novos que querem se familiarizar em um grupo já determinado,
porém o (s) membro (s) do grupo não o aceitam (Equipe Petiko, 2017). Em um grupo de leões que pode sofrer em
confronto com búfalos, se um indivíduo tenha sido machucado e traga algum
impedimento ou atraso para o grupo, este mesmo é deixado para trás, na busca
por recursos no grande deserto da Tanzânia.
Os principais motivos que levam à
pratica do bullying é a tendência natural à exclusão do diferente e a
violência/intolerância. A violência é um problema de saúde pública importante e
crescente no mundo, com sérias consequências individuais e sociais,
particularmente para os jovens, que aparecem nas estatísticas como os que mais
morrem e os que mais matam (Neto, 2005). Nas distintas
idades da humanidade, a violência pode ser caracterizada como um problema
crônico e recorrente. Ao se eleger um assunto que ocupe, atualmente, um lugar
especial nas conversas cotidianas, é notável a agressão e a violência humana.
Estas, sem dúvida, são os assuntos mais veiculados em manchetes de jornais e revistas,
em programas de televisão e de rádios, em filmes e em livros de sucesso (Botelho & Souza,
2007).
Há
diversas formas de violência no meio em que estamos inseridos, a violência física se caracteriza pelo
uso da força ou ainda por atos de omissão. A violência psicológica consiste em um
comportamento específico de um indivíduo ou um grupo de agressores, gerando
tratamento desumano como a rejeição, indiferença, desrespeito e discriminação.
A violência política, manifestada através de terrorismo que agregam em suas
consequências a violência física ou por imposições ideológicas, que tem em suas
metas a opressão social e a inadequação de determinados sujeitos ou ideias a
sistemas politicamente incorretos. A violência cultural, através da
substituição de uma cultura por um conjunto de valores forçados, não
respeitando a identidade cultural existente. A violência verbal, que não
raramente são acompanhadas da violência física e ainda a violência sexual, que
é um abuso de poder onde uma criança ou adolescente torna-se uma gratificação
sexual de uma outra pessoa, forçados a práticas sexuais com ou sem violência
física (Barros, et. al., 2009).
Assim,
a violência é um mal a ser entendido sob uma óptica multifatorial e, nesta
perspectiva, deve ser analisada por diferentes profissionais, como filósofos,
sociólogos, biólogos, psicólogos, cientistas políticos, juristas, psiquiatras e
professores (Botelho & Souza, 2007). Em âmbito escolar, são diversas as
manifestações de violência: algumas são direcionadas a professores e a
funcionários; outras, a alunos. No entanto, há uma forma de violência,
normalmente velada, que ocorre geralmente entre os próprios alunos (Botelho & Souza,
2007).
Estudos sobre as influências do ambiente escolar e dos sistemas educacionais
sobre o desenvolvimento acadêmico do jovem já vêm sendo realizados, mas é
necessário também que tais influências sejam observadas pela ótica da saúde
(Neto, 2005).
Comecemos
por situar o problema chamado bullying. Do inglês bull vem o sentido de intimidação para a
língua portuguesa. Do touro, a força que assola, menospreza, que diminui o
outro (Tognetta &
Vinha, 2010).
O bullying diz respeito a uma forma de afirmação de poder interpessoal através
da agressão. A vitimização ocorre quando uma pessoa é feita de receptor do
comportamento agressivo de uma outra mais poderosa. Tanto o bullying como a
vitimização têm consequências negativas imediatas e tardias sobre todos os
envolvidos: agressores, vítimas e observadores.
Nós como futuros biólogos acreditamos que a ocorrência de casos de
bullying sempre existiu, desde os primórdios, e participa de um fator relevante
para evolução. A formação de grupos com base em fatores agregadores e
segregadores e essa tendência natural á exclusão do diferente sempre existiu em
diversas espécies que habitam e habitaram o planeta, como uma estratégia que
visa principalmente a sobrevivência.
Atualmente na sociedade humana essa visão de “sobrevivência” já
não é o principal motivo de exclusões de indivíduos como ainda ocorre no mundo selvagem.
A dificuldade de aceitar o que é diferente de si é uma dificuldade atual, todos
querem a sua volta pessoas com pensamentos e atitudes parecidas e assim o que é
contrário é ignorado e excluído. Alguns elementos podem ser trabalhados para
promover uma maior aceitação de pessoas consideradas “diferentes” que seria
principalmente a educação, lidando com fatores relacionados à tolerância,
aceitação e acolhimento ao próximo para melhorar a capacidade de adaptação dos
grupos.
O presente ensaio foi elaborado para
disciplina de Etologia, tendo como base as obras:
Barros, P. C.; Carvalho, J. E.; Pereira, M.
B. F. L. O.; UM ESTUDO SOBRE BULLYING NO
CONTEXTO ESCOLAR, (2009).
Botelho, R. G. & Souza, J. M. C.; BULLYING
E EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: CARACTERÍSTICAS, CASOS, CONSEQUÊNCIAS E
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO, (2007).
Neto, A. A. L.; BULLYING – COMPORTAMENTO AGRESSIVO ENTRE ESTUDANTES, (2005).
Sade, D.
S.; SOME ASPECTS OF PARENT OFFSPRING AND SIBLING RELATIONS
IN A GROUP OF RHESUS MONKEYS, WITH A DISCUSSION OF GROOMING, (1963).
Tognetta, L. R. P. & Vinha, T. P.; BULLYING E INTERVENÇÃO NO BRASIL: UM
PROBLEMA AINDA SEM SOLUÇÃO, (2010).
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