quarta-feira, 9 de maio de 2018

Bullying


Série Ensaios: Sociobiologia
Por Bruna Nascimento, Guilherme Batista Lago, Isabelle Louise Aliganchuki, Joyce Teixeira de Carvalho, Mateus Massaiti Koga, Natalia Bueno Ferreira, Natalia Cordeiro Santini
Acadêmicos do Curso de Biologia


Um caso de bullying que levou a tragédia e chocou o país recentemente é do garoto de 14 anos que atirou contra os colegas em uma escola particular em Goiânia. A ação levou à morte de dois colegas de sala e feriu outros quatro. O garoto era filho de militares e, portanto, pegou a arma escondido dos pais e levou à escola no dia 20 de outubro de 2017. Após a investigação do ocorrido, colegas entrevistados revelaram que o menino era uma vítima do bullying e sofria com chacotas e piadas na escola.


Nesse caso é possível perceber a exclusão de um indivíduo de um grupo, causando transtornos psicológicos graves e gerando uma revolta por parte da vítima. Historicamente as sociedades são formadas por grupos sociais, formados e mantidos por estímulos agregadores e segregadores, e que tem como objetivo principal a sobrevivência. Os estímulos agregadores são fatores que alguns indivíduos de tal sociedade (seja animal ou humana) tem em comum e são responsáveis por incorporar um certo grupo. Esses fatores não envolvem apenas atributos físicos, mas também comportamentais. Em contrapartida existem os fatores segregadores que levam a exclusão de indivíduos diferentes e não “aptos”, e por consequência acarretando o bullying.
O bullying é caracterizado por atos de agressão física ou verbal que ocorrem intencionalmente e de forma constante, geralmente realizado não apenas por uma, mas por várias pessoas (Neto, 2005). Existem também casos em que o bullying pode ser praticado por apenas um indivíduo sobre o outro. O bullying está muito presente na sociedade humana, mas também nos animais.
            Direcionado ao mundo animal, podemos citar diversos casos de relações interespecíficas e principalmente intraespecíficas associadas ao bullying. Como por exemplo os macacos reso (Macaca mulatta), onde no grupo há vários conflitos, como o de irmãos mais velhos que atacam os irmãos mais novos com agressividade (Sade, 1963), e um outro caso no grupo de primatas onde se pode observar  ocorrência de bullying é no gênero Sapajus (macacos prego). Em indivíduos desse gênero observados no Zoológico Municipal de Curitiba, foi relatado um caso onde o líder do grupo realizava um tipo de bullying, onde ele privava um único macaco específico de atividades como tomar sol, comer e apenas permanecer em certos lugares do recinto. Os relatos eram diários e ocorriam agressões de um animal sobre o outro, evidenciando comportamentos de dominância e submissão.  É possível observar eventos também em  cachorros domésticos (Canis familiaris), um grupo de cachorros pode haver aqueles que puxam o outro para baixo, perseguição à um determinado indivíduo, bem como cachorros novos que querem se familiarizar em um grupo já determinado, porém o (s) membro (s) do grupo não o aceitam (Equipe Petiko, 2017).  Em um grupo de leões que pode sofrer em confronto com búfalos, se um indivíduo tenha sido machucado e traga algum impedimento ou atraso para o grupo, este mesmo é deixado para trás, na busca por recursos no grande deserto da Tanzânia.
            Os principais motivos que levam à pratica do bullying é a tendência natural à exclusão do diferente e a violência/intolerância. A violência é um problema de saúde pública importante e crescente no mundo, com sérias consequências individuais e sociais, particularmente para os jovens, que aparecem nas estatísticas como os que mais morrem e os que mais matam (Neto, 2005). Nas distintas idades da humanidade, a violência pode ser caracterizada como um problema crônico e recorrente. Ao se eleger um assunto que ocupe, atualmente, um lugar especial nas conversas cotidianas, é notável a agressão e a violência humana. Estas, sem dúvida, são os assuntos mais veiculados em manchetes de jornais e revistas, em programas de televisão e de rádios, em filmes e em livros de sucesso (Botelho & Souza, 2007).
Há diversas formas de violência no meio em que estamos inseridos, a violência física se caracteriza pelo uso da força ou ainda por atos de omissão. A violência psicológica consiste em um comportamento específico de um indivíduo ou um grupo de agressores, gerando tratamento desumano como a rejeição, indiferença, desrespeito e discriminação. A violência política, manifestada através de terrorismo que agregam em suas consequências a violência física ou por imposições ideológicas, que tem em suas metas a opressão social e a inadequação de determinados sujeitos ou ideias a sistemas politicamente incorretos. A violência cultural, através da substituição de uma cultura por um conjunto de valores forçados, não respeitando a identidade cultural existente. A violência verbal, que não raramente são acompanhadas da violência física e ainda a violência sexual, que é um abuso de poder onde uma criança ou adolescente torna-se uma gratificação sexual de uma outra pessoa, forçados a práticas sexuais com ou sem violência física (Barros, et. al., 2009).
Assim, a violência é um mal a ser entendido sob uma óptica multifatorial e, nesta perspectiva, deve ser analisada por diferentes profissionais, como filósofos, sociólogos, biólogos, psicólogos, cientistas políticos, juristas, psiquiatras e professores (Botelho & Souza, 2007). Em âmbito escolar, são diversas as manifestações de violência: algumas são direcionadas a professores e a funcionários; outras, a alunos. No entanto, há uma forma de violência, normalmente velada, que ocorre geralmente entre os próprios alunos (Botelho & Souza, 2007). Estudos sobre as influências do ambiente escolar e dos sistemas educacionais sobre o desenvolvimento acadêmico do jovem já vêm sendo realizados, mas é necessário também que tais influências sejam observadas pela ótica da saúde (Neto, 2005).
Comecemos por situar o problema chamado bullying. Do inglês bull vem o sentido de intimidação para a língua portuguesa. Do touro, a força que assola, menospreza, que diminui o outro (Tognetta & Vinha, 2010). O bullying diz respeito a uma forma de afirmação de poder interpessoal através da agressão. A vitimização ocorre quando uma pessoa é feita de receptor do comportamento agressivo de uma outra mais poderosa. Tanto o bullying como a vitimização têm consequências negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores.
Nós como futuros biólogos acreditamos que a ocorrência de casos de bullying sempre existiu, desde os primórdios, e participa de um fator relevante para evolução. A formação de grupos com base em fatores agregadores e segregadores e essa tendência natural á exclusão do diferente sempre existiu em diversas espécies que habitam e habitaram o planeta, como uma estratégia que visa principalmente a sobrevivência.
Atualmente na sociedade humana essa visão de “sobrevivência” já não é o principal motivo de exclusões de indivíduos como ainda ocorre no mundo selvagem. A dificuldade de aceitar o que é diferente de si é uma dificuldade atual, todos querem a sua volta pessoas com pensamentos e atitudes parecidas e assim o que é contrário é ignorado e excluído. Alguns elementos podem ser trabalhados para promover uma maior aceitação de pessoas consideradas “diferentes” que seria principalmente a educação, lidando com fatores relacionados à tolerância, aceitação e acolhimento ao próximo para melhorar a capacidade de adaptação dos grupos.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras:

Barros, P. C.; Carvalho, J. E.; Pereira, M. B. F. L. O.; UM ESTUDO SOBRE BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR, (2009).
Botelho, R. G. & Souza, J. M. C.;  BULLYING E EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: CARACTERÍSTICAS, CASOS, CONSEQUÊNCIAS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO, (2007).
Neto, A. A. L.; BULLYING – COMPORTAMENTO AGRESSIVO ENTRE ESTUDANTES, (2005).
Sade, D. S.; SOME ASPECTS OF PARENT OFFSPRING AND SIBLING RELATIONS IN A GROUP OF RHESUS MONKEYS, WITH A DISCUSSION OF GROOMING, (1963).
Tognetta, L. R. P. & Vinha, T. P.; BULLYING E INTERVENÇÃO NO BRASIL: UM PROBLEMA AINDA SEM SOLUÇÃO, (2010).

Equipe Petiko, SEU CACHORRO SOFRE BULLYING? (2017), disponível em: http://petiko.com.br/article/seu-cachorro-sofre-bullying




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