Animais exóticos de estimação: O "barato" pode sair caro.


Série Ensaios: Ética no Uso Animal e Bem-estar-animal

 

Por Henrique Trigo

Graduando do curso de Biologia

 

Mais de 50 animais exóticos foram aprendidos em apartamento no Centro de Curitiba, segundo as investigações os animais seriam vendidos pela internet e se encontravam em péssimo estado de higiene, disse o superintendente do Ibama no Paraná, Júlio César Gonchoroskya.



Se existem pessoas que vendem esses animais, certamente existem outras que compram! O que torna esse comércio quase sempre ilegal e super lucrativo. A maior parte dos animais exóticos vendidos possuem permissão para o comércio, desde que legalizados, como é o caso de muitos cágados, aves e roedores, em contrapartida, as espécies mais lucrativas são as silvestres. Segundo o Artigo 29 da Lei nº 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998 da Lei Ambiental Brasileira é crime a caça, o comércio ou qualquer alteração na fauna silvestre sem as devidas autorizações. Mas se a Lei é tão clara, por que as pessoas adquirem animais exóticos?

Certamente durante a infância ou até mesmo na vida adulta, você já ficou maravilhado com as diversas cores, formas e tamanhos dos animais, seja em zoológicos, parques, circos ou andando por uma trilha. Talvez você já tenha entrado em um pet shop e encontrou uma gigante variedade de espécies exóticas, e ficou com desejo de comprar alguma delas um dia. Isso é extremamente normal! Animais são além de uma conexão com a natureza, uma relação evolutiva com nós mesmos, e muitas vezes vemos neles um pedaço que falta em nossas vidas.

Muito se especula sobre as razões pela qual as pessoas adquirem pets, se olharmos para a história, os cães foram domesticados ao longo de séculos para ajudar na caça, por possuírem um olfato aperfeiçoado e serem mais rápidos. Os gatos no Egito antigo eram utilizados como objeto de cultos além de serem bons caçadores de ratos, já as aves são apreciadas pela sua beleza e canto. Esses animais, principalmente os cães e gatos já fazem parte da vida humana, estão evoluindo cada vez mais próximos do homem e cada vez mais perdendo a sua naturalidade. E os outros animais que são utilizados em grande proporção como pets, os exóticos, ainda não possuem essa evolução em paralelo direto com o homem, é possível salva-los?

Se olharmos pelo mundo veremos que o elefante-asiático (Elephas maximus) e principalmente a subespécie indiana Elephas maximus indicus é um animal que está presente há séculos na cultura e religião (Imagem 3) de diversos povos da Ásia. São considerados patrimônio ambiental desses países e presentes no cotidiano da população, servindo muitas vezes como pet exótico. Olhando do ponto de vista da preservação, os elefantes passam a se tornar mais protegidos vivendo próximos de pessoas apegadas religiosamente a eles. Mas, se culturalmente em países como a Índia os animais exóticos estão presentes socialmente por motivos religiosos ou culturais, em outros cantos do mundo esses animais são adquiridos pelo homem apenas por satisfação pessoal. A humanidade já se alimenta das formas de vida, à comercializa, escraviza, ou seja, acaba com as mais belas formas da vida, então qual o problema em adquirir só mais uma vida? "Eu sou uma pessoa ética, alimentarei e cuidarei do meu camaleão", "Eu não vivo sem o canto da minha ave exótica", "Antes comigo, do que com alguém que maltrate a minha tartaruga", esses são alguns dos vários argumentos que são utilizados para se adquirir uma espécie exótica.

Mas e as consequências, você é capaz de lidar com elas? Ao ir em um pet shop e comprar um animal exótico, o vendedor te dará algumas informações básicas sobre alimentação, cuidados e de onde o animal deve viver. Os primeiros dias parecem fáceis, mas com o tempo o animal vai crescendo e não cabe mais no aquário, gaiola ou terrário em que se encontra, e um maior custa muito além do orçamento. Os hábitos alimentares passam a mudar, a ração terá que ser a partir de agora importada, segundo o veterinário. Ah sim! O veterinário... "Nossa havia esquecido do veterinário", frase muito comum! É muito difícil perceber quando animais exóticos estão doentes, resta leva-los periodicamente a clínica veterinária, mas é uma espécie exótica, apenas um local na cidade tem esse atendimento e ele acaba sendo muito caro. Anos se passaram e se tornou impossível manter o animal "ele ficou muito grande", "gasta demais com comida", "não há tempo para cuidar do animal", entre outras coisas. Isso tudo deveria ser analisado antes de adquirir o animal. As consequências para a vida desse animal serão muitas: ser vendido, abandonando próximo de um zoológico ou de um local qualquer, e até mesmo a morte.

Se um animal desses que foi comprado de forma lícita pode acabar assim, imagine o fim de uma espécie exótica comprada ilegalmente, que provavelmente nunca visitou um veterinário especializado pelo medo dos donos de serem descobertos e nunca recebeu uma alimentação correta e de qualidade, devido a falta de informações fornecidas pelos traficantes. Além de todos os cuidados, esses animais podem não ser seguros, eles podem atacar a qualquer momento, existem casos de cobras que mataram asfixiados seus donos, além de transmitir doenças.

A domesticação de animais exóticos deve ser analisada do ponto de vista da Bioética, sabendo que ali reside uma vida, que deve ser preservada de qualquer mal, segundo o princípio da não-maleficência: "...não fazer mal a qualquer entidade natural ambiental que tenha um bem a seu próprio modo. Isso inclui não matar um indivíduo animal ou planta, não destruir espécies ou comunidades bióticas nem fazer algo que as prive das condições necessárias a seu bem específico".

Eu como estudante de bacharelado na área de Ciências Biológicas, acredito que os motivos para se adquirir um animal exótico são muitos, deve-se informar que nem tudo é o que parece. Muitas vezes os vendedores dizem que é fácil cuidar de um bichinho, pois estão interessados no lucro por trás daquela vida, e as pessoas acabam sendo alienadas pelo status social de possuir algo raro e acabam comprando. Deve-se tomar cuidado para não se adquirir por impulso um animal e lembrar que não é fácil cuidar, dar atenção, alimentação adequada, habitat adequado, e encontrar veterinários adequados. Se você está disposto a adquirir qualquer animal, seja ele exótico ou não, saiba que é um ser vivo que está ali, um galho de uma imensa árvore evolutiva que há muito tempo nos privilegia com o incrível e magnífico mistério da vida. 

O presente ensaio foi elaborado para o estágio de Ética Animal do NEC (Núcleo de Estudos Comportamentais) da PUCPR, baseando-se nas seguintes obras: