domingo, 4 de junho de 2017

Brasil, o País do Futebol ... e também da Homofobia


Série Ensaios: Sociobiologia





Por Bianca Borges Cabral; Bianca Cardoso da Silveira Carvalho; Letícia Elaine Maggioni Fabris; Lucila Edi Quintino De Abreu; Paola Niebel Stier; Thamires Cristina Crescêncio Mathias. 

Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas








Que a homofobia está presente em vários meios sociais, não é novidade para ninguém. Muitos casos são relatados frequentemente nas mídias pelo mundo todo e entre todos esses relatos temos o caso do jogador brasileiro Richarlyson Barbosa Felisbino. Nascido em Natal, o volante atualmente joga pelo Guarani Futebol Clube e consolidou carreira em times como São Paulo, Atlético Mineiro e Salzburg, da Áustria. Apesar do seu bom desempenho em campo, Richarlyson é alvo de comentários homofóbicos e contestações sobre sua sexualidade desde 2007. Embora nunca tenha se declarado gay, faz parte da rotina do jogador ouvir comentários em campo como “Bicha!” ou “futebol não é lugar para veado”.

Tudo começou com uma declaração polêmica, do na época diretor administrativo do Palmeiras, José Cyrillo Júnior, que alegou publicamente que Richarlyson era homossexual. O jogador então entrou na justiça contra Cyrillo, alegando que teve sua intimidade violada e que isso poderia acarretar possíveis prejuízos à sua carreira. Atualmente, um dos episódios mais devastadores na carreira de Richarlyson foi durante sua contratação ao time do Guarani. Alguns torcedores atiraram bombas em frente ao estádio do clube, como forma de protesto e disseminaram inúmeras hostilizações em redes sociais contra o jogador.

O futebol se originou na Inglaterra, mas o Brasil adotou o esporte se tornando o país do futebol. Apesar de sua popularidade no Brasil e no mundo, o futebol não tem lugar para todos. A homofobia, infelizmente, é comum em vários meios sociais e o futebol é um deles. É evidente a aversão contra homossexual vinda não só dos torcedores, mais também da diretoria dos clubes, técnicos e suas comissões. Como o futebol tem como público principal o gênero masculino, se constrói e reforça a questão que futebol é coisa de “homem” ou de “macho”.

            Entende-se por moral aquilo que é adequado à vida em sociedade, seja ditado por religiões, leis e tradições. Desde a população primitiva muitas variáveis físicas, mentais, reprodutivas e comportamentais já eram encontradas no convívio das populações, alguns indivíduos decidiram ser diferentes e outros se diferenciavam involuntariamente. No entanto, algumas dessas diferenças iam contra o Imperativo Reprodutivo, pois interferia na sua reprodução e isso levaria a sua morte genética, pois não seria capaz de transferir os seus genes para sua prole.

Desde a origem do Homo sapiens a espécie vive em grupos e para o bom funcionamento dessa comunidade são necessárias algumas regras de convivência que se mantém até hoje.  Apesar de se acreditar que as condutas morais foram criadas naturalmente pelo convívio, é possível notar que na verdade esses valores são definidos geneticamente para a manutenção da espécie, onde todo indivíduo tinha liberdade de se expressar o quanto quisesse, desde que não interferisse em sua procriação. Ao analisarmos o que é considerado, por grande parte da sociedade, como imoral podemos citar: adultério, estupro, pederastia, incesto  e homossexualidade. Cada uma dessas práticas afeta o desenvolvimento da prole, seja pela falta de companheiro para a criação, imaturidade sexual, problemas de consanguinidade ou incompatibilidade sexual.

            A homossexualidade, por exemplo, apesar de ter papéis importantes dentro de uma população, na maioria dos casos é considerada imoral pois pode comprometer a estrutura da sociedade animal. Existem condutas implícitas dentro do reino animal para que haja a sobrevivência da espécie, e o homossexualismo vai contra a perpetuação da espécie. Portanto, essa prática é desestimulada na forma de homofobia para que não se torne uma regra, forçando homossexuais a se separarem do grupo. Entretanto, caso a regra geral da comunidade seja desvantajosa para um indivíduo, esse pode se adaptar ou encontrar outros meios para permanecer no bando.

            Segundo Burhnam e Phelan (2002), o código primitivo pode ter sido uma maneira de comunicação entre pais e filhos da espécie Homo sapiens e foi criado pelos progenitores com o intuito de que os filhos se comportasse da maneira que os pais achavam correta, e essa maneira era a reprodução da prole. O surgimento dos códigos de comportamento ocorreu quando os pais procuraram assegurar o sucesso reprodutivo dos seus filhos. Os pais não aceitavam ter filhos homossexuais, não permitiam que o homossexualismo surgisse na população e não toleravam nenhuma atitude capaz de reduzir o sucesso reprodutivo de seus descentes. O homossexualismo ia contra a norma reprodutiva e foi considerado como indesejado.

A homossexualidade é observada na natureza em grande escala, a afeição por indivíduos do mesmo sexo pode apresentar vários significados como: reconciliação, criação de prole, formação de alianças, evitar conflitos e manutenção da população. Estudos afirmam que a condição homossexual é relacionada com a atuação dos hormônios da mãe no filhote durante a gestação. Entre os seres humanos, esse comportamento é relatado desde a Grécia Antiga (1300 anos a.C.), onde essas práticas eram consideradas normais e tinham como finalidade o desenvolvimento da masculinidade, onde ao atingirem a adolescência, os jovens ficavam sob o cuidado de homens mais velhos e sábios. Este comportamento também foi bem aceito em sociedades como Esparta, Império Romano e Maias (Dieter, 2012). Na Idade Média, as religiões passaram a condenar a homossexualidade e qualquer prática sexual que não fosse para a reprodução passou a ser considerado pecado. No Brasil, essas práticas eram comuns em tribos indígenas, mas com a colonização e as influências Judaico-cristãs, o homossexualismo passou a ser condenado. Em 2012 o Brasil foi considerado responsável por 44% dos assassinatos por motivação homofóbica no mundo, foram registradas 3.084 denúncias de violações ligadas à homofobia e 310 homicídios por esse motivo. Já em 2014, foi líder no ranking de mortes por homofobia, em 2015 318 gays foram mortos no Brasil e estimativas afirmam que Manaus foi a capital  que mais praticou homofobia, sendo 23 mortes de cada 11,3 para cada milhão de habitantes no mesmo ano. Em 2016 teve um recorde no país, foram assassinados 343 homossexuais, sendo uma pessoa assassinada a cada 25 horas. Atualmente, o Brasil volta a ser líder nos ranking por mortes de LGBTs.

Diante dos diversos padrões estipulados pela sociedade, as pessoas acreditam cada vez mais que são aptas a julgar situações como imorais ou não.  Na maioria das vezes,  esses acontecimentos são até mesmo irrelevantes, como no caso da opção sexual do jogador Richarlyson,  onde as pessoas preferem passar por cima dos códigos morais quando ignoram uma situação realmente importante e imoral que é o caso do goleiro Bruno Fernandes de Souza, ex-jogador do Clube de Regatas do Flamengo, que ficou sete anos preso pelo assassinato da mãe de seu filho Eliza Silva Samúdio é ovacionado e aplaudido pelos torcedores da cidade de Varginha (MG) com a sua contratação pelo time Boa Esporte Clube.

Nós como formandas de Ciências Biológicas acreditamos que o fator moral não é muito bem empregado ou entendido pela população, não só no futebol como em todos os demais meios sociais. Pois um país que aplaude um assassino e condena um homossexual pelo simples fato de defender a “masculinidade” imposta no futebol mostra que as arquibancadas dos jogos é composta não só por homens, mas por homens que são incapazes de aceitar as diferenças transformando isso em ódio e violência. Acreditamos que a melhor forma de resolver essa situação é com debates sobre o tema e levantar fundamentos biológicos para esse tipo de comportamento, pois apesar da homofobia ser explicada pela natureza indivíduos homossexuais também tem sua função biológica na sociedade. Homossexuais podem não ter a capacidade de gerar descendentes mas podem cuidar de proles abandonadas ou então órfãs, exercendo também uma função de controle populacional. Assim, através da conscientização da sociedade sobre o assunto, a mesma pode tornar-se mais tolerante e receptiva às diferenças. É importante também ressaltar que fatores segregadores fundamentais para manutenção da integridade do grupo já não são cabíveis em nossa tribo, pois ela já não se restringe a nossa casa, igreja ou clube. Nós vivemos em uma aldeia de 7 bilhões de pessoas, unidos pelo fato de sermos seres humanos dotados de vida, logo merecedores de dignidade e respeito para podermos simplesmente viver.






O presente ensaio foi realizado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
Nagashima, S.; Laurindo, V.; e Hoffmann, W., Genética da Moral - Humanos: Animais Racionais. Disponível em: <http://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com.br/2011/10/serie-ensaios-sociobiologia-1024x768.html>. Acesso em 22 de maio de 2017.
Krama, K., A Homossexualidada Não é Doença. Disponível em : <https://googleweblight.com/?lite_url=https://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com/2015/09/a-homossexualidade-nao-e-uma-doenca.html?m%3D1&ei=G0lHRf0-&lc=pt-BR&s=1&m=570&host=www.google.com.br&ts=1495540430&sig=ALNZjWmF6J-VSyMHwXnXtvqCZAo28lG8AQ>. Acesso em 22 de maio de 2017.
DIETER, Cristina Ternes. As raízes históricas da homossexualidade, os avanços no campo jurídico e o prisma constitucional.Instituto Brasileiro de Direito da Família. Belo Horizonte. 2012. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/_img/artigos/Critsina%2023_03_>
BURNHAM, T.; PHELAN, J., A Culpa é da Genética: Do sexo ao dinheiro, das drogas à comida: dominando nossos instintos primitivos. Tradução: Vera Maria Whately. Rio de Janeiro - RJ, 2002. Cap. 03; P. 66-85.

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