terça-feira, 6 de junho de 2017

Pesca Esportiva: até onde vai o egoísmo do homem em praticar esportes que ferem o direito dos animais?


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-esta-animal



Por Isabella Glock Vieira

Bióloga e discente do Curso de Especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental






Em Fernando de Noronha, uma mulher queria tirar uma selfie com um filhote de tubarão e acabou sendo mordida pelo animal. A princípio esta pessoa só queria tirar o animal de fora da água e tirar uma foto, mas no vídeo podemos perceber o quanto o animal ficou estressado por este ato insensato.

As preocupações ambientais em relação ao planeta tornam-se cada vez mais constantes, no sentido de aproximar o homem com as degradações ambientais que vem crescendo dia-a-dia. Em 1978, o Brasil integra a “Declaração Universal dos Direitos dos Animais”, firmada em Bruxelas durante a assembleia da UNESCO. Nessa declaração foi conferido a todos os bichos direito a vida, à existência, ao respeito, à cura, e a proteção do homem, desprezando também todo e qualquer tipo de maus tratos nos animais e propiciando o direito do animal de ser legalmente representando como Sujeito de Direito.

A pesar do peixe pertencer a fauna brasileira, lamentavelmente não foi encontrada nenhuma projeção, somente a regulamentação da prática da pesca amadora, por meio da legislação já vincula da Portaria do IBAMA nº4, de 10 de março de 2009, Art.2º, que regulariza a prática do “pesque e solte”. No Brasil, a prática é comum entre pescadores de robalos e dourados, bem como entre beira de praia e oceanos. No país, a legislação já vinculou “pesca esportiva” à prática de pesque-e-solte.

Na imagem ao lado mostra o pescador que quebrou o recorde, pescando o maior robalo-flecha, no Rio Itanhaém, com 27,8 quilos e 1,33 metros de comprimento. Foi o maior robalo homologado pela International Game Fish Association.

A soltura de peixes imediatamente após a captura é usual na pesca esportiva ou amadora. Não se sabe quando a atividade teve início. Alguns autores ressaltam que, o pesque-e-solte já vinha sendo proposto desde 1970, mas sua efetiva utilização na América no Norte, como medida de conservação somente começou a ser considerada a partir do final da década de 40 e início da década de 50. Avalia-se a liberação do peixe como sendo uma atitude nobre, de fundo conservacionista.

             Foram realizadas pesquisas identificando as provas de bem-estar dos peixes, logo após a sua soltura, como também o estudo de procedimentos preventivos à sua mortalidade ou estresse, e na inovação quanto à discussão de aspectos éticos dessa atividade esportiva.

Muitos pescadores ignoram os impactos do pesque e solte, avaliando que o dano maior pode ser a asfixia do peixe. No entanto existem outras variáveis, tanto biológica quanto ética, que devem ser consideradas:

1)    Barotrauma: com a captura do peixe, seja com anzol, rede ou armadilha, não passa inerte no bicho, pode ocorrer expulsão de ovócitos e danos na bexiga natatória.

2)    Tipo de isca: pesquisas indicam que a utilização de iscas vivas pode causar a morte dos peixes soltos após a captura.

3)    Efeito anzol: a soltura imediata dos peixes não diminui os danos. Nos casos em que o anzol permanecia no animal após a soltura, além do alto nível de níquel e aço.

4)    Condições da água na soltura: muitos acreditam que o animal sob estresse requererá disponibilização adicional de oxigênio. Em contrapartida, a introdução de oxigenação na água é ineficaz, pois podem causar outros distúrbios.

O tempo de manuseio não tem tantas consequências negativas quanto ao estresse térmico do retorno a água. Pesquisas feitas com o tubarão-limão, notaram a alteração nos níveis de lactato e potássio no sague, recomenda-se que não faça a captura desses tubarões juvenis em épocas e locais com água quente.

5)    Protocolo de liberação do peixe: A liberação dos peixes individualmente levava o não interesse em procurar alimentos e consequentemente a redução da ingestão. Já os peixes que foram liberados em grupo, fazia com que sua atividade alimentar aumentasse, porém os animais ficavam angustiados por tal prática.



A grande questão é: os peixes sentem medo? Os peixes têm sentimentos? Os peixes são seres inteligentes?

            Uma pesquisa realizada pela Universidade britânica de Edimburgo, St. Andrews e Leeds disseram que houve uma grande mudança na forma como interpretamos os peixes. O comportamento desses indivíduos vai além do seu próprio instinto de sobrevivência. Para os pesquisadores, os peixes são maquiavélicos e manipuladores. São inteligentes ao ponto de buscar estratégias de manipulação, punição e reconciliação, exibindo tradições culturais e estáveis cooperando entre si para inspecionar predadores e buscar alimentos. Além da utilização de ferramentas, para a construção de ninhos complexos revelando memórias de longo prazo. Sendo capaz de reconhecer os colegas de cardume e individualmente, reconhecendo, inclusive, prestígio social.

            Neste vídeo veremos como o peixe pode interagir além dos seres de sua mesma espécie:


Eu como futura conservacionista e educadora ambiental acredito que apesar das investigações ainda estarem a luz da caminhada, os pesquisadores estão realizando um trabalho de grande valia. Cada vez mais as pessoas estão cientes das condições éticas dos animais, no entanto a sociedade precisa de informações corretas, e órgãos gestores que consigam administrar as leis impostas. É preciso que o animais humano se conscientize dos impactos negativos que são trazidos aos peixes com uma arcaica e impiedosa prática esportiva.

            Acredito que não exista alternativas para a pesca esportiva, já que pudemos conhecer através do texto que não existe “pesca sustentável”, além do mais os cientistas estão comprovando cada vez mais o estresse que o animal sofre e as complicações biológicas. Grande parte dos pescadores que estão frequentemente pescando, justificam pelo fato de estarem mais perto da natureza, uma opção é a prática de mergulho em rios e no mar, assim o pescador estará em contanto com a natureza e bem próximo dos peixes, e o melhor, é que a pessoa poderá ver os cardumes em seu habitat natural.


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética e Bem-estar Animal e baseado nas seguintes obras:

Chaves, P. T. & Freire, K. M. F. (2012). A pesca esportiva e o pesque-e-solte: pesquisas recentes e recomendações para estudos no Brasil. Bioikos, 26(1), 29-34.

Gorgatti, E. C. A. S. (2007). Pesca esportiva: crueldade consentida e a glamourização do Lazer na Terra da Gente. Dissertação de Mestrado. Centro Universitário de Araraquara.

Pedrazzani, A.S.; Fernandes-de-Castilho, M.; Corneiro, P.C.F.; Molento, C. F. M.(2007). Bem-estar de peixes e a questão da senciência. Archives of veterinary Science, v 11, n. 3.p.60-70.

Queropescar.com.br. Notícias- Pescados de Itanhém quebra recorde ao fisgar robalo gigante. Disponível em: http://querpescar.com.br/pescador-de-itanhaem-quebra-recorde-ao-fisgar-robalo-gigante.php. Acesso em: 30 de maio de 2017.

bbc.com. Os peixes são “maquiavélicos” dizem cientistas. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/ciencia/story/2003/09/030901_peixinhog.shtml. Acesso em 30 de maio de 2017.

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