Série Ensaios: Ética no
Uso de Animais e Bem-esta-animal
Por
Isabella Glock Vieira
Bióloga e discente do
Curso de Especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental
Em Fernando de Noronha, uma mulher queria tirar uma selfie com um filhote de tubarão e acabou sendo mordida pelo
animal. A princípio esta pessoa só queria tirar o animal de fora da água e
tirar uma foto, mas no vídeo podemos perceber o quanto o animal ficou
estressado por este ato insensato.
As preocupações ambientais em relação ao
planeta tornam-se cada vez mais constantes, no sentido de aproximar o homem com
as degradações ambientais que vem crescendo dia-a-dia. Em 1978, o Brasil
integra a “Declaração Universal dos Direitos dos
Animais”, firmada em
Bruxelas durante a assembleia da UNESCO. Nessa declaração foi conferido a todos
os bichos direito a vida, à existência, ao respeito, à cura, e a proteção do
homem, desprezando também todo e qualquer tipo de maus tratos nos animais e
propiciando o direito do animal de ser legalmente representando como Sujeito de Direito.
A pesar do peixe pertencer a fauna brasileira,
lamentavelmente não foi encontrada nenhuma projeção, somente a regulamentação
da prática da pesca amadora, por meio da legislação já vincula da Portaria do IBAMA nº4, de 10 de março de
2009, Art.2º, que
regulariza a prática do “pesque e solte”. No Brasil, a prática é comum entre
pescadores de robalos e dourados, bem como entre beira de praia e oceanos. No
país, a legislação já vinculou “pesca esportiva” à prática de pesque-e-solte.
Na imagem ao lado mostra o pescador que
quebrou o recorde, pescando o maior robalo-flecha, no Rio Itanhaém, com 27,8
quilos e 1,33 metros de comprimento. Foi o maior robalo homologado pela
International Game Fish Association.
A soltura de peixes imediatamente após a
captura é usual na pesca esportiva ou amadora. Não se sabe quando a
atividade teve início. Alguns autores ressaltam que, o pesque-e-solte já vinha
sendo proposto desde 1970, mas sua efetiva utilização na América no Norte, como
medida de conservação somente começou a ser considerada a partir do final da
década de 40 e início da década de 50. Avalia-se a liberação do peixe como
sendo uma atitude nobre, de fundo conservacionista.
Foram realizadas pesquisas identificando as
provas de bem-estar dos peixes, logo após a sua soltura, como também o
estudo de procedimentos preventivos à sua mortalidade ou estresse, e na
inovação quanto à discussão de aspectos éticos dessa atividade esportiva.
Muitos pescadores ignoram os impactos do
pesque e solte, avaliando que o dano maior pode ser a asfixia do peixe. No
entanto existem outras variáveis, tanto biológica quanto ética, que devem ser
consideradas:
1)
Barotrauma: com a captura do peixe, seja com anzol,
rede ou armadilha, não passa inerte no bicho, pode ocorrer expulsão de ovócitos
e danos na bexiga natatória.
2)
Tipo de isca: pesquisas indicam que a utilização de
iscas vivas pode causar a morte dos peixes soltos após a captura.
3)
Efeito anzol: a soltura imediata dos peixes não
diminui os danos. Nos casos em que o anzol permanecia no animal após a soltura,
além do alto nível de níquel e aço.
4)
Condições da água na soltura: muitos acreditam que o animal sob
estresse requererá disponibilização adicional de oxigênio. Em contrapartida, a
introdução de oxigenação na água é ineficaz, pois podem causar outros
distúrbios.
O tempo
de manuseio não tem tantas consequências negativas quanto ao estresse térmico
do retorno a água. Pesquisas feitas com o tubarão-limão, notaram a alteração
nos níveis de lactato e potássio no sague, recomenda-se que não faça a captura
desses tubarões juvenis em épocas e locais com água quente.
5)
Protocolo de liberação do peixe: A liberação dos peixes individualmente
levava o não interesse em procurar alimentos e consequentemente a redução da
ingestão. Já os peixes que foram liberados em grupo, fazia com que sua
atividade alimentar aumentasse, porém os animais ficavam angustiados por tal
prática.
A
grande questão é: os peixes sentem medo? Os peixes têm sentimentos? Os peixes são seres inteligentes?
Uma pesquisa realizada pela
Universidade britânica de Edimburgo, St. Andrews e Leeds disseram que houve uma grande
mudança na forma como interpretamos os peixes. O comportamento desses
indivíduos vai além do seu próprio instinto de sobrevivência. Para os
pesquisadores, os peixes são maquiavélicos e manipuladores. São inteligentes ao
ponto de buscar estratégias de manipulação, punição e reconciliação, exibindo
tradições culturais e estáveis cooperando entre si para inspecionar predadores
e buscar alimentos. Além da utilização de ferramentas, para a construção de
ninhos complexos revelando memórias de longo prazo. Sendo capaz de reconhecer
os colegas de cardume e individualmente, reconhecendo, inclusive, prestígio
social.
Neste vídeo veremos como o peixe
pode interagir além dos seres de sua mesma espécie:
Eu como futura conservacionista e
educadora ambiental acredito que apesar das investigações ainda estarem a luz
da caminhada, os pesquisadores estão realizando um trabalho de grande valia.
Cada vez mais as pessoas estão cientes das condições éticas dos animais, no
entanto a sociedade precisa de informações corretas, e órgãos gestores que
consigam administrar as leis impostas. É preciso que o animais humano se
conscientize dos impactos negativos que são trazidos aos peixes com uma arcaica
e impiedosa prática esportiva.
Acredito que não exista alternativas
para a pesca esportiva, já que pudemos conhecer através do texto que não existe
“pesca sustentável”, além do mais os cientistas estão comprovando cada vez mais
o estresse que o animal sofre e as complicações biológicas. Grande parte dos
pescadores que estão frequentemente pescando, justificam pelo fato de estarem
mais perto da natureza, uma opção é a prática de mergulho em rios e no mar,
assim o pescador estará em contanto com a natureza e bem próximo dos peixes, e
o melhor, é que a pessoa poderá ver os cardumes em seu habitat natural.
O
presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética e Bem-estar Animal
e baseado nas seguintes obras:
Chaves, P. T. & Freire, K. M. F.
(2012). A pesca esportiva e o
pesque-e-solte: pesquisas recentes e recomendações para estudos no Brasil.
Bioikos, 26(1), 29-34.
Gorgatti, E. C. A. S. (2007). Pesca
esportiva: crueldade consentida e a glamourização do Lazer na Terra da Gente. Dissertação de Mestrado. Centro
Universitário de Araraquara.
Pedrazzani, A.S.; Fernandes-de-Castilho,
M.; Corneiro, P.C.F.; Molento, C. F. M.(2007). Bem-estar de peixes e a questão da senciência. Archives of veterinary Science, v 11, n. 3.p.60-70.
Queropescar.com.br. Notícias- Pescados
de Itanhém quebra recorde ao fisgar robalo gigante. Disponível em: http://querpescar.com.br/pescador-de-itanhaem-quebra-recorde-ao-fisgar-robalo-gigante.php.
Acesso em: 30 de maio de 2017.
bbc.com. Os peixes são “maquiavélicos”
dizem cientistas. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/ciencia/story/2003/09/030901_peixinhog.shtml.
Acesso em 30 de maio de 2017.
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