segunda-feira, 5 de junho de 2017

Diretrizes da autoagressão em sociedades humanas e não-humanas: Caso: Baleia Azul e suicídio animal.


Série Ensaios: Sociobiologia

 Por Aline de Oliveira da Rosa, Gabriela Gelinski Feola, Katia Cristina Kuczuvei, Raissa Visentin Rosa e Sara Soares Tozoni.

Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas


 O Jogo "Baleia Azul" supostamente surgiu em meados 2013 na Rússia, porém apenas em 2015 relatou-se a primeira fatalidade em sua decorrência, e, segundo o jornal TN Online, subiu rapidamente para mais de 130 casos de suicídio entre final de 2015 e o início de 2016. Em 2017 o assunto propagou-se pelo mundo todo, e popularizando-se, afetando principalmente adolescentes.

A “Baleia Azul” trata-se de um jogo de desafios onde um "curador" convida um jogador a participar e o envia mensagens diárias induzindo-o a cumprir 50 desafios, dentre eles assistir filmes de terror, ficar doente, mentir, ficar isolado e até mesmo automutilação. Para provar que está concluindo os desafios, o jogador deve fornecer fotos e vídeos da realização do desafio e caso a tarefa não seja cumprida ou o jogador tente sair do jogo, o curador o ameaça dizendo que enviaria seus dados para a "baleia", um suposto líder do jogo que poderá até encontrá-lo e matá-lo. Quando chega a quinquagésima tarefa, o curador desafia o jogador a tirar sua própria vida.  Diversos locais têm demonstrado repúdio ao jogo e no Brasil foram criadas iniciativas como a ‘Baleia Rosa’ e a ‘Capivara Amarela’, buscando valorizar a vida através de desafios pacíficos e de incentivos a boas ações no mundo.

Neste contexto, é importante ressaltar que o suicídio humano tem grande índice de incidência em mulheres e adolescentes e que muitas vezes seus sinais são ignorados pelos companheiros ao redor e hoje é retratado por filmes, novelas e seriados. Essa informação está solta, não seria legal colocar com novos estudos que mostram estatísticas de suicídio no Brasil e no mundo?

Um dos causadores da indução ao suicídio em humanos é o rancor, insatisfação interna e o ódio, acarretando a agressividade, que por sua vez é a tendência de responder a estímulos de forma violenta. A Agressividade é um comportamento biológico que está relacionado à sexualidade (como em casos de disputa pela fêmea) e com defesa de território. Na psicologia, a agressividade é tratada como uma reação ou impulso e, muitas vezes, ocorre devido à frustração. Tal comportamento pode se manifestar em diferentes intensidades e reações, podendo se manifestar diversas formas, dentre elas: direta (violenta) ou indireta (como forma de sabotagem ou vingança). A agressividade pode ser acarretada por dependência tóxica (drogas, remédios, álcool e afins), por mudanças hormonais e de humor, por neuroses e transtornos como depressão, assim como influências do meio externo e predisposição genética.

De certa forma a agressividade apresenta importância na formação de sociedades de animais gregários no que diz respeito a hierarquia e funcionamento social.

          
      Nos humanos, estímulos biológicos similares aos demais animais (produzidos na região do hipotálamo) também são induzidos, contudo o nosso comportamento baseia-se também na conduta cultural e moral. Como citado por Monteiro (2009), diversos tipos de agressão podem ser gerados, afetando o outro ou a si mesmo, como é o caso da autoagressão e agressão inibida.

A autoagressão é definida pela intenção de fazer mal a sí próprio, demonstrado pelo suicídio. Já a agressão inibida é quando a agressão não se dirige ao outro e se manifesta em si, demonstrado pelo rancor. Apesar do repúdio que a agressividade causa, tal é de extrema importância para adaptações e sobrevivência do organismo. “Sustentação da vida pela oposição que oferecem à agressividade e autodestrutividade primária postulada por Freud” (BOCCA, 2012). Entretanto, tais atitudes são características humanas também compartilhadas por demais animais? A grande questão é que, na verdade, em comportamento de animais não-humanos a agressividade se dá por resposta ao instinto.

O potencial biológico agressivo existe nos humanos, mas com a evolução e a mudança de habitat do homem fez com que esse potencial sofresse alterações. Para níveis de comparação, em um confronto entre lobos, o perdedor oferece seu pescoço ao vencedor, fazendo com que com apenas este gesto, ocorram reações fisiológicas que são suficientes para conter a ira do vencedor, assim como gestos de medo e submissão são capazes de provocar este mesmo efeito, diferentemente dos humanos, onde notam-se a perca dessa capacidade, já que como sabemos, em uma briga são capazes de matar sem se abalar com a suplica do perdedor (GUIMARÃES et al., 2010).

Animais que apresentem comportamentos agressivos ou autodestrutivos, geralmente são alvo de grande estresse, tais como aqueles que vivem em circos e são forçados a praticar comportamentos não naturais a si. Também ocorre com animais de companhia, que são deixados presos e recebem pouca atenção: em alguns casos ficam se mordendo ou roendo o próprio pêlo, realizando movimentos repetitivos e machucando seus filhotes ou companheiros.

No mundo animal não existe consenso sobre o suicídio; alguns acreditam que são, na verdade, estratégias de sobrevivência para perpetuação da espécie e de cuidados com o grupo, como por exemplo quando pulgões vão ser predados, ativam um mecanismo interno e “se explodem”, tendo a chance de matar também seus predadores. Entretanto algumas pessoas acreditam que há aqueles animais que provoquem situações que causem sua morte de forma voluntária, como teoricamente pode ocorrer em cachorros. É importante ressaltar que algumas situações ocorrem como acidentes, não intencionalmente, como é o caso com baleias encalhadas.

Apesar da conduta etológica do suicídio, como ocorre em casos de predação ou para salvar o bando, tal comportamento, em animais humanos, se constrói também pela influência do meio (em questões financeiras e climáticas) e da sociedade (como aceitação ou rejeição do grupo e grande carga de cobrança, gerando estresse). Neste sentido faz-se necessário o entendimento de sinais não verbais demonstrados pelos afetados e o acompanhamento psicológico e empático de demais pessoas ao redor. Neste sentido faz-se necessário cuidados psíquicos e com o bem-estar dos animais, assim como manutenção e conservação do ambiente, para que situações como estresse e depressão não os afete, muito menos em casos extremos, que podem causar o desejo do suicídio.

Nós, como futuras biólogas, percebemos a necessidade de um entendimento mais afundo das causas de tais comportamentos para possibilitar ajuda a tais animais, empregando a necessidade de ambiente tranquilo e ideal para o animal, sendo necessário mais estudos na área.


 
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia tendo como base as obras:
BOCCA, F. V. et al.; “Do que depende a vida em sociedade?”  Trans/Form/Ação 35 (3):113-132. Disponível em , acessado no dia 24.05.2017
GUIMARÃES, F. S. ; ZANGROSSI JR, H. ; DEL-BEN, C. M. ; Graeff, F. G. . Serotonin in panic and anxiety disorders. In: MULLER CP; JACOBS BL. (Org.). The Behavioural Neurobiology of Serotonin. 1ed.New York: Academic Press, 2010, v. , p. 667-685.
MONTEIRO, M.M. et al.; (2009) “Ser Humano” – Segunda parte – Psicologia B, Editora Porto.

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