Infidelidade: uma estratégia de sobrevivência ou prática pecaminosa?


Série Ensaios: Sociobiologia

George Willian e Sheron Cogo

Acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas

 



Quando a questão é infidelidade, é quase impossível não nos depararmos com o limite entre o amor e o ódio. Sempre que casos de infidelidade acontecem, quero dizer, quando eles são descobertos e expostos a prova, o relacionamento é geralmente “sabatinado”, ou pela família, ou pelos amigos, vizinhos ou até mesmo por aqueles que só ouviram falar. A questão é, querendo ou não, sempre existe o traidor e sempre há a vítima. Nos últimos anos, um caso de infidelidade que se tornou bastante polêmico foi o possível romance envolvendo os atores Cauã Reymond e Isis Valverde durante as gravações da minissérie da Globo “Amores Roubados” em 2014, enquanto o ator Cauã ainda era casado com a atriz Grazi Massafera. Como a infidelidade não possui nacionalidade e nem precisa de passaporte, outro caso de grande repercussão foi entre o ator Robert Pattison e Kristen Stewart, que teria tido um caso com Rupert Sanders, diretor do filme “Branca de Neve e o Caçador” encenado pela atriz enquanto ainda estava em um relacionamento público com o Sr. Pattison. É interessante ainda comparar esses dois casos a medida em que no primeiro a traída foi uma mulher e no segundo um homem. Apesar disso, Isis foi muito mais julgada por ter se envolvido com Cauã do que o próprio Cauã por ter traído Grazi; o que não aconteceu no caso entre Kristen e Sanders, em que apenas Kristen foi alvo de polêmicos julgamentos pela infidelidade e Sanders pouco foi mencionado no escândalo. Considerando os dois casos mencionados, podemos perceber que existe um preconceito maior da sociedade em relação à traição da mulher do que por parte do homem.

Mas será que a infidelidade não faz parte de uma estratégia de sobrevivência? E a maior aceitação da traição masculina não está relacionada a isso?

O Comportamento social é a interação entre indivíduos da mesma espécie em suas diversas formas (Sampaio & Andery, 2009). Para que uma estrutura social se mantenha é necessária a existência de “regras”, que caracterizam a organização comportamental de uma população.  Essas organizações sociais surgiram como uma das estratégias de sobrevivência de algumas espécies que necessitavam de maior proteção e eficiência na realização de certas atividades, entre outras vantagens. Juntamente ao estabelecimento dessas organizações comportamentais, surgiram os padrões de comportamento reprodutivo de cada população.           De forma geral existem duas estratégias reprodutivas, a poligamia, em que há cópula com vários parceiros reprodutivos, e a monogamia, em que há formação de casais, temporários ou não, que só copulam entre si (Alcock, 2011).

Os casos de infidelidade nos humanos, assim como em animais, são devido a características evolucionistas e com bases genéticas, como demonstrado em vários estudos, onde, a adaptação para a sobrevivência da espécie se sobrepõe às relações entre casais, garantindo uma prole mais eficiente e com genes mais fortes. No caso da fêmea, se ela tiver filhotes com parceiros diferentes, isso promove o aumento da variabilidade genética da prole, o que é evolutivamente mais vantajoso para a espécie. Além disso, existem espécies monogâmicas em que a fêmea copula com diferentes machos como forma de proteção a seus filhotes, assim diferentes machos acreditarão que podem ser os progenitores dos filhotes e, portanto, não o matarão. Já no caso dos machos, quanto maior a quantidade de fêmeas com quem copulem, maior as chances de garantir que seus genes sejam passados adiante, assegurando também a perpetuação da espécie.

Existem ainda fatores genéticos relacionados a traição. Um estudo do Instituto Karolinska de Estocolmo afirma que um dos culpados pela infidelidade dos homens é um gene, o alelo 334, responsável pelo receptor da arginina-vasopressina (AVP), um hormônio que está presente no cérebro da maior parte dos mamíferos,produzido, por exemplo, através dos orgasmos (Walum et al., 2008). A testosterona, produzida 20 a 30 vezes mais em homens que mulheres, também pode estar por trás disso, sendo que a menor produção desse hormônio por mulheres pode estar relacionada a fidelidade. Entre os animais existem alguns relatos de espécies como pássaros, que criam seus filhotes e estabelecem uma longa relação, podendo eventualmente “trair” seu parceiro, mas sempre retornam aos seus ninhos e parceiros. É provável que os humanos possuam essa mesma tendência biológica.

O fato é, que quando a infidelidade é a questão, de um modo geral homens e mulheres reagem de maneiras bem diferentes. Os homens aparentam se incomodar mais com a infidelidade sexual por parte de suas parceiras, por outro lado, as mulheres aparentam se incomodar mais com a infidelidade emocional por parte de seus parceiros. Se considerarmos a famosa frase de Dobzhansky (1967) de que “nada na biologia faz sentido exceto à luz da evolução”, podemos inferir que, sob uma visão biológica evolutiva, a infidelidade sexual para os homens (machos) seria mais incômoda porque isso traria dúvidas em relação aos filhos (filhotes), em saber se os filhos são seus ou não, o que faria ele investir tempo e energia para a criação de filhos que podem não ser seus. Em relação as mulheres (fêmeas), a traição emocional seria mais incômoda por achar que os homens (machos) estariam investindo tempo e recursos na procura de outras fêmeas e no estabelecimento de uma nova família.

Desta maneira, podemos perceber que a infidelidade extrapola as premissas sociais, do certo e do errado ou daquilo que é pecaminoso. A infidelidade, dentro de um contexto biológico evolutivo, apresenta-se como uma estratégia reprodutiva, onde as escolhas dos pares sexuais são determinadas pela escolha de características genéticas, daquelas que mais se adequam a determinadas exigências do ambiente e que possam ser de particular interesse para a prole.

Assim, nós como futuros biólogos acreditamos que fazemos parte de uma cultura que impõe a monogamia e julga a infidelidade como algo imoral, antiético e pecaminoso, principalmente quando se trata do sexo feminino. No entanto, entendemos que a infidelidade é um padrão comportamental biologicamente natural, que dita comportamentos que levarão ao melhoramento da espécie e não na modulação da “sociedade perfeita” em detrimento de valores moralmente estabelecidos.

 

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia tendo como base as obras:

ttps://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=klBCDQAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR1&dq=ALCOCK,+J.+2011).+Comportamento+animal:+uma+abordagem+evolutiva.+Porto+Alegre,+Artmed+Editora,+XVII%2B+606p%5C&ots=WD3aY_ctJE&sig=2b-HQOQeiIgCY1pLJs6k6UOMmow#v=onepage&q&f=false
http://ki.se/en/news/link-between-gene-variant-and-relationship-difficulties
ttp://veja.abril.com.br/entretenimento/amores-roubados-o-bbb-de-grazi-caua-e-isis/
ttp://planejamentoemrrpp.blogspot.com.br/2008/05/estratgias-de-sobrvivncia-manuteno.html
http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=13620
p://www.dicasfree.com/tipos-de-comportamentos-sociais/
ttps://www.dicio.com.br/regra/
https/www.significados.com.br/poligamia/
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/evolucionismo.htm
ttp://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/bioselecaonatural2.php
ttp://ki.se/en/startpage
ttp://z.clicrbs.com.br/rs/noticia/2008/09/estudo-diz-que-gene-e-um-dos-responsaveis-por-infidelidade-masculina-2157761.html
tps://pt.wikipedia.org/wiki/Testosterona
ttp://www.purepeople.com.br/noticia/isis-valverde-sobre-reconciliacao-de-caua-reymond-e-grazi-torci-muito_a20294/1
http://detetiveararaquara.com.br/2017/02/17/sobre-a-infidelidade/
http://www.obeabadosertao.com.br/v3/robert_pattinson_esta_decepcionado_com_a_traicao_de_kristen_stewart__6541.html