Série Ensaios: Sociobiologia
Por Beatriz Raymann,
Fernanda Schneider, Gustavo e Maria Clara Nunes
Acadêmicos do Curso de
Biologia
Desde algum tempo, a sociedade vem discutindo
assuntos de extrema importância para a saúde da mulher, um desses exemplos é a liberação do aborto que agora entrou em vigor pelo STF, no qual o
Supremo tribunal Federal constou que
abortar até o 3 mês de gravidez não será mais considerado crime, e a autoria
dessa lei tem o objetivo de proteger
a saúde da mulher brasileira, para que
casos como mortes em clínicas clandestinas não ocorram. Um caso brasileiro recente de aborto ocorreu
no Rio de Janeiro, foi de uma paciente do Hospital
Municipal Fernando Magalhães, em São Cristóvão, na zona norte da
cidade, em maio de 2014. A paciente chegou à maternidade com 12 semanas de
gestação, apresentando o comprovante do diagnóstico de anencefalia, contando com
três exames de ultrassonografia obstétrica, declarando a má-formação do feto.
Mesmo assim, após 4 dias internada e com o diagnóstico de anencefalia do feto
confirmado, a mulher recebeu alta e foi orientada pelos médicos a recorrer à
Justiça para conseguir a autorização para a realização do aborto. Não
autorizada, a paciente teve que esperar a gestação chegar até o final, tendo o
seu parto realizado em outubro daquele ano. O bebê morreu uma hora e meia após
nascer. “Impor à mulher o dever de carregar por nove meses um feto que sabe,
com plenitude de certeza, não sobreviverá, causa à gestante dor, angústia e
frustração, resultando em violência às vertentes da dignidade humana, liberdade
e autonomia da vontade, além de colocar em risco a saúde, tal como proclamada
pela Organização
Mundial da Saúde”, disse a desembargadora Claudia Telles.
O
tempo de gestação é uma das coisas
mais importantes para o mundo animal, pois é durante esse tempo que o feto irá
se desenvolver e ter os primeiros cuidados maternos. A gestação do ser humano,
é menor em relação a de outros primatas, com duração de apenas 9 meses. Quando
o neonato nasce possui uma
fragilidade, exigindo cuidados
parentais mais prolongados para: proteção dos predadores, ajudando no
desenvolvimento saudável e no aprendizado nas interações sociais, no qual isso
ocorre através da proximidade dos pais e filhotes, criando assim um vínculo afetivo no qual pode ser
considerado um tipo de amor. Pois quando essa aproximação ocorre bem, a criança
terá uma oportunidade de explorar o mundo de uma forma segura e confiante
(Detoni , 2004). O comportamento do cuidado parental e o consequente vínculo
afetivo surgiram com os endotérmicos, pois era necessário que as mães
aquecessem seus filhotes para que estes permanecessem em temperatura constante.
A parte do cérebro dos mamíferos responsável pela modulação desses
comportamentos afetivos mediante síntese de hormônios é o sistema límbico,
estrutura que controla, por exemplo, a memória e a reatividade de emoções
perante determinados estímulos. Essa estrutura está relacionada tanto com o
amor quanto com a agressividade maternal, de forma que, esse comportamento é fundamental
para formação de grupo e estratégia de sobrevivência, pois tem por finalidade a
preservação da prole, zelando por ela até que alcance a independência e
maturidade sexual, tendo como objetivo a geração de descendentes e perpetuação
da espécie. O cuidado materno é preponderante no cuidado com o filhote, porém,
a participação do pai nesse processo é importante para que se gaste menos
energia no cuidado com o filhote (Ades,
1998;).
O
principal hormônio responsável pelo estabelecimento desse vínculo afetivo entre
a mãe e o filhote é a ocitocina, esta que é
produzida pelo organismo em grande quantidade nos últimos dias de gravidez e
nos primeiros dias de amamentação, esse hormônio aumenta ativação do sistema
límbico na relação entre mãe e filhote, modulando assim o comportamento materno
e gerando vínculo afetivo.
Muitos acreditam que apenas os seres humanos são capazes de cometer esse ato do aborto, porém o
que não sabem é que na natureza muitas fêmeas utilizam o aborto como uma
estratégia de reprodução, principalmente quando o macho líder troca de lugar,
isso geralmente acontece por causa que a fêmea sabe que não compensa ela
utilizar energia para o filhote nascer, pois sabe que, quando nasce esse novo
líder, ele poderá matar os filhotes que não são dele. Esse fenômeno é geralmente
visto em macacos Gelada, uma espécie de babuíno. Outro fenômeno presente no reino animal, que
é observado apenas em cativeiro é o Efeito Bruce, no qual com estudos já feitos com camundongos, uma fêmea grávida realizou um
aborto após ser colocada em um ambiente com um novo macho, da mesma forma
quando colocada em um recinto com o cheiro de outro macho.
No
reino animal é comum ver fêmeas que rejeitam, matam
ou comem os filhotes. Na verdade, isso funciona mais como uma estratégia de
reprodução e controle ´populacional e para o bem da espécie, do que
propriamente por falta de vínculo afetivo. O infanticídio ou o abandono, muitas
vezes é para prezar pela sobrevivência dos mais fortes e evitar que os pais
mediante cuidados parentais desperdicem tempo e energia em proles sem potencial
de vida.
Quando comparamos essa prática do aborto
em animais juntamente com os humanos, percebemos que algumas situações são
semelhantes. O exemplo claro disso é quando uma cadela mata seus filhotes após
descobrir que algum deles possui alguma deficiência. Isso acontece da mesma
forma com os humanos, no caso acima citamos uma reportagem na qual uma mulher
descobriu que seu filho nasceria portador de uma deficiência e então ela
decidiu realizar o aborto. Podemos tirar uma conclusão de que a mãe, com o instinto
protetor e sensível de ser, possivelmente acha que não teria condições de
cuidar de um filhote com algum problema, de não querer ver esse filhote
sofrendo por conta desse problema ou até mesmo quando ocorre uma gravidez
indesejada na qual ela sabe que o macho não assumiria o filho no caso de a
ajudar em todas as necessidades que o bebê tem, financeiramente e até mesmo da
afetividade que ele precisa para se desenvolver. Dessa forma, isso se remete a
questão ética do assunto, na qual a mãe não aceita ou tem medo da situação e
prefere tirar a vida desse filhote, do que ver o mesmo sofrendo com a
deficiência ou passando necessidades na qual ela não pode suprir a energia
gasta para uma prole que não tem como se desenvolver ou sobreviver.
Nós como futuras biólogas acreditamos
que essa é uma questão a ser discutida e analisada minuciosamente para cada
tipo de situação em que cada pessoa que passa por isso se enquadra. Sabemos que
esse tema é de difícil concordância pois existem aqueles que apoiam e outros
que não concordam com a prática do aborto. É sabido que o apego da mãe pelo
filhote tem influência direta do hormônio citocina, de forma que esse
comportamento tem relação com o cuidado com a prole até que atinja idade
reprodutível e perpetuem os genes da espécie. Nos vertebrados, situações em que
ocorrem aborto, infanticídio ou rejeição ao filhote, na grande maioria das
vezes constitui um comportamento com objetivo de controle populacional ou
estratégia de reprodução, entretanto, nos seres humanos situações como essas
são mais delicadas e não seguem padrões tão instintivos, sendo regidos por
diretrizes políticas e éticas que visam preservar a vida.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de
Etologia tendo como base as obras:
Ades, C. (1998). Psicoetologia do cuidado paterno. In: M.J.R. Paranhos
da Costa e V.U. Crornberg, Comportamento
Materno em Mamíferos (Bases Teóricas e Aplicações aos Ruminantes
Domésticos), São Paulo: Sociedade Brasileira de Etologia, pp. 31-51.DE TONI, Plínio
Marco et al. Etologia humana: o exemplo do apego. Psico-USF, v. 9, n. 1, p.
99-104, 2004.
ÉPOCA. Stf decide que o aborto até o terceiro mês não é crime: o que isso
significa.Disponível em:
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Acesso em: 28 mai. 2017.
EXAME. Grávida de anencéfalo que teve aborto negado será indenizada.
Disponível em:
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Acesso em: 26 mai. 2017.
HYPESCIENCE. Éguas abortam “propositalmente” seus potros por causa dos machos.
Disponível em:
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Acesso em: 28 mai. 2017.
ÚLTIMO SEGUNDO. Clandestinas:
retratos do brasil de 1 milhão de abortos clandestinos por ano. Disponível
em:
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Acesso em: 28 mai. 2017.
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