Por Amanda Amorim Zanatta
Mestranda em Bioética - PUCPR
Fruto do relato documental do diretor
Roberto Berliner, o filme Nise - O
coração da loucura tem sua reconstituição no Centro
Psiquiátrico Pedro II no Engenho de Dentro, localizado no Rio de Janeiro na
década de 1940, é baseado na história real da psiquiatra brasileira Nise da
Silveira, representada pela atriz Glória Pires, a qual foi pioneira na
utilização de técnicas de humanização em hospitais psiquiátricos. Após a mesma
recusar-se a utilizar os tradicionais métodos desumanos de eletro convulsão e Lobotomia, ficou designada
a atender o renegado Setor de Terapia Ocupacional (STO), onde optando por
métodos alternativos como a pintura e a presença de animais, elucidou práticas
baseada na arte e no afeto sendo capaz de revolucionar os métodos de tratamentos
psiquiátricos no Brasil e no mundo.
As
práticas revolucionárias da psiquiatra abordam como principal método de
humanização a busca pelo ser biográfico de cada paciente, reconhecendo as necessidades
e peculiaridades de cada indivíduo sem julgá-los, as maiores doenças que Nise
enfrentou não foram marcadas somente pelo abandono, mais pelo preconceito, a
intolerância e o machismo. Sem dúvidas Nise foi uma mulher a frente do seu
tempo, capaz de questionar se fazer pensar sobre as práticas de poder impostas,
mas sobretudo capaz de mudar sua realidade.
As interações com animais em diferenciados
contextos, como os educacionais e hospitalares vem sendo amplamente discutida,
a crença de que o deslumbramento afetivo entre humanos e animais domésticos
podem vir a auxiliar no âmbito terapêutico tem sido atrelada à resultados positivos
no aspecto biopsicossocial dos envolvidos. Foi somente em 1996, que a organização
americana Delta Society fomentou a
melhoria na saúde e qualidade de vida humana através do auxílio dos animais,
com o intuito de dar profissionalismo e credibilidade à pratica, definiu a
utilização de animais em dois programas, sendo eles: Atividade Assistida por
Animais (AAA), a qual tem como proposta o entretenimento, recreação, distração,
dentre outros fatores como a melhora da qualidade de vida, porém não há
preocupação com a análise dos resultados obtidos através do procedimento; e a Terapia Assistida por Animais (TAA), a qual é
desenvolvida, documentada e avaliada por uma equipe multidisciplinar de
profissionais da área, se caracteriza por adotar critérios específicos
posicionando o animal como o ator principal do tratamento, objetivando promover
benefícios como melhora social, emocional, física e/ou cognitiva e auxiliando
na recuperação física e psicológica de crianças e adultos, através do amor e da
amizade resultantes da interação entre seres humanos e animais apresentando
objetivos e critérios previamente estabelecidos. Atualmente o processo de humanização nos
hospitais
tem investido em intervenções que leve divertimento para os pacientes
internados, uma vez que estas têm sido comprovadas como beneficiadoras do
sistema imunológico, menor sensação de dor e também diminuição do tempo de
internamento. Práticas como palhaços, shows, música, leitura de livros são
comuns, assim como a zooterapia. A terapia com animais tem sido amplamente
aplicada em segmentos ambulatoriais e hospitalares devido aos resultados
positivos que tem desencadeado nos envolvidos com a prática, tem-se assim o
objetivo de melhorar o processo de comunicação, a interação social e a
autoestima.
Atualmente, inúmeros relatos e notícias
vêm pontuando os benefícios que a interação com animais traz para os pacientes
envolvidos, outro fator que cada vez se torna mais recorrente é a visita de
animais de estimação, até mesmo para pacientes em cuidados paliativos, a qual
tem se mostrado como importante prática de humanização, visto que em muitas
situações, o convívio diário
com o animal fazia parte da rotina do paciente. No ano passado, entrou em
vigor a lei que dispõe
sobre a permissão da visitação de animais domésticos e de estimação nos
estabelecimento hospitalares do Paraná, a proposta determina que os
hospitais poderão criar normas e procedimentos próprios para a visitação de
animais à pacientes internados, visando a redução de estresse e o aumento do
bem-estar. Contudo, alguns hospitais alegam
que a prática é inviável devido a fatores como falta de espaço e a quebra das
barreiras de biossegurança, questiona-se se os animais não podem trazer riscos
desnecessários para os pacientes que já se encontram em situações de vulnerabilização.
A
utilização de animais na terapia e o interesse dos profissionais da saúde por
métodos terapêuticos alternativos tem sido cada vez mais recorrente no Brasil. Eu
como futura bioeticista acredito que a utilização de animais no contexto
hospitalar ainda carecem de regulamentação da prática, para constituir de fato
uma conduta de cuidado, há necessidade de adoção de protocolos previamente
estabelecidos de acordo com a realidade de cada instituição, visando mitigar os
possíveis inconvenientes da presença animal, mas cabe ressaltar que a saúde e o
bem-estar dos animais envolvidos também devem ser devidamente preservados,
dá-se aí a importância fundamental de um profissional veterinário,
capacitado para diagnosticar os
problemas de conduta animal e as demandas físicas e emocionais dos animais como
membros co-terapeutas.
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