domingo, 14 de agosto de 2016

Santuários de animais e zoológicos: eterna briga?

Por Caio Cesar
Biólogo e aluno do curso de especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental

A destruição do meio ambiente é uma das maiores preocupações dos ambientalistas a anos, tendo em vista a quantidade de espécies, tanto de fauna quanto flora, perdidas anualmente no Brasil e no mundo. É fato consumado que muitas espécies sequer chegam a ser catalogadas, pois são extintas em atividades antrópicas em busca de recursos antes mesmo de serem descritas e tal fato tem se tornado um problema cada vez maior, à medida que diariamente perdemos mais e mais áreas de mata nativa. O desmatamento é um dos maiores problemas enfrentados atualmente no Brasil, com cada vez mais hectares de mata sendo devastados a torto e a direito, o habitat de diversos animais também é perdido, animais que quase sempre dependem de habitats específicos para sua sobrevivência. Outra grande ameaça é o tráfico de animais, uma das atividades ilícitas mais lucrativas que chega a movimentar 19 bilhões de dólares anualmente no mundo, visa retirar animais de seus habitats naturais para serem comercializados como reles mercadorias para um público que, muitas vezes sequer sabe da procedência do animal.

Grande é o número de animais que necessitam de ajuda, muitos são apreendidos anualmente com a prisão de traficantes, alguns já mortos e outros bastante debilitados e estes necessitam de cuidados para conseguirem sobreviver. Outros acabam sendo vitimas de atropelamentos ou acabam adentrando em áreas residenciais para procurar alimentos, pois seu habitat fora tão devastado que não há alternativa. Embora pareça irônico, se faz necessária a intervenção do homem para que animais nessas condições possam viver novamente em paz e os santuários desempenham um papel crucial para a preservação desses animais.
No Brasil existem alguns santuários que proporcionam a animais resgatados uma segunda chance para sobreviver com dignidade, como o projeto GAP que abriga diversos animais, em sua grande maioria primatas e o Rancho dos Gnomos que abriga principalmente grandes felinos oriundos do tráfico e de circos. Muitos são levados a esses locais feridos, subnutridos, com indícios de maus tratos e necessitando de cuidados para conseguir sobreviver. Diferente dos zoológicos, os santuários não são abertos à visitação pública e acabam proporcionando uma qualidade de vida melhor, já que os animais não são utilizados como atrações ou coisas do tipo e podem viver com o mínimo contato possível com o homem (veterinários, biólogos etc.). Os santuários em sua grande maioria são oriundos da iniciativa privada e precisam de doações para manter-se em funcionamento já os zoológicos são propriedade do estado e cabe a ele propiciar a verba adequada para a manutenção, alimentação dos animais e outras despesas.
É sabido que zoológicos e santuários trocam acusações há tempos, ambos usando argumentos na tentativa de denegrir a imagem do outro, como por exemplo, a ex-presidente da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil, Dra. Yara de Melo Barros que publicou um texto intitulado “Zoos x Santuários: uma disputa sem futuro e sem utilidade” no qual expõe sua ideia de que, não importa se um animal está num zoo ou num santuário, ele está em cativeiro e não há diferença alguma, ainda diz que santuários estão fora do campo de visão dos mais minuciosos fiscais: o público. A Dra. Yara ainda acusa santuários de negligencias na alimentação dos animais: “os animais são alimentados com guloseimas variadas, que vão de feijoada a maionese, passando por marshmallow”.
Em contrapartida, há aqueles que defendem os santuários, como o biólogo Sérgio Greif que publicou um texto em resposta ao da Dra. Yara. Em seu texto, Sérgio diz que a Dra. Yara usa argumentos muito pobres ao defender os zoológicos e usa exemplos infelizes como a ararinha azul e o mutum-de-alagoas que não foram salvos por zoológicos, mas sim por organizações privadas e iniciativas ambientais. Em outro momento, Sergio ainda exalta que “santuários não são meros depósitos de animais que por estarem distantes dos olhos do público estão imunes às criticas” e que tais locais são licenciados como Mantenedores de Fauna Silvestre, Centros de Triagem de Animais Silvestres – CETAS, Centros de Reabilitação de Animais Silvestres – CRAS ou Criadouros Científico de Fauna Silvestre para Fins de Conservação. Sergio também expõe que há santuários que “visam à manutenção, procriação, reabilitação e reintrodução de animais, e há os que se preocupam em manter vivos os indivíduos por neles reconhecer um valor inerente” e que diversos santuários cumprem o papel de educadores ambientais e propagadores do respeito aos animais.
Como biólogo, devo concordar com Sérgio e acredito que os santuários são a melhor opção para animais em estado de risco qualquer e que o trabalho realizado por tais locais é deveras valioso para a fauna tanto Brasileira, quanto exótica, porém, tais santuários muitas vezes são especializados em tipos específicos de animais e tal característica deve ser levada a risca. Há também a questão da fiscalização que deve ser rigorosa tanto quanto é nos zoológicos para determinar se as condições de vida dos animais estão de acordo. Faz-se necessária uma ação em conjunto de zoológicos e santuários para que o potencial de ambos seja alcançado, mas infelizmente, enquanto zoológicos e santuários continuarem trocando acusações ao invés de trabalhar em conjunto pelo bem dos animais, continuaremos a ver casos absurdos como os cerca de 100 animais mortos no zoo de São Paulo, que depois de 11 anos beira o esquecimento e a impunidade.


Este Ensaio foi elaborado para a disciplina ética no uso de animais e bem estar animal, tendo como base as obras:


Um comentário:

  1. Gostaria q durante minha graduação tivesse tido uma professora como vc, parabéns pelo trabalho seus alunos são muito sortudos. Debora Quizi

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