Por Gustavo Garcia
Sanches
Gestor Ambiental e discente do curso de
especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental
Em julho de 2015, a morte de Cecil,
leão símbolo do Zimbábue, colocou mais uma vez o tema da caça esportiva em
evidencia nas manchetes mundo afora. Cecil era vista como uma celebridade e
considerada pelo jornal britânico The
Guardian como um dos leões mais famosos em toda a
África e a estrela do Parque Nacional de Hwange, onde morava. Ele teve sua vida
ceifada de forma brutal pelo caçador e dentista norte-americano Walter Palmer,
que pagou US$ 545 mil para tal crueldade. Para isso, o grupo de caçadores teve
que atraí-lo para fora do Parque, onde caça-lo seria permitido e o abateu com
um tiro. Como troféu, levaram a cabeça e deixaram somente a carcaça.
O ser humano, desde os primórdios de sua existência na Terra, busca maneiras de vencer as adversidades do
mundo natural e, de certa forma, dominar o meio que estão inseridos. Entretanto,
durante esse período evolutivo, a sua presença na Terra se confundia com a dos
outros animais e esse ímpeto de dominação da natureza era estritamente como
medida de sobrevivência (Pereira, 2009).
Diante
disso, pode-se afirmar que a caça era um desses mecanismos de sobrevivência para
o homem pré-histórico, juntamente com outras práticas de
dominação da vida selvagem inerentes ao ser humano, como a confecção de
artefatos, coleta de frutos, etc. No entanto, com o advento das atividades
comerciais, caçar se tornou um negócio lucrativo, com a venda de peles, chifres e outras partes dos animais. Ainda hoje, após milhões de anos de
evolução, a caça continua sendo uma atividade lucrativa, haja vista a quadrilha
do turismo de caça que ocorria dentro do Parque Nacional do Iguaçu, e de alto
impacto na fauna silvestre, tendo sido responsável pela extinção de diversas
espécies animais e vegetais, como o Rinoceronte-negro-do-oeste, Íbex-dos-Pirineus, e
diversas outras espécies.
Por outro lado, ainda existem grupos humanos
que dependem da caça para subsistência, como comunidades ribeirinhas, índios, povos
da floresta e essa modalidade de caça é altamente aceitável sob o ponto de
vista ético, pois se trata de uma questão de sobrevivência e não lazer e
diversão.
Atualmente,
mais do que em qualquer outra era, o planeta passa por uma crise global de paradigmas e valores, onde o ser humano se encontra
como único e principal causador disso, tratando as outras espécies não humanas
como inferiores e sem conexão nenhuma com a nossa espécie “superior”. Essa
falta de conectividade do homem com o meio-ambiente fez com que cada vez mais
os seres humanos buscassem maneiras de rebaixar as outras vidas e ignorar a
responsabilidade que temos com a natureza. Ademais, do ponto de vista jurídico, os animais não são considerados por sua natureza intrínseca, por sua
consciência de estar no mundo e querer estar no mundo, mas sim em função de um
interesse humano subjacente.
A caça esportiva, nesse sentido, vai ao encontro desse tipo de tratamento aos animais, onde quando existe alguma forma de proteção é com algum interesse humano envolvido por trás. Tardiamente, o Brasil passou a dar os primeiros passos para romper com a ideia da não dignidade inerente a outros animais quando em uma ação civil pública um juiz do Rio Grande do Sul proibiu a caça amadorista no estado. Em sua sentença, o magistrado Cândido Alfredo Silva Leal Júnior considerou a caça amadorista e recreativa sem finalidade social relevante e não condizer com a dignidade humana e com a construção de uma sociedade onde o homem vem se reconhecendo como integrante da natureza.
A dignidade animal está tomando fôlego e
aparentemente ganhando destaque nas políticas publicas, como o caso da França
que alterou o Código Civil recentemente e passou a reconhecer os
animais como seres sencientes. Essa mudança de valores e comportamentos pelos
seres humanos está mudando e um olhar menos antropocêntrico se faz cada vez
mais necessário para a convivência com as outras espécies e até mesmo com a
nossa própria.
Eu, como Gestor Ambiental, futuro
especialista em Conservação da Natureza e Educação Ambiental e amante da
natureza acredito que a caça esportiva é uma atividade degradadora, cruel,
covarde e precisa parar. Uma ótima alternativa atualmente é a observação da
vida selvagem e fotografia da natureza, pois assim você ainda pode ser um
caçador, mas de belas imagens.
O presente ensaio foi elaborado para a
disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal, tendo como base as
obras:
Levai,
L.F. Os animais sob a visão da ética. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/os__animais__sob__a__visao__da__etica.pdf.
Acesso em: 05/08/2016
Naconecy,
C.M. 2006. Ética & animais: um guia de argumentação filosófica. EDIPUCRS.
Porto Alegre
Pereira,
R.S. A dignidade da vida dos animais não-humanos: uma fuga do antropocentrismo
jurídico. Disponível em: http://www.ecoagencia.com.br/documentos/dignidadeanimais.PDF.
Acesso em: 07/08/2016.
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