domingo, 14 de agosto de 2016

A Caça como um Instrumento de Devastação


Por Gustavo Garcia Sanches

Gestor Ambiental e discente do curso de especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental



Em julho de 2015, a morte de Cecil, leão símbolo do Zimbábue, colocou mais uma vez o tema da caça esportiva em evidencia nas manchetes mundo afora. Cecil era vista como uma celebridade e considerada pelo jornal britânico The Guardian como um dos leões mais famosos em toda a África e a estrela do Parque Nacional de Hwange, onde morava. Ele teve sua vida ceifada de forma brutal pelo caçador e dentista norte-americano Walter Palmer, que pagou US$ 545 mil para tal crueldade. Para isso, o grupo de caçadores teve que atraí-lo para fora do Parque, onde caça-lo seria permitido e o abateu com um tiro. Como troféu, levaram a cabeça e deixaram somente a carcaça.




            O ser humano, desde os primórdios de sua existência na Terra, busca maneiras de vencer as adversidades do mundo natural e, de certa forma, dominar o meio que estão inseridos. Entretanto, durante esse período evolutivo, a sua presença na Terra se confundia com a dos outros animais e esse ímpeto de dominação da natureza era estritamente como medida de sobrevivência (Pereira, 2009).

            Diante disso, pode-se afirmar que a caça era um desses mecanismos de sobrevivência para o homem pré-histórico, juntamente com outras práticas de dominação da vida selvagem inerentes ao ser humano, como a confecção de artefatos, coleta de frutos, etc. No entanto, com o advento das atividades comerciais, caçar se tornou um negócio lucrativo, com a venda de peles, chifres e outras partes dos animais. Ainda hoje, após milhões de anos de evolução, a caça continua sendo uma atividade lucrativa, haja vista a quadrilha do turismo de caça que ocorria dentro do Parque Nacional do Iguaçu, e de alto impacto na fauna silvestre, tendo sido responsável pela extinção de diversas espécies animais e vegetais, como o Rinoceronte-negro-do-oeste, Íbex-dos-Pirineus, e diversas outras espécies.

Por outro lado, ainda existem grupos humanos que dependem da caça para subsistência, como comunidades ribeirinhas, índios, povos da floresta e essa modalidade de caça é altamente aceitável sob o ponto de vista ético, pois se trata de uma questão de sobrevivência e não lazer e diversão.

            Atualmente, mais do que em qualquer outra era, o planeta passa por uma crise global de paradigmas e valores, onde o ser humano se encontra como único e principal causador disso, tratando as outras espécies não humanas como inferiores e sem conexão nenhuma com a nossa espécie “superior”. Essa falta de conectividade do homem com o meio-ambiente fez com que cada vez mais os seres humanos buscassem maneiras de rebaixar as outras vidas e ignorar a responsabilidade que temos com a natureza. Ademais, do ponto de vista jurídico, os animais não são considerados por sua natureza intrínseca, por sua consciência de estar no mundo e querer estar no mundo, mas sim em função de um interesse humano subjacente.

         
   A caça esportiva, nesse sentido, vai ao encontro desse tipo de tratamento aos animais, onde quando existe alguma forma de proteção é com algum interesse humano envolvido por trás. Tardiamente, o Brasil passou a dar os primeiros passos para romper com a ideia da não dignidade inerente a outros animais quando em uma ação civil pública um juiz do Rio Grande do Sul proibiu a caça amadorista no estado. Em sua sentença, o magistrado Cândido Alfredo Silva Leal Júnior considerou a caça amadorista e recreativa sem finalidade social relevante e não condizer com a dignidade humana e com a construção de uma sociedade onde o homem vem se reconhecendo como integrante da natureza. 

A dignidade animal está tomando fôlego e aparentemente ganhando destaque nas políticas publicas, como o caso da França que alterou o Código Civil recentemente e passou a reconhecer os animais como seres sencientes. Essa mudança de valores e comportamentos pelos seres humanos está mudando e um olhar menos antropocêntrico se faz cada vez mais necessário para a convivência com as outras espécies e até mesmo com a nossa própria.

Eu, como Gestor Ambiental, futuro especialista em Conservação da Natureza e Educação Ambiental e amante da natureza acredito que a caça esportiva é uma atividade degradadora, cruel, covarde e precisa parar. Uma ótima alternativa atualmente é a observação da vida selvagem e fotografia da natureza, pois assim você ainda pode ser um caçador, mas de belas imagens.




O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal, tendo como base as obras:



Levai, L.F. Os animais sob a visão da ética. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/os__animais__sob__a__visao__da__etica.pdf. Acesso em: 05/08/2016



Naconecy, C.M. 2006. Ética & animais: um guia de argumentação filosófica. EDIPUCRS. Porto Alegre



Pereira, R.S. A dignidade da vida dos animais não-humanos: uma fuga do antropocentrismo jurídico. Disponível em: http://www.ecoagencia.com.br/documentos/dignidadeanimais.PDF. Acesso em: 07/08/2016.

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