Por Thayana Correia
Discente do curso de especialização em
Conservação da Natureza e Educação Ambiental
Os holofotes estão
voltados para o Brasil nos últimos dias, o maior evento esportivo do mundo está
ocorrendo aqui, mais precisamente no Rio de Janeiro. A abertura das Olimpíadas
surpreendeu a todos com sua exuberância e suas mensagens, sendo enfatizado a
grande biodiversidade presente no nosso país e a necessidade de se preocupar
com as causas ambientais. Um belo espetáculo e um belo discurso, porém, na
prática o país enfrenta vários problemas ambientais e essa
biodiversidade tão ilustrada no show de abertura corre grandes riscos de desaparecer. (veja a matéria dos animais selvagens que rondam o parque olímpico)
Uma das principais ferramentas de sensibilização para as
questões referentes ao meio ambiente é a Educação Ambiental. Regulamentada pela
Lei 9.795 de 27 de
abril de 1999
e o Decreto de Nº 4.281 de 25 de julho
de 2002,
ela tem papel fundamental para promover indivíduos mais críticos e preocupados
com o meio em que vivem. Muitos assuntos podem ser abordados pela Educação
Ambiental, desde gestão de resíduos até conservação de grandes áreas verdes, aquecimento global, uso consciente de
recursos e também ética!
Sato e Carvalho (2009) se referiram que é
possível balizar a Educação Ambiental em
correntes éticas tais como antropocentrismo,
biocentrismo e ecocentrismo. Chamo atenção para
duas correntes, o ecocentrismo concebe um valor intrínseco ao ecossistema como
um todo, envolvendo biótipo, paisagens, indivíduos naturais e o biocentrismo
onde somente os indivíduos com vida recebem esse valor (ROLLA, 2010).
Um assunto em específico abordado
aqui e que tem algumas reflexões éticas é o uso de animais em algumas
atividades de Educação Ambiental. Muitos programas de EA utilizam animais
(taxidermizados ou vivos) em atividades de sensibilização, um exemplo é o
Zoológico Municipal de Curitiba que apresenta a atividade “Zoo vai à escola”, onde a equipe
multidisciplinar de educadores visita escolas públicas municipais, estaduais e
particulares montando exposições com animais taxidermizados, ovos entre outros
materiais, além de ministrarem palestras sobre temas ambientais. O Parque das
Aves em Foz do Iguaçu também possui uma equipe de Educação Ambiental que realiza diversas
atividades de sensibilização e utilizam os recintos de imersão em algumas delas.
Porém, há um questionamento abordado aqui que é a ética no uso desses animais
nas atividades de EA: como proceder para que a utilização desses animais não
sejam apenas um “atrativo” e estes não percam o seu valor como indivíduos?
O uso de animais taxidermizados é uma prática que
proporciona um contato maior com o público, despertando um encantamento e uma
curiosidade, e nesse contato podem ser abordados vários temas, como caça, tráfico, conhecimento da fauna
local. O que deve ser levado em questão é que essas peças utilizadas como
“material” já estiveram vivas um dia e merecem respeito quando manuseadas, além
de esclarecer ao público que esses animais não foram mortos para esse fim, e
sim morreram por outros motivos e tiveram como destinação a taxidermia. Outro
ponto é até quanto o contato desses animais podem trazer riscos para as
crianças, pois na preparação desses animais são utilizados alguns produtos
químicos como o bórax, que tem como objetivo
evitar a ação de organismos decompositores e assim proporcionar a conservação
por mais tempo. Esse produto é aplicado na pele do animal, portanto, quando
manuseados as pessoas entram em contato com essa substância que pode trazer
alguns efeitos adversos, como coceira e irritação dos olhos. Além disso, a coleta, transporte e posse
desses animais só é permitido por pessoas devidamente autorizadas, segundo a Lei de Crimes
Ambientais,
caso contrário a pena é de seis meses a um ano de detenção e multa.
Com relação ao uso de animais vivos, muitas palestras ou mesmo visitas em zoológicos, utilizam aves, répteis e mamíferos como atrativo, permitindo que muitas pessoas possam manuseá-los, por exemplo o Parque das Aves, Pet Zoo, Teimaiken, entre outros. Um aspecto a ser levado em consideração é o bem-estar desses animais, pois uma atividade desse tipo acaba gerando muito estresse ao animal, devido ao fato de que a maioria dessas pessoas não apresentam muita prática de manejo. Uma atividade dessa quando não bem planejada pode acabar indo contra os objetivos da EA e gerar impactos negativos aos animais em questão. Aqui além da Lei de crimes ambientais deve se aplicar a lei Arouca, que regulamenta a utilização de animais vivos em pesquisas científicas e usos didáticos, estabelecendo um conjunto de regras, a criação de um Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal e de Comissões de Ética no Uso de Animais.
Eu como bióloga acredito que a
utilização de animais na EA é válida e trás resultados positivos desde que
sejam bem planejadas e discutidas, levando em consideração os animais
utilizados, a forma de abordar o assunto, a devida informação e cuidados a
serem tomados pelo público que participará da atividade, como por exemplo, a
devida higienização das mãos no caso de contato com animais taxidermizados. Portanto,
para a realização de atividades com animais, sendo eles taxidermizados ou vivos
é necessário um preparo e uma reflexão a cerca do valor que esses animais tem e
do seu bem estar, além de passar esses valores para o público que participará
das atividades. Além disso, atrelar atividades que não utilizem animais mas que
sejam tão eficientes quanto as que utilizam, que abordem os temas ambientais e
sejam chamativas e atrativas para o público, como trilhas sensoriais, teatros, atividades lúdicas, brincadeiras, enfim, a EA tem
infinitas possibilidades de tocar as pessoas e sensibilizar!
Este
Ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no uso de animais e Bem-Estar
Animal, tendo como base as obras:
Marcatto, Celso. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM,
2002.
Rolla, Fagner Guilherme. Ética ambiental: principais perspectivas
teóricas e a relação homem-natureza. Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul. 2010.Sato, Michélle & Carvalho, Isabel. Educação Ambietal: pesquisa e desafios. Editora Artmed. 2009.
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