Série
Ensaios: Sociobiologia
Por Ana Carolina Gadotti, Camilla Soto, Franciele Santos, Juliana
Padilha e Maria Eduarda Garcia
Graduandos
do curso de Biologia
Foi noticiado, recentemente, pela mídia mais um caso de corrupção, mas desta
vez, ao invés de políticos, o foco da reportagem foi um dos jogadores de
futebol mais conhecidos no Brasil e no mundo, Neymar. Acusado de fraude nos
valores de sua transferência do Santos para o Barcelona para que um valor menor
fosse pago ao grupo
DIS, o qual possuía 40% dos direitos do jogador, se condenado, pode pegar
até dois anos de cadeia.
A corrupção vem de muito tempo
atrás, no Brasil
Colônia, em que, assim como hoje, permeava diversos níveis do funcionalismo
público. Historiadores relatam que há documentos
que mostram funcionários protegendo ou favorecendo vendedores mediante propina.
Além disso, em regiões mais longes do litoral e que, portanto, não eram, de
fato, colonizadas, eram afastadas dos cuidados da família real e acessíveis
apenas após meses de caminhada, o que exigia bons incentivos para aqueles que
aceitavam desbravar aquelas terras. A escravidão,
muito comum naquela época, também favoreceu possibilidades de suborno e outros
tipos de corrupção, já que criava um ambiente vulnerável e sem qualquer tipo de
norma para regê-lo.
O convívio social na natureza é muito comum
e traz consigo vantagens aos indivíduos como a defesa contra predadores, a
obtenção de alimentos, a reprodução e criação da prole, além da evolução
cultural. Para que a vida social funcione, tais indivíduos devem possuir
objetivos em comum, sendo eles positivos ou negativos (fator agregador), e também
diferenças (fator segregador),
além de que os interessados devem abrir mão de sua liberdade individual para
seguir regras de bom convívio que são estabelecidas e monitoradas por toda uma hierarquia
de “superiores” e, dessa forma, poderem desfrutar dos benefícios da vida
coletiva. Mas na natureza há uma regra imprescindível, denominada “luta por sua
própria sobrevivência” que fez com que os animais dotassem artifícios
comportamentais para se adaptarem ao meio em que vivem e a estabelecerem
determinadas estratégias que maximizaram a sua chance de sobreviver por outros
meios que os sinais honestos estabelecidos pelas regras impostas durante a
formação de grupo. Dessa forma, mecanismos como a desonestidade e a trapaça
passaram a fazer parte da busca dos interesses próprios por facilitarem ainda
mais a busca por alimento, a diminuição da competição e a proteção contra
predadores.
Questões relacionadas à mentira
e o engano são muito estudadas na espécie humana, principalmente através da
neurociência. Sabe-se que quando o indivíduo mente, seus níveis de estresse
aumentam caso haja uma possibilidade de ser descoberto. Sendo assim, alguns
sinais são clássicos, como por exemplo: a mentira produz um maior consumo de
oxigênio e, portanto, aumento do fluxo sanguíneo, a ativação de certas partes
do cérebro que inibem ações que possam delata-lo, aumento da temperatura como
resultado do aumento do fluxo sanguíneo, principalmente ao redor dos olhos,
pois ao se sentir ameaçado o aumento da circulação favorece uma melhora da
visão, facilitando a fuga e percepção do ambiente.
O conhecimento da fisiologia,
portanto, permite que se desenvolvam tecnologias
que permitem detectar mentiras, como testes do polígrafo, eletroencefalograma,
termografia do rosto, entre outras.
Na natureza, é muito comum que
um animal engane outros para conseguir benefícios para si próprio. Recursos
muito utilizados para se evitar predação são o mimetismo, quando
partes de um animal assemelham-se a outros animais e a camuflagem,
quando os animais buscam imitar objetos não comestíveis presentes no ambiente.
Existem também muitos exemplos de animais que usam táticas predatórias
"desonestas": a garça ardosia engana suas presas com a tática
conhecida como caça dossel,
criando uma falsa sensação de proteção para os peixes que preda; o peixe livingstone que dá o bote ao se fingir
de morto; crocodilos que colocam gravetos em suas bocas buscando atrair aves
que procuram materiais para construir seus ninhos. Entre os primatas, animais
que vivem em sociedade na natureza, também já foi registrado que alguns
indivíduos ocultam informações sobre a localização de comida de membros de seu
próprio grupo, consumindo sozinhos o alimento.
O motivo para a prática da
corrupção é muito debatido, principalmente neste cenário político vivido no
Brasil nos últimos meses. A explicação mais importante é que todas as pessoas
desejam e buscam o prazer, dessa forma, estão sempre à procura de instrumentos
que os permitam alcança-la. Neste caso, recursos materiais com os quais seja
possível comprar o que possibilite realizar esse desejo. No entanto, esses
recursos quase sempre requerem um esforço, que muitas pessoas não estão
dispostas a aceitar. Assim, quando surge uma situação que permite obter o
prazer com um menor gasto de energia, alguns são seduzidos a aceitar.
Mesmo atrativo, muitos resistem
à iniciativa corruptiva. O que significa que essa busca de recursos para o prazer
pode estar associada ao temor,
em que a pessoa age exclusivamente em função do medo, por exemplo, de alguém
descobrir e acabarem presos. Há também aqueles que resistem mesmo sem a
presença do medo. É onde entra a questão moral, uma avaliação interna
da própria conduta, no sentido do respeito a certos princípios que, livremente,
o indivíduo opta por respeitar e que fazem parte da convivência em sociedade.
Uma vez que os seres humanos
optaram pela vida em sociedade, as regras as quais geram a boa convivência
devem ser passadas desde a infância, de um ponto de vista moral, onde as regras
morais vão sendo impostas sem críticas, pela heteronomia, até que se
possa alcançar a autonomia
que é típico da chegada da maturidade. Na fase da heteronomia, as crianças
obedecem às regras que lhe são impostas e aos poucos vão abrindo-se para
discussões a fim de estimular a adesão pessoal e autônoma das normas. O grande
impasse entre a heteronomia e autonomia ocorre na adolescência, período de
contradições em que, abandonando as características infantis, o indivíduo ainda
não assumiu as obrigações e as responsabilidades da vida adulta.
Para Kohlberg o
desenvolvimento moral é baseado no nível de consciência que se tem
das regras e normas, das suas razões e motivações, da consciência da sua
utilidade e necessidade. A moral na criança é marcada pelas consequências de
seus atos: punição ou recompensa, elogio ou castigo e baseia-se no poder físico
(de punir ou recompensar) daqueles que estipulam as normas. Dessa forma, a
moralidade de um indivíduo depende tanto de fatores psicológico e biológicos
(quem é a pessoa, quem são seus pais, qual sua bagagem genética), como de
elementos sociais e culturais (onde nasceu, em que época, quem são seus amigos,
vizinhos, mestres, grau de instrução, condição financeira), tornando-se claro
que diferentes situações sociais, culturais, psicológicas e biológicas irão
proporcionar diferentes comportamentos e, portanto, diferentes moralidades.
Nós,
formandas de biologia, acreditamos que a prática de hábitos
"desonestos" sempre foi essencial para a sobrevivência tanto em nível
individual quanto de espécie na natureza. Porém, para nós humanos, enganar o
próximo deixou de ser apenas um instinto de sobrevivência para se tornar uma
prática racional, premeditada e muito questionável. Egoísmo e ambição tornam-se
combustíveis potentes para a quebra de valores morais pregados na vida em
sociedade.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia,
baseando-se nas obras:
http://www.seeker.com/alligators-and-crocodiles-use-tools-to-hunt-1768147006.html#news.discovery.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário