terça-feira, 7 de junho de 2016

Homossexualidade: as provas de que o padrão deveria ser o natural


Série Ensaios: Sociobiologia


Por Ana Carolina Gadotti, Camilla Soto, Franciele Santos, Juliana Padilha e Maria Eduarda Garcia

Graduandos do curso de Biologia








Recentemente, foi noticiado na mídia que a justiça do Mato Grosso autorizou a mudança do sexo masculino para o feminino de uma criança de 9 anos, com o diagnóstico médico de transexualismo, sob a justificativa de que o fato de ser reconhecida e tratada como menino estava fazendo com que a mesma sofresse. Dessa forma, com a alteração dos documentos, ela é oficialmente reconhecida como menina e, mais tarde, a partir da adolescência seu corpo poderá passar pela mudança de sexo.

O comportamento social é caracterizado pela interação entre o organismo e o ambiente. Pode ser interpretado de duas formas, considerando o comportamento de grupos de pessoas ou o comportamento de indivíduos em contato com outras pessoas. Entre os comportamentos sociais, a formação de grupos é um dos mais evidentes, seja por objetivos e interesses comuns ou por sentimentos de identidade grupal desenvolvidos através do contato contínuo. Apesar de muitos animais viverem isolados durante a maior parte da sua vida, o comportamento social é importante durante os curtos períodos de reprodução ou da criação do filhote. Já os animais que vivem em sociedade possuem vantagens em relação a encontrar comida, pescar, afastar os predadores, cuidar dos filhotes, e tendo como desvantagens atrair a atenção de predadores, em períodos de estiagem a falta de comida para todos os indivíduos, a disseminação de doenças, entre outras.

A homossexualidade refere-se, de forma direta, à situação na qual o interesse e o desejo sexual dirigem-se a pessoas do mesmo sexo. Boa parte do modo como os povos da Antiguidade encaravam o amor entre pessoas do mesmo sexo, pode ser explicada ao se levar em conta as suas crenças. Na Grécia e na Roma da Antiguidade, era absolutamente normal um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem. Tal prática, fazia parte da educação dos jovens atenienses, pois dessa forma, eles absorveriam virtudes e conhecimentos. Mas com a popularização do cristianismo, a ideia de que o sexo entre iguais seria pecado, se disseminou pelo mundo. Teorias, como a lobotomia cerebral, foram declaradas como uma solução cirúrgica para quem quisesse se “livrar” do hábito, no século XIX. Atualmente, 22 países legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a luta ainda segue contra a discriminação (homofobia) em razão a orientação sexual, que no Brasil é considerada crime prevista por lei em diversos estados. Em 78 países, a prática homossexual é considerada crime e em 5 deles (Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Mauritânia e Sudão, além de regiões da Nigéria e da Somália) é aplicada a pena de morte.

Discussões surgiram no debate realizado sobre o tema principalmente ao encarar a homossexualidade como um comportamento natural das espécies. Tal comportamento pode ser apresentado como uma estratégia de controle populacional, onde os indivíduos praticando a relação sexual com um igual, não se reproduziriam, mas contribuiriam para a sobrevivência da espécie fornecendo cuidados aos filhotes já existentes naquela população. Na espécie humana, essa ideia também é válida, assim como questões de estresse e da alimentação, que podem apresentar influência direta durante o processo de desenvolvimento do comportamento. Ainda, houve um questionamento se os animais não humanos se travestiam assim como os humanos, quando homossexuais. Os animais não humanos apresentam modificações na fisiomorfologia do corpo em situações de mimetismo, na garantia da sobrevivência e/ou perpetuação da espécie, e não na busca de uma forma social de aceitação. Alguns animais são capazes de mimetizar o sexo oposto, como acontece com o peixe da espécie Lepomis macrochirus, em que o macho precocemente maduro mimetiza as cores e o comportamento da fêmea, assim no momento da cópula, ele engana os outros machos, o que possibilita uma maior chance de fecundação. O mesmo ocorre com indivíduos machos de serpente listrada, que secretam o mesmo feromônio que as fêmeas, garantindo também benefícios, já que ficam no centro e protegidos durante a cópula. Já outros conseguem, de fato, ter seu sexo alterado em determinado momento da vida. Um exemplo é o peixe-palhaço, o qual nasce macho, mas quando atinge uma idade mais avançada podem virar fêmeas, o que ocorre também quando a fêmea do grupo morre. Isso também acontece com rãs-touro, que podem perder a genitália ou gerar uma nova, dependendo do equilíbrio de sua população.

Mesmo com tantos exemplos do quão natural tal comportamento é, na sociedade atual grandes problemas existem no que diz respeito à sua aceitação por ele fugir do padrão esperado, que hoje se tornou uma condição natural do ser humano: punir ou rejeitar aqueles que se mostram diferentes, ao invés de aceitar como algo natural.

Há muito tempo a ciência procura as origens biológicas para o comportamento homossexual, principalmente na espécie humana. Hoje, especialistas propõem 3 principais explicações para tal. A primeira está relacionada com o cérebro, pois sabe-se que o cérebro tanto de homossexuais quanto de transexuais, funcionam de maneira semelhante ao cérebro de uma pessoa do sexo oposto. Assim, a área relacionada às emoções, a amígdala, é ativada da mesma forma nas mulheres e nos homens gays e transexuais. Além disso, há também um padrão encontrado no tamanho dos hemisférios cerebrais, em que mais uma vez homens gays e transexuais possuem as duas metades simétricas, assim como nas mulheres heterossexuais. O cérebro não possui uma plasticidade tão grande para que essas propriedades só aparecessem na vida adulta, dessa forma, crianças já podem exibir esse comportamento. A segunda explicação diz respeito à testosterona. Segundo a epigenética, há um marcador responsável por regular a sensibilidade à esse hormônio nos embriões ainda no útero e que é transmitido hereditariamente. Nos homens homossexuais, a epimarca que determina essa característica é passada de mãe para filho, ao invés de vir do pai. Isso faz com que ao invés de uma sensibilidade maior à testosterona, a criança passe a ser menos sensível, como em mulheres. Esse traço também parece estar associado à versão mais longa do receptor de andrógeno, em que sinais de testosterona menos eficientes podem afetar o desenvolvimento sexual no feto, sub-masculinizando seu cérebro, refletindo, então, na sua identidade sexual. E por fim, há a determinação genética para o comportamento, a qual ainda é muito incerta para os pesquisadores e necessita de mais estudos, já que não foi encontrado, de fato, um gene responsável pela homossexualidade. No entanto, há indícios que na transexualidade, o gene que parece estar ligado ao comportamento é a versão mais longa do gente receptor de andrógeno.

Diversos comportamentos homossexuais são encontrados na natureza como uma forma de garantia da sobrevicência; Os machos dos besouros-castanhos copulam entre si para depositar o esperma no parceiro. Com isso, há um aumento no número de fêmeas fertilizadas pelo seu sêmen e uma grande “propagação” do seu material genético. Em outras ocasiões, a homossexualidade pode vir em resposta a um desequilíbrio no número de machos e fêmeas em uma população. É comum em aves a formação de casais monogâmicos e que participam ativamente dos cuidados com os filhotes. Mas em casos extremos há a formação de casais de aves do mesmo sexo, que se responsabilizam no cuidado dos filhotes de outros indivíduos. Dessa forma, um dos indivíduos desse casal de iguais pode, eventualmente “pular a cerca” (no caso, as fêmeas), para engravidar e ter filhotes, e assim o cuidado fica a cargo do casal homossexual. Nos primatas o sexo entre iguais tem a função de consolidação de relações sociais, como a aproximação entre os membros dominantes de uma comunidade. Acredita-se que somente duas espécies animais exibem preferência pelo mesmo sexo pelo resto da vida: o carneiro e o homem. Em rebanhos de ovinos, até 8% dos machos preferem outros machos mesmo quando a oferta de fêmeas férteis é grande. Porém, esses animais passaram por diversos processos de manipulação genética, o que pode ter ocasionado o aumento no número de machos homossexuais.

Dentro das experiências humanas, os indivíduos que possuem uma forte identificação com o gênero oposto, desconforto com seu próprio sexo e com os papéis sociais por ele impostos são diagnosticados com Transtorno de identidade de gênero (TIG) ou Disforia de gênero.  O TIG é identificado na maioria dos casos logo na infância, e como nesta idade a criança não sente atração erótica por outro indivíduo, o transtorno não é diretamente ligado à homossexualidade. Do ponto de vista psicológico, o indivíduo com TIG, sentindo-se desprezado pela sociedade por não se comportar como o esperado, vê como solução "transitar" de um gênero para outro, buscando assim a aceitação coletiva.

Nós, formandas de biologia, acreditamos que existem inúmeras variações na forma do ser humano expressar seus pensamentos, e é injusto querer classificar estes comportamentos como adequados somente para meninas ou para meninos. A existência de homens e mulheres que fogem aos estereótipos de gênero não deveria ser vista como um problema pela sociedade, pois a diversidade sempre foi a chave para a sobrevivência de todos os seres vivos e, dessa forma, há a necessidade de um olhar mais amplo para a fuga dos padrões e a completa aceitação de algo tão natural.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:



http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/09/hospital-do-rs-estuda-transtorno-de-identidade-de-genero-em-criancas.html
https://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/transtornos-de-identidade-e-genero-transexualismo
http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerClassificacoes&idZClassificacoes=202
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI6300-15224,00.html
http://veja.abril.com.br/ciencia/homossexualidade-pode-ser-influenciada-pela-epigenetica/
http://www.livescience.com/50058-being-gay-not-a-choice.html
http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081030_transsexual_gene_mv.shtml
http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/os-grupos-sociais.htm
http://criticacomportamental.blogspot.com.br/2011/04/o-que-e-isto-comportamento-social.html
http://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/historiahomossexualidade.htm
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/vale-tudo-homossexualidade-antiguidade-435906.shtml
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/06/veja-lista-de-paises-que-ja-legalizaram-o-casamento-gay.html
http://brasilescola.uol.com.br/psicologia/homossexualidade.htm
http://f5.folha.uol.com.br/estranho/1186591-ha-homossexualismo-em-450-especies-animais-aponta-exposicao.shtml
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150211_vert_earth_animais_homossexuais_ml
http://hypescience.com/10-animais-que-praticam-a-homossexualidade/
http://www.brasil.discovery.uol.com.br/animal-planet/imagens/7-especies-que-praticam-homossexualidade-no-reino-animal/
http://super.abril.com.br/ciencia/macho-mas-por-pouco-tempo-os-peixes-mudam-de-sexo
http://www.batanga.com.br/599/5-animais-que-sao-transexuais-e-voce-nao-sabia

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