terça-feira, 7 de junho de 2016

Em Boca Fechada Não Entra Racismo


Série Ensaios: Sociobiologia


por: Bruna Falavinha, Cátia Sant’Anna, Jonathan Jesus da Silva e Paola Gyuliane.

Graduandos do curso de Biologia








A cantora de funk Ludmilla sofreu ataques racistas na internet recentemente, sendo recentemente chamada de macaca, crioula feia entre outros termos pejorativos. No carnaval, a cantora sofreu racismo de Val Malchiori que disse que o cabelo de Ludmilla parecia Bombril. Muitos alegam que não há racismos no Brasil por sua miscigenação e origem, mas várias noticias alegam do contrário como Jornal Câmara dos Deputados, TUDO & TODAS, R7  entre outras.

Não é correto se utilizar o termo raça para se referir a seres humanos, já que as variações genéticas entre um europeu, um africano e um asiático são insignificantes, o que existem são diferenças físicas. Essa diversidade apareceu ao longo do tempo, desde o surgimento do primeiro hominídeo moderno na África a 195 mil anos atrás. O homem precisou se adaptar aos diversos ambientes e regiões que foi ocupando no planeta, e com isso sofreu diversas variações nos caracteres fisiológicos, morfológicos e comportamentais.  

O racismo é a convicção sobre a superioridade de determinadas raças, com base em diferentes motivações, em especial as características físicas e outros traços do comportamento.  Ele se fortalece sobre a crença na distinção natural entre os grupos, já que idealiza que os grupos são diferentes por possuírem elementos essências que os diferem. No caso dos humanos, o racismo consiste em uma atitude depreciativa em relação a algum grupo social ou étnico. Historicamente, o racismo era uma forma de justificar o domínio de determinados povos sobre outros, como se verifica no período de escravidão, colonialismo, e nos genocídios ocorridos ao longo da história. O dia 21 de março foi estabelecido pela ONU como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

            Mesmo após 125 anos da abolição da escravatura, a discriminação ainda é visível no Brasil. No entanto, há uma forma de racismo explícita e uma forma velada. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha, 90% dos brasileiros acreditam que existe racismo no país; no entanto, 96% das pessoas não se identificam como racistas. Ou seja, ainda evita-se assumir explicitamente a discriminação.

Do ponto de vista psicológico, O que muitas pessoas não percebem que possuem é o viés inconsciente, um conjunto de estereótipos sociais. É um julgamento intuitivo e automático que fazemos das pessoas que são feitos sem que percebamos, baseados em estereótipos e coisas que aconteceram anteriormente. Esses conceitos parecem ficar armazenados nos lóbulos temporais de nossos cérebros e ligam, por exemplo, os termos “negro” e “armado” a coisas ruins, como um bandido e “branco” e “armado”, a de um policial. Esse estereótipo então vai para o córtex médio frontal e é relacionado à primeira impressão da pessoa. Esses estereótipos ainda estão marcados em nossa sociedade como herança da escravidão. Mesmo que, segundo o IBGE em 2010, 51% dos brasileiros sejam negros ou pardos, dos 10% das pessoas mais pobres do país, 70% são negros, enquanto entre os 10% mais ricos apenas 15% são negros. O racismo está impregnado em nossa cultura de uma forma que não notamos, pois já estamos habituados. Um exemplo disso são as expressões que costumamos utilizar com uso termo “preto” atribuído a um valor negativo, como em “a coisa está preta”, “denegrir”, “inveja negra” e “inveja branca”, “não sou tuas negas”. Desta forma, o racismo cria obstáculos para muitos negros. Obstáculos esses não são enxergados por aqueles que não enfrentam as mesmas dificuldades. Essas diferenças estão no acesso à educação, saúde, emprego e infraestrutura, e em barreiras psicológicas por fazer as pessoas acreditarem que são inferiores.

Do ponto de vista etológico, a grande variação de características entre espécies manten a diversidade e faz com que as espécies sobrevivam e possam conviver em um mesmo ambiente. A pigmentação da pele é um exemplo de variedade que ocorre em determinadas espécies incluindo a espécie humana. No processo evolutivo, o homem adquiriu características adaptativas ao ambiente em que viviam,  os povos que migraram para um local mais frio e pouco ensolarado, adquiriram uma pele mais clara para aproveitar melhor os raios solares e produzir vitamina D. Dessa forma, toda essa população clareava sua pele de geração em geração, por meio da seleção natural. Já os povos que ficaram nas regiões quentes mantiveram a pele com maior pigmentação para se proteger dos raios solares. É importante frisar que na natureza, dentro da sociobiologia,  tudo que é diferente pode apresentar perigo a uma determinada espécie e utilizam-se mecanismo de defesa para proteger a espécie. No caso, o racismo pode ser um instinto de defesa em primeiro momento, já que o que é diferente causa estranheza e medo, entretanto, os humanos como seres conscientes tem a capacidade de reprimir este instinto e respeitar as diferenças mesmo que muitos não o façam.

Já no ponto de vista biológico, de acordo com Burnhan e Phelan (2002), altas densidades populacionais geram competição por recursos e a competição gera conflitos, e de que o humano tem a tendência de gerar grupos muito rápido, sendo estas características herdadas dos chimpanzés. O humano possui a necessidade de categorizar as pessoas em grupo e dividi-las de acordo com suas características físicas, vestimentas, etc.; sendo o humano capaz de observar características sutis. Como os humanos possuem genes diferentes para expressar a cor da pele e do cabelo, as pessoas são categorizadas erroneamente em raças, sendo essa divisão  apenas um produto da percepção humana que divide em raças não por conta da parte genética, mas sim da aparência física; e isto faz com que haja conflitos entre as raças devido a tendência humana de gerar conflitos. Com isto pode-se dizer que há um fator genético que leva os humanos a segregação racial. Foi sugerido durante o debate sobre a segregação racial com a turma do 7º período de biologia no mês de maio de 2016, analisar um experimento que mostra a existência de um grupo de pessoas que parecem não formar estereótipos raciais. Crianças com uma perturbação de desenvolvimento neurológico conhecida por Síndrome de Williams são excessivamente simpáticas e não temem estranhos. O estudo mostra que estas crianças também não desenvolvem atitudes negativas sobre outros grupos étnicos. De acordo com o autor do artigo, esta é a primeira prova de que formas diferentes de estereótipos são biologicamente dissociáveis. Os resultados sugerem que o medo social contribui para os estereótipos raciais. Entretanto, o estudo não responde à questão de se a estereotipagem é genética e caso se comprove que o preconceito é causado  por  genes, ambiente ou a uma interação complexa dos dois, vai mudar completamente a discussão acerca do preconceito.

Durante o debate com uma turma de formandos de Biologia também foi comentado que em intuições de ensino particular, apesar de possuir o sistema de cotas possui um número muito pequeno de estudantes e professores negros, o que demonstra que apesar do sistema estar implementado negros ainda tem problemas para chegar ao ensino superior devido a situação de desprivilegio que muitos ainda se encontram. Outra questão abordada foi o fato de pessoas negras da mídia se submeter a tratamentos estéticos para se ficarem no padrão considerado ideal, cabelos loiros, nariz fino e pele mais clara. Muitos participantes deram depoimentos de casos de racismo que presenciaram ou foi comentado; por exemplo, um professor negro em intuições de ensino superior que ao se dirigir a um restaurante foi confundido com um dos funcionários e foi levado para a entrada de serviço.

Nossa opinião como futuros biólogos é  de que a segregação racial é algo instintivo que funciona como uma forma de defesa que fazem com que os seres vivos percebam como um ameaça animais de outras espécies,  já na espécie humana a segregação ocorre como uma forma de se sentir superior a indivíduos diferentes. A mudança da visão da sociedade perante negros precisa de um esforço coletivo para que seja mudada; e a empatia, capacidade sentir a dor do outro, é a melhor forma de entender o ponto de vista de quem está passando por uma situação de desprivilegio. Além disso precisamos lembrar que não estamos mais separados em tribos que precisam manter sua integridade a partir de estímulos segregadores e agredadores, mas que fazemos parte de uma aldeia global que o que nos une é muito maior do que a cor da pele.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:





Burnhan,T. , Phelan, J. (2002) A Culpa É da Genética. Ed. Sextante, 236 pags.

Lima, M. E. O. & Vala, J. (2004) As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia, 9 (3). 401-411.

UFMG. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia.


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