Série Ensaios: Sociobiologia
por: Bruna Falavinha, Cátia Sant’Anna,
Jonathan Jesus da Silva e Paola Gyuliane.
Graduandos do curso de Biologia
A cantora
de funk Ludmilla
sofreu ataques racistas
na internet recentemente, sendo recentemente chamada de macaca, crioula feia
entre outros termos pejorativos. No carnaval, a cantora sofreu racismo
de Val Malchiori que
disse que o cabelo de Ludmilla parecia Bombril. Muitos alegam que não há
racismos no Brasil por sua miscigenação e origem, mas várias noticias alegam do
contrário como Jornal
Câmara dos Deputados, TUDO
& TODAS, R7
entre outras.
Não é
correto se utilizar o termo raça
para se referir a seres humanos, já que as variações genéticas entre um
europeu, um africano e um asiático são insignificantes, o que existem são diferenças físicas. Essa diversidade
apareceu ao longo do tempo, desde o surgimento do primeiro hominídeo moderno na
África a 195 mil anos atrás. O homem precisou se adaptar aos diversos ambientes
e regiões que foi ocupando no planeta, e com isso sofreu diversas variações nos
caracteres fisiológicos, morfológicos e comportamentais.
O racismo é a convicção sobre a
superioridade de determinadas raças, com base em diferentes motivações, em
especial as características físicas e outros traços do comportamento. Ele se fortalece sobre a crença na distinção
natural entre os grupos, já que idealiza que os grupos são diferentes por
possuírem elementos essências que os diferem. No caso dos humanos, o racismo
consiste em uma atitude depreciativa em relação a algum grupo social ou étnico.
Historicamente, o racismo era uma forma de justificar o domínio de determinados
povos sobre outros, como se verifica no período de escravidão, colonialismo, e nos genocídios ocorridos ao
longo da história. O dia 21 de março foi estabelecido pela ONU
como o Dia
Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.
Mesmo
após 125 anos da abolição da
escravatura, a discriminação
ainda é visível no Brasil. No entanto, há uma forma de racismo explícita e uma
forma velada. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha, 90% dos brasileiros
acreditam que existe racismo no país; no entanto, 96% das pessoas não se
identificam como racistas. Ou seja, ainda evita-se assumir explicitamente a
discriminação.
Do ponto
de vista psicológico, O que muitas pessoas não percebem que possuem é o viés
inconsciente, um conjunto de estereótipos sociais. É um julgamento intuitivo e
automático que fazemos das pessoas que são feitos sem que percebamos, baseados
em estereótipos e coisas que aconteceram anteriormente. Esses conceitos parecem
ficar armazenados nos lóbulos temporais de nossos cérebros e ligam, por
exemplo, os termos “negro” e “armado” a coisas ruins, como um bandido e
“branco” e “armado”, a de um policial. Esse estereótipo então vai para o córtex
médio frontal e é relacionado à primeira impressão da pessoa. Esses
estereótipos ainda estão marcados em nossa sociedade como herança da
escravidão. Mesmo que, segundo o IBGE
em 2010, 51% dos brasileiros sejam negros ou pardos, dos 10% das pessoas mais
pobres do país, 70% são negros, enquanto entre os 10% mais ricos apenas 15% são
negros. O racismo está impregnado em nossa cultura de uma forma que não
notamos, pois já estamos habituados. Um exemplo disso são as expressões que
costumamos utilizar com uso termo “preto” atribuído a um valor negativo, como
em “a coisa está preta”, “denegrir”,
“inveja negra” e
“inveja branca”,
“não
sou tuas negas”. Desta forma, o racismo cria obstáculos para muitos negros.
Obstáculos esses não são enxergados por aqueles que não enfrentam as mesmas
dificuldades. Essas diferenças estão no acesso à educação, saúde, emprego e
infraestrutura, e em barreiras psicológicas por fazer as pessoas acreditarem
que são inferiores.
Do ponto
de vista etológico, a grande variação de características entre espécies manten
a diversidade e faz com que as espécies sobrevivam e possam conviver em um
mesmo ambiente. A pigmentação da pele é um exemplo de variedade que ocorre em
determinadas espécies incluindo a espécie humana. No processo evolutivo, o
homem adquiriu características adaptativas ao ambiente em que viviam, os povos que migraram para um local mais frio
e pouco ensolarado, adquiriram uma pele mais clara para aproveitar melhor os
raios solares e produzir vitamina D. Dessa forma, toda essa população clareava
sua pele de geração em geração, por meio da seleção natural. Já os povos que
ficaram nas regiões quentes mantiveram a pele com maior pigmentação para se
proteger dos raios solares. É importante frisar que na natureza, dentro da sociobiologia, tudo que é diferente pode apresentar perigo a
uma determinada espécie e utilizam-se mecanismo de defesa para proteger a
espécie. No caso, o racismo pode ser um instinto de defesa em primeiro momento,
já que o que é diferente causa estranheza e medo, entretanto, os humanos como
seres conscientes tem a capacidade de reprimir este instinto e respeitar as
diferenças mesmo que muitos não o façam.
Já no
ponto de vista biológico, de acordo com Burnhan e Phelan (2002), altas
densidades populacionais geram competição por recursos e a competição gera
conflitos, e de que o humano tem a tendência de gerar grupos muito rápido,
sendo estas características herdadas dos chimpanzés. O humano possui a
necessidade de categorizar as pessoas em grupo e dividi-las de acordo com suas
características físicas, vestimentas, etc.; sendo o humano capaz de observar
características sutis. Como os humanos possuem genes diferentes para expressar
a cor da pele e do cabelo, as pessoas são categorizadas erroneamente em raças,
sendo essa divisão apenas um produto da
percepção humana que divide em raças não por conta da parte genética, mas sim
da aparência física; e isto faz com que haja conflitos entre as raças devido a
tendência humana de gerar conflitos. Com isto pode-se dizer que há um fator
genético que leva os humanos a segregação racial. Foi sugerido durante o debate
sobre a segregação
racial com a turma do 7º período de biologia no mês de maio de 2016,
analisar um experimento que mostra a existência de um grupo de pessoas que
parecem não formar estereótipos raciais. Crianças com uma perturbação de
desenvolvimento neurológico conhecida por Síndrome
de Williams são excessivamente simpáticas e não temem estranhos. O estudo
mostra que estas crianças também não desenvolvem atitudes negativas sobre
outros grupos étnicos. De acordo com o autor do artigo, esta é a primeira prova
de que formas diferentes de estereótipos são biologicamente dissociáveis. Os
resultados sugerem que o medo social contribui para os estereótipos raciais.
Entretanto, o estudo não responde à questão de se a estereotipagem é genética e
caso se comprove que o preconceito é causado por genes,
ambiente ou a uma interação complexa dos dois, vai mudar completamente a
discussão acerca do preconceito.
Durante o
debate com uma turma de formandos de Biologia também foi comentado que em intuições
de ensino particular, apesar de possuir o sistema de cotas possui um número
muito pequeno de estudantes e professores negros, o que demonstra que apesar do
sistema estar implementado negros ainda tem problemas para chegar ao ensino
superior devido a situação de desprivilegio que muitos ainda se encontram.
Outra questão abordada foi o fato de pessoas negras da mídia se submeter a
tratamentos estéticos para se ficarem no padrão considerado ideal, cabelos
loiros, nariz fino e pele mais clara. Muitos participantes deram depoimentos de
casos de racismo que presenciaram ou foi comentado; por exemplo, um professor negro
em intuições de ensino superior que ao se dirigir a um restaurante foi
confundido com um dos funcionários e foi levado para a entrada de serviço.
Nossa
opinião como futuros biólogos é de que a
segregação racial é algo instintivo que funciona como uma forma de defesa que
fazem com que os seres vivos percebam como um ameaça animais de outras
espécies, já na espécie humana a
segregação ocorre como uma forma de se sentir superior a indivíduos diferentes.
A mudança da visão da sociedade perante negros precisa de um esforço coletivo
para que seja mudada; e a empatia, capacidade sentir a dor do outro, é a melhor
forma de entender o ponto de vista de quem está passando por uma situação de
desprivilegio. Além disso precisamos lembrar que não estamos mais separados em
tribos que precisam manter sua integridade a partir de estímulos segregadores e
agredadores, mas que fazemos parte de uma aldeia global que o que nos une é
muito maior do que a cor da pele.
O presente ensaio foi elaborado
para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
Burnhan,T. , Phelan, J. (2002) A Culpa É da Genética. Ed. Sextante,
236 pags.
Lima, M. E. O. & Vala, J.
(2004) As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia,
9 (3). 401-411.
UFMG. Uma abordagem conceitual das
noções de raça, racismo, identidade e etnia.
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