Série
Ensaios: Sociobiologia
Por:
Izadora Rafaela S. de Oliveira, Ronald Mateus Bueno
Santos, Sayori Nakayama de Castro.
No dia 17 de abril de 2016, durante o processo de
Impeachment da Presidente Dilma Roussef, o deputado Jean Wyllys alegou ter sido ofendido com palavras homofóbicas e segurado
pelo braço pelo seu colega, o deputado Jair Bolsanaro, o que o fez reagir
cuspindo no rosto do colega e sair correndo. As câmeras de televisão
registraram o momento, e houve uma grande repercussão na mídia sobre o por que
Jean Wyllys teria agido com tal desrespeito e se este ato foi ou não ofensivo e
criminoso. Este ensaio tem por objetivo comparar e
exemplificar comportamentos que se igualem nos animais e nos seres humanos,
focando inteiramente no contexto de agressividade, fazendo referência a grandes
filósofos e pesquisadores da área da saúde mental. Buscando enfatizar o
entendimento e as semelhanças que possam existir, através do processo evolutivo
dos seres, entre o comportamento de cuspir das lhamas e um caso real do ato de
um ser humano cuspir em outro.
Neste
mesmo contexto, em meio a natureza animal, há o exemplo das Lhamas (Lama glama), um animal
ruminante da família Camelidae, são animais de ambiente frios e de altitude
elevada. Tanto a lhama quanto a alpaca não são animais agressivos, e utilizam
métodos de defesa semelhantes, o cuspe. O cuspe não é o único meio de defesa,
mas o principal e é um hábito utilizado para espantar predadores ou quem esteja
incomodando, indicação para outros machos quando uma fêmea estiver no cio, as
fêmeas também utilizam quando não querem o avanço dos machos e também para
educar a cria. O muco viscoso e fétido tem origem tanto na boca quanto no
estômago, porém o cuspe com maior repulsa tem origem no estômago, uma vez que
as lhamas são herbívoras, e este está no processo de digestão onde liberam
ácidos que se misturam com os restos de capins. O ato de regurgitar não é
prazeroso para as lhamas e alpacas e logo procuram gramas, folhas verdes,
hortelãs e alguns arbustos para retirar o gosto ruim da boca. Quando elas
encaram com as orelhas para trás, o cuidado com o olhar nos olhos e ações
bruscas evitam outro possível alvo dos cuspes destes camílideos.
Segundo Ribeiro (2016), cuspir em outrem é uma
violência direta contra a dignidade, a honra e a personalidade do agredido. Na
seara criminal não há artigo de lei que tipifique o ato como crime, mas a
doutrina e jurisprudência caracterizam o ato de cuspir em outrem como injúria
ou desacato (um dos crimes contra a honra,
previsto no artigo 140 do Código Penal). Pode-se afirmar, que o ato de
cuspir no rosto de um colega de trabalho agride a honra, a dignidade e a
personalidade do agredido e tal fato impede a continuidade do vínculo
empregatício, sujeitando o agressor à penalidade de ser dispensado por justa causa.
De
acordo com Kristensen
et al. (2003), é importante distinguir os termos agressão e violência. Agressão
significa disposição para agredir, disposição para o encadeamento de condutas
hostis e destrutivas (Ferreira, 1999). Significa ainda ataque à integridade
física ou moral de alguém ou ato de hostilidade e provocação (Houaiss, Villar
& Franco, 2001). Violência significa a qualidade de violento, qualidade
daquele que atua com força ou grande ímpeto, empregando a ação violenta,
opressão ou tirania, ou mesmo qualquer força contra a vontade, liberdade ou
resistência de pessoa ou coisa. Na busca por uma terminologia mais apropriada,
etologistas propuseram uma distinção entre comportamento predatório e
comportamento agonístico. Enquanto o primeiro caracteriza situações de ataques
entre animais de diferentes espécies – no qual um serve como fonte de alimento
para outro – o comportamento agonístico refere-se a situações de lutas e
ameaças entre indivíduos da mesma espécie (Lorenz, 1966).
A história da humanidade
é repleta de atos considerados violentos e agressivos, já descritos até mesmo
na Bíblia e na filosofia clássica. O contexto sócio-histórico faz com que a
agressividade e/ou a violência tenham suas formas fenomênicas de expressão
alteradas. Assim, pensar um pouco sobre as formas de manifestação do que se denomina
violência na atualidade é deparar-se com um espetáculo que pode ser
acompanhado, ao vivo, por imagens que refletem o descuido com a dimensão
simbólica da vida, exposta pelos meios de comunicação. É deparar-se, ainda, com
a peculiaridade de não saber onde esperá-la, embora possa ocorrer a qualquer
instante. (Ferrari, 2006).
Para
entender os comportamentos agressivos dos seres, temos de diferenciar instinto
de reflexo. Um instinto é diferente de um reflexo, que é uma simples resposta
dada instantaneamente pelo organismo a algum estímulo, sem o envolvimento de um
centro cerebral. Os instintos tornam-se mais complexos à medida que o sistema
nervoso de uma espécie também se sofistica. Um exemplo de simplificação é o
“instinto da agressão”, que foi descrito por Lorenz (1966) não como um
princípio diabólico que tem por finalidade a destruição e a morte, mas como um
contribuinte da preservação e organização da vida. Para Lorenz, as funções
básicas do comportamento agressivo animal são reguladas pelos instintos de
hierarquia, territorialidade e defesa da prole. Eles irão agir, ou serão
suprimidos, de acordo com a situação em que o animal se encontra (Kristensen et al., 2003).
Entre
os principais modelos biológicos, predominam os conceitos de instintos, impulsos
ou forças inatas, predisposições genéticas, luta reflexa, hormônios e
mecanismos de neurotransmissão (Tedeschi & Felson, 1994). Historicamente,
abordagens biológicas na tentativa de compreender e interferir com a cognição e
o comportamento humanos nem sempre foram bem aceitas. Mais recentemente, a
etologia ofereceu um quadro de referência importante para o estudo de diversos tipos
de comportamento, incluindo o comportamento agressivo. Dentre tantos modelos
biológicos para a agressão, o da agressão defensiva parece aquele que mais
contribui para uma conceituação útil da violência (Flores & Loreto, 1996).
Este tipo de agressão ocorre em resposta à percepção de um perigo, quando
atacado por predador ou por co-específico, ou mesmo contra um experimentador em
situações de laboratório. Substancial porção da agressão entre os seres humanos
parece ser mediada por uma percepção prévia de ameaça ou de agressão por parte
de outros (processamento cognitivo). (Kristensen et al., 2003).
Como
futuros biólogos podemos identificar, através das características
comportamentais e analisando as questões biológicas, psicológicas e etológicas
de tais comportamentos, que a atitude do deputado Jean Wyllys de cuspir em seu
colega, pode ser entendida como uma tentativa de se defender a algo que lhe
causou ameaça. De acordo com Lorenz, que diz que a agressividade remota do
instinto de sobrevivência, entende-se que o ato do deputado se baseia em
instinto de proteção. Não deve ser descrito como um reflexo, pois
diferentemente do instinto, o reflexo não necessita da ação centro cerebral. No
caso das lhamas, o mesmo acontece em termos fisiológicos e evolutivos, onde principalmente
o cuspe tem característica de proteção, sendo um comportamento instintivo e não
reflexivo. Ainda podemos enfatizar sobre um debate feito em aula com outros
futuros biólogos, onde foi priorizado que uma pessoa cuspir em outra é uma
atitude totalmente impensada e arcaica, onde a pessoa que comete tal ato, não
tem a capacidade de argumentar instantaneamente, e age de maneira animalesca.
Não deixando de ser um ato defensivo. Toda agressão é cometida por haver uma
possível ameaça à integridade ou sobrevivência de qualquer animal.
O presente ensaio foi elaborado para
a disciplina de Etologia baseando-se nas obras:
CBN, Jean Wyllys cospe em Jair
Bolsanaro após votar. Recuperado de
http://cbn.globoradio.globo.com/grandescoberturas/a-guerra-do-impeachment/2016/04/17/JEAN-WYLLYS-COSPE-EM-JAIR-BOLSONARO-APOS-VOTAR.htm
em 07/05/2016.
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