Série
Ensaios: Ética no Uso de Animais
Por Ana
Carolina Gadotti, Camilla Soto, Franciele Santos, Juliana Padilha e Maria
Eduarda Garcia
Graduandas do curso de Biologia
da PUCPR
O
polvo
Inky, despertou diversos questionamentos pela “façanha” que apresentou ao
conseguir fugir de um aquário da Nova Zelândia e retornar para o mar. Ele foi
capaz de perceber a abertura que fica a cerca de quatro metros do tanque onde
ele vivia e escapou por um tubo de 15 centímetros de diâmetro, que é usado para
renovação da água salgada do ambiente e atravessou 50 metros até chegar a baía
de Hawke, onde encontrou o oceano. Situações como esta demonstram a
inteligência dos polvos e sua capacidade de perceber o ambiente a sua volta e usá-lo
a seu favor.
O
termo inteligência
refere-se às habilidades
cognitivas, ou seja, a capacidade das espécies em
solucionar problemas. Por meio do aprendizado, tais indivíduos encontram
ferramentas que garantem a sua sobrevivência. Um exemplo dessa capacidade em
solucionar um problema é o caso do polvo Inky.
O polvo
é considerado o invertebrado mais inteligente, sendo capaz de armazenar memórias e aprender por meio de observações, além de utilizar ferramentas. Seu cérebro rodeia
o estômago, e compartilha com o cérebro humano
semelhanças, como lobos dobrados e regiões distintas para o processamento
visual e informação tática. Acredita-se que esses cefalópodes tenham
desenvolvido um alto grau de inteligência durante o processo evolutivo por não
serem sociais, possuírem uma vida curta e terem perdido a proteção
proporcionada por uma concha externa.
Existem diferentes rankings
que classificam os animais mais inteligentes, mas todos baseiam-se na
capacidade dos mesmos em resolver problemas e o uso de ferramentas para tal,
seus mecanismos de aprendizado, sua memorização e, ainda, sua comunicação
com outros indivíduos.
Dentre os vertebrados,
os elefantes
possuem capacidades
sociais altamente complexas, e com uma percepção incrível, podendo
reconhecer vozes humanas e perceber o perigo que elas podem representar de
acordo com a etnia, sexo e outras características presentes na voz. Os golfinhos, além de reconhecerem
a si mesmos, podem processar informações recebidas tanto pelo modo acústico
como visual o que lhes permite responder à imagem com precisão comparável aos
níveis de respostas humanas. Mais próximos de nós, cães e gatos são
capazes de entender e realizar diversas tarefas. Já o orangotango,
considerado o animal não humano mais inteligente, apresenta a inteligência
cultural, ou seja, a capacidade em aprender por meio da observação de outros de
sua espécie. Tal forma de aprendizado é direcionado principalmente no
desenvolvimento de ferramentas para a obtenção de alimento.
Com relação a esse tema, algumas
questões foram levantadas, como, por exemplo, se os animais são vingativos, por
tal comportamento exigir um maior raciocínio e planejamento por parte do animal
antes de praticar a ação. Foi comprovado que em algumas espécies esse
comportamento ocorre, contrariando a crença popular de que a vingança é um sentimento
apenas humano, em outros, a vingança está mais relacionada ao instinto, como no
caso dos búfalos que protegem os membros mais fracos ou filhotes de ataques de
predadores intimidando-os.
Nós, formandas de biologia,
acreditamos que assim como nós humanos, diversos animais ao longo de sua
evolução também desenvolveram diferentes níveis de inteligência para enfrentar
os diversos desafios que encontraram durante seu processo evolutivo. O
resultado pode ser visualizado hoje em dia em demonstrações de inteligência
"quase tão complexas" quanto a humana. Porém, tentar mensurar o nível
de complexidade da inteligência de um animal comparando-a a de um ser humano pode
ser perigoso: apesar de nossa alta capacidade de entender e pensar, ainda somos
muito limitados na compreensão do funcionamento da mente e dos processos
fisiológicos de outros animais. Como afirmar que um animal não pode ser
considerado inteligente sem entender como ele se comunica ou interage com
outros animais ou com o meio? Talvez os animais possuam outras formas de
expressar sua inteligência que não são compreendidas por nós, meros humanos.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia,
baseando-se nas obras:
Whiten, A., Horner, V., De Waal, F. Conformity to
cultural norms of tool use in chimpanzees. Nature online, agosto de 2005.
VAN SCHAIK, C. P., & PRADHAN, G. R. A model for tool-use traditions in
primates: implications for the coevolution of culture and cognition. Journal
of Human Evolution, 44(6), 645-664, 2003.
VAN SCHAIK, C. P.,
ANCRENAZ, M., BORGEN, G., GALDIKAS, B., KNOTT, C. D., SINGLETON, I., SUZUKI,
A., UTAMI, S., MERRILL, M. Orangutan
cultures and the evolution of material culture. Science, 299(5603),
102-105, 2003.
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