terça-feira, 3 de maio de 2016

Inteligência além da compreensão humana


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais



Por Ana Carolina Gadotti, Camilla Soto, Franciele Santos, Juliana Padilha e Maria Eduarda Garcia



Graduandas do curso de Biologia da PUCPR



O polvo Inky, despertou diversos questionamentos pela “façanha” que apresentou ao conseguir fugir de um aquário da Nova Zelândia e retornar para o mar. Ele foi capaz de perceber a abertura que fica a cerca de quatro metros do tanque onde ele vivia e escapou por um tubo de 15 centímetros de diâmetro, que é usado para renovação da água salgada do ambiente e atravessou 50 metros até chegar a baía de Hawke, onde encontrou o oceano. Situações como esta demonstram a inteligência dos polvos e sua capacidade de perceber o ambiente a sua volta e usá-lo a seu favor.




O termo inteligência refere-se às habilidades cognitivas, ou seja, a capacidade das espécies em solucionar problemas. Por meio do aprendizado, tais indivíduos encontram ferramentas que garantem a sua sobrevivência. Um exemplo dessa capacidade em solucionar um problema é o caso do polvo Inky.

O polvo é considerado o invertebrado mais inteligente, sendo capaz de armazenar memórias e aprender por meio de observações, além de utilizar ferramentas. Seu cérebro rodeia o estômago, e compartilha com o cérebro humano semelhanças, como lobos dobrados e regiões distintas para o processamento visual e informação tática. Acredita-se que esses cefalópodes tenham desenvolvido um alto grau de inteligência durante o processo evolutivo por não serem sociais, possuírem uma vida curta e terem perdido a proteção proporcionada por uma concha externa.

Existem diferentes rankings que classificam os animais mais inteligentes, mas todos baseiam-se na capacidade dos mesmos em resolver problemas e o uso de ferramentas para tal, seus mecanismos de aprendizado, sua memorização e, ainda, sua comunicação com outros indivíduos.

Dentre os vertebrados, os elefantes possuem capacidades sociais altamente complexas, e com uma percepção incrível, podendo reconhecer vozes humanas e perceber o perigo que elas podem representar de acordo com a etnia, sexo e outras características presentes na voz. Os golfinhos, além de reconhecerem a si mesmos, podem processar informações recebidas tanto pelo modo acústico como visual o que lhes permite responder à imagem com precisão comparável aos níveis de respostas humanas. Mais próximos de nós, cães e gatos são capazes de entender e realizar diversas tarefas. Já o orangotango, considerado o animal não humano mais inteligente, apresenta a inteligência cultural, ou seja, a capacidade em aprender por meio da observação de outros de sua espécie. Tal forma de aprendizado é direcionado principalmente no desenvolvimento de ferramentas para a obtenção de alimento.

Com relação a esse tema, algumas questões foram levantadas, como, por exemplo, se os animais são vingativos, por tal comportamento exigir um maior raciocínio e planejamento por parte do animal antes de praticar a ação. Foi comprovado que em algumas espécies esse comportamento ocorre, contrariando a crença popular de que a vingança é um sentimento apenas humano, em outros, a vingança está mais relacionada ao instinto, como no caso dos búfalos que protegem os membros mais fracos ou filhotes de ataques de predadores intimidando-os.

Nós, formandas de biologia, acreditamos que assim como nós humanos, diversos animais ao longo de sua evolução também desenvolveram diferentes níveis de inteligência para enfrentar os diversos desafios que encontraram durante seu processo evolutivo. O resultado pode ser visualizado hoje em dia em demonstrações de inteligência "quase tão complexas" quanto a humana. Porém, tentar mensurar o nível de complexidade da inteligência de um animal comparando-a a de um ser humano pode ser perigoso: apesar de nossa alta capacidade de entender e pensar, ainda somos muito limitados na compreensão do funcionamento da mente e dos processos fisiológicos de outros animais. Como afirmar que um animal não pode ser considerado inteligente sem entender como ele se comunica ou interage com outros animais ou com o meio? Talvez os animais possuam outras formas de expressar sua inteligência que não são compreendidas por nós, meros humanos.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:



Whiten, A., Horner, V., De Waal, F. Conformity to cultural norms of tool use in chimpanzees. Nature online, agosto de 2005.

VAN SCHAIK, C. P., & PRADHAN, G. R. A model for tool-use traditions in primates: implications for the coevolution of culture and cognition. Journal of Human Evolution, 44(6), 645-664, 2003.

VAN SCHAIK, C. P., ANCRENAZ, M., BORGEN, G., GALDIKAS, B., KNOTT, C. D., SINGLETON, I., SUZUKI, A., UTAMI, S., MERRILL, M. Orangutan cultures and the evolution of material culture. Science, 299(5603), 102-105, 2003.












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