Série Ensaios: Ética no Uso de Animais
Por Maria Leonor Gomes de Sá Vianna
Mestre em Bioética pela PUCPR
Em Houston nos Estados Unidos,
a família Robert descobriu que Duke seu cão adotado da raça labrador foi
diagnosticado com câncer nos ossos, após amputação e tratamento intensivo
contra a doença eles constataram que o câncer teria espalhados por outros
partes de seu corpo e que ele sentia
muito desconforto e dor , quando sua condição de saúde piorou a
família decidiu pela eutanásia e para sua despedida fizeram um dia divertido e alegre abaixo o vídeo com o ensaio fotográfico sobre
o seu ultimo dia de vida.
As pesquisas
de comportamento revelam que, mais até do que amigos, os bichos de estimação
são hoje vistos como
filhos ou irmãos em boa parte dos lares que os acolhem. Com o avanço tecnológico
na medicina veterinária novos procedimentos, tratamento terapêutico e exames
complementares vêm auxiliando no que diz
respeito a prognóstico, diagnóstico e tratamento do animais, muitos destes então são encaminhados aos
cuidados paliativos.
Os cuidados paliativos são aqueles
dispensados aos pacientes com problemas decorrentes de doenças prolongadas,
doenças crônicas graves, degenerativas terminais, incuráveis e progressivas,
como câncer, insuficiência renal crônica e insuficiência cardíaca progressiva. Segundo
a Organização Mundial de Saúde (OMS),
é definido como uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e
suas famílias que enfrentam uma doença com risco de vida através da prevenção e
alívio do sofrimento, incluindo tratamento da dor e outros problemas físicos,
tratamento psicossocial e espiritual (WHO, 2002)
A manutenção
da qualidade de vida dos animais é o principal objetivo deste tipo de cuidados
(SIMON, 2006). Os pacientes
terminais necessitam de cuidados integrais por horas, dias, semanas ou meses,
na tentativa de prevenir a dor, o sofrimento físico e o desconforto. Além
destes cuidados o profissional deve fornece orientação emocional e espiritual
aos proprietários, sempre considerando a morte como um fluxo natural. O conceito de bem-estar animal refere-se a uma boa ou satisfatória qualidade de vida que
envolve determinados aspectos referentes ao animal tal como a saúde, a felicidade, a longevidade (TANNENBAUM,
1991).Já que estamos falando sobre bem-estar animal e cuidados paliativos os dois tem como principal objetivo manter a qualidade de vida. A escala de qualidade de vida desenvolvida por Villalobos é uma ferramenta para auxiliar proprietários e médicos veterinários nas decisões bioéticas relacionados à vida e a morte (VILLALOBOS, 2011)
Os itens que avaliam o estado clínico do paciente por meio dos seguintes parâmetros: dor, fome, hidratação, higiene, felicidade, mobilidade e mais dias bons que ruins. E recomendado pela autora atribuir a cada parâmetro uma nota de
A dor tem grande interferência na qualidade de vida e bem-estar do animal, já que esta influência a capacidade do animal de alimentar, andar e em muitos casos até de respirar. O controle da dor é primordial em cuidados paliativos e pode ser realizado com medicação analgésica ou com terapias alternativas como acupuntura e recursos da fisioterapia. É de suma importância que os proprietários sejam instruídos a monitorar as mudanças de comportamento do seu animal para observar a presença da dor. Comumente os animais demonstram dor com postura anormal, alterações nas atividades, agressão, agitação, lambeduras de feridas, falta de apetite, depressão, agitação, dificuldade para dormir, vocalização, mudança da expressão facial (SHANAN et al., 2014).
Fome - A alimentação é considerada um desafio em
muitos casos. Animais com doenças graves a falta de apetite é com certeza uma das
grandes dificuldades do tutor, pois a desnutrição se desenvolve rapidamente.
Devemos fornecer a quantidade de calorias suficiente para manter o peso
corporal. É preciso paciência, gentileza e persuasão para conseguir que alguns
se alimentem.
Hidratação
- A hidratação adequada é indispensável para manter o animal
hidratado, pode fazer enorme diferença na qualidade de vida durante o
tratamento paliativo. Oferecer água limpa e abundante ao animal é essencial.
Higiene -
A boa higiene é fundamental, visto que o animal não gosta de ficar perto
de sujeira principalmente de suas fezes e urina. Uma indicação eficaz é
umedecer uma toalha e limpar suavemente o rosto, as patas e as pernas do
paciente. Os animais geralmente adoram este tipo de carinho no rosto e nas
patas e certamente será um momento prazeroso para o animal e o tutor.
Felicidade - O animal tem desejos e necessidades e devemos questionar se
esses estão sendo alcançados. Ele precisa de estímulo mental para se sentir
feliz, e o tutor deve entender o que pode fazer para proporcionar felicidade.
Necessita ser orientado a observar se o animal doente aproveita as carícias com
prazer ou se está deprimido, solitário, ansioso, entediado ou com medo.Mobilidade - A mobilidade de um animal de estimação tem diversos aspectos e não significa somente a locomoção. Se o animal permanece acamado, deve haver alteração de posição a cada duas horas, a fim de evitar escaras de decúbito. Um colchão tipo caixa de ovo, um carrinho ou cadeiras de rodas especiais podem fazer a diferença na qualidade de vida.
Dias bons e ruins - É fundamental contabilizar se há mais dias
bons do que ruins. São considerados ruins os dias com distúrbios como: náuseas,
vômitos, diarreia, convulsões e apatia. Quando há muitos dias maus a qualidade
de vida e o bem-estar com certeza estará comprometido.
É muito
difícil para o tutor optar pela eutanásia de
um animal querido. Ela é definida inicialmente como eliminar a vida de um ser.
Atualmente é entendida como a prática de aliviar ou evitar sofrimento, através
da morte sem dor, como um ato de compaixão pelo ser que sofre intensamente, em
estágio final de doença incurável (FELIX et al., 2013). Devemos considerara outros
fatores no relacionamento homem-animal como a devoção, a quantidade de tempo
dispensada pelo tutor, seu esforço e interação contínua com o animal, portanto
demonstrando respeito e preocupação com o seu animal, evitando assim o sofrimento
de ambos e pôr fim a responsabilidade pela decisão em abreviar a dor e
sofrimento do animal.
Acredito como
bioeticista que animal com uma doença incurável precisa ter suas básicas
atendidas e para que isto aconteça devemos analisar qualquer situação levando
em consideração a Teoria de Peter Singer de “igual consideração de interesses” que defende uma forma de igualdade que
inclui todos os seres, humanos e não-humanos. Ele ressalta, não temos o direito
de ignorar os interesses dos animais não-humanos, tratando-os sem qualquer
consideração por seu sofrimento ou dor, simplesmente em função de atender a
nossos próprios interesses ou por não serem membros da nossa espécie (SINGER,
2004). Os animais são capazes de pensar e de sentir, se concordarmos com os fundamentos do bem-estar animal e
reconhecermos nossas obrigações para com eles como seus tutores, pensando em
suas necessidades e sentimentos assim estarem caminhando para o que ele
realmente quer que é apenas ser nosso companheiro, estar ao lado da pessoa que
o escolheu, ser amado, tratado como um animal com igualdade de direitos e viver
com dignidade e respeito.
O Presente ensaio foi elaborado
para disciplina Temas de Bioética e bem-estar animal tendo como base as
seguintes obras:
DOWNING, R. Pain management
for veterinary palliative care and hospice. Veterinary Clinics of North
America: Small Animal Practice, Chicago, v. 41, n. 3, p. 531-550, mai. 2011.
FELIX, Z.C., et al. Eutanásia, distanásia e ortonásia: revisão integrativa
de literatura. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 9, p.
2733-2746, set. 2013. SIMON D..Palliative treatment in veterinary oncology. In:North American Veterinary Conference.2006Disponível em: http://www.ivis.org.
SHANAN, A. et al. Animal Hospice and Palliative Care Guidelines. Published by the International Association of Animal Hospice and Palliative Care, mar. 2014. Disponível em: .Acesso em: 20 set. 2014.
TANNENBAUM, J . Ethics and animal welfare: The inextricable connection. Journal American Veterinary Medical Association, Vol. 198:1991
VILLALOBOS, A.E. Quality-of-life assessment techniques for veterinarians. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, Chicago, v. 41, n. 3, p. 519-529, mai. 2011.
WHO Definition of Palliative Care. World Health Organization. Disponível em: .Acesso em: 25 set. 2014.
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