O Olhar Do Serviço Social Acerca Dos Maus Tratos Aos Animais E A Violência Doméstica


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais

Por Karla Chugam

Assistente Social

DPMA investiga morte de seis cães agredidos encontrados em sacos em Piraquara” a noticia foi veiculada no dia 19 de janeiro deste ano, não obstante, por mais avanços que se teve em relação à proteção aos animais, é muito revoltante saber que atrocidades contra animais ocorrem a todo o momento. O mais intrigante quando no noticiário, como no vídeo abaixo, vemos crianças que cometendo tais barbáries.






Para alguns pesquisadores existe a associação de sentimentos e emoções em relação a recursos terapêuticos no que concerne homem-animal, por exemplo: tratamento de saúde. A psicoterapia, traz que o contato com bichos facilita a comunicação de conteúdos internos do paciente para psicólogo. Se adentrarmos na subjetividade do ser para poder entender o motivo pelo qual pessoas descontam em animais suas frustrações agressividades, entramos num universo mais vasto e tênue em relação à violência, que segundo o Aurélio (2003) a origem latina da palavra violentia: verbo violare significa tratar com violência, profanar, transgredir, sendo ela qualquer forma de constrangimento físico ou moral. Várias são as tipologias empregadas à violência –, sociopolítica, institucional ou não, coletiva ou individual, subjetiva, física, moral, de violação dos direitos,–, segundo o adágio: “a humanidade desde os primórdios foi naturalmente propensa à maldade e à violência, e sempre será”, porém, isso não quer dizer que não se devem evitar e cair num fatalismo messiânico?



Trazendo para o cotidiano, nas relações interpessoais, será que poderíamos atrelar a evolução dos maus tratos aos animais a violência contra pessoas? Sendo mais objetivo, a violência doméstica? Para Schopenhauer (apud MORA, 2001), a integridade e moral do indivíduo pode ser resumido de forma que “A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem". Para alguns pesquisadores é possível afirmar que a criança e/ou o adolescente que foram vitimas ou testemunharam atos de violências, inclusive contra animais, poderão reproduzir traços de violência, reiniciando o ciclo, e ainda, defendem que os maus tratos, sejam de abuso sexual infantil, violência doméstica e maus tratos aos animais estão intimamente ligados uns aos outros.



Base do que foi citado acima pode ser retratado por meio da Teoria do Link, pouco conhecida no Brasil, nasceu nos Estados Unidos nas décadas de 80 e 90, por meio de pesquisas científicas, realizadas por Phil Arkow e Frank R. Ascione que tinham como objeto de estudo a violência doméstica, qual atrelavam na maioria das vezes, aos maus tratos aos animais.  A Teoria do Link é estudada dentro de um contexto familiar, ou seja, observando as relações de dominação de um indivíduo em face de outros, onde os animais de estimação são utilizados como ferramentas de coerção e por isso objeto de maus tratos e violência. Quando adentramos no campo investigativo da Teoria do Link e/ou qualquer outro campo, sob o olhar da prática profissional, devemos lembrar acerca da dimensão social da vida, e não somente da singularidade, caminhar entre a singularidade e a universalidade, para sobrepor a visão periférica do senso comum. O trabalho com a referida temática envolve o olhar de uma equipe multidisciplinar, pois remete a indagação acerca da subjetividade. Na prática do Serviço Social, pode-se averiguar que a atuação do profissional, por se tratar de um amplo contexto, se dá na abordagem da população-alvo (sujeito / família), na conscientização, na prevenção e na capacitação acerca da violência, e as referidas especificidades que se remetem ao subjetivo, devem ser devidamente encaminhadas aos respectivos profissionais competentes: psicólogos, psiquiatras, terapeutas, entre outros.



Sabe-se que na medida em que o Assistente Social realiza intervenções, ele participa diretamente do processo de conhecimento acerca da realidade que está sendo investigada, sua observação é ativa, pois interage e observa o outro. A pergunta que nos cabe tentar responder, enquanto categoria é: quais os desafios e possibilidades da prática profissional na garantia de direitos da vitima e do bem estar animal?

Enquanto assistente social e aspirante a bioeticista acredito que os maus tratos aos animais cometidos por crianças, segundo a Teoria do Link, podem ser um comportamento problemático, desajustado e/ou doentio, que futuramente pode ser associado com violência às pessoas. Por isso acredito que se detectado o perfil patológico da criança, por meio da intervenção terapêutica da equipe multidisciplinar, pode-se contribuir positivamente, para identificar o núcleo da violência, permitindo assim uma visão de realidade mais clara e a possibilidade de se quebrar o circulo vicioso reproduzido pela violência.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no uso de Animais do Programa de Pós-Graduação em Bioética da PUCPR, baseando-se nas seguintes obras:

MORA, F. J. Dicionário de Filosofia Tomo I. São Paulo: Loyola, 2004. Carta VII. Trad. José Trindade Santos e Juvino Maia Jr. São Paulo: Loyola, 2008. SCHOPENHAUER, A. Sobre o Fundamento da Moral. Trad. Maria Lúcia Oliveira Cacciola. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

 in Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2016. [consult. 2016-03-20 14:10:43]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$aurelio-buarque-de-holanda-ferreira

GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de trabalho e serviço social. In Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 62, 2000




http://tudosaber.com/como-denunciar-maus-tratos-contra-animais.html