quarta-feira, 11 de maio de 2016

Consciência, o falso privilégio da humanidade


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais

Por Ana Paula Miranda, Erick Barbosa Ribeiro, Kathylin Fiorotti da Silva Brittes e Mairan Eliszabet Rezena da Silva

Graduandos do curso de Biologia

Como os animais selvagens reagem diantes de espelhos? Onças, Gorilas, Chimpanzés, Elefantes e Aves são capazes de se reconhecer em um espelho?


O teste do espelho é experimento que visa medir a auto-consciência ao determinar se um animal é capaz de reconhecer o seu próprio reflexo no espelho por meio da compreensao da imagem de si mesmo. Há nove espécies que passaram no teste do espelho, incluindo pegas e elefantes, principalmente primatas, mas a maioria dos bebês humanos não passam no teste do espelho até vários meses de idade. Então questiona-se por que utilizar um teste que não funciona eficientemente nem com humanos?

Por séculos a conciência foi compreendida como um privilégio da humanidade e usada para justificar o uso de animais como objetos pela sociedade. A consciência é uma qualidade da mente, subdividida em  subjetividade, autoconsciência, senciência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. A declaração de Cambrigde, afirma que os humanos não são os únicos animais com as estruturas neurológicas que geram consciência, concedendo aos outros animais uma chance de serem aceitos pela sociedade como seres capazes de pensar e sentir.

No entanto, sabe-se que existe diferença no grau e tipos de consciência dentro dos grupos animais e o grande desafio dessa situação é aceitar que a consciência humana não cabe mais como parâmetro de comparação para definir que tem ou não consciência. O teste do espelho funciona para alguns animais como chimpanzés e golfinhos, mas para os cães por exemplo, não é eficiente, pois estes não se reconhecem ao ver seu reflexo. Isso ocorre devido as características particulares de como cada espécie se comunica e se relaciona com outros indivíduos do grupo. Os cães se comunicam muito pelo olfato, reconhecendo os outros e a si mesmo por cheiros deixados no ambiente, então como um teste de espelho poderia julgar sua capacidade de autoconhecimento se utiliza os referencias humanos?

Em um debate ocorrido em ambiente virtual e presencial com futuros biólogos, foram levantadas questões como a consciência da morte nos animais. Muitos relatos de vídeos mostram indivíduos, que presenciam seus companheiros morrendo, apresentando comportamentos pouco conhecidos, muitas vezes interpretados como desespero, tentativa de salvar o outro, extrema tristeza e despedida. O infanticídio, também foi abordado em sala, sendo recorrente em diversas espécies, como uma medida de proteção das mães para com os filhotes, estando fortemente relacionada ao instinto materno, através do hormônio do amor, a ocitocina. Pouco se sabe sobre a consciência que os animais possuem de sua própria morte,  mas  relatos de suicídio cometidos por golfinhos e cães nos faz acreditar que os animais reconhecem o fim de sua vida “útil”, cometendo suicídio em casos de estresse e tristeza, como por exemplo quando seus donos ou treinadores morrem. A relação entre o instinto e a consciência variam dentro de cada comportamento e em cada espécie, sendo necessário avaliar cada situação individualmente. A efetividade e abrangência da declaração de Cambridge, foi discutida considerando que a mesma não abrange todos os grupos animais, principalmente os invertebrados, que são deixados de lado pela maior parte da comunidade científica, outro ponto abordado é o fato de que a declaração foi produzida e assinada basicamente por neurocientistas, não considerando a pesquisa em campo, realizada por biólogos e etólogos. A declaração foi sim um marco importante para abrir os olhos da comunidade científica quanto ao direito e ética com os animais, contudo, a mesma poderia ser mais abrangente entre os grupos animais se contasse com mais pesquisas de diferentes áreas.

Quanto mais estudamos o comportamento dos animais, mais nós nos surpreendemos com a semelhança com os humanos. Mas afinal, eles agem como humanos ou nós agimos como eles? Existe na sociedade e na comunidade científica, um grande impasse quanto aos padrões de avaliação das capacidades animais, principalmente dos grupos menos estudados como os invertebrados. O grande problema está na insistência que temos em usar os humanos como referencial avaliativo.  Nós como formandos em biologia acreditamos que, para que se possa alcançar a compreensão do que os animais são capazes, é necessária uma mudança nos paradigmas da ciência e assumir uma postura de pesquisadores abertos a entender a consciência, inteligência, os sentimentos e emoções de cada animal, respeitando sua individualidade e considerando seu ambiente de vida e suas necessidades.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas seguintes obras:






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