terça-feira, 10 de maio de 2016

Animais De Serviços E Questões Éticas


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais

Por Amanda Silveira Sampaio, André Hartmann, Camila Brito, Gabriele Vidolin dos Santos

Acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas-Bacharelado da PUC-PR.





Uma elefante fêmea chamada Sambo morreu no Camboja depois de trabalhar 40 minutos sob uma temperatura de 40ºC. Sua função era transportar turistas para o tradicional templo de Angkor Wat, na cidade de Siem Reap. Segundo o veterinário que a examinou, Sambo sofreu um ataque cardíaco depois de enfrentar "altas temperaturas, alto nível de exaustão e falta de vento e ar fresco que teriam auxiliado sua respiração”.


Tal relato aborda o fato de ainda nos depararmos com o quadro de animais trabalhando para o homem, seja no policiamento, turismo, companhia e tração, muitas vezes em condições inadequadas. A maioria dos relatos de maus tratos não é denunciada, especialmente quando tratamos de animais de serviço. Tal situação tem se tornando propícia para ações de abuso e abandono.

Segundo Peter Singer “é imoral a utilização de animais para servir o homem em qualquer instância”. Devemos entender que os animais não são máquinas de trabalho e possuem o direito de ter suas necessidades satisfeitas. A Bioética é uma ferramenta indispensável para sociedade, uma vez que ela nos aponta a necessidade de respeitarmos os animais, como seres vivos e senciente e estabelecemos uma comunicação entre diferentes atores envolvidos em uma questão ética, considerando os seus argumentos e a busca de uma solução consensual que seja boa e justa para todos.

A relação do homem com os animais é muito antiga, sendo eles utilizados como meio de transporte e também como ferramenta de trabalho do dia-a-dia. Tais relações geram questões éticas de âmbito social e ambiental.  A questão social envolve a necessidade do homem em utilizar os animais como forma de sua sobrevivência, lazer e segurança. Por outro lado, a questão ambiental, e a mais questionada é o direito dos animais, onde avaliamos as condições de bem-estar proporcionadas aos mesmos.

Os cães são muito utilizados em comparações da polícia e de bombeiros, tomando como exemplo o cão policial. O processo de treinamento começa quando o filhote possui quatro meses de vida. Esses cães trabalham nas seguintes ações policiais: imobilizar um suspeito até que seja revistado; atacar criminosos; reconhecer, pelo faro, drogas e explosivos; e localizar pessoas desaparecidas na mata ou em um cativeiro. Auxiliam os policiais a achar drogas, pois tem um olfato muito mais desenvolvido que dos seres humanos, porém muitas pessoas acham que esses cães são viciados em drogas. Outra questão é que os cães ajudam na segurança dos policiais, mas estão sempre sujeitos a perigo: podem se machucar, ser baleados e até morrer.

Uma outra perspectiva de serviço consideravelmente menos desgastante para o cachorro, é a função de cão-guia. O animal recebe um rigoroso treinamento desde filhote para saber o que deve fazer e quando deve fazer, carregando inconsciente uma grande responsabilidade de guiar um deficiente visual por lugares perigosos e muitas vezes movimentados. As raças mais comuns de cães-guia são Labrador, Golden Retriver e Pastor Alemão, por possuírem força, inteligência, afabilidade e adaptabilidade, o que as torna ideais para esse tipo de trabalho. A aposentadoria desses cães é entre 8 a 10 anos de idade, onde são colocados para a adoção. A questão ética envolvida neste caso, é de que o animal perde completamente sua liberdade tendo que sempre a atender comando de onde deve ir, além de se manter em constante pressão tendo que deixar seus instintos de lado quando se encontra em serviço.

Um outro animal extremamente explorado são os cavalos, que segundo estudos existem a cerca de 55 milhões de anos, assim há alguns milhares de anos, homem e cavalo se encontram para a realização de muitas tarefas que envolvem até hoje a agricultura, o transporte e o esporte. A utilização de cavalos para o trabalho teve início no meio rural onde habitualmente era utilizado como meio de transporte e no dia-a-dia da rotina de trabalho. A situação de pobreza vivida por muitas famílias faz com que o cavalo seja usado para trabalho nos grandes centros e muitas vezes trabalham o dia todo ao sol, sem água, sem comida e sem descanso. Considerando a questão social, ambiental e urbana, a situação das carroças puxadas por cavalos contraria os diversos aspectos. Por um lado, os carrinheiros argumentam ser esta a forma única de subsistência. Já pela questão urbana, o grande número de veículos em circulação nas cidades, a circulação de carroças contraria até mesmo as leis de trânsito podendo até contribuir para o engarrafamento e a possibilidade de acidentes. Esses cavalos sofrem desde a medicação e troca de ferraduras com materiais improvisados feitos pelos próprios carrinheiros até a sobrecarga de trabalho e peso infringida ao animal.

Há o uso de cavalos também no auxílio da polícia Militar, estes animais chegam ao regimento ainda potros para serem adestrados em torno de quatro meses, após isso o cavalo está apto para ir às ruas para auxiliar o policial em patrulhas e na contenção de manifestantes. São aposentado após 20 anos de trabalho, onde o cavalo torna-se propriedade do policial (cavaleiro), que muitas vezes acaba leiloando ou doando o animal. Esses cavalos quando estão nos batalhões da PM, sempre são examinados por veterinários que tendem a garantir o bem-estar do animal, são muito bem alimentados, são escovados e limpos, sendo possível observar quando se encontram nas ruas patrulhando. Porém sabe-se que esses cavalos quando enfrentam manifestações acabam sendo machucados, pois muitos manifestantes atiram pedras, pedaços de madeira e outros objetos nos policiais, que acabam acertando o animal e causando ferimentos.

            Em debate realizado com estudantes do curso de Biologia da PUCPR, foi possível observar a quantidade de dúvidas sobre como é o treinamento desses animais, o que acontece quando são aposentados, e o que esses serviços implicavam na vida desses animais. Com as dúvidas sanadas, o que intrigou a todos é o porquê que essas atividades vistas às consequências que trazem para os animais ainda são executadas, pois atualmente há equipamentos que podem suprir a utilização desses animais, como por exemplo, em aeroportos são utilizadas máquinas de Scanner Corporal para atestar se o passageiro não está levando drogas no corpo, para o controle de manifestações são usados canhões de água, para auxiliar pessoas com problemas visuais tem sido estudado e criados equipamentos, como o “Kinect”, que deixará os cães-guia de serem utilizados, e para fazer a mudança em retirar os cavalos e carroças das ruas, está sendo investido em carrinhos elétricos para coleta de material reciclável.

Nós como futuros biólogos temos a obrigação de mostrar a sociedade de maneira geral, os riscos que esses animais sofrem, e principalmente ressaltar que eles devem e possuem o mesmo direito que todos, direito à liberdade e ao bem-estar. Em pleno século XI animais são explorados de formas cruéis, deixando uma incógnita no ar, até quando teremos esses animais como objetos e/ou animais de serviços? Cabe a nós biólogos, mostrarmos a saída.



O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Etologia, baseando-se nas seguintes obras:

Disponível em: http://www.fronteiras.com/artigos/peter-singer-filosofo-e-ativista>. Acessado em: 30/04/2016
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Disponível em: < http://www.tecmundo.com.br/tecnologia-militar/94429-5-armas-nao-letais-poderosas-usadas-controlar-multidoes.htm>. Acessado em: 06/05/2016
Disponível em: < http://pr.ricmais.com.br/bg-curitiba/videos/carrinheiros-de-curitiba-recebem-treinamento/>. Acessado em: 06/05/2016

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