Série Ensaios: Ética no Uso de
Animais
Por Ana Lucia Lacerda Michelotto
Mestranda no Programa de Pós Graduação em
Ciência Animal da PUCPR
Muito tem se falado sobre a utilização de animais para auxiliar na
reabilitação de pessoas, foi realizada uma reportagem pela SIC Noticias onde
mostra o relacionamento de um garoto com Dislexia
e seu cão labrador, o menino relata que se sente mais estimulado e mais seguro
para ler na presença do animal, sendo essa relação melhor que a com seres
humanos, pois a troca de afetividade é vista com maior intensidade. Essa
reportagem mostra ainda que existem estudos científicos onde a pressão arterial
diminui no contato com o animal mesmo comparado a interação com a própria família
e que o nível de estresse também é reduzido e também aumenta os níveis de
oxitocina e endorfinas que são hormônios do prazer e bem estar. Dados relatam a
grande evolução do garoto após a terapia
assistida por animais (TAA) (Veja aqui a grande reportagem interativa).
Em uma entrevista realizada pela TV Brasil relata o uso de animais para
o desenvolvimento das pessoas com deficiência, a entrevista mostra a
colaboração do Aquário Nacional de Cuba com terapias para crianças com diferentes
dificuldades, possibilitando a interação deles com lobos marinhos e golfinhos (Veja aqui).
Os primeiros registros sobre os benefícios do relacionamento
terapêutico entre homens e animais datam de 1792 na Inglaterra, no Hospital Psiquiátrico Retiro de York,
em que alguns animais domésticos foram introduzidos para encorajar pacientes
com problemas mentais a desenvolver tarefas como escrever, ler e se vestir. Já
em meados da década de 1950, a psiquiatra Nise
da Silveira que atendia pacientes com esquizofrenia no hospital
psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, passou a utilizar animais como
co-terapeutas em seus atendimentos, as contribuições dessa médica foram de
tamanha importância que em 2015 foi lançado um filme contando sua história
chamado Nise- O Coração da Loucura.
Atualmente existem muitas instituições e ONGs que utilizam esse tipo de
serviço voluntariamente auxiliando no tratamento de diversas enfermidades.
Analisando estas questões sob a visão da ética e bioética
vemos que temos uma preocupação com a saúde e bem
estar do animal e das pessoas envolvidas. Estas terapias devem ser
realizadas com limitações de carga horaria de trabalho para os animais,
avaliação especifica do comportamento e saúde do animal e também os
profissionais envolvidos nessa área devem ser devidamente treinados. Não
podemos descartar a de estresse e não adaptação do animal e do paciente para
esse tipo de atividade e também riscos de lesões físicas.
Neste caso existe a vulnerabilidade em ambas as partes, pois a pessoa
que está se submetendo a essa atividade, assim como o cão ou animais de outra
espécie são considerados suscetíveis.
O código
de ética para a TAA inclui o bem estar animal como prioridade, os animais
não devem ser forçados a trabalhar, devem ter tempo de recuperação, água,
alimento e também tempo para se exercitar. Os animais podem ser utilizados na
TAA apoiado na base moral de que é possível promover seu bem estar e qualidade
de vida (Tzachi Zamir, 2006).
Alguns estudos têm sido realizados para avaliar se esses animais
envolvidos em TAA se estressam ou não, a forma mais comum e fidedigna para se
fazer tal avaliação é medindo os níveis de cortisol desses animais. Pesquisas
como a de Glenk
(2014), avaliaram os níveis de cortisol salivar e também padrões
comportamentais de cães de terapia, as avaliações foram feitas ao longo de
cinco sessões de terapia com cinco animais, a coleta era realizada antes e
depois das sessões e os níveis de cortisol sempre foram diminuindo, sendo que
nas sessões quatro e cinco esses níveis foram significativamente menores pos-sessão
e nenhum parâmetro comportamental variou significativamente ao longo das
sessões (Glenk et al., 2014).
Eu como pedagoga e mestranda em Ciência Animal acredito na inserção de
animais como facilitadores no tratamento de diversas doenças. Muitos estudos
ainda são necessários para uma melhor compreensão de seus efeitos, bem como de
suas implicações para ambas as espécies.
Este ensaio
foi elaborado para a disciplina de Temas de Bioética e Bem estar Animal tendo
como base as obras:
Glenk LM,
Kothgassner OD, Stetina BU, Palme
R, Kepplinger B, Baran H. Salivary cortisol and behavior in therapy dogs during
animal-assisted interventions: A pilot study. Journal of Veterinary Behavior 9.
2014; 98-106
Zamir, T. Society & Animals. 2006: 14-2
Lass- Hennemann J,
Peyk P, Streb M, Holz E, Michael T. Presence of a dog reduces subjective but
not physiological stress responses to an analog trauma. Frontiers in
Psychology. 2014; 5: 1010.
Faraco CB,
Pizzinato A, Csordas MC, Moreira MC, Zavaschi MLS, Santos T, Oliveira VLS,
Boschetti FL, Menti LM. Terapia mediada
por animais e Saúde Mental: um programa no Centro de Atenção Psicossocial da
Infância e Adolescência em Porto Alegre. Saúde Coletiva. 2009; 6: 231 -236.
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