sábado, 12 de setembro de 2015

Infidelidade: uma estratégia evolucionista para a sobrevivência

Série Ensaios: Sociobiologia

Por Renzzo Henrique Lepinsk Lopes
Acadêmico do curso de Ciências Biológicas da PUCPR

Marcelo Adnet foi fotografado em uma situação, digamos, complicada. O ator, que é casado com a humorista Dani Calabresa, foi flagrado por um paparazzo beijando uma loira em uma das ruas mais movimentadas do bairro do Leblon, na Zona Sul do Rio.
De acordo com a agência de fotos, o ator estava no bar Jobi, por volta das 2h da manhã (07/11/2014) quando começou a conversar com uma loira que estava próxima. O papo regado a chope virou uma conversa mais íntima e longe do bar. A dupla foi para uma rua mais reservada do bairro, onde trocou beijos e abraços sem perceber que estava sendo fotografada. O ator ainda voltou para o bar onde encontrou os amigos, e só saiu de lá por volta das 4h da manhã.
Segundo o fotógrafo, Adnet e os amigos do humorista desconfiaram do flagra e questionaram o paparazzo sobre as imagens. Marcelo parecia nervoso depois de ter beijado a menina e ficou andando pelas ruas, relatou o fotógrafo Rodrigo.
Em uma manifestação rápida ao vivo durante o programa CQC (07/11/2014), Dani Calabresa deixou claro que o casamento com Marcelo Adnet está mantido. Sem deixar claro sobre o que estava falando, Calabresa disse que "todo mundo erra" e fingiu dar um beijo na boca de Marco Luque, colega do programa CQC. Completou, então: – Agora todas as pessoas perfeitas, os santos canonizados já podem guardar as pedras – dando a entender que estava tudo resolvido.

A formação de um grupo social afeta peculiarmente o modo de ser e de agir de cada um dos membros que o compõe. A maioria dos animais, ao longo de sua evolução, foi se moldando à natureza da socialização. Esta necessidade comportamental facilitou a sobrevivência das populações, estreitou a ligação entre indivíduos de mesma espécie, e ainda, promoveu que os indivíduos se conhecessem e se interdependessem.
A formação de um casal ou a busca por um parceiro sexual na natureza é algo essencial para socializar-se e para a reprodução, tanto que na natureza ocorrem estratégias reprodutivas denominadas de monogamia. A opção por se ter apenas um único parceiro sexual é uma socialização para fins biológicos e uma estratégia para que as espécies tenham sucesso.

A infidelidade é um assunto que provoca mistério na comunidade científica, que tradicionalmente busca explicações na biologia evolucionária. Para homens, a poligamia seria explicada pela necessidade da preservação da espécie: mais sexo resultaria em mais filhos. No caso das mulheres, porém, há divergências. Trair costuma ser visto como um tipo de "efeito colateral" provocado pelo comportamento masculino; ou então como resultado de uma ação mais instintiva: em tempos mais primitivos, ter filhos com vários parceiros reduziria a possibilidade de infanticídio. Brendan P. Zietsch, um psicólogo da Universidade de Queensland, Austrália, tentou determinar se algumas pessoas são simplesmente mais inclinadas à infidelidade. Num estudo com aproximadamente 7.400 gêmeos finlandeses e seus irmãos que estiveram envolvidos num relacionamento de pelo menos um ano, Zietsh procurou verificar a existência da relação entre promiscuidade e variantes específicas de genes receptores de vasopressina e oxitocina. A vasopressina é um hormônio que tem efeitos poderosos em comportamentos sociais como confiança, empatia e vínculo sexual em humanos e outros animais. Faz sentido, portanto, que mutações no gene receptor de vasopressina ­ que pode alterar sua função ­ poderiam afetar o comportamento sexual humano. Ele descobriu que 9,8% dos homens e 6,4% das mulheres relataram que tiveram dois ou mais parceiros sexuais no ano anterior. Seu estudo, publicado no ano passado em Evolution and Human Behavior, revelou uma associação significativa entre cinco variantes diferentes do gene da vasopressina e a infidelidade em mulheres somente e nenhuma relação entre os genes de oxitocina e o comportamento sexual de ambos os sexos. Isso foi impressionante: 40% da variação no comportamento promíscuo em mulheres poderiam ser atribuídos a genes. Isso é surpreendente porque, como assinala Zietsch, há tantos outros fatores que são necessários para encontros promíscuos, como circunstância e a disponibilidade de um parceiro disposto e capaz. Embora este seja o maior e melhor estudo sobre o assunto, não está claro por que não há nenhuma relação entre o gene da vasopressina e o comportamento promíscuo de homens.Outros estudos confirmam que a oxitocina e a vasopressina estão ligadas à ligação de parceiros, que recai na questão de promiscuidade já que o vínculo emocional é, em certo sentido, o inverso da promiscuidade. Hasse Wallum do Instituto Karolinska em Estocolmo descobriu que em mulheres, e não em homens, há uma associação significativa entre uma variante do gene receptor de oxitocina e a discordância conjugal e a falta de afeto pelo parceiro (a). Ao contrário, houve uma correlação significativa em homens entre uma variante específica do gene receptor da vasopressina e a qualidade conjugal inferior reportada por suas esposas.

A fidelidade não é comum nos animais. São poucas espécies que escolhem e permanecem com um único parceiro para o resto da vida, como o lobo. E, com o avanço da genética, a infidelidade está sendo comprovada em animais que eram considerados extremamente fiéis. Mas a infidelidade no mundo animal tem uma vantagem natural. No caso da fêmea, trair o companheiro aumenta as chances de ter um filhote de sucesso. Se ela tiver todos os filhotes com o mesmo parceiro, corre o risco da genética do pai não ser tão boa e, consequentemente, dos seus herdeiros não chegarem à vida adulta. Já os machos mais fortes e dominantes têm a possibilidade de passar seus genes para uma maior quantidade de filhotes, que irão garantir a sobrevivência de sua espécie. A prole de alguns animais exige cuidados excessivos que precisam tanto da mãe quanto do pai. Os filhotes ficam impotentes por muito tempo, e a mãe sozinha pode não dar conta. Assim como nos humanos, os hormônios da oxitocina e vasopressina atuam sobre a função dopaminérgica influenciando o comportamento monogâmico e a união entre casais animais.

Eu como formando em Biologia acredito que os casos de infidelidade, tanto humana quanto animal, são devido à características evolucionistas e com bases genéticas, como demonstrado em vários estudos, onde, a adaptação para a sobrevivência da espécie se sobrepõe às relações entre casais, garantindo uma prole mais eficiente e com genes mais fortes. Porém, existe todo um contexto externo aos indivíduos que influenciam as atitudes em relação à infidelidade.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II se baseando nas seguintes obras:
ALCOCK, J. (2011). Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Porto Alegre, Artmed Editora, XVII+ 606p.[Links].
Wilson, E. O. (1981). Da natureza humana. TA Queiroz/Ed. da.

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