Série Ensaios: Sociobologia
Por Victoria Stadler
Tasca Ribeiro
Graduanda em
Bacharelado em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica do
Paraná
Recentemente foi noticiada a suposta separação entre a modelo brasileira
Gisele Bündchen e o jogador de futebol americano Tom Brady. O fim do casamento
teria sido por conta de uma traição, por parte de Brady, com uma ex-babá em um
vôo particular.
- Mas
será que podemos conceituar infidelidade como imoral e escrupulosa?
Antes de
tudo, deve-se ressaltar a importância da formação de um grupo social, que ao
longo da evolução foi se estruturando às características de cada grupo, promovendo
relações e ligações entre indivíduos. Características estas que serão definidas
de acordo com a sua viabilidade e estratégias. Para algo tão vital como a
reprodução, é necessário que haja socialização. Podemos pontuar a monogamia e a
poligamia. A monogamia, além de uma escolha, é uma estratégia que no seu ideal
de família, permite que os pais eduquem seus filhotes, aptos a sobreviverem e
reproduzirem mais uma geração. É o caso dos pinguins , motivados pela difícil condição
climática, a estratégia social é a mais adequada para que haja perpetuação. Num
outro viés, a poligamia também tem seus méritos, como é observado no trabalho
do pesquisador Carlos Botero. A partir de levantamentos genéticos em aves,
foi observado que muitas vezes os pais não estavam criando um filho genuíno.
Foi questionado então o aquecimento global na influência da fidelidade desses
animais, e o que foi levantado é que com um ambiente hostil e incerto, é mais
sólido para a sobrevivência uma prole com maior variabilidade genética. Logo,
interações sociais e estratégias reprodutivas acarretarão na evolução e sucesso
de uma espécie.
De acordo
com teses de Charles Darwin e outros biólogos na tentativa de explicar a
evolução humana, foi proposto que a natureza determinou que nosso comportamento
sexual fosse orientado por alguns mecanismos biológicos com concupiscência, com
o ideal de trabalhar a favor da manutenção da espécie, podendo pontuar que para serem bem sucedidas, as espécies
devem perpetuar seus genes, e isso acarreta em ter diversos parceiros. Já
o neurocientista norte-americano Larry Young afirma que a monogamia
sexual não é uma tendência natural entre os humanos (e ainda pode ser acentuada
naquelas pessoas que possuem genes que estimulam a
buscar uma maior dose de dopamina), também podendo estar relacionado aos receptores de
vasopressina
e ao elevado nível de estradiol (nas mulheres), que
está vinculado à auto-estima e à luxúria. Há também ligações
entre a testosterona e a infidelidade, produzida de 20 a 30 vezes mais em
homens que mulheres. Estudos recentes sugerem que a baixa
concentração deste hormônio pode estar relacionada com a fidelidade. Sabe-se,
no entanto, que no mundo animal existem diversos relatos de casais monogâmicos,
por exemplo: ratos, que criam junto seus filhotes e estabelecem uma longa
relação. Contudo, se este casal se desencontra por algum motivo, ambos podem “trair”,
mas retornam às suas casas e parceiros à noite para cuidar de suas famílias.
É
provável que os humanos possuam esta mesma tendência biológica. Entretanto, o Homo sapiens estabelece conexões, que
fazem com que haja o desenvolvimento de longos relacionamentos, e,
principalmente, emoções.
“Para
Freud, o instinto de vida era representado pela energia pulsional chamada
Libido; para Darwin, pelo Imperativo Reprodutivo: o impulso básico de deixar
cópias de melhor qualidade possível. Constituem-se de uma mesma força, com
diferentes paradigmas para compreendê-la.”.
Na sexualidade humana é possível distinguir
componentes biológicos e socioculturais, uma vez que sociedade e cultura são
também produtos da biologia, visto que fenômenos socioculturais têm origem em
atos psíquicos, que são gerados por mecanismos neurofisiológicos e culturais. O
componente biológico constitui a essência do comportamento, que é determinado
pela cultura, que tem aspectos negativos ou positivos sobre o comportamento.
Como graduanda
em Biologia, vejo que a cultura, sociedade e religião incentivam um
relacionamento monogâmico, porém, isto não acarreta que ele seja natural, pois
vai contra nossos instintos e traços evolutivos sociais. Entretanto, a razão atrelada
aos sentimentos inerentes ao ser humano pode superar a infidelidade. Vejo que
ao tentar compreender aspectos mais profundos da natureza humana, há algo além
da matriz biológica, deixando de ser apenas “Imperativo reprodutivo”, indo à
procura de qualidade de vida, e não apenas a aspectos de sobrevivência e
sucesso reprodutivo.
O presente ensaio foi embasado
nas seguintes referências:
Freud
S. (1931), Sexualidade feminina. Vol. 21. Rio de Janeiro:
Imago
Darwin C. (1871), The descent of man and selection in
relation to sex. London,
England.
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