Série Ensaios: Sociobiologia
Por Taís Nabarro Costa Demo
Acadêmica do curso de Ciências
Biológicas da PUCPR
Uma mulher de 27 anos foi presa na manha do dia 3 de Agosto de 2015, suspeita de matar o próprio filho com um golpe de tesoura, no bairro Itararé, em Vitória. O crime teria sido praticado logo após
ela dar à luz, no banheiro da própria casa. A mulher deu à luz sobre o vaso
sanitário, onde a criança teve o cordão umbilical cortado e o peito ferido com
um golpe de tesoura. Ao ver o bebê ferido, o marido e familiares da mãe
entraram em contato com o Samu, que enviou uma equipe ao local. Antes do
ocorrido os familiares não sabiam da gravidez. A mãe e o corpo da criança foram
levados para a Pró-Matre, onde ficou constada a lesão.
O infanticídio tende a ser pouco estudado enquanto
recurso para garantir a sobrevivência dos mais fortes em uma determinada
espécie. Entretanto, há registros de que ele acontece entre roedores e
primatas, peixes, insetos e anfíbios (Taylor, 2012). Segundo estudos, o
infanticídio pode trazer benefícios às espécies animais que o cometem, como
maiores oportunidades para que o infanticida se reproduza e mesmo na alimentação
(quando o infanticida come o filhote morto). Matar um filhote é também uma
maneira de evitar que seus pais tenham que investir energia para cuidar da
cria. Há 30 mil anos atrás, em épocas de
escassez de alimento já ocorria essa prática com os homens
primitivos, provavelmente para não
colocar todo o grupo em risco, pois o grupo tornava-se vulnerável, e também
para impedir o gasto de energia que teriam para cuidar deste bebê, além da competição por comida que iria
aumentar (BURNS, 1973).
Em humanos, por traz deste ato tão brutal existe uma
explicação biológica, a gravidez e o pós-parto são considerados períodos de
vulnerabilidade para a mulher, pois podem desencadear uma súbita queda em
níveis hormonais, como a ocitocina, também conhecida como hormônio do amor, ela é
responsável por enviar mensagens para o cérebro, para modelar no ser humano sua
conduta social (Dacome e Garcia, 2008). Vários estudos demonstram que a
ocitocina está implicada na mediação neurormonal de comportamentos como o
reflexo da liberação de leite durante a lactação, e o comportamento maternal
frente a seus filhotes e frente a um potencial agressor (Giovenardiet al.,
1998). Estas alterações
bioquímicas ocorreriam no sistema nervoso central, no eixo
Hipotálamo-Hipófise-Ovariano, e promoveria estímulos psíquicos com subsequente
alteração emocional. Devido a esses fatores, este se torna um momento propício
ao aparecimento de transtornos mentais, esta alteração da sanidade mental é
tida como estado puerperal. Quando os sintomas mais
graves acometem a puérpera e esta entra em estado psicótico, o quadro se torna perigoso, pois
representa risco de suicídio e infanticídio. Os profissionais de saúde e a
própria família precisam estar atentos a esses sintomas para evitar que os
riscos se efetivem e para que se inicie o tratamento o quanto antes.
Os animais parecem amar seus filhos porque os tratam com
nós tratamos nossos filhos e nós amamos nossos filhos, embora não possamos dizer
o por quê. Alguns padrões têm uma única utilidade evolucionaria: ajudar-nos a impulsionar
nossos genes para a geração seguinte. De fato, seu amor é um recurso empregado
por seus genes para cuidar deles próprios.
Como formanda em Biologia acredito que o infanticídio é uma
estratégia para a sobrevivência do mais forte, para que apenas os genes com
maior possibilidade de sucesso sejam passados para as futuras gerações, ou
seja, uma estratégia evolucionaria. Os traços biológicos de um infanticida
permanecem até hoje no homem moderno, e podem se sobrepor ao instinto maternal,
quando a mãe se vê em uma situação ambiental controversa, ou seus níveis
hormonais estão desregulados seu organismo busca essa resposta como um mecanismo
de escape, como que para sua auto proteção. No caso exposto no inicio do texto,
a gravidez não era planejada, o que pode ter levado a mãe a cometer o
infanticídio, ela pode ter visto isso com uma situação de risco pra ela, pois
não estava preparada para criar este bebê.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de
Etologia II se baseando nas seguintes obras:
GIOVENARDI, M.; PADOIN,
M.J.; CADORE, L.P.; LUCION, A.B. Hypothalamic
Paraventricular Nucleus Modulats Maternal Agression in rats: Effects of
ibotenic Acid Lesion and Oxytocin Antisense – From behavior to gene expression.
Physiol.
Behav., v.62, n. 3, p. 351-359, 1998.
DACOME, O.A.; GARCIA, R. F. Efeito modulador da ocitocina sobre o prazer. Revista Saúde e
Pesquisa, v. 1, n. 2, p. 193-200, 2008.
BURNS, E.M.; História
da civilização ocidental: Do homem das cavernas até a bomba atômica.
Editora Globo, v1, 3° ed., p. 1054, 1973.
BIBLIOGRAFIA DISPONIBILIZADA VIA EMAIL: O
IMPERATIVO REPRODUTIVO - OU POR QUE VOCÊ REALMENTE AMA SEUS FILHOTES, Cap. 2,
P. 33-65.
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