sábado, 19 de setembro de 2015

Infanticídio: Uma Brutalidade Ou Um Controle De Natalidade

Série Ensaios: Sociobiologia
Por Taís Nabarro Costa Demo
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da PUCPR

        Uma mulher de 27 anos foi presa na manha do dia 3 de Agosto de 2015, suspeita de matar o próprio filho com um golpe de tesoura, no bairro Itararé, em Vitória. O crime teria sido praticado logo após ela dar à luz, no banheiro da própria casa. A mulher deu à luz sobre o vaso sanitário, onde a criança teve o cordão umbilical cortado e o peito ferido com um golpe de tesoura. Ao ver o bebê ferido, o marido e familiares da mãe entraram em contato com o Samu, que enviou uma equipe ao local. Antes do ocorrido os familiares não sabiam da gravidez. A mãe e o corpo da criança foram levados para a Pró-Matre, onde ficou constada a lesão.

           
O infanticídio pode ser um instrumento eficiente para a sobrevivência de determinadas espécies de animais, indicam um crescente número de estudos. Esta ideia é chocante do ponto de vista humano, mas a realidade é que para muitos filhotes de animais, a maior ameaça à sua sobrevivência vem de sua própria espécie.
            O infanticídio tende a ser pouco estudado enquanto recurso para garantir a sobrevivência dos mais fortes em uma determinada espécie. Entretanto, há registros de que ele acontece entre roedores e primatas, peixes, insetos e anfíbios (Taylor, 2012). Segundo estudos, o infanticídio pode trazer benefícios às espécies animais que o cometem, como maiores oportunidades para que o infanticida se reproduza e mesmo na alimentação (quando o infanticida come o filhote morto). Matar um filhote é também uma maneira de evitar que seus pais tenham que investir energia para cuidar da cria. Há   30 mil anos atrás, em épocas de escassez de alimento já ocorria essa prática com os homens primitivos, provavelmente para não colocar todo o grupo em risco, pois o grupo tornava-se vulnerável, e também para impedir o gasto de energia que teriam para cuidar deste bebê, além da competição por comida que iria aumentar (BURNS, 1973).
            Em humanos, por traz deste ato tão brutal existe uma explicação biológica, a gravidez e o pós-parto são considerados períodos de vulnerabilidade para a mulher, pois podem desencadear uma súbita queda em níveis hormonais, como a ocitocina, também conhecida como hormônio do amor, ela é responsável por enviar mensagens para o cérebro, para modelar no ser humano sua conduta social (Dacome e Garcia, 2008). Vários estudos demonstram que a ocitocina está implicada na mediação neurormonal de comportamentos como o reflexo da liberação de leite durante a lactação, e o comportamento maternal frente a seus filhotes e frente a um potencial agressor (Giovenardiet al., 1998). Estas alterações bioquímicas ocorreriam no sistema nervoso central, no eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovariano, e promoveria estímulos psíquicos com subsequente alteração emocional. Devido a esses fatores, este se torna um momento propício ao aparecimento de transtornos mentais, esta alteração da sanidade mental é tida como estado puerperal. Quando os sintomas mais graves acometem a puérpera e esta entra em estado psicótico, o quadro se torna perigoso, pois representa risco de suicídio e infanticídio. Os profissionais de saúde e a própria família precisam estar atentos a esses sintomas para evitar que os riscos se efetivem e para que se inicie o tratamento o quanto antes.
            Os animais parecem amar seus filhos porque os tratam com nós tratamos nossos filhos e nós amamos nossos filhos, embora não possamos dizer o por quê. Alguns padrões têm uma única utilidade evolucionaria: ajudar-nos a impulsionar nossos genes para a geração seguinte. De fato, seu amor é um recurso empregado por seus genes para cuidar deles próprios.   
            Como formanda em Biologia acredito que o infanticídio é uma estratégia para a sobrevivência do mais forte, para que apenas os genes com maior possibilidade de sucesso sejam passados para as futuras gerações, ou seja, uma estratégia evolucionaria. Os traços biológicos de um infanticida permanecem até hoje no homem moderno, e podem se sobrepor ao instinto maternal, quando a mãe se vê em uma situação ambiental controversa, ou seus níveis hormonais estão desregulados seu organismo busca essa resposta como um mecanismo de escape, como que para sua auto proteção. No caso exposto no inicio do texto, a gravidez não era planejada, o que pode ter levado a mãe a cometer o infanticídio, ela pode ter visto isso com uma situação de risco pra ela, pois não estava preparada para criar este bebê.

            O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II se baseando nas seguintes obras:

GIOVENARDI, M.; PADOIN, M.J.; CADORE, L.P.; LUCION, A.B. Hypothalamic Paraventricular Nucleus Modulats Maternal Agression in rats: Effects of ibotenic Acid Lesion and Oxytocin Antisense – From behavior to gene expression. Physiol. Behav., v.62, n. 3, p. 351-359, 1998.

DACOME, O.A.; GARCIA, R. F. Efeito modulador da ocitocina sobre o prazer. Revista Saúde e Pesquisa, v. 1, n. 2, p. 193-200, 2008.

BURNS, E.M.; História da civilização ocidental: Do homem das cavernas até a bomba atômica. Editora Globo, v1, 3° ed., p. 1054, 1973.

BIBLIOGRAFIA DISPONIBILIZADA VIA EMAIL: O IMPERATIVO REPRODUTIVO - OU POR QUE VOCÊ REALMENTE AMA SEUS FILHOTES, Cap. 2, P. 33-65.

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